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II. Salvação ou Evolução?

 

Palestra II

SALVAÇÃO OU EVOLUÇÃO?

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em maio de 2012

INTRODUÇÃO

Se eu perguntasse para o meu prezado leitor se acredita que o ser humano precisa ser salvo através de uma experiência espiritual de reparação moral, de caráter instantâneo, definitivo e radical, denominada conversão, novo nascimento ou regeneração, como apregoado pela religião cristã, ou se precisa ser salvo evoluindo em seu espírito mediante inúmeras manifestações de vida até se tornar um espírito puro, liberto de todas as amarras existenciais, como apregoado pelas religiões que acreditam na reencarnação, o que o meu leitor diria? Se responder que o homem precisa ser regenerado, torna desnecessária e fútil a evolução espiritual. Se responder que ele precisa evoluir em seu espírito até ser completamente liberto, torna sem efeito o sacrifício de Cristo. Aparentemente uma coisa elimina a outra, não podendo ambas andar juntas. Se é difícil para alguns acreditar que Deus possa ter enviado o seu Filho para ser vítima de um sacrifício vivo, cruel, sanguinolento, em uma ação totalmente repulsiva, inaceitável e até desnecessária, segundo as religiões reencarnacionistas, que não consideram o homem um pecador intransigente, contumaz da lei de Deus, e sim um espírito em evolução, em crescimento eternal, também é difícil para aqueles que partilham da fé cristã, acreditar que um ser mau, degradado, degenerado como o homem, possa ir melhorando em sua essência, em sua espiritualidade, progressivamente, reencarnação após reencarnação, até se tornar um espírito puro, sem precisar do sacrifício substitutivo de Cristo e da transformação de sua natureza decaída pela ação do Espírito Santo. A idéia de que seguir o exemplo de vida deixado por Cristo seja suficiente para o homem ser liberto seria completamente equivocada, pois quem isto desejasse deveria ter o Espírito de Cristo para conseguir viver a vida de Cristo, o que só seria possível mediante uma experiência espiritual de conversão.

Afinal de contas do que precisa o homem? De salvação ou de evolução?

EVOLUÇÃO OU INVOLUÇÃO?

Permitam-me voltar ao início de tudo, ao momento e lugar em que tudo começou. As Escrituras ensinam que o homem foi criado por Deus puro, sem mácula, sem pecado algum, e colocado em um lugar, denominado Éden, distrito da antiga Babilônia, que de tão lindo que era passou à História como “o Jardim do Éden”, ainda que o lugar contivesse também as configurações de um pomar por ter muitas árvores frutíferas e flores, de uma reserva animal por ter vários bichos e de um laboratório divino por ter Deus nele feito a mulher. Enquanto o período de inocência humana perdurou, o homem manteve comunhão com Deus e viveu em total sintonia com o seu ambiente. Ao pecar, porém, isto é, ao se rebelar voluntariamente contra as leis estabelecidas por Deus, o homem perdeu a comunhão que mantinha com o seu Criador, colocou toda a raça em estado de degradação moral e quebrou a sintonia com o local em que vivia. Esta situação, escrituristicamente demonstrada, parte dos pressupostos de que Deus existe e que foi o Criador do homem, não importando se esta criação se deu de forma mediata ou imediata; se por evolução ou se por criação instantânea. Ela ainda assegura as seguintes condições:

  • a) que o homem não evoluiu de um estado moral baixo para um estado moral alto, elevado, e sim, que já surgira vivenciando este estado superior;

  • b) que o decaimento espiritual e moral do homem foi abrupto, repentino, e atingiu toda a raça, que agora vive em estado de degradação moral e distanciamento de Deus;

  • c) que o homem não tem conseguido, no correr dos séculos, levantar-se por si mesmo e reassumir aquela posição que originalmente possuía de pureza espiritual e comunhão com o seu Criador;

  • d) que apenas Deus, que criou o homem e o afastou do Jardim Paradisíaco quando este pecou, pode, se assim o desejar, introduzi-lo novamente no novo Paraíso, aberto para nós através de Cristo, tendo para isto de tomar a iniciativa deste ato.

Já comentei na Palestra anterior, sobre este mesmo tema da Salvação, que os filhos do primeiro casal humano ao nascerem, já nasceram fora do Jardim do Éden, tendo o caminho que levava á Árvore da Vida bloqueado para eles. Não conheceram nada do que havia no Jardim do Éden nem gozaram da comunhão com Deus que seus pais experimentaram. Por que eles não usufruíram da mesma comunhão com Deus que seus pais tiveram, visto não terem em nada desobedecido a Deus e seus espíritos serem ainda puros, limpos, imaculados? Porque o meio em que eles estavam já não mais o era! Este os influenciava diretamente para o mal, ainda que não determinasse que o mal acontecesse na vida deles! Veja só: o lar onde eles viviam era um lar fracassado; o lugar onde habitavam, impregnado de demônios; a facilidade de pecar longe do olhar dos outros, imensa; e a comunhão que podiam manter com Deus, mediada por sacrifício de animais. Tão logo os filhos daquele casal chegaram à idade da razão, rebelaram-se contra as orientações do Senhor. Caim, o filho mais velho, estava vivenciando um estado de degradação espiritual tão grande que não sentiu dificuldade alguma em assassinar o seu irmão! O pecado tomara conta de suas almas e o ambiente onde viviam se degenerava cada vez mais atirando os novos habitantes do planeta em um tremendo mar de lama. Tão rapidamente isto aconteceu que Deus intentou destruir a raça humana através de uma imensa catástrofe. O dilúvio veio como um açoite divino à tão nova humanidade e apenas oito pessoas daquelas gerações antigas escaparam de morrer afogadas! Nenhuma evolução de espíritos fora detectada até então, antes a degeneração espiritual se acentuara rapidamente e tomara conta de todos!

Séculos mais tarde encontramos Jesus se lamentando sobre as gerações de seu tempo e dizendo: “Ai de ti, Corazim! ai, de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom (cidades da Fenícia) fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido com saco e cinza” (Mateus 11:21). Ainda que possamos dizer que essas gerações eram limitadas em número e situadas em determinada faixa do tempo, fica evidenciado que, nem mesmo os portentosos milagres do Cristo foram suficientes para elas se converterem de seus maus caminhos e incredulidade! Na última semana da vida do Mestre Este discursou para os seus discípulos dizendo: “Como foi nos dias de Noé, assim será também na vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos – assim será também a vinda do Filho do homem” (Mateus 24:37-39). As gerações agora apresentadas pelo Cristo já não parecem ser mais individualizadas e localizadas em determinado lugar do planeta, e sim envolver toda a população da Terra quando de seu retorno. Segundo o Senhor Jesus, elas não estarão apresentando nenhum sinal de aperfeiçoamento em seus espíritos, antes indo de mal a pior.

A AÇÃO DO PECADO NA VIDA DO HOMEM

O ensino geral das Escrituras, tanto pela pessoa do Cristo, quanto de seus apóstolos e antigos profetas é o de que o pecado cria uma divisão abismal, intransponível, entre o homem e o seu Criador. Veja, por exemplo, esta citação do profeta Isaías: “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem o seu ouvido agravado, para não poder ouvir: mas as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus: e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Isaías 59:1,2). Mais do que separar, porém, o pecado mata o homem espiritualmente, ou seja, torna impossível o acesso de seu espírito ao Espírito de Deus, que é Vida, é Exuberância, é Plenitude! Sem essa fluência da vida divina para a vida humana, o homem vira um “morto-vivo” em seus sentimentos e vontade. Jesus disse para alguém do povo que pretendia ser seu discípulo e ir enterrar o seu pai: “Deixa aos mortos sepultar os seus mortos” (Mateus 8:21,22). Ele estava se referindo aos parentes e amigos do morto que iriam enterrar o pai do pretendente a discípulo, e que estavam espiritualmente mortos. Este é o quadro mais feio que se pode pintar sobre a situação de distanciamento que o homem vive de Deus, pois se alguém está morto, quer seja física ou espiritualmente falando, não pode evoluir de maneira alguma! O apóstolo Paulo escreveu aos crentes de Éfeso dizendo-lhes: “(Deus) vos vivificou estando vós mortos em ofensas e pecados” (Efésios 2:1). E outra vez para os crentes daquele lugar: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará” (Efésios 5:14). Sim, queridos: qualquer pecador que não tenha se arrependido de seus pecados, acertado as contas com o seu próximo e com Deus não pode evoluir em seu espírito, pois quem está morto não pode ir para lugar algum!

A NECESSIDADE DE CONVERSÃO

As Escrituras nunca apregoam que o homem deve ir se convertendo aos pouquinhos até um dia estar plenamente convertido, pois um morto não pode ir vivendo aos pouquinhos até um dia se tornar um vivo, e sim precisa de vida logo, imediatamente, para começar a viver! No momento em que este receber a vida, seja esta débil ou forte, um filete ou uma avalanche, já não importará mais, pois que já estará VIVO! A partir daí, sim, deverá ir se fortalecendo, progredindo, avançando, dia após dia! As Escrituras são enfáticas em anunciar a necessidade de o pecador passar por uma experiência de conversão espiritual a fim de receber nova vida – vida divina, vida crística, vida plena, e, a partir daí, trilhar um caminho de evolução, pois, se é verdade que um morto não pode evoluir, também é verdade que um vivo pode! Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. Se o prezado leitor encontra-se morto espiritualmente, distante de Cristo, distante de Deus, e sente que agora é o momento de receber VIDA, de começar a trilhar o caminho da verdadeira evolução, então arrependa-se sinceramente de seus pecados e convide a Cristo, o Salvador, para “entrar em seu coração”, ou seja, para penetrar no mais íntimo de seu ser, e limpá-lo de toda transgressão. A seguir, agradeça a Deus por tê-lo salvo e peça a Ele para ajudá-lo a viver todos os dias de maneira nobre, santa, pura. Não poderei descrever o alívio e a sensação de liberdade que o leitor sentirá, pois afinal de contas, o prezado já está preso nestas amarras espirituais a milhares e milhares de anos, mas estou certo, com os meus 25 anos de pastorado, que o prazer que sentirá será imenso, real e indizível!

A EVOLUÇÃO TAMBÉM É NECESSÁRIA

A crença de que a salvação do indivíduo só pode ocorrer mediante a evolução de seu espírito, feita a partir de uma sucessão infinda de reencarnações, não é escrituristicamente correta, pois que este nunca foi e nem nunca será o objetivo da reencarnação. O objetivo da reencarnação, biblicamente falando, é dar a oportunidade ao indivíduo de, em alguma das muitas manifestações de vida que terá, ser confrontado com o Libertador de todas as amarras milenares de sua vida – o nosso Mestre, Senhor e Salvador Jesus Cristo! Ao ser confrontado com o Salvador dos homens, o indivíduo poderá decidir-se pela sua libertação definitiva. Toda a operação de salvação do homem, que envolveu o Cosmo inteiro e demandou a participação direta do próprio Deus, porém, não pode, por si só, pela sua dramaticidade, salvar qualquer indivíduo que seja, se este não o desejar! O ser que precisa da salvação tem que desejar ser salvo e isto não acontece em doses homeopáticas, de evolução em evolução, mas de imediato, instantaneamente, através de uma entrega confiante e total do perdido Àquele que irá salvá-lo! É como uma criança que se lança aos braços do pai de uma altura elevada para se livrar das chamas de um incêndio ou, um nadador que está se afogando e precisa confiar no banhista que dele se aproxima para salvá-lo. Tem de confiar! Tem de se lançar totalmente nos braços de Cristo! Não importa se você chama esse ato de conversão, de novo nascimento ou de outro nome qualquer, pois o que importa é que o indivíduo passe por esta experiência de salvação!

Uma vez salvo, porém, o indivíduo entra em uma segunda fase, uma fase de evolução, mas não evolução do espírito no sentido de aperfeiçoamento deste, de melhora de sua essência, pois o que Cristo operou no íntimo do pecador não pode ser melhorado por ninguém. Sua obra é completa e definitiva. O pecador precisava ter a sua natureza decaída e pecaminosa transformada em uma natureza santa e pura, que sentisse prazer nas coisas de Deus e isto Cristo fez por ele, melhor dizendo, por todos nós. Ele nos transformou em santos a fim de que pudéssemos evoluir em santidade. O novo espírito do salvo precisa evoluir, crescer em conhecimento da vontade de Deus e, o Espírito Santo, como Mestre de Jesus que foi, também nos ajudará a crescer em Deus (2ª Pedro 3:18). Este processo de crescimento em Deus, de distanciamento do mal e de realização de boas obras é conhecido nas Escrituras pelo nome de santificação e só termina quando o indivíduo deixa este mundo em Cristo. Assim aprendemos que somos salvos para evoluir e não evoluímos para sermos salvos. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus, não vem de obras para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua (de Deus) criados em Cristo Jesus para as boas obras as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:8-10). Somos salvos pela graça de Deus para a prática das boas obras e não por causa delas. Deus não precisa das nossas obras para salvar-nos e sim de nossa fé em seu ato de amor que o levou a oferecer Jesus Cristo por nós.

CONCLUSÃO

Evolução espiritual é apenas para os espiritualmente vivos, para os transformados por Deus, para os atingidos pelo Evangelho de Cristo e não para os que ainda não se converteram de suas maldades, não buscaram o perdão do Senhor, não demonstraram nenhum interesse pelas coisas espirituais, pois se tivessem de evoluir no estado em que se encontram, evoluiriam sim em maldade, em pecado, em transgressão, e aumentariam em muito a sua “carga kármica”. A evolução espiritual é realmente necessária para todos os indivíduos, mas não pode vir antes da conversão, da transformação do pecador em um justo santificado.

“Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1ª Tessalonicenses 4:3)

“Não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação” (1ª Tessalonicenses 4:7)

“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14)

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

I. Salvação – Quem Precisa Dela?

 

Palestra I

QUEM PRECISA DELA?

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio, em Realengo, no Rio de Janeiro, em junho de 2012

INTRODUÇÃO

Uma das coisas que eu sempre achei extremamente difícil de compreender nas pessoas que me anunciavam o Evangelho era o porquê de eu ter de ser salvo! Eu não conseguia entender essa coisa, pois não me sentia perdido em nada! Eu estava muito bem, obrigado! Eu havia nascido em um lar presbiteriano, criado em um internato católico, adotado por uma família tradicional do Rio de Janeiro de sólidos princípios cristãos e feito boas amizades na Marinha, força militar em que me alistei. Possuía um lar maravilhoso com irmãos tão fraternos que até hoje em dia parecem não existir iguais; uma mãe que era e ainda é uma esponja de puro amor; amigos em toda parte que me orientavam e me encaminhavam para o bem, e vinha agora aquele bando de pessoas esquisitas dizendo que eu devia “aceitar a Jesus, como meu único e suficiente Salvador e Senhor”, “arrepender-me de meus pecados”, “ser salvo”, e viver de acordo com a “Bíblia”, para que, quando morresse, “não fosse para o inferno e sim para o céu”. Até os doze anos de idade eu sequer sabia o que significava morte! Por que razão então eu deveria ser salvo? Salvo de que ou de quem? Salvo para fazer o que? Eu nunca atendi aos apelos daquela gente esquisita, não porque tivesse desenvolvido uma postura de rejeição permanente para rechaçá-los, mas porque eu não conseguia entender o significado daqueles termos esquisitos. Eu simplesmente não sabia do que eles estavam falando! Somente aos 21 anos de idade é que eu vim a compreender o significado de tais palavras e pude tomar a decisão que iria mudar toda a minha vida! Glória a Deus!

EVANGELHO: A LOUCURA DE DEUS!

Por vezes nós cristãos achamos que é coisa fácil para as pessoas a quem estamos evangelizando entenderem o nosso linguajar, o nosso jargão teológico, a nossa maneira de falar, mas isto não é verdade. Mesmo que o fosse, ainda assim, a mensagem que nós pregamos não é nada fácil de ser compreendida! Ela é tão complicada, tão complexa, tão difícil, que precisamos de um Deus para convencer o nosso ouvinte! O apóstolo Paulo denominou-a de “a loucura da pregação” (1ª Coríntios 1:21). Ele disse: “o homem natural (não convertido, não comungante com Deus) não compreende as coisas do Espírito de Deus porque lhe parecem loucura. Sente só a situação de nosso ouvinte: uma pessoa chega para ele e diz que um inocente foi duramente torturado e assassinado por causa dele e que, se ele não se arrepender de seus delitos, de seus maus atos, vai ser condenado pelo próprio Deus a viver para sempre em um lugar de trevas e fogo na companhia dos piores elementos do universo, incluindo a presença do próprio Diabo! Só que o nosso ouvinte não sabe que atos foram esses que a pessoa diz que ele cometeu, nem ainda quem é o indivíduo que ela diz que ele matou, pois tal pessoa já morreu há mais de dois mil anos em uma nação que o ouvinte jamais conheceu e para onde nunca sequer viajou! Isto é loucura ou não é? A Bíblia diz que “a palavra da cruz é loucura para os que perecem, mas para nós que somos salvos é o poder de Deus” (1ª Coríntios 1:18).

Fico entristecido ao ver pregadores, ao término de uma ministração, no templo ou fora dele, se sentindo totalmente frustrados, humilhados, decepcionados, pesarosos, por não verem os indivíduos para os quais eles ministraram, decidindo-se por Cristo, aceitando a salvação que eles estão lhes oferecendo. Eles se sentem completamente arrasados, decepcionados, frustrados e podem permanecer neste estado de depressão espiritual por um longo período. Querido, o que você está pregando é uma loucura, e não é loucura de homem, é loucura de Deus! “Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação, “porque a loucura de Deus é mais sábia do que os homens” (1ª Coríntios 1:21,25). Apenas Deus pode ser responsabilizado pela sua própria loucura! Os resultados de sua pregação louca só dependem Dele mesmo e não de nenhum de nós!

A nossa função não é ficar cobrando resultados do Altíssimo, mas apenas sermos fiéis em nossa incumbência de proclamar a sua mensagem. Mensageiros não são responsáveis pelo conteúdo das cartas que carregam e sim pela sua entrega. Não podemos fazer nada para ajudar Deus, para esforçá-Lo, para dar-Lhe melhores resultados. A Parábola do Semeador que, pacientemente semeia sua boa semente em quatro terrenos diferentes, e que só obtêm os resultados pretendidos em um deles, nos ensina isto. O bom resultado da semeadura não depende apenas da semente e do tempo adequado para semeá-la, mas também do terreno que a recebe (Mateus 13:1-23). O rei Salomão instruiu em Eclesiastes 11:6: “Pela manhã semeia a tua semente, e à tarde não retires a tua mão, porque tu não sabes qual prosperará: se esta, se aquela, ou se ambas igualmente serão boas”. O apóstolo Paulo, tão acostumado a pregar às multidões, sabia muito bem qual era a sua posição diante de Deus, pois que disse aos crentes de Corinto: “Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o crescimento; de sorte que nem o que planta é alguma coisa, nem o que rega, mas Deus que dá o crescimento” (1ª Coríntios 3:6,7). Apenas o Espírito Santo pode convencer alguém das verdades divinas (João 16:8). O próprio Senhor nos orienta sobre como isto acontece: “Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zacarias 4:6). Nada, pois, de ficar arrasado quando não vir os resultados acontecendo de imediato, pois nenhum de nós possui o título de Salvador dos homens, a não ser o nosso Bendito e Amado Jesus. Toda honra, toda glória, toda adoração para o nosso Mestre amado!

Assim é que as primeiras palavras do Espírito Santo sobre a salvação, nesta Palestra, são direcionadas aos pregadores do Evangelho com o objetivo de salvá-los de seu sentimento de incapacidade, de desânimo, de frustração quando, ao pregarem a mensagem de Deus, os ouvintes a quem eles estiverem pregando, não responderem favoravelmente aos seus apelos. Ditas essas coisas, vamos examinar juntos o que seja, biblicamente, salvação:

ENTENDENDO O QUE É PERDIÇÃO PARA COMPREENDER O QUE SEJA SALVAÇÃO

As Escrituras ensinam que os nossos primeiros pais viviam uma vida de comunhão com Deus, porquanto criados por Ele mesmo para a sua comunhão e prazer. Deus e o homem eram amigos. Estavam sempre juntos. Gostavam de sua amizade. Todo dia, pela viração da tarde, Deus vinha conversar com a sua criaturinha. Eles discutiam sobre como expandir o Éden para toda a terra, sujeitando os animais e poderes terrestres, tendo cuidado em preservar o meio ambiente. A força de Deus em Adão era tão grande que quando o Senhor lhe trouxe a mulher que criara para ser sua companheira ele lançou uma palavra sobre a constituição e perenidade do casamento que, até hoje, milhares e milhares de anos após a sua morte, continua vigorando! (Gênesis 2:22-24). Mas outro ser também vinha conversar com nossos primeiros pais! Este tentava levá-los a desacreditarem de Deus e a se rebelarem contra o Altíssimo. O ser maligno insinuava que se eles comessem o fruto de uma determinada árvore que o Senhor lhes proibira acessar seriam como Deus. Ninguém sabe quanto tempo durou este embate, apenas que, ao final do mesmo, o homem cedera as provocações do Diabo e decidira se rebelar contra Deus. A comunhão com o Divino então fora quebrada! A amizade que ambos tinham fora partida! A confiança no Criador, desacreditada! O homem não desejava mais a interferência de Deus em sua vida!

Os resultados dessa decisão foram extremamente desastrosos para a vida daquele casal e dos filhos que lhes adviriam. O Senhor expulsou imediatamente o homem e a sua companheira do Éden, pois o Paraíso é lugar para os que desejam viver em comunhão com Deus e não para os que desejam viver errados. Eles tiveram que trabalhar duramente a terra externa ao Jardim do Éden para tirar dela o sustento. Os animais, que deveriam ser subjugados pelo homem, já não eram mais tão dóceis e amigos. O parto da mulher aumentara muitíssimo em dor e em sofrimento. A morte física passara a ser uma realidade para os seus corpos, outrora tão bonitos e fortes. O homem passara a experimentar doenças, enfermidades, angústias de alma e falta de expectativas. O acesso a Deus fora quebrado e Satanás agora ditava as regras para o homem. Quando o indivíduo morria, nem por isso ficava liberto de sua prisão espiritual, pois sua alma não ia diretamente à presença de Deus, mas ficava retida, aprisionada, cativa, em um cárcere espiritual, nas regiões inferiores do planeta, conhecido pelos hebreus pelo nome de Sheol e pelos gregos pelo nome de Hades. Essas regiões penumbrosas faziam parte dos domínios de Lúcifer, o ser que ficara tentando os nossos pais no Éden. A esperança de sair de tal prisão residia na crença da ressurreição final quando Deus retiraria os prisioneiros que Nele confiavam daquela cadeia, lhes revestiria de um novo corpo, capaz de resistir a morte, e os levaria para viver eternamente com Ele na glória. Você pode ler sobre o relato da queda do homem nos três primeiros capítulos do livro do Gênesis, o primeiro das Escrituras Hebraicas. Em breves palavras, isto é o que chamamos de “a queda espiritual da humanidade”.

Mas você então pergunta: “E o que é que eu tenho a ver com isso? O que é que eu tenho a ver se meus pais antigos, meus ancestrais, meus avós e bisavós e seja lá quem for, pecaram ou deixaram de pecar contra Deus? Isso é problema deles, não meu! Não posso pagar por algo de errado que eles tenham cometido! Cada um colhe o que plantou!” Sabe de uma coisa, prezado leitor? VOCÊ QUASE QUE ACERTOU EM TUDO! Quase que está completamente correto! Não podemos mesmo pagar pelos erros dos outros, mas, podemos sim, receber as más conseqüências de seus atos errados! Jeremias, um dos profetas do antigo Israel, disse: “Nossos pais pecaram e já não existem; nós levamos as suas maldades (Lamentações de Jeremias 5:7). Uma simples decisão de meu leitor de não pagar a conta de fornecimento de energia elétrica e toda a sua família ficará às escuras! O Líder principal de uma nação pode decidir-se pela guerra contra outra nação e você, como cidadão daquele país, nem sequer ser chamado para opinar sobre ela, mas, decidindo-se você ou não pela peleja e, participando ou não da guerra, receberá as conseqüências da decisão de seu Líder – quer sejam elas boas ou más. Adão e Eva decidiram se rebelar contra Deus e, ao fazerem isto, trouxeram a miséria e a peste sobre todo o Planeta, colocando toda a espécie humana em servidão!

Quando Deus expulsou nossos primeiros pais do Éden, estes construíram um abrigo para si ao redor daquelas terras e começaram a viver ali o seu novo “estilo liberto de vida”. Preste bem atenção ao que eu vou dizer agora: Quando os filhos daquele casal nasceram, já nasceram fora do ambiente espetacular que seus pais viveram cheio de glória, de resplendor, e de íntima comunhão com Deus! Nenhum deles tivera a oportunidade de conhecer aquele extraordinário lugar, nem ainda a fantástica pessoa do Altíssimo, pois quando eles nasceram o acesso ao Jardim do Éden já lhes havia sido vedado e a comunhão com Deus, destruída! Eles agora só podiam ficar olhando para aqueles domínios, outrora gloriosos, e desejarem ter vivido o que seus pais ali viveram com Deus! Entretanto, tinham mesmo é que se contentar em viver com suas mulheres e filhos e os filhos de seus filhos, em seu novo padrão de vida instalado na terra a partir da desobediência de seus pais (Genesis 4). Talvez seja esse desejo frustrado de não ter experimentado o que nossos primeiros pais experimentaram e a impossibilidade de conseguí-lo na atualidade que faz com que tenhamos uma relação de amor e ódio para com tudo o que se refira a religião.

Conviver com o exemplo de vida moral fracassada de seus ex-honrados pais, aliada a infestação de demônios que já grassava o planeta, o rigor decorrente da nova situação de vida que estavam vivendo, mais a impossibilidade de acessar o lugar glorioso em que seus pais viveram em parceria com Deus, era demais para os filhos daquele primeiro casal, que logo também estavam pecando e aumentando, ainda mais, o declínio espiritual da raça humana. As Escrituras dizem que isto foi feito com tanta rapidez, em tão pouco tempo, que já no sexto capítulo de seu primeiro livro, Deus manifestou o desejo de exterminar toda a raça! A terra estava coberta de violência e de injustiça e, ainda, totalmente depravada. O dilúvio veio como juízo sobre todos. Apenas Noé e sua família se salvaram. Melhorou tal calamidade a moral da espécie humana? Os novos humanos que vieram depois do Dilúvio, vieram melhores que os primeiros? Responda com sinceridade, prezado leitor: Você acha que somos melhores hoje do que a civilização antediluviana ou as gerações do tempo de Cristo? Nossos exemplos de vida doméstica, pessoal e espiritual têm sido modelos de honra e de dignidade para os nossos filhos seguirem?

Um só pecado cometido por nossos primeiros pais e toda a humanidade ficou totalmente comprometida! Um só pecado cometido por mim ou pelo prezado leitor e toda a nossa vida e a de nossos “próximos” ficarão comprometidas também. Uma pequenina gota de tinta compromete toda a limpidez de um enorme recipiente de água cristalina.

O prezado leitor se lembra de ter praticado algum pecado na vida? Qualquer um que seja? Se lembra, então precisa da salvação de Cristo, pois este único pecado altera toda a essência de nossa natureza que deixa de ser totalmente pura, santa, imaculada, e passa a ser pecadora, transgressora, rebelde contra Deus. O Pastor Olívio precisa muito da salvação de Deus por ter sido um horrível pecador no passado e, volta e meia, ainda, cometer algumas transgressões contra o Amado Senhor. As Escrituras afirmam que todos os homens, a exceção de Cristo já pecaram alguma vez na vida e, aqueles que virão no futuro, também não conseguirão deixar de pecar (Romanos 3:23). Eles não agüentarão viver uma vida inteirinha de santidade e pureza, sem cometer pecado algum. Isto lhes acontecerá pela força do ambiente espiritual imundo e contaminado em que eles nascerão; pela ação perversa do Maligno e de seus demônios que os tentarão o tempo todo até eles pecarem; pelo exemplo decaído de seus pais, familiares e amigos e, ainda, pela carga kármica que trarão de outras vidas já vividas.

NINGUÉM É OBRIGADO A SER SALVO

Mas você pode perguntar: O que acontecerá se seu não quiser ser salvo?

Bem, eu não tenho uma resposta muito boa para você. O que acontece com uma pessoa em nosso mundo que, estando perdida, ainda assim, não deseja ser encontrada? Compreendo e respeito a decisão de meu prezado leitor se este pretende permanecer perdido, mas não creio que deva dar este gostinho ao Diabo e aos seus inimigos terrenos, até porque, com a salvação de Cristo, o leitor terá muitíssimo a ganhar! Mas para responder a pergunta ensejada, as Escrituras ensinam que NINGUÉM, à exceção de Cristo, possui força suficiente para enfrentar o Maligno e sair-se vencedor da peleja; que o Maligno pode colocar e colocará todo tipo de problemas e dificuldades capazes de quebrarem a harmonia interior do amado. Uma vez feito isto ele despejará sobre a sua vida todo o seu arsenal de malignidades, que não é nada pequeno, tais como; doenças físicas, obsessões, possessões, medos inexplicados, dificuldades de toda sorte, agressividade desconhecida, incitação descontrolada de desejos sabidamente ilícitos, e tudo aquilo que puder lhe trazer uma alegria não genuína. As Escrituras ensinam que até dormindo precisamos da proteção do Senhor para não sermos atacados pelo Maligno! (Salmo 3:5 / 4:8). Somado a isto tudo – e que eu, como Pastor, considero ser a pior ação de Satanás na vida do homem – o prezado será desestimulado de procurar a salvação e, deliberadamente se distanciará cada vez mais de Deus.

O resultado desse aprisionamento espiritual dos sentidos e da vontade é uma degradação na natureza humana cada vez mais acentuada, ao ponto de a Bíblia dizer que, nos últimos dias, haverá seres tão endurecidos contra as coisas de Deus, tão moralmente insensíveis, tão empedernidos, tão empedrados em sua consciência para as coisas do bem, que sua condição moral se assemelhará a de um demônio ou a do próprio Satanás! Por isto eles também experimentarão o mesmo inferno destinado ao Diabo e aos demônios, “pelos séculos sem fim” (Mateus 25:41 / Apocalipse 20:10 / 21;8). O meu leitor pode até desejar isso para a sua vida, pois é livre para fazê-lo, mas o Pastor Olívio acredita que, se isto já estiver lhe acontecendo, é porque o prezado já está por demais tocado e envolvido por Satanás.

Descrevi em meu livro, disponibilizado neste site, um estado derradeiro, último, destinado as criaturas que chegarem a esse estágio moralmente sem volta que é o aniquilamento do indivíduo como criatura, a cessação de sua existência, o desaparecimento de sua personalidade. Creio que este estado é pior mesmo do que aquele, apregoado por alguns, como sendo o destinado a tais criaturas que ficariam então sofrendo eternamente em um lugar de tormento e de fogo na companhia dos piores elementos do universo, pois que neste, o indivíduo ainda sabe quem é, tem consciência de seu ser, de sua existência, mas, naquele outro, ele será apenas um nada, deixará de existir, e nunca mais será para sempre. Entendo que alguém possa agüentar o pior sofrimento que se possa infligir a uma pessoa, mas não que possa aquentar a idéia de não existir nunca mais, de nunca mais ser lembrado.

CONCLUSÃO

Na próxima palestra, irei examinar uma interessante questão envolvendo a salvação, qual seja, se ela é um ato divino que precisa ser experimentado pelo homem ou se é uma inexorável evolução de caráter humano e que acontecerá com todos os indivíduos. Creio que o leitor vai ficar vivamente entusiasmado com aquilo que vai ser nela ministrado!

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

VIII. Ressurreição ou Reencarnação?

Palestra VIII

RESSURREIÇÃO OU REENCARNAÇÃO?

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em Junho de 2012

INTRODUÇÃO

Depois de termos analisado a crença dos judeus na reencarnação (Palestra IV); a crença dos discípulos de Jesus na mesma (Palestras II b; V; VI); a aprovação e ensinamentos do próprio Cristo em tal doutrina (Palestra VII), resta-nos a pergunta: “O que devemos seguir agora? A ressurreição ou a reencarnação?” A resposta do Pastor Olívio a essa questão não poderia ser diferente: “Nem uma nem outra doutrina exclusivamente, mas as duas”. Sei que esta parece ser uma resposta excusa, própria de quem não quer se envolver em nenhuma questão, em nenhum problema, e sim ficar quietinho, “encima do muro” como se costuma dizer, mas isto está longe de ser a verdade, pois quem teve de assumir, com imensos riscos pessoais e familiares, a crença em diversas doutrinas ditas “espíritas”, sendo um Pastor Evangélico, não pode ser acusado de ficar “encima do muro”, de se recusar a tomar posições. A questão é que se aceitarmos somente a ressurreição como doutrina bíblica sobre o retorno dos mortos à vida ficaremos com uma teologia capenga. Se aceitarmos somente a reencarnação, ficaremos com uma teologia manca. Apenas se aceitarmos as duas doutrinas como fazendo parte do grande plano de Deus para a redenção humana conseguiremos ver com mais clareza a abrangência e a profundidade da magnífica obra redentora de Deus!

Vimos na Palestra IV, sob o grande tema da “Reencarnação”, que as Escrituras dão nome de ressurreição a todo o tipo de retorno do indivíduo da morte para a vida, independentemente deste ter voltado assumindo o velho corpo em que vivera, um corpo novo, recém-gerado, preparado especificamente para ele viver mais uma manifestação de vida, ou ainda, um corpo definitivo, que não sofrerá mais mudanças, habilitado a viver a eternidade. Na atual palestra nos deteremos a analisar os dois grandes fenômenos espirituais que acontecem com o indivíduo no intervalo que vai de sua primeira morte até a sua ressurreição final. É especificamente este período que nos interessa. Não iremos examinar a ressurreição final, definitiva, que acontecerá com todos os seres humanos, aqui, visto ser nossa intenção estudá-la quando formos tratar das “Doutrinas das Últimas Coisas”.

Sei que muitos apregoam que uma vez que o indivíduo tenha morrido, este deve ficar na condição / lugar espiritual para onde foi levado e lá ficar aguardando o Dia do Julgamento Final, a acontecer no final das eras, quando então receberá o seu corpo definitivo, preparado para ele viver a eternidade. Tenho enormes dificuldades em acreditar neste ensino, pois não consigo enxergar propósito algum em se manter uma criatura finita, falha, amedrontada, presa com os piores elementos de nossa humanidade por milhares e milhares de anos terrenos em uma cadeia espiritual à prova de fugas para depois ressuscitá-la e condená-la a viver toda a eternidade (quem neste universo, a exceção de Deus, sabe o que é isso?) em sofrimento indizível, inimaginável, junta agora não apenas com os piores elementos de nossa humanidade, mas também de todo o universo e o próprio Satanás, em um lago de fogo ardente, inextinguível, só por ter ela cometido um ou vários pecados ou por desconhecer ela as leis de um “Deus de Amor” e o Salvador que Ele enviou para livrar todos os homens do inferno, mas que ninguém nunca sequer Dele lhe falou! Como disse em meu livro, disponibilizado neste site: “Quem quiser acreditar nisto que acredite, mas eu não acredito que você acredita”.

No estudo das ressurreições parciais e das reencarnações também parciais queremos ver primeiro quais as diferenças ou pontos discordantes entre ambas e a seguir, os pontos que elas têm em comum. Quero chamar a atenção do meu prezado leitor para o fato de que toda vez que a palavra ressurreição aparecer no texto, salvo alguma ressalva feita por este Pastor, ela se referirá exclusivamente a ressurreição parcial, provisória, não definitiva do corpo e não a ressurreição final, última, que acontecerá com todos os homens no final dos tempos. Vamos então começar nossa análise pelos pontos discordantes entre ambas:

DIFERENÇAS ENTRE RESSURREIÇÃO E REENCARNAÇÃO

A primeira diferença a se observar entre a ressurreição e a reencarnação encontra-se no número dos indivíduos que passaram por ambas as experiências. O número de pessoas que passaram por uma ressurreição parcial é ínfimo, minúsculo, em relação aos que passaram por uma reencarnação, que é incontável, ilimitado. Apesar das Escrituras conterem muitos relatos de pessoas que foram ressuscitadas e, em pelo menos um deles afirmar que foi grande o número dos que retornaram da morte à vida (Evangelho de Mateus 27:52), este número é comparativamente muito pequeno, muito insignificante, em relação ao total dos indivíduos que compõem a humanidade, o que reforça o argumento de que tal fenômeno é um imenso privilégio, uma tremenda honra, uma enorme distinção, para aqueles que por ele passaram. Quanto a reencarnação temos que apenas Jesus Cristo não a experimentou, no sentido de ter de retornar à vida física para saldar alguma dívida moral, tendo em vista as Escrituras afirmarem que Ele não veio da terra, mas do céu (João 3:31). Caso tivesse cometido algum pecado em vida o Cristo teria de reencarnar, mas como não cometeu delito algum, não precisou passar pelo processo reencarnatório (Hebreus 4:15). Todos os demais seres humanos, de todas as gerações – passadas, presente e futuras -, tiveram problemas com o pecado e tiveram de retornar à Terra dos Viventes para saldarem suas dívidas. Isto faz da reencarnação um processo democrático, imparcial e extremamente necessário e da ressurreição um processo eletivo!

A segunda diferença que desejo destacar entre a ressurreição e a reencarnação está no número de vezes que elas acontecem com o mesmo indivíduo. Conforme mencionei na Palestra II a, sob o tema da “Reencarnação”, nunca encontrei nenhum relato, quer fosse este bíblico ou secular, de um mesmo indivíduo que houvesse ressuscitado mais de uma vez. Todas as pessoas que ressuscitaram, só ressuscitaram uma vez apenas! Já com a reencarnação não podemos dizer o mesmo. Quantas reencarnações eu e o prezado leitor já não experimentamos? Desde quando estamos “rolando” e “enrolando” de uma para outra época do tempo como devedores de alguém? Quanto tempo foi necessário para chegarmos ao ponto que chegamos de receber todas as informações libertadoras que estamos recebendo e estarmos prontos para dar o grande salto libertário de nossas vidas em Cristo Jesus? Já que a maior parte de nós não pode conseguir isto pelo processo da ressurreição, podemos consegui-lo agora pelo processo da reencarnação! Vamos aproveitá-lo logo então, agora, de imediato! Vamos nos lançar nos braços do Cristo e pedir para Ele nos conceder o seu tão maravilhoso e necessário perdão! Aquele ladrão da cruz estava em pior situação que nós e ainda assim, ao pedir para Cristo perdoá-lo, o Bendito Salvador lhe disse: “Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso” (Evangelho de Lucas 23:43). Nada, pois, de ficar adiando a decisão mais importante de toda a sua vida para a próxima encarnação! Quem lhe garante que as condições no futuro serão as mesmas? Quem lhe garante que alguém, lá adiante, o alertará sobre essas coisas? O tempo é agora! O tempo é hoje! Como diz o Senhor no livro de Hebreus 3:15: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações”.

A terceira grande diferença entre a ressurreição e a reencarnação encontra-se no tempo a partir do qual elas podem acontecer com o indivíduo. A ressurreição acontece sempre a partir da data em que o indivíduo faleceu. Se faleceu criança, ressuscitará criança. Se faleceu jovem, ressuscitará jovem e se faleceu como ancião, como ancião ressuscitará. Nunca nas Escrituras alguém ficou mais jovem ou mais velho por ter sido ressuscitado. O indivíduo ressuscitará exatamente com o mesmo corpo e na fase da vida em que morreu. Já na reencarnação, todos os indivíduos retornam à vida física a partir da concepção, da geração de um novo corpo, preparado especificamente para ele viver a sua nova manifestação de vida. Isto faz com que todas as reencarnações aconteçam a partir de um útero, de um ventre materno, enquanto as ressurreições acontecem a partir do lugar onde o corpo do morto esteja, esteja ele enterrado ou não. Por ter o indivíduo reencarnado um novo pai e uma nova mãe, no sentido de serem estes diferentes dos pais que tivera na vida anterior, virá este com novas características físicas, corpóreas, totalmente dessemelhantes das de seu antigo corpo! Foi por terem conhecido João Batista no deserto da Judéia e terem visto Elias no Monte da Transfiguração com Cristo que os seus discípulos entenderam a explicação de Jesus de que João era o antigo profeta de Israel (Mateus 17:1-13). Os seus corpos eram diferentes, mas o seu espírito não! Este era único, ímpar, o mesmo da encarnação passada!

PONTOS COMUNS ENTRE A RESSURREIÇÃO E A REENCARNAÇÃO

O primeiro ponto comum que eu gostaria de destacar entre a ressurreição corporal e a reencarnação é que nenhum dos dois fenômenos foi estabelecido por Deus como meio de salvação dos homens. Nem a ressurreição salva ninguém, nem a reencarnação também. Ambos foram estabelecidos por Deus como métodos diferenciados de trazerem um defunto à vida, não de salvarem ninguém. As Escrituras são enfáticas em afirmar que o único elemento de salvação dado aos seres humanos, chama-se Jesus Cristo: “Em nenhum outro há salvação, porque também, debaixo do céu, nenhum outro nome há (além do de Jesus), dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (Atos 4:12). O apóstolo Paulo disse a seu filho na fé Timóteo: “Deus quer que todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem” (1ª Timóteo 2:4,5). Quando Cristo nasceu os anjos disseram para os pastores que estavam guardando os seus rebanhos à noite: “Eis que na cidade de Davi vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor” (Evangelho de Lucas 2:11). O próprio Cristo disse para seus discípulos: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (Evangelho de Joaão 14:6). Faltar-me-ia o tempo elencando todas as passagens bíblicas que falam de Jesus Cristo como único Salvador dos homens. O que desejo firmar aqui é que nenhum perdido que morra como um demônio ressuscitará como um santo e nenhum fiel que morra como um pecador acordará como um santo no céu. Só Jesus pode nos salvar de nossas mazelas e pecados.

O segundo ponto comum entre a ressurreição parcial e a reencarnação é que nenhum dos indivíduos que passaram por um dos fenômenos se lembrou do que havia acontecido! Eles não se lembravam de nada! Nem os ressuscitados se lembraram de coisa alguma, nem os reencarnados também! E isto é deveras importante para mim que ouço pessoas dizendo que se houvesse reencarnação de fato as pessoas saberiam quem foram nas vidas passadas. Mas elas se esquecem ou não sabem que NENHUM DOS RESSUSCITADOS DA BÍBLIA, À EXCEÇÃO DE JESUS CRISTO, TAMBÉM NÃO SE LEMBROU DE NADA! Nem das coisas do outro lado, nem deste! Seria este um caso de discriminação doutrinal ou apenas de desconhecimento escritural? Sim, porque as pessoas que foram ressuscitadas na Bíblia ficaram menos tempo mortas do que as que foram reencarnadas! Não deveriam elas, pelo pouco tempo que ficaram mortas, se lembrarem mais de alguma coisa do que as que foram reencarnadas? Em alguns casos, a ressurreição do indivíduo foi tão rápida, tão próxima de sua morte, que o seu aparato fisiológico mental, o seu cérebro, responsável por guardar as suas memórias, sequer foi danificado! Por que então as pessoas não se lembraram do que viram no outro lado da vida? Porque caso elas se lembrassem, tomariam todo o cuidado do mundo para não fazerem as coisas que as levaram ao lugar para onde foram e acertariam, de imediato, as coisas com as pessoas de quem eram devedoras. Mas não é isto exatamente o ideal? Não é isto o que deveria ser? NÃO, pois a salvação do homem não deve acontecer por horror ao local onde se encontrou após a morte e sim por amor a Deus e obediência voluntária, não coercitiva, às suas leis divinas. Apenas um ser transformado em sua natureza pecaminosa por Jesus Cristo pode ser salvo! O céu não é lugar de pessoas intimidadas e bem comportadas, não é lugar de “santinhos forçados”, e sim de indivíduos que aprenderam a amar ao Senhor e ao seu Cristo voluntariamente!

O terceiro e último ponto comum que desejo destacar entre a ressurreição e a reencarnação diz respeito a sua fonte, a sua origem, a sua procedência. Tanto a ressurreição quanto a reencarnação são métodos divinos, bíblicos, escriturísticos, de se trazer o indivíduo novamente à vida física. Não estamos autorizados a dizer, dadas as inúmeras provas bíblicas apresentadas, que a ressurreição provém de Deus e a reencarnação do Diabo; que a ressurreição é “doutrina cristã” e a reencarnação é “doutrina espírita”. Ambas são “doutrinas bíblicas”, e por isso mesmo, tão inspiradas por Deus quanto as demais doutrinas ensinadas em nossas igrejas. Isto é o mesmo que dizer que ambas são frutos da misericórdia de Deus, visto terem como objetivo dar outra oportunidade ao indivíduo de ser liberado em vida! Oh! Como isto soa diferente daqueles que afirmam ser a reencarnação uma doutrina de demônios, criada pelo próprio Diabo para levar os homens ao inferno ou, ainda, uma falsificação barata e sem nexo da Palavra de Deus! Longe disso, a reencarnação não pretende afastar os homens de Deus e sim dar uma nova oportunidade para este ser salvo por Deus! Não é isto maravilhoso? Não é isto tremendo? Não afastar, mas aproximar! Não maquiar, mas revelar! E a ressurreição parcial? Qual o seu objetivo? Curar o indivíduo que morreu enfermo? Libertá-lo de um demônio? Arrumar-lhe outro emprego ou um novo casamento? Não, você sabe que não, e sim dar-lhe outra oportunidade de acertar as contas com o seu próximo, consigo mesmo e com Deus. A ressurreição corporal e a reencarnação são bênçãos divinas pelas quais toda pessoa que vive hoje no planeta deveria ser grato, pois graças a elas podemos ter mais uma chance de sermos definitivamente liberados de nossas amarras espirituais em vida.

CONCLUSÃO

Para finalizar esta nossa palestra eu gostaria de dizer ao meu prezado leitor que, para o Senhor Nosso Deus, tanto a ressurreição quanto a reencarnação de uma pessoa ou de milhares ao mesmo tempo, possui o mesmo grau de facilidade. Deus não gasta mais tempo ou poder para fazer esta ou aquela outra coisa, por esta possuir material preexistente e aquela outra não, pois como Ele mesmo disse para o profeta Jeremias: “Eu sou o Deus de toda a humanidade: Acaso haveria coisa demasiadamente difícil para mim?” (Jeremias 32:27). No livro do profeta Isaías, após ter relatado passo a passo a criação do universo, Ele questiona a todos, dizendo: “Não sabes, não ouvistes que o Eterno Deus, o Senhor, o Criador dos fins da terra, nem se cansa nem se fatiga?” (Isaías 40:28). Gabriel disse para Maria: “Para Deus nada era impossível” (Lucas 1:37). Vamos, pois, deixar de lado esta predisposição inconsistente e preconceituosa de rejeição à doutrina bíblica da reencarnação, tão somente porque nos “ensinaram” que ela é uma doutrina espírita, diabólica e antibíblica e vamos estudar com afinco e coração aberto a Palavra de Deus em nossas classes bíblicas a fim de vermos o que ela realmente diz sobre este e demais assuntos.

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

 

VII. Cristo e a Reencarnação

 

Palestra VII

CRISTO E A REENCARNAÇÃO

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 2012

INTRODUÇÃO

Estou absolutamente ciente de que, por mais que eu tenha demonstrado, através de inúmeros textos bíblicos, a realidade da reencarnação como doutrina bíblica, escriturística, divinamente inspirada, e a necessidade de a incorporarmos aos nossos sistemas de interpretação a fim de conseguirmos harmonizar passagens e relatos que, sem ela, continuarão sendo contraditórios ou permanecerão sem nenhum sentido, alguns de meus diletos leitores estão pensando: “Gostaria mesmo era de ver o Pastor Olívio falando sobre o que o Senhor Jesus ensinou sobre a reencarnação, pois falar sobre o que o povo acreditava é fácil, pois o povo acredita mesmo em tudo que se lhe diga”. Sabe de uma coisa? O meu prezado leitor está com a razão em pensar assim e em fazer tal reivindicação, pois sendo Jesus a maior autoridade espiritual que já pisou neste planeta, qualquer revelação que Ele tenha feito sobre o mundo espiritual se reveste de importância extrema e se torna em diretriz e coluna para a nossa fé. Nesta palestra espero reforçar o ensinamento de que a doutrina das vidas sucessivas não era uma crença ridícula e fantasiosa do povo comum, guias religiosos e autoridades governamentais de Israel, como proclamam alguns, mas sim um dos métodos de retorno do indivíduo à vida física, criado pelo próprio Deus e aceita e ensinada pelo próprio Filho do Altíssimo!

POSTURA DO CRISTO DIANTE DO FENÔMENO DA REENCARNAÇÃO

Vamos examinar neste estudo alguns textos envolvendo diretamente a pessoa do Senhor Jesus com a questão da reencarnação, mas, desde logo, gostaria de enfatizar que o Mestre Jesus nunca contraditou a crença de seu povo na reencarnação! Quando seus discípulos lhe comunicaram quem o povo acreditava ser Ele, não rejeitou nem aceitou explicitamente nenhuma das declarações que lhes foram trazidas, mas perguntou a seus discípulos quem eles  achavam ser Ele, pois que era neles que Ele estava interessado. Afinal de contas, os discípulos seriam os perpetuadores de sua mensagem redentora e se tornariam as futuras colunas de sua igreja. Jesus sabia, tanto quanto os seus discípulos, que nenhum daqueles personagens apontados pelo povo para explicar quem Ele era estava correto, pois o Mestre não era nem João Batista, nem Elias, nem um profeta novo que havia surgido entre o povo ou, ainda, algum dos profetas antigos que ressuscitara, mas o Filho do Deus Vivo enviado para salvar a humanidade. Eles sabiam também (Jesus e os discípulos) que a crença do povo nos fenômenos apontados (ressurreição, revivificação e reencarnação) estava correta e bem fundamentada em suas Escrituras Sagradas, conforme demonstrei na lição anterior.

O CEGO DE NASCENÇA

Além de nunca ter contraditado a crença de seu povo nas vidas pretéritas Cristo também endossou a crença de seus discípulos nas mesmas! O registro do cego de nascença, encontrado no Evangelho de João 9, é apenas um dos vários textos que confirmam essa crença. Muitos gostam de dizer apressadamente que Jesus nunca apoiou a crença na reencarnação, nem nesta, nem em qualquer outra passagem bíblica que seja, e assim deixam de perceber duas coisas deveras importantes: 1ª) que só o fato de os discípulos terem questionado a Jesus considerando a cegueira de nascença daquele homem como um possível caso de reencarnação já demonstrava a crença deles em tal fenômeno; 2ª) que o fato de Cristo tê-los respondido sem descartar a reencarnação como uma possibilidade espiritual de retorno à vida, não só comprovava a realidade daquela, como ainda endossava a crença de seus discípulos naquele ensino!

Observe que o Cristo dissera que aquele homem não viera limitado na visão desde o ventre de sua mãe por um pecado que houvesse cometido em uma vida anterior e, nem ainda, por algum pecado cometido por seus pais na vida presente, mas que naquele caso -, especificamente naquele caso -, ele viera cego “para que nele se manifestassem as obras de Deus” (v.3). Não falasse Jesus assim e pensaríamos que todos os indivíduos que nascem cegos nascem sem a visão “para que neles se manifestem as obras de Deus”, o que não é verdade. Com a resposta que dera a seus discípulos o Mestre Jesus estava confirmando para eles que uma pessoa podia vir sim a este mundo com uma deficiência física por ter cometido um pecado em uma vida anterior ou, ainda, por algum pecado cometido na vida presente por seus pais, só que naquele caso, felizmente, nenhuma dessas duas possibilidades era aplicável, pois que o homem nascera cego, “para que nele se manifestassem as obras de Deus”, o que de fato aconteceu, com a sua cura e a salvação de alguns.

O EVENTO DA TRANSFIGURAÇÃO

O evento ocorrido no Monte da Transfiguração, conforme relatado nos Evangelhos de Mateus 17:1-13, de Marcos 9:2-13 e de Lucas 9:28-36, e já analisado por mim em palestras anteriores, também mostra que o Cristo aceitava e endossava a crença de seus discípulos na reencarnação. Ao verem o Mestre Jesus conversando com Moisés e Elias, os discípulos perguntaram-lhe como aquilo seria possível visto os rabinos ensinarem que Elias viria em pessoa do céu e ungiria o Messias como o rei de Israel. Cristo então lhes afirmou que Elias já tinha vindo e ungido o Messias publicamente, mas que ninguém o reconhecera por ter vindo ele em outro corpo. Tendo os discípulos conhecido a Elias no Monte da Transfiguração e também a João, de quem eram seguidores, sabiam que ambos eram diferentes fisionomicamente. Sabiam também que a única vez que Jesus fora ungido fora no deserto, por ocasião de seu batismo, e que não fora Elias quem o batizara ou o ungira, mas sim João Batista! O texto diz que os discípulos entenderam a explicação dada por Jesus sobre o fenômeno e encerraram ali mesmo a discussão. Afinal de contas não era coisa difícil para eles acreditarem na reencarnação, porquanto era um fenômeno comum, de domínio público e absolutamente fundamentado em suas Escrituras Sagradas. Outra coisa é que era o próprio Cristo, o Filho do Deus Vivo, quem estava lhes revelando toda a trama daquela situação! Caso Ele estivesse mentindo e seria o maior mentiroso de todos os tempos, maior mesmo que Lúcifer, como observei na palestra anterior, e não poderia jamais operar a nossa salvação! Elias e João Batista eram, de fato, a mesma pessoa e isto não era apenas uma questão de “semelhança de ministérios”, de “semelhança de ofícios”, como querem nos fazer crer alguns, pois que “semelhança de ministérios” é apenas uma das maneiras que temos de identificar uma repetição de vidas, uma nova encarnação!

ENDOSSO DO CRISTO ÁS DOUTRINAS CONTIDAS NO FENÔMENO DA REENCARNAÇÃO

Ao referendar Jesus a crença do povo e de seus discípulos nas vidas sucessivas estava também referendando tudo o quanto se encontra envolvido em tal processo, como seja:

  • A pré-existência do espírito – se um espírito vai se encarnar em vários corpos, sucessivamente, então este espírito necessariamente já terá de pré-existir, pois os corpos é que são mutáveis, transitórios, perecíveis, e não o espírito, que é permanente. (Gênesis 25:19-26 / 38:27-30 / Jeremias 1:5). Segundo a revelação de Jesus, o corpo de João Batista fora preparado para receber o espírito pré-existente de Elias;

  • Os vários ciclos de renascimento – se alguém experimenta a reencarnação é porque já viveu pelo menos um ciclo anterior de vida na qual não conseguiu quitar todas as suas dívidas morais. Não sabemos precisar quantas vezes o espírito que esteve em Elias se encarnou ao longo de toda a sua existência, mas sabemos que ele se encarnou uma vez mais como João Batista;

  • A morte humana como uma sentença universal – se um espírito vai se encarnar pela primeira vez, não conhecerá ainda o processo da morte, mas se vai se reencarnar em outro indivíduo, então, necessariamente terá que ter experimentado a morte física. Pela declaração de Jesus de que Elias se reencarnara em João, entendemos que Elias morrera como qualquer um de nós (João 3:13 / Hebreus 9:27 / Romanos 3:23 / 6:23);

  • Um débito não quitado sentencia o devedor a retornar à vida física – isto é o que chamamos de “Karma”. Todos os que estão vivendo atualmente neste planeta, incluindo eu e você, estão pagando por algum débito não quitado, uma dívida moral não saldada (Mateus 5:21-26 / 18:23-35 / Lucas 12:43-48). Isto significa dizer que não existem inocentes no planeta Terra;

  • A história de Karma de cada um determina a qualidade de sua reencarnação – Tudo o que foi semeado na encarnação anterior, quer seja de bom ou de ruim, vai ser colhido na encarnação posterior (Gálatas 6:7). Do ponto de onde o indivíduo parou, vai recomeçar. Elias mandara matar muitos homens à espada e agora, em João, seria também morto pela espada. Colhera na vida presente os frutos de sua encarnação passada.

Muitos têm afirmado não crer na doutrina da reencarnação e em todo o leque de ensinos que a acompanham, por não ter (segundo eles) o Cristo ensinado claramente essas doutrinas. Outros têm dito que os apóstolos não a ensinavam àqueles que se tornaram seus discípulos e nem a proclamavam ao povo quando pregavam o Evangelho, o que deveria acontecer se a reencarnação fosse uma doutrina verdadeira e bíblica. Que me perdoem os meus diletos leitores que assim pensam, pois, até onde eu sei, dizer que uma pessoa voltou à vida assumindo outro corpo, totalmente novo, diferente do anterior; revelar quem eram as pessoas, antiga e atual, envolvidas em tal situação; dizer que a pessoa antiga “morreu”, quando todos criam que estava viva no céu; anunciar o que esta pessoa fez e que a revelava como sendo a antiga pessoa; colocar “em cheque” a sua própria reputação de pessoa ilibada e Filho do Altíssimo por ter feito tais declarações; não corrigir a crença de seus discípulos, dos rabinos de Israel e do povo de que a reencarnação era um fenômeno possível e comum quando poderia fazê-lo, caso eles estivessem errados, não só é endossar, como ensinar e revelar muito mais ainda sobre a doutrina da reencarnação!

A REVELAÇÃO POR CRISTO DE UM IMENSO GRUPO DE ESPÍRITOS REENCARNANTES

Entendo que o Cristo não tinha nenhuma obrigação ou necessidade de ensinar qualquer coisa que já fosse do senso comum, do domínio popular, e cujas Escrituras estivessem repletas de tal ensinamento, como acontecia com a doutrina da reencarnação. O que o Cristo poderia fazer e fez de maneira espetacular e inovadora, visto ninguém ainda ter conseguido fazer, foi detectar, com precisão, a existência, não só de uma pessoa, mas de um enorme grupo Kármico, constituído de milhares e milhares de indivíduos que, após cerca de novecentos anos de vida na terra, estava agora se manifestando outra vez, se reencarnando como outras pessoas e tendo a oportunidade de viverem tudo novamente! Você ficou assombrado com isto? Nunca ouviu ninguém falar dessa “baboseira”? Pois foi exatamente o que o Cristo fez ao declarar que João Batista era Elias reencarnado!

O sábio rei Salomão já havia ensinado em Eclesiastes 1:4-11 sobre o movimento das gerações: “Uma geração vai e outra geração vem; mas a terra permanece para sempre”, dizia ele. Uma geração é muito mais que um indivíduo ou que um grupo de muitas pessoas e sim um composto social, com vários grupos de pessoas, todos vivenciando um mesmo momento histórico. Isto era o mesmo que dizer que ninguém reencarna sozinho, mas coletivamente, em blocos de gerações. Ao revelar Jesus que João possuía o mesmo espírito que vivera em Elias direcionou o olhar de todos sobre as pessoas que também viveram no tempo do antigo profeta e que agora estavam revivendo ao tempo do Precursor João! O que os seus ouvintes viram e nós também vimos é algo tão fantástico, tão extraordinário, que só pode nos levar a glorificar a Deus!

  • Acabe, o rei de Israel ao tempo do profeta Elias reencarnara-se como Herodes, também rei de Israel, no tempo do profeta João;

  • Jezabel, mulher do rei Acabe, reencarnara-se como Herodias, mulher de Herodes;

  • Atália, filha do rei Acabe e de Jezabel, reencarnara-se como Salomé, filha do rei Herodes e de Herodias;

  • Os sacerdotes idólatras do tempo do rei Acabe se reencarnaram como os sacerdotes e fariseus do tempo de Jesus;

  • O povo reticente do tempo de Elias reencarnara-se como o povo reticente do tempo de João e de Jesus (1º Reis 17,18,19 – Mateus 14:1-12);

  • O profeta austero de nome Elias, que fora o pivô de toda aquela história, se reencarnara também como o profeta austero de nome João!

Sim, o rei Salomão estava absolutamente certo ao falar do “ir e devir” das gentes, do fluxo interminável e constante das gerações! O Mestre Jesus, como Filho de Deus Encarnado que era, também estava certo ao falar do lugar / condição chamado Gehena, no qual os devedores entravam e saíam para pagamento de suas dívidas! (Mateus 5:21-26). Devemos, pois, ficar atentos as pessoas que fazem parte de nossos grupos sociais (família, escola, trabalho, igreja, vizinhança, partidos políticos, agremiações, etc.) e nas maneiras como podemos interferir beneficamente em suas vidas, bem como no aproveitamento das boas oportunidades que se nos apresentarem para saldarmos as nossas dívidas Kármicas. Todos temos relações Kármicas com todos!

Até a manifestação de Cristo, ninguém de seu povo, conseguira detectar com segurança, um caso de reencarnação, apesar de conhecerem bem as condições necessárias para isto vir a acontecer e os indícios de um renascimento, como veremos em outra oportunidade. Apenas o Cristo, como Filho de Deus a nós enviado, poderia com sua verdade e conhecimento pleno do mundo espiritual, nos demonstrar, com total exatidão, “quem se reencarnara em quem”. As conseqüências dessa detecção de Cristo são tão profundas, tão impactantes em nossas vidas que tornam quase impossível alguém tomar conhecimento delas e continuar incrédulo, reticente, obstinado em aceitar o fenômeno das vidas sucessivas.

ENTRANDO E SAINDO DA GEHENA – A RODA KÁRMICA DA EXISTÊNCIA

O texto de Mateus 5:21-26, a exemplo dos outros citados nos três Evangelhos sobre a Transfiguração, quase não tem sido também proclamado de nossos púlpitos e tribunas visto conter idéias bastante estranhas e não tão fáceis de serem detectadas. Ele diz assim: “Ouvistes que foi dito aos antigos: não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo, e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno. Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial (meirinho), e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil”.

Se você leu com atenção estes versículos deve estar se perguntando: “O que? Um indivíduo pode sair do inferno, após ter pago o seu último ceitil? Mas o inferno não é eterno? Como então pode sair de lá? Este inferno é o mesmo apregoado pelos rabinos, sacerdotes e pastores, ou será que existem outros infernos? Quantas vezes uma pessoa pode entrar e sair deste inferno apregoado por Jesus? Como é que o indivíduo sai de lá? Se devido a uma coisa minúscula como chamar alguém de “louco”, uma pessoa pode ser “lançada” em tal prisão e lá ficar sofrendo até pagar “o último ceitil” e todos nós cometemos pecados muitíssimo maiores que este, quererá isto dizer que todos nós seremos lançados nela? Todos os pecados possuem o mesmo peso, a mesma gravidade, ou quem chama alguém de “louco” tem uma pena menor do que a de um assassino?”

Como meu leitor pode ver, as derivações teológicas de tais versículos são muitas. O ensino bíblico é que se o indivíduo morre com dívidas morais – ainda que seja um crente – deverá retornar a vida para poder quitá-las com quem as assumiu. Se, contudo, for liberado em vida, passará a experimentar já o céu de glória e não precisará reencarnar mais. Falarei mais sobre isto nas palestras subseqüentes, mas o leitor que tem examinado meus outros artigos, já se inteirou bem de como acontece toda esta trama bíblica.

UMA ILUSTRAÇÃO DE NOSSA VIDA ESPIRITUAL

Há ainda mais um texto lindo no Evangelho de Mateus, capítulo 20:1-16, intitulado “A Parábola dos Trabalhadores e das Diversas Horas do Trabalho”, apregoada pelo Mestre Jesus, que revela de forma figurada, metafórica, ilustrativa, todas as verdades espirituais implícitas no processo da reencarnação. Não poderei esmiuçá-la aqui, tendo em vista a narrativa ser longa e a sua explicação também, mas caso seja do interesse do meu prezado leitor conhecer sua interpretação, ela se encontra detalhada no meu livro, disponibilizado neste site.

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

 

VI. Fundamentos do Antigo Testamento Sobre a Reencarnação

 

Palestra VI

FUNDAMENTOS DO ANTIGO TESTAMENTO SOBRE A REENCARNAÇÃO

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 2012

INTRODUÇÃO

Conforme anunciei anteriormente é desejo meu nesta palestra tornar conhecido do meu prezado leitor alguns textos do Antigo Testamento responsáveis por levar o povo judeu, incluindo os discípulos de Cristo, a fundamentarem a sua crença na reencarnação como uma possibilidade real e escriturística do indivíduo retornar à vida. Não poderei citar os textos do Novo Testamento que a ela se referem tendo em vista que estes ainda estavam em formação e só seriam editados alguns anos mais tarde da morte de Cristo. Os registros que os judeus utilizavam para firmar sua crença na reencarnação iam muito além desta doutrina trazendo preciosas informações também sobre a doutrina do Karma (débitos ou créditos morais acumulados); da pré-existência dos espíritos; de um lugar de punição para os espíritos transgressores de caráter transitório; da existência de um corpo sutil, etéreo, na constituição humana, cuja função é prender o espírito ao corpo físico, e outras doutrinas mais. Assim é que tal crença não se achava firmada em crendices ou “achismos” religiosos e sim em sólidos textos bíblicos das Escrituras Hebraicas. Através destes textos, compreendi porque o Cristo nunca reprovara a crença de seu povo na doutrina da reencarnação e também porque se utilizou da mesma para explicar a seus discípulos algumas delicadas questões espirituais.

Vamos então aos textos.

O primeiro texto que desejo examinar se encontra em Gênesis 9:6. Neste, o Senhor diz para Noé: “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado. Porque Deus fez o homem conforme a sua imagem”. Observe que o texto não restringe a morte do homicida ao tempo de sua permanência na Terra, como se o Senhor estivesse a dizer: “Quem derramar o sangue do homem, pelo homem o seu sangue será derramado, quando ainda estiver vivo na terra”, pois se assim fosse, então para cada morte cometida outra morte teria necessariamente de se seguir, a saber, a do assassino. O problema é que quase nunca ficamos sabendo “quem derramou o sangue de quem”, visto quem praticou tal ato nunca fazer esse tipo de coisa debaixo de holofotes e sim em oculto. Somente Deus, o assassino e, por vezes, a vítima, ficam sabedores de “quem fez o que”. Quase sempre o homicida desaparece no anonimato sem que ninguém jamais o descubra. Mas Deus disse para Noé que “quem derramasse o sangue do homem, pelo homem (qualquer homem) o seu sangue seria derramado”.

Quando Ele falou isto – é bom que se diga – não existia ainda nação alguma constituída na terra, nem também algum código de leis sagradas que devesse ser observado por todos. O planeta havia sido totalmente arrasado pelas águas do Dilúvio em conseqüência da crescente impiedade da humanidade e apenas umas poucas pessoas haviam se salvado. Isto tornava tal prescrição uma lei universal, a ser observada por todos os humanos. Deus estava transmitindo para Noé as novas leis para a ocupação do planeta e, neste contexto de novo pacto, de nova aliança, de nova oportunidade para a permanência pacífica do homem na Terra, Ele emitiu a sua ordenação acerca do cuidado com a vida do semelhante.

Alguém poderia afirmar que o mandamento aqui mencionado, com suas respectivas conseqüências, estava condicionado ao aprisionamento do homicida: caso este fosse pego, aplicar-se-ía sobre ele o rigor desta lei, mas, se por um acaso este não fosse pego, então nada se poderia fazer a não ser entregá-lo nas mãos de Deus e confiar que, no tempo oportuno, Este faria justiça aos injustiçados. Mas a ser assim e Deus estaria legislando sobre a exceção e não criando uma regra universal, uma Lei para toda a humanidade! Na mente do Divino não deviam ser apenas os indivíduos que derramassem o sangue de alguém e fossem pegos que deveriam ser julgados e sentenciados à morte, mas todos os que derramassem o sangue de um seu semelhante, independentemente de serem eles pegos ou não! O Senhor disse que se alguém matasse uma pessoa, em algum momento da vida deste, algum outro homem o pegaria também e o mataria! Só que Ele não fixou o tempo em que tal morte aconteceria; se no presente, no futuro, em outra manifestação de vida ou no Juízo Final!

Se o derramamento de sangue do assassino por outro homem não estava restrito à nação judaica que sequer ainda existia, e se dificilmente aconteceria durante a vida do homicida, dado o seu comportamento fugidio, esquivo, arisco, quando então ele ocorreria? No Juízo Final? Claro que não, pois o Dia do Juízo Final não é o dia da vingança, da revanche, do derramamento de sangue, mas sim o dia de todos sermos julgados! Em outra manifestação de vida? SIM, ISTO SERIA POSSÍVEL, pois apenas tendo alguém outra oportunidade de vida poderia ser pego e sofrer o assassinato da mesma maneira que fizera com alguém em uma vida anterior! Isto então nos daria o correto entendimento do texto bíblico e manteria a Palavra do Senhor intacta, pois que se Ele falou que algo aconteceria, então, pode passar até um trilhão de anos terrenos que tal coisa acontecerá! Mesmo que ninguém saiba que determinada pessoa, agora assassinada, fora um assassino em uma vida pregressa, o Senhor Deus o sabe e, através do processo da reencarnação e da iniludível lei do Karma, aplicará a sua justiça à vítima do ato horrendo que ela sofreu um dia! Ninguém pode transgredir a Lei Moral do Senhor e passar para o outro lado intacto, incólume, indene, como se não houvesse cometido nada de mal. O ensino das Escrituras é que se alguém praticou um ato mau, por este mau ato será justiçado; se praticou um bom ato, por este bom ato será recompensado.

O retorno do assassino à Terra em outra manifestação de vida para pagar o que fez deveria acontecer, segundo o texto bíblico, por dois importantes motivos: primeiro, porque “Deus fez o homem”, o que significa dizer que o homem é propriedade de Deus, pertence a Ele, e ninguém pode destruir ou roubar um bem que não lhe pertence, ainda mais sendo este bem uma propriedade do Senhor; segundo, porque Deus fez o homem “conforme a sua imagem”, o que significa dizer que o senso de justiça que existe em Deus foi colocado em nossos corações pelo próprio Senhor no momento mágico de nossa criação. Possuímos a mesma natureza que a Dele. Temos sede de justiça e de correção como Ele as tem e nos sentimos humilhados e diminuídos quando o mal prevalece e o transgressor fica impune. Nenhum ser humano normal suporta ver uma pessoa assassinada, chacinada, trucidada e não sentir em seu coração um desejo de justiça. É por sermos criaturas especialíssimas aos olhos do Senhor, sermos suas propriedades, que quem fizer alguma coisa contra nós, esteja onde estiver, seja lá quem for, pagará por seu mau ato!

O segundo texto que queremos examinar se encontra em Gênesis 25:19-26. Ele traz o relato da luta entre dois irmãos, quando ainda no ventre de sua mãe. Isaque era o filho da promessa do Patriarca Abraão e o Senhor havia prometido a ambos que de seus lombos sairia o Messias, o mais aguardado e glorioso governante da nação judaica. Só que Rebeca, esposa de Isaque, era estéril e, depois de vinte anos de casada, ainda não pudera lhe dar nenhum filho. Isto levara Isaque a pedir por um milagre a Deus, milagre este que viria vinte anos depois, quando ele então já contava com 60 anos de idade. No tempo apropriado Rebeca concebera. Sua gravidez, contudo, não fora nada tranqüila. Seus filhos revolviam-se ferozmente em sua barriga, causando-lhe dor e inquietação. Ela então foi questionar ao Senhor sobre aquilo e Ele lhe respondeu dizendo que duas nações havia em seu ventre e que dois povos se dividiriam de suas entranhas; sendo que um deles seria mais forte do que o outro e o maior serviria o menor. Aí estava a razão de toda aquela peleja! Não se tratava de uma questão de ajeitamento uterino ou de alguma enfermidade de gravidez como se poderia pensar, mas sim de uma disputa pelo poder! A saída do pequeno Jacó da barriga de Rebeca segurando o calcanhar de seu irmão mais velho, Esaú, revelara a exata dimensão daquela disputa!

Como poderiam os gêmeos lutar entre si se já não conhecessem aquela profecia? Como poderiam contender para não se submeterem um ao outro se já não se conhecessem de uma vida anterior? Como entender que eles tivessem de ser juntados, unidos, em outra manifestação de vida, em uma mesma barriga, em uma mesma gravidez, se não fosse para resolverem um problema Kármico de vidas pregressas, pretéritas, de uma encarnação anterior?

Conforme observamos em nosso livro, não foi quando Deus respondeu a Rebeca sobre o destino de seus filhos que eles começaram a brigar. NÃO! Eles já estavam brigando muito antes de o Senhor o declarar a ela! A resposta do Senhor à Rebeca servira apenas para tranqüilizar o seu coração de mãe, mas não para dar início à rixa que já existia entre os irmãos antes destes serem concebidos e que continuou a existir nos restantes meses de gravidez de sua mãe e permaneceu até quando estes já eram grandes, adultos! Se bem pude interpretar os acontecimentos, os espíritos dos gêmeos estavam com um problema enorme para resolver: o que saísse primeiro do ventre da mãe, o mais forte, o mais capaz, acabaria sendo penalizado pelas palavras da profecia do Senhor, já que serviria o segundo que, mesmo sendo o mais fraco, em tal situação, se transformaria futuramente no maior! O desejo dos gêmeos então era lutar para ser o último a nascer e não para ser o primeiro, visto que o menor dominaria sobre o maior! Pela força natural do nascimento e pela Onisciente Palavra do Senhor, Esaú nasceu primeiro e Jacó veio segurando o calcanhar de seu irmão!

O fato de Jacó ter saído agarrando o calcanhar de seu irmão, aliado à revelação feita pelo Senhor à Rebeca sobre os destinos dos gêmeos, mostrou a seus pais quão ardiloso e astuto era o seu filho menor, pois que se este tivesse se agarrado ao pescoço de Esaú poderia nascer primeiro e ficar com a parte ruim da profecia. Se o tivesse agarrado pelo corpo, Esaú poderia afastá-lo também para a saída do ventre de sua mãe e Jacó nasceria primeiro. Então ele o agarrou pela parte mais distante de seu corpo, a saber, o calcanhar, para não correr o risco de nascer primeiro e, ainda, para ficar o mais distante possível dos socos e pontapés do irmão! Seus pais ao verem o seu filho menor saindo do ventre daquela maneira compreenderam de imediato como era o seu caráter e, ao invés de lhe colocarem um nome bonito, de significado elevado, que a todos trouxesse uma grata admiração, como Daniel (Deus é meu Juiz), Gabriel (varão de Deus), ou outro nome qualquer, lhe puseram imediatamente o nome de Jacó que significa “suplantador”, “enganador”, “trapaceiro”. Eles não esperaram que seu filho crescesse, ficasse um pouco mais velho e revelasse o seu caráter golpista, trapaceador, para só então lhe darem este nome, mas deram-lhe logo, de imediato, pois compreenderam bem o que havia acontecido com seus filhos. Bom é que também se diga que o nome de Jacó não lhes fora revelado por Deus!

Do outro lado temos Esaú, o filho mais forte e primogênito do casal, agredindo duramente o seu irmão quando ainda na barriga de sua mãe – e isto por meses a fio! O que intentava Esaú com aquilo? Pasme o meu querido leitor: Esaú intentava matar o seu irmão! Ele desejava eliminá-lo logo, ali mesmo, no ventre de sua mãe, pois caso conseguisse fazer com que Jacó soltasse o seu calcanhar, dificilmente este teria forças para sair do ventre de Rebeca, se transformaria em um natimorto, e a parte ruim da profecia de Deus não teria mais como se cumprir! Jacó veio agarrando o calcanhar de Esaú porque aquela era a única maneira dele fazer com que a profecia divina se cumprisse a seu favor além de garantir a sua saída vivo do ventre de sua mãe! Para conseguir isso ele apanharia um bocado, levaria muitos socos e pontapés, seria levado quase à morte, mas se conseguisse tão somente segurar firme no calcanhar de seu irmão conseguiria sair do ventre usando a força estupenda de seu irmão maior Esaú! Aí estava a esperteza de Jacó, a sua astúcia, a sua vivacidade!

Alguma dúvida ainda no coração de meu prezado leitor sobre a preexistência de espíritos, a iniludível Lei do Karma ou a repetição de vidas?

Anos mais tarde, já adultos, Jácó levou seu irmão Esaú a vender-lhe o direito de primogenitura (o direito de se tornar o líder político e espiritual do clã de seu pai, após a morte deste e ganhar herança dobrada), direito este que conseguira comprar de Esaú por um mero prato de lentilhas! (Gênesis 25:27-34). Conhece alguém que saiba negociar melhor? Toda a vida de Jacó foi entremeada de trapaças, enganos e falcatruas, como seu próprio nome já predizia (Gênesis 27:30-36). Quanto a Esaú, mesmo tendo sido líder dos edomeus, tornara-se servo de seu irmão, conforme apregoado pela boca do Senhor e ele, Jacó, o líder que dera o seu nome, após o encontro com o Divino, à nação das mais sublimes revelações do Senhor – Israel! (Gênesis 32:22-32).

Outra passagem semelhante a esta encontra-se em Gênesis 38: 1-30 onde os trinetos de Abraão, de nome Perez e Zerá, também lutavam por uma posição de destaque na hora do nascimento. Judá, o pai dos gêmeos, fora o 4º filho do Patriarca Jacó. Ele havia se separado de sua família e ido morar nas terras de Canaã. Lá se casara com uma mulher, de nome desconhecido com a qual tivera três filhos – Er, Onâ e Selá. Ele tomou uma mulher de nome Tamar para o seu primogênito Er, que veio a falecer. Então ele a deu em casamento à seu outro filho, de nome Onâ, pois segundo os costumes da época o irmão que se seguia na linha genealógica deveria desposar a viúva do irmão morto, mas Onã também veio a falecer. O terceiro filho de Judá, de nome Selá, era ainda muito novo para se casar, o que levou Judá a prometer a Tamar que o daria à ela quando chegasse o tempo apropriado. Judá, porém, se esqueceu da promessa e Tamar, fazendo uso de um estratagema, fez com que Judá a possuísse sexualmente. Da relação de Judá com sua nora Tamar, lhes nasceram os gêmeos Perez e Zerá. O relato do nascimento destes dois irmãos se encontra descrito nos versículos 28 a 30 e diz assim: “E aconteceu, dando ela (Tamar) à luz, que um pôs fora a mão, e a parteira tomou-a, e atou em sua mão um fio roxo, dizendo: Este saiu primeiro. Mas aconteceu que, tornando ele a recolher a sua mão, eis que saiu o seu irmão, e ela disse: Como tens tu rompido? Sobre ti é a rotura. E chamou o seu nome Perez (brecha, separação). E depois saiu o seu irmão, em cuja mão estava o fio roxo; e chamaram o seu nome Zerá (crepúsculo)”.

O texto não afirma que a mãe de Perez e Zerá tenha ficado intranqüila com a sua gravidez e ido ao Senhor para questioná-Lo acerca de seus filhos como Rebeca o fizera; nem ainda que houvesse uma profecia específica da parte de Deus para a vida dos dois meninos, mas fica claro dos acontecimentos narrados no Gênesis que a luta dos gêmeos entre si fora também uma luta pelo poder, para um ter a primazia sobre o outro. Ao colocar Zerá a sua mão para fora a parteira logo lhe colocou o fio da primogenitura. Mas Zerá recolheu-a rapidamente, pois Perez aparecera subitamente, tomando a frente de seu irmão. Com tanta força ele fez isto que causou admiração na experiente parteira! De nada adiantara o esforço de Zerá, pois a posição dos dois no clã de seu pai já havia sido traçada. Perez se tornaria o líder administrativo e espiritual de sua tribo no momento da sucessão e ganharia o dobro da herança destinada ao seu irmão. Ele também entraria na linha genealógica do Cristo, onde aparece com o nome de Farés (Mateus 1:3). Como no relato anterior, tal disputa jamais poderia ter acontecido com estes irmãos se os seus espíritos já não pré-existissem e tivessem histórias de encarnações passadas e de Karmas entrelaçados que devessem ser reparados. O interessante na história de Perez e Zerá é que eles lutaram para ser o primeiro a sair e obter assim os benefícios da primogenitura. Na história de Esaú e Jacó, ambos lutavam para ser o último a nascer e assim tentar escapar da parte menos nobre da profecia divina.

A citação do rei Davi no Salmo 58:3 é também outra passagem que nos remete à doutrina do Karma e, conseqüentemente, á doutrina das vidas passadas. Ali se diz: “Alienam-se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, proferindo mentiras”. Como pode alguém ser considerado um ímpio, um pecador, um alienado de Deus e das coisas sagradas já desde o ventre de sua mãe se nem ainda nasceu ou teve tempo para pecar? Como pode andar errado e proferir mentiras desde o seu nascimento se ainda vai levar alguns anos para ele atingir a idade da razão e só então poder ser responsabilizado por seus atos? Como pode ser cobrado por não realizar ações morais corretas, dignas, se ainda não possui discernimento moral para tanto? Isto só seria possível se tal indivíduo houvesse pecado em uma vida anterior, tornando-se um ímpio contumaz, e renascendo em outra vida com aquela mesma natureza pervertida, contaminada, que o caracterizara como um pecador. Esta declaração do rei Davi deixa claro que os indivíduos por ele nominados de “ímpios” já existiam no tempo, já eram espíritos viventes, já eram seres pré-existentes. A citação também, feita no plural (‘ímpios”), deixa ver que, era grande o número de pessoas que integravam aquele grupo.

O texto de Eclesiastes 1:4-11, escrito pelo inteligentíssimo rei Salomão, diz respeito ao movimento cíclico de ir e devir das gerações. Ele afirma que “uma geração vai e outra geração vem; mas a terra permanece para sempre”. Esta mesma afirmativa é feita comparativamente em relação ao nascimento e ocaso do sol, ao passeio que o vento faz saindo do sul e voltando pelo norte e ainda aos caminhos que os ribeiros fazem saindo e retornando para o mar. Sabemos que as gerações referidas aqui por Salomão se repetem indefinidamente por ter o sábio se utilizado, na mesma narrativa, de três outros elementos que possuem um movimento cíclico, portanto, repetitivo. Por que o movimento desses elementos seria cíclico e o das gerações não? O afamado rei de Israel disse que “essas coisas (esses movimentos de ir e devir das coisas e das pessoas) se cansam tanto, que ninguém o pode declarar” (v.8). Talvez por serem tão comuns, tão rotineiros, não demos atenção a eles. No último versículo dessa passagem, o de número 11, o sábio afirma: “Já não há lembrança das coisas que precederam; e das coisas que hão de ser também delas não haverá lembrança, nos que hão de vir depois”. Só quem pode ter lembrança é quem já viveu alguma coisa, correto?

Ao falar do movimento constante das gerações, o sábio Salomão nos ensinou uma série de coisas importantes sobre a reencarnação e suas sub-doutrinas, como seja:

1º) ninguém reencarna sozinho, mas coletivamente, visto uma geração ser muito mais que um indivíduo e muito mais ainda que um grupo de pessoas. Uma geração é um composto social, uma colcha de retalhos sociais, constituída de vários grupos de indivíduos, vivenciando todos eles, um mesmo momento histórico. Toda a nossa vida, desde o nosso nascimento, sempre acontece em grupos, sendo o menor deles o grupo dos nossos pais. Depois outros grupos vão se somando a este como o dos nossos vizinhos, de nossos colegas de escola, os irmãos de nossa igreja, os colegas de trabalho, e demais grupamentos que encontraremos pelo caminho;

2º) todos os integrantes das gerações que tornarão à Terra já pré-existem. Se os milhares de integrantes das gerações que virão à Terra ainda não pré-existissem, mas tivessem que ser criados na hora, no momento da encarnação, o sábio não teria dito: “uma geração vai e outra geração vem e sim “uma geração vai e outra geração surge”, ou “uma geração vai e outra geração é criada”. Mas não foi isso que ele disse. A geração que virá já existe, mas ainda não foi manifesta! Do lugar para onde aquela outra foi, a que vai surgir partirá! E claro, não será da Terra e sim do lugar onde a Bíblia ensina que os desencarnados se reúnem, a saber, o Hades.

3º) todos os componentes da geração que se manifestará possuem compromissos kármicos. Ninguém que esteja vivendo atualmente no planeta Terra está sofrendo indevidamente, está sendo injustiçado, está penando inocentemente. Deus, o Senhor de toda a justiça e de todo o amor jamais permitiria isto! Lugar de justos é o céu e não a Terra! Se eu e você estamos aqui é porque alguma coisa nós aprontamos em nossas vidas anteriores! Todos nós que estamos vivendo no planeta Terra, estamos inseridos em diversos grupos Kármicos que se enlaçam e se entrelaçam, se enredam e se embaralham, e nos levam a vivenciar histórias já vivenciadas em outras vidas passadas! A oportunidade para quitarmos nossas dívidas Kármicas nos está sendo dada agora. Vamos aproveitá-la ao máximo!

4º) cada manifestação coletiva de vida é decorrente de um juízo também coletivo. Se é verdade que depois da morte vem o juízo, como apregoa o autor do livro de Hebreus (9:27), então todos os integrantes da nova geração que virá já foram julgados e sentenciados a retornarem ao lugar onde viverão suas vidas e nos quais terão a oportunidade de quitarem suas dívidas morais uns com os outros. A partir desta compreensão, ninguém que cruze diante de nós, será maltratado, humilhado, ou preterido, pois que podemos ter uma dívida moral com tal pessoa. Antes os cobriremos de atenção, de amor e de respeito, pois as Escrituras ensinam: “a ninguém devais coisa alguma, a não ser o amor, com que vos ameis uns aos outros: porque quem ama cumpriu a Lei” (Carta de Paulo aos Romanos 13:8).

A última passagem que iremos ver é a de Jeremias 1:5, na qual o Senhor diz para ele: “Antes que te formasse no ventre, Te conheci, e antes que saísses da madre, Te santifiquei: às nações Te dei por profeta”. Esta era uma passagem bem conhecida dos judeus, por ser Jeremias um dos profetas prediletos do povo. Nela se reafirmava a preexistência do espírito e a missão de vida de cada um. Observe que o Senhor usa duas maneiras distintas para falar da concepção de Jeremias: na primeira Ele diz: “antes que te formasse no ventre”, ou seja, antes que Eu te formasse no ventre, te conheci. Na segunda Ele diz “antes que saísses da madre, Te santifiquei”. Formar Jeremias no ventre daquela que seria a sua mãe era uma operação complexa e precisava de Deus; sair da madre, como todos os bebes saem, era algo natural e não se precisava de um Deus para fazê-lo. Jeremias fora separado para ser profeta das nações desde o ventre, ainda que só iniciasse o seu ministério quando homem maduro o que demonstra que ele já viera incumbido para desempenhar aquela missão.

CONCLUSÃO

Estes são apenas meia dúzia de registros bíblicos sobre o assunto em pauta que cremos serem suficientes para demonstrar que nem tudo o que o populacho falava e cria era fantasioso, descabido, sem nexo. O Senhor Jesus sabia disso e preferiu manter-se distante de qualquer discussão, incitando-nos assim a pesquisar o texto bíblico e a crescermos em sabedoria e em maturidade cristã.

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

V. Os Discípulos de Cristo e a Reencarnação

 

Palestra V

OS DISCÍPULOS DE CRISTO E A REENCARNAÇÃO

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em junho de 2012

INTRODUÇÃO

Após termos examinado na palestra anterior quais eram as crenças do povo judeu no retorno do indivíduo à vida física, incluída nestas a possibilidade da reencarnação, iremos examinar agora qual era a crença dos discípulos de Cristo em tais ensinamentos, tendo em vista estarem eles mais próximos do único ser humano a dizer, com toda a ousadia e conhecimento de causa, “Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida” (Evangelho de João 14:6). E mais ainda: “A minha doutrina não é minha, mas Daquele que me enviou (Deus)” (Evangelho de João 7:16). Queremos descobrir qual a posição de Jesus às manifestações de fé de seus liderados no fenômeno das vidas passadas, pois, se Ele as tiver reprovado ou, ainda, afirmado serem elas coisas imaginárias, fantasiosas, espúrias, então nada mais teremos de fazer a não ser parar com as nossas pesquisas e seguir as diretrizes seguras do Mestre sobre o assunto. Caso Ele as tenha confirmado como manifestações genuínas, coerentes e decorrentes de algo verdadeiro, concreto, bíblico, então devemos………….. SIM, LEITOR, O QUE DEVEMOS FAZER? Responda para você mesmo: o que VOCÊ deve fazer? O que a SUA IGREJA deve fazer?

CRENÇA DOS DISCÍPULOS DE JESUS NO RETORNO À VIDA

Quando Jesus viu um mendigo, cego de nascença, assentado à beira do caminho, implorando pela misericórdia dos transeuntes para lhe darem alguma esmola, seus discípulos perguntaram imediatamente ao Mestre por que aquilo acontecera: teria sido algum pecado que aquele homem cometera ou fora algum pecado praticado por seus pais? (Evangelho de João 9:1-3) Se tal delito tivesse sido cometido pelo homem, só poderia ter acontecido em uma vida passada, pregressa, anterior a que estava vivendo, visto o homem já ter nascido cego e não ter adquirido a cegueira no decorrer de sua vida; se, porém, o delito tivesse sido cometido por seus pais, então teria acontecido em sua vida presente. Qualquer que fosse a resposta dada por Jesus aos seus discípulos, a pergunta dupla feita por eles ao Cristo já servia para indicar aquilo em que eles acreditavam: 1º) que o pecado cometido em uma vida anterior podia levar suas conseqüências para outra vida à frente, o que era o mesmo que confessar a crença deles na reencarnação, na doutrina do Karma e na pré-existência do espírito; 2º) que as deficiências físicas podiam ser resultantes de ações pecaminosas dos pais na vida de seus filhos.

A pergunta dos discípulos, pois, não tinha nada de descabida, de tola, de desproposital, sendo extremamente pertinente, porquanto bem fundamentada em suas Escrituras. Nelas havia relatos de pessoas que retornaram à vida trazendo consigo traços de antigos pecados cometidos por elas mesmas em outras vidas, como veremos na palestra seguinte. Por outro lado, os rabinos também ensinavam ao povo, com base no Livro do Êxodo 20:5, que os pecados dos pais podiam repicar suas más conseqüências nos filhos. Ao fazerem, pois, aquele questionamento duplo a Jesus, os discípulos não estavam passando nenhum “atestado de burrice”, como querem nos fazer crer alguns, mas sim solicitando ao Mestre a revelação verdadeira sobre aquele assunto. A resposta dada por Jesus a eles evidenciou que havia um terceiro motivo, que eles não haviam considerado, para aquilo ter acontecido ao homem, pois que o Mestre não descartara as razões apresentadas por seus seguidores para a cegueira inata do homem, mas acrescentara uma terceira dizendo-lhes que, naquele caso – especificamente naquele caso – “nem aquele homem pecara nem os seus pais; mas fora assim para que nele se manifestassem as obras de Deus” (Evangelho de João 9:1-3).

Observe bem a resposta que Jesus dera a seus discípulos e veja se há nela algum indício, algum sinal, algum vestígio de uma negação peremptória, definitiva, taxativa das alternativas por eles apresentadas ao Mestre por serem elas totalmente descabidas, inexistentes ou imaginárias. O Mestre conhecia bem aquela questão e sabia que havia sim a possibilidade de uma pessoa retornar à vida física com uma deficiência inata, congênita, trazida desde o ventre, como conseqüência de pecados cometidos em outras vidas, da mesma maneira que existia a possibilidade de alguém vir assim afligido pelas conseqüências de pecados cometidos na vida presente por seus pais. Tanto Jesus quanto os seus discípulos acreditavam em tais possibilidades. Tanto Mestre quanto discípulos, acreditavam na possibilidade da reencarnação!

Alguns estudiosos modernos não conseguindo imaginar a possibilidade de alguém tentar interpretar esse relato considerando a doutrina da reencarnação, foram procurar em escritos rabínicos antigos alguma coisa que pudesse ajudá-los a descartar tal possibilidade. Encontraram uma antiga citação que dizia que alguns rabinos acreditavam que alguns indivíduos podiam nascer sim com alguma desvantagem em função de algum pecado que houvessem cometido antes do nascimento – pasme agora meu amigo leitor – não em uma encarnação anterior, em uma vida pregressa, [1]mas enquanto ainda estavam no ventre! Seus espíritos não tinham ainda encarnado em ninguém, mas estavam sendo colocados pela primeira vez no ventre daquela que seria a sua mãe, porém, antes de seus bebes virem a nascer, já estavam cometendo pecados à solta!

Uau! Como pode alguém crer nisso? Como pode alguém ter tanta imaginação assim? Só porque um, dez, ou mil rabinos disseram que algo é desta ou daquela maneira, devemos nós acreditar sem exame? E o que o Espírito Santo diz sobre o assunto, não conta nada? Foi isto que Ele falou ao coração dos amados rabinos? Ou será que tudo isso é apenas medo de dizer que a reencarnação se encontra, de fato, na Bíblia? O que é mais fantasioso, descabido ou inimaginável: o descobrimento de pecados cometidos por um espírito livre em uma vida pregressa, anterior, ou o cometimento de pecados por bebes ditos, “inocentes”, dentro do ventre de sua mãe? Que tipo de “crença inacreditável“ é esta a que estão submetendo os rebanhos de Deus? Quero confessar humildemente aos meus diletos leitores que eu, Pastor Olívio, sou um homem de pequeníssima fé – inexpressiva e insignificante fé – pois jamais conseguiria acreditar em algo assim!

Em outra passagem bíblica, Jesus levara Pedro, Tiago e João a um monte e, em oração, se transfigurara diante deles. “Seu rosto resplandeceu como a luz do sol, e os seus vestidos se tornaram brancos como a luz”, no dizer do evangelista Mateus (17:2). Logo apareceram Moisés e Elias, que haviam sido os maiores profetas de Israel, e ficaram ali conversando com o Mestre. Os discípulos ficaram confusos ao verem Elias também ali no monte, pois os líderes religiosos de seu tempo ensinavam que o dito profeta desceria corporalmente do céu e ungiria pessoalmente aquele que seria o mais poderoso rei sobre a face da terra, o Messias de Deus! Entretanto, ninguém vira Elias caminhando pelas ruas de Jerusalém ou passeando em outros estados da nação em seu velho corpo! A ser verdadeiro aquilo que os rabinos diziam e Jesus seria o maior mentiroso que a humanidade já produzira – maior mesmo que Satanás -, pois afirmava ser Ele o próprio Messias! Todo o plano de salvação do homem estaria arruinado e eles, como discípulos do Senhor que eram, estariam sendo enganados! Inquietos com aquelas considerações eles foram questionar o Mestre que os tranqüilizou dizendo que Elias já havia vindo, cumprido sua missão e padecido. O texto de Mateus diz que os discípulos então “entenderam que Jesus lhes falara de João Batista” e aquietaram os seus corações. Você pode ler os relatos completos desta história em Mateus 17:1-13 / Marcos 9:2-13 / Lucas 9:28-36.

Que tipo de “entendimento” foi este que os discípulos tiveram, depois de ouvirem a explicação dada por Jesus, capaz de resolver toda aquela enigmática situação?

Esse “entendimento” era decorrente de um conjunto de coisas que, somadas, levaram inexoravelmente os discípulos aquele tipo de conclusão, quais sejam:

  • Jesus dissera que Elias já tinha vindo e cumprido a sua missão de ungir o Messias. Ora, a única vez que Jesus, o Messias, fora ungido por alguém, fora no deserto, por ocasião de seu batismo, e não fora o profeta Elias quem o ungira, mas sim João Batista! João não derramara óleo em sua cabeça, como faziam os profetas do antigo Israel, quando iam ungir os seus reis (1º Livro dos Reis 19:15,16), sacerdotes (Êxodo 28:40,41) e profetas (1º Livro dos Reis 19:16 b), e sim água! A unção espiritual decorrente do derramamento do óleo trazia sobre a pessoa ungida uma porção poderosíssima, ainda que limitada, do Espírito Santo, mas a unção que viera sobre Jesus, fora sem limites, com toda a plenitude do Espírito Santíssimo! (João 1:30-34 / 3:34). Ó, que maravilha! Se os discípulos realmente acreditavam que Jesus era o Messias prometido por Deus, então João tinha de ser mesmo o profeta Elias!

  • Jesus também dissera que Elias viria primeiro que o Messias e que restauraria todas as coisas. Quando o Messias fosse então desenvolver o seu ministério já encontraria o terreno totalmente preparado por este seu Precursor. Pois foi exatamente isto o que acontecera com João. A Bíblia diz que “Jerusalém, toda a Judéia, e toda a província adjacente ao Jordão” vinha ouvi-lo e que “eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados” (Mateus 3:5,6). Sua pregação poderosa atingia todo o extrato social, sendo ouvida e temida até mesmo no palácio do rei Herodes (Mateus 14:1-12 / Lucas 3:1-20). Se Jesus era, de fato, o Messias, e Elias viria primeiro que Ele para preparar-lhe o terreno, então João Batista tinha de ser obrigatoriamente Elias, pois que fora João a única pessoa do Novo Testamento a atuar como o seu Precursor!

  • Outra coisa que Jesus afirmara acerca de Elias é que ele já tinha vindo e que “fizeram-lhe tudo quanto quiseram” querendo dizer com isso, que Elias passara por um grande sofrimento, pois que afirmou logo em seguida: “Assim farão eles padecer também o Filho do Homem” (Mateus 17:12). O único profeta da época dos discípulos que estava atuando fortemente em Israel e que experimentara um sofrimento horrível fora João Batista. Ele fora aprisionado no palácio de Herodes e decapitado a mando do rei, pelo rigor de sua pregação. Quanto a Elias, este não aparecera por lá e, portanto, não poderia ter sido aviltado por ninguém. Se Elias já tinha vindo e padecido, como Jesus dissera aos seus discípulos, era porque Elias estava em João, pois que o antigo profeta de Israel vivera cerca de 900 anos antes de Cristo e não passara por nenhum sofrimento visível no final de sua vida por ter sido arrebatado ao céu.

  • Outra coisa afirmada por Jesus é que Elias já tinha vindo, mas que ninguém o reconhecera. Nem os rabinos de Israel, nem os seus governantes, nem a população, em geral, e nem ainda os seus discípulos. Segundo o dizer do Mestre, isto deveria ter sido facilmente percebido por todos! Os sinais da nova encarnação do profeta estavam visíveis na vida de João Batista, sendo por demais evidentes! Ainda assim ninguém o percebera! Note, prezado leitor, que esta era uma crítica do Senhor Jesus a todos os seus concidadãos! Ele lhes estava passando “um carão”, “uma descompostura”, “um pito”! Todos deveriam ter sido capazes de detectarem que João era Elias sem grandes dificuldades, mas, ainda assim, não o fizeram! Como poderiam eles reconhecer Elias em João, se o profeta já havia morrido nove séculos atrás? Era só terem comparado os ministérios dos dois profetas. Tivessem eles feito isto e teriam descoberto Elias em João!

  • Para concluir o “entendimento” que os discípulos tiveram de que, ao falar Jesus sobre Elias, estava, na realidade, se referindo a João, temos que os discípulos de Jesus haviam conhecido a Elias e a João pessoalmente e sabiam serem eles pessoas diferentes! Muito antes de se tornarem discípulos de Cristo, os discípulos que subiram o monte com Ele (Pedro, Tiago e João), já haviam sido discípulos de João Batista (João 1:34-42 / Mateus 4:18-22 / Marcos 1:14-20). Quando eles se converteram a Jesus, estranhamente, o Mestre não os batizou, ainda que o próprio Mestre tenha se submetido ao batismo de João (Mateus 3:13-17). Por que Cristo agira assim? Por que não batizara os seus discípulos como João fazia com os seus? Porque os novos discípulos de Jesus já eram velhos discípulos de João! Já haviam sido batizados pelo profeta do deserto! A partir daí, todos os que se convertiam ao Mestre eram batizados por seus novos discípulos, nunca por Jesus, de quem as Escrituras dizem, não batizava a ninguém (João 4:1,2). Quando, pois, os discípulos viram Elias no monte, e Jesus dissera-lhes tudo aquilo acerca do antigo profeta, eles entenderam imediatamente que o Mestre só podia estar se referindo a João porque, apesar de os ministérios de ambos serem semelhantes, eles eram diferentes como pessoas! Os discípulos antes só conheciam a João, de quem se tornaram discípulos, mas agora eles também tinham visto a Elias no monte e sabiam que, fisionomicamente, ambos os profetas não eram iguais! O espírito era único, mas os seus corpos não! Estes eram distintos, desiguais, dessemelhantes!

Sei que muitos comentaristas bíblicos afirmam que João só podia ser comparado a Elias na semelhança de seus ministérios e não na vivência do mesmo espírito do antigo profeta na vida de João, como um ser reencarnado, mas como poderia João reproduzir o ministério de Elias, morto cerca de novecentos anos antes, se João passara toda a sua vida no deserto, sem qualquer envolvimento com o povo da cidade, e se nem conhecia ao seu primo Jesus que, por aquela ocasião, já contava com trinta anos de idade? (Mateus 3:1-5 / Marcos 1:1-8 / Lucas 1:39-45 / 3:1-3, 2123 / João 1:28-33). Estaria ele, durante todo o tempo que passara no deserto, estudando os modos, atitudes, comportamentos, maneiras de pregar de Elias para ficar parecido com o profeta e ganhar notoriedade? Por mais absurdo que isto seja, é exatamente o que afirmam alguns comentaristas! João teria visto em Elias o “seu ídolo”, o seu “personagem bíblico preferido” e resolvera imitá-lo em todas as coisas, reproduzindo fielmente os seus passos!

Responda sinceramente leitor: É possível acreditar que João fosse um homem assim? O maior de todos os homens dentre os nascidos de mulher, segundo Jesus e, embriagado do Espírito Santo já desde o ventre de sua mãe, imitando um velho profeta de Israel em seu ministério para ser confundido com ele pelo povo? Consegue enxergar essas atitudes infantis em um homem tão nobre?

Sei que mesmo tendo demonstrando todas as coisas acima alinhadas com o uso exclusivo da Bíblia, que a mente de muitos de meus leitores tem dificuldade ainda em crer que João Batista era Elias reencarnado, pois os anos de repetição sem exame sobre aquilo que lhes fora ensinado ou, de total ausência de informação sobre o assunto em suas igrejas, ou ainda, o medo de pesquisar um assunto tão “perigoso”, os têm mantido preso na crença de que João era Elias apenas na semelhança de seus ministérios e não na encarnação do antigo espírito do profeta na vida de João Batista. ENTRETANTO, se João só estava reproduzindo o mesmo “ministério” do profeta Elias então o que dizer do rei Herodes, de sua mulher Herodias, da filha de Herodias de nome Salomé, dos sacerdotes e fariseus do tempo de Cristo e do povo reticente de sua época que estavam reproduzindo exatamente as mesmas situações que os espíritos do rei Acabe, de sua mulher Jezabel, da filha do casal de nome Atália, dos sacerdotes idólatras de Baal e Asera e ainda do povo medroso que não tomava postura a favor de Deus? Estariam todos eles também “reproduzindo ministérios” ou estariam simplesmente se reencarnando em um imenso grupo Kármico,  revivendo as mesmas situações que já haviam vivido em sua época, mas só que agora, na vida daqueles novos atores? Compare a constituição dos dois grupos e veja se não é um se reencarnando no outro! (1º Livro dos Reis 17 / 18 / 19)

Pois bem, se João era Elias reencarnado, como dissera Jesus, e os seus discípulos aceitaram esta sua explicação isto então queria dizer que Elias já havia morrido, como qualquer mortal desta terra, o que, aliás, era a posição de alguns dentre o povo, visto que não pode haver reencarnação se não houver morte. Para os discípulos de Cristo, “entender” a presença de Elias no monte ao lado de Moisés e do Mestre podia até ser algo difícil, mas “entender” a reencarnação do antigo profeta na pessoa de João, isso era bem mais fácil, pois que eles já estavam familiarizados com esta doutrina, visto estar plenamente demonstrada em seu Livro Sagrado! Então eles aquietaram os seus corações e guardaram o segredo da visão, como solicitado pelo Mestre Jesus até a sua ressurreição dentre os mortos (Mateus 17:9).

CONCLUSÃO

Na próxima palestra examinaremos alguns textos do Antigo Testamento nos quais os judeus, incluindo os discípulos de Cristo, claro, fundamentavam a sua crença no retorno de uma pessoa à vida mediante o processo da reencarnação. Não deixe, pois, de lê-la, nem de anunciar este site a seus amigos.

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

[1] Citado por John Snyder em seu livro “Reencarnação ou Ressurreição”, editado pela Sociedade Religiosa Edições Vida Nova – São Paulo – SP, em 1985, no capítulo 5, página 46. 

IV. Os Judeus e a Reencarnação

 

 Palestra IV

OS JUDEUS E A REENCARNAÇÃO

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 2012

INTRODUÇÃO

Até aonde pesquisei não encontrei absolutamente nada que pudesse desmentir a crença dos judeus na ressurreição e na reencarnação como métodos utilizados por Deus para trazer uma pessoa de volta à vida. Estas crenças eram tão comuns entre eles como acreditar na existência de Deus ou na sacralidade de sua Lei. As diferenças ficavam por conta dos seus objetivos, mas não de seus resultados que eram os mesmos. Enquanto na ressurreição o espírito do indivíduo retornava ao velho corpo no qual vivera, na reencarnação, o espírito do indivíduo retornava à vida utilizando-se de outro corpo, novinho em folha, recém-gerado, preparado especificamente para ele, EXATAMENTE COMO APREGOA HODIERNAMENTE A DOUTRINA “ESPÍRITA” DA REENCARNAÇÃO! Sei que esta é uma declaração bastante forte, pois não estamos acostumados a ouvir que existam doutrinas ditas “espíritas” dentro das Escrituras Sagradas, ainda mais vindo esta declaração de um Pastor evangélico com 25 anos de ministério, mas entendo que qualquer doutrina que esteja dentro da Bíblia, por mais esquisita e estranha que seja, não deve ser taxada pelo nome do grupo religioso que lhe dá destaque e sim ser reconhecida como uma doutrina bíblica, escriturística, tão inspirada por Deus como as demais!

Com o objetivo de conhecermos mais sobre o assunto, elenquei para o nosso exame algumas passagens do Novo Testamento que, tenho certeza, lançarão mais luz sobre o tema e nos ajudarão a avançar progressivamente em nossa entusiástica, importante, e tão apavorante pesquisa!

CRENÇA DO GOVERNANTE DE ISRAEL NO RETORNO À VIDA

Quando Herodes, rei de Israel, ouviu falar que um homem comum, do povo, estava operando maravilhas em nome de Deus, dentro de seus domínios, logo quis conhecê-lo e saber de quem se tratava, pois seu coração há muito o torturava, trazendo-lhe lembranças perturbadoras sobre coisas ruins que fizera no passado (Mateus 14:1-12 / Marcos 6:14-29 / Lucas 9:7-9). Alguns do povo diziam que Jesus, o homem por quem Deus operava, era um dos antigos profetas que retornara à vida, mas o rei estava convencido de que isto não era verdade, e sim que João Batista, o profeta que ele havia mandado degolar por tê-lo acusado de cometer adultério com a mulher de seu próprio irmão é que ressuscitara! A lógica empregada pelo rei para esta sua crença era muito simples; apenas João havia feito coisas extraordinárias durante o seu governo e, se coisas extraordinárias voltaram a acontecer em seus territórios, era porque o espírito de João Batista voltara a assumir o seu velho corpo martirizado e decapitado a fim de dar continuidade ao seu ministério! Claro que o rei podia mandar matá-lo outra vez ou esperar que João viesse a morrer novamente, pois não há homem que viva para sempre e João, com toda certeza, tornaria a morrer. A declaração de Herodes sobre o retorno de João à vida serve para revelar quão abrangente e difundida era a crença dos judeus na continuação da vida após a morte, pois até nos paços reais esta se fazia presente!

Bom é que se frise aqui que Herodes não conhecia a Jesus pessoalmente e também não acreditava ser Jesus algum profeta ressuscitado. Esta era a crença do povo, não a do rei, o que nos livra de afirmar erroneamente que Herodes acreditava na reencarnação. Como costumo dizer: “Não precisamos forçar o texto bíblico a dizer o que ele não diz, nem a ir até onde ele não vai”. Se a reencarnação for realmente uma doutrina bíblica, então a própria Bíblia se encarregará de mostrá-la. Se não, então não lograremos êxito em nossa missão, pois estaremos laborando encima de algo inexistente.

Por não ser a pretendida ressurreição de João a ressurreição final, definitiva, como esperada pelos santos hebreus, visto não alterar as propriedades do corpo físico capacitando-o a viver eternamente e sim uma ressurreição parcial, temporária, na qual o indivíduo ressuscitado tornaria a morrer, ela deveria ser mais corretamente nomeada como revivificação ou ressuscitação para diferenciá-la da ressurreição verdadeira.

O único homem em toda a história da humanidade que ressuscitou, de fato, foi Jesus Cristo! Todos os demais casos de ressurreição relatados na Bíblia foram, na realidade, casos de revivificação ou ressuscitação. Apenas Cristo reassumiu o seu corpo morto, ferido, martirizado e entrou com ele em estado de imortalidade e de perfeição biológica. Seu novo / velho corpo possuía agora capacidade regenerativa, podia entrar e sair de qualquer lugar do universo e agüentar a presença majestosa de Deus Pai! Por ter assumido carne novamente dizemos que Jesus “re-encarnou”. Por ter reassumido o mesmo corpo com o qual morrera e entrado com este em estado de imortalidade e perfeição biológica, dizemos que Ele “ressuscitou”. Todos os indivíduos que ressuscitaram na Bíblia, incluindo o próprio Cristo, por terem assumido carne novamente, “re-encarnaram”.

Por conhecerem bem estes fatos acerca da ressurreição, a única ressurreição / reencarnação desejada ardentemente pelos justos, por ser diferenciada das demais e considerada a mais excelente entre todas, era a ressurreição final, visto depois desta não ser mais possível “re-encarnar”. A ressurreição final era também a “re-encarnação” final! (Filipenses 3:8-14 / Hebreus 11:35).

CRENÇA DO POVO JUDEU NO RETORNO À VIDA

Nos textos em que Jesus aparece perguntando aos seus discípulos quem o povo achava ser Ele, algumas respostas importantes foram dadas e servirão de base para o nosso estudo sobre a crença dos judeus no fenômeno da reencarnação. Outras passagens bíblicas serão trazidas em nosso auxílio e, ao final conheceremos um pouco mais sobre as possibilidades e meios cridos pelo povo judeu para o retorno de um morto à vida.

Alguns do povo afirmavam ser Jesus:

  • João Batista (Mateus 16:14 / Marcos 8:28 / Lucas 3:15 / 9:7,19);

  • Elias (Mateus 16:14 / Marcos 8:28 / Lucas 9:8,19);

  • Jeremias (Mateus 16:14);

  • Um dos profetas antigos que havia ressuscitado (Mateus 16:14 / Marcos 8:28 / Lucas 9:8,19);

  • Um novo profeta (Marcos 6:15);

  • O Filho do Deus Vivo, segundo declaração isolada de Pedro, um dos discípulos do Cristo (Mateus 16:16 / Marcos 8:29 / Lucas 9:20).

Examinando destacadamente cada uma das opiniões do povo sobre o Cristo, temos que Jesus só poderia ser confundido com JOÃO BATISTA considerando-se duas situações:

a) se alguns do povo não tivessem conhecido pessoalmente a Jesus e não soubessem também que João já havia morrido, o que seria algo muitíssimo improvável, dado o sepultamento público do corpo de João por seus discípulos que, por aquele tempo, alcançava alguns milhares em todo o Israel (Mateus 3:1,5 / Marcos 1:4,5 / Lucas 3:2,3 / João 1:28);

b) se eles tivessem conhecido a João e a Jesus e tivessem também conhecimento da morte de João. Eles então poderiam acreditar que João ressuscitara dos mortos e continuava o seu ministério no corpo de Jesus. Considerando que a mor parte do povo conhecera a João pessoalmente e outros, de ouvirem nele falar, dada a sua pregação espetacular e abrangente que durara cerca de um ano e meio e, considerando também, que praticamente todo o Israel conhecera a Jesus, cuja fama ultrapassava as fronteiras de seu país (Mateus 4:23-25 / Lucas 6:17), o afirmar ser Jesus, o profeta batizador, redivivo do deserto, era o mesmo que declarar a crença de alguns do povo na transmigração da alma, ou seja, na passagem da alma de um corpo para outro, quer estivesse este corpo morto ou vivo, para dar continuidade a sua missão. Segundo esta concepção bastante estranha, é verdade, o espírito de João adentrara no corpo adulto de Jesus e, em convivência pacífica com o espírito deste, voltara a desenvolver o seu ministério, sobrepondo-se ao espírito de Cristo.

Apesar desta crença parecer mais um relato de possessão do que qualquer outra coisa que já tenhamos visto, diferençava daquela por ser um espírito humano a adentrar e a conviver pacificamente com outro espírito humano e isto em um único corpo também humano. Apesar de toda estranheza que tal crença nos causa, era perfeitamente plausível no imaginário judeu, visto os judeus não acreditarem mesmo que Jesus fosse o Messias prometido dada a sua atuação pacífica, serena, espiritual, e não guerreira, violenta, conquistadora, como imaginavam que devia ser a ação do Ungido de Deus. Observe que, de todas as respostas dadas pelo povo nenhuma afirmava ser Jesus, o Ungido de Deus.

Muitos do povo e dos religiosos diziam também que Jesus era o profeta ELIAS. Se lermos apenas os textos de Mateus 16:14, de Marcos 8:28, e o de Lucas 9:19, seremos levados ao engano de que Jesus era de fato Elias ressuscitado. Contudo, Lucas tem o cuidado de dizer no capítulo 9:8 que muitos criam que Elias “tinha aparecido”, o que é diferente de dizer que ele havia ressuscitado, já que para haver ressurreição, tem que ter havido morte. Lucas estava dizendo que alguns do povo criam que Elias passara um tempo oculto da vista do povo, um tempo sem ter sido visto por ninguém, desaparecido do olhar dos populares, mas que agora, se manifestara corporalmente em Israel. A questão que se levanta é: se Jesus era o profeta Elias, que havia sido arrebatado ao céu e agora estava operando maravilhas em Israel, de quem seria Ele precursor, já que Jesus mesmo era o Messias tão aguardado de todos? Outra questão interessante a ser deduzida é a evidente crença do povo de que um santo poderia sair do “céu” (na época, “Seio de Abraão”) e vir à terra para dar continuidade a sua missão, coisa que, aliás, Jesus já deixara em aberto na parábola do rico e Lázaro (Lucas 16:19-31).

Com relação a ser Jesus JEREMIAS ou UM DOS ANTIGOS PROFETAS, temos de considerar que o povo só conhecia esses “antigos profetas” pelos registros sagrados, pois que estes profetas haviam vivido há muito tempo atrás e os corpos de alguns deles talvez já nem existissem mais. Seus espíritos eram muito “velhos”, muito “antigos”, muito “anosos”, cronologicamente falando, claro. O mais recente desses profetas, Malaquias, vivera cerca de 400 anos antes do nascimento de Cristo. Jeremias, que aqui é citado como exemplo, morrera quase 600 anos antes de Jesus nascer. Juntamente com Elias, era considerado um dos principais profetas em Israel. Uma lenda dizia que quando o templo fora destruído Jeremias escondera o tabernáculo, a arca e o altar do incenso em uma cova no Monte Pisga e que em tempo futuro, ele mesmo apareceria para restaurar esses objetos sagrados. Alguns rabinos sustentavam que Jeremias era o profeta predito por Moisés em Deuteronômio 18:15, tamanha a sua consideração entre o povo.

Fosse Jesus também mais UM PROFETA, como diziam alguns do povo que Ele era, e isto não seria problema algum, pois Israel sempre fora a terra das revelações de Deus e dos mais poderosos e valorosos profetas que já surgiram no mundo. O problema ficava por conta de ter sido o Mestre considerado João Batista, Elias, ou um dos antigos profetas ressuscitados, pois que isto traz para nós, estudiosos modernos, enormes implicações e complicações, como veremos a seguir:

Caso Jesus fosse um dos antigos profetas ressuscitado, no sentido de ser Ele um dos profetas que voltara da morte e reassumira o velho corpo com o qual vivera, e teríamos enormes problemas a resolver, como por exemplo, os relacionados à sua origem, pois Jesus nascera em Belém (Lucas 1:4-7), do ventre de uma virgem (Lucas 1:26-38), como um pequeno bebe (Lucas 2:10-12,21 / 11:27), e sua família era muitíssima conhecida de todos (Marcos 6:1-3 / Mateus 12:46-50). Qualquer profeta antigo que ressuscitasse teria que reassumir a sua existência a partir do corpo com o qual morrera e que por esta ocasião poderia se constituir apenas de uma ossada enterrada em um antigo cemitério ou em outro lugar qualquer e talvez nem mais existisse, pois o profeta entrava em seu ministério já como um homem adulto, maduro, visto a Lei preconizar que o ministro do Senhor só poderia assumir o seu ministério público a partir dos trinta anos de idade (Números 4:3 / Lucas 3:23). Ele teria de se dirigir para o local que fora a sua antiga comunidade, para o grupo familiar a que pertencera, e que por esta ocasião, também talvez nem mais existisse! Como poderia, pois, Jesus ser um dos antigos profetas ressuscitado?

NÃO PODERIA! Salvo se o povo judeu considerasse todo e qualquer retorno à vida como sendo uma ressurreição! Então, o espírito que estava residindo no corpo de Jesus poderia ser sim o espírito de um dos antigos profetas que vivera em Israel! Mas então isto já não seria mais uma ressurreição, como a conhecemos biblicamente, e sim uma reencarnação! POIS ERA EXATAMENTE ISTO O QUE ACONTECIA! Observe que os judeus chamaram a ressuscitação de João Batista de ressurreição (Lucas 9:7-9); chamaram também, e corretamente, a ressurreição de Jesus de ressurreição (Mateus 27:63-64); e, chamaram, ainda, o que acreditavam ser a manifestação do espírito de um antigo profeta no corpo de Jesus Cristo de ressurreição (Lucas 9:18,19)! AH! AGORA NÓS TEMOS O ENTENDIMENTO! Agora nós sabemos porque a palavra reencarnação não aparece na Bíblia! É porque os judeus incluíam em seu conceito de ressurreição, as ressuscitações ou ressurreições parciais; a ressurreição definitiva, como acontecida com o Cristo; e, ainda, as reencarnações, como acreditavam ser Jesus e João Batista! O que é isto senão a mais pura expressão de uma crença popular em um assunto de religião?

A declaração feita pelo apóstolo Pedro sobre ser Jesus O CRISTO ENVIADO DE DEUS para operar a nossa salvação foi a única aceita pelo Cristo como sendo a correta. Não que as outras declarações fossem falsas ou que tratassem de coisas inexistentes, pois como vimos, a ressuscitação de mortos era uma real possibilidade, tendo acontecida várias vezes no Antigo Testamento e tendo sido operada inclusive pelo próprio Jesus, mas sim que, no caso do Mestre, aquelas outras declarações não eram aplicáveis. O foco de Jesus estava em saber se os seus discípulos haviam se apercebido de quem Ele era de fato e não em quem o povo dizia ser Ele, pois os discípulos seriam os perpetuadores da proclamação do Evangelho e deveriam ter a exata percepção sobre quem era Jesus.

Resumindo então a crença do povo judeu no retorno da alma à vida física, temos que esta incluía quatro aspectos:

  • o retorno da alma do indivíduo ao mesmo corpo com o qual vivera e morrera para viver um pouco mais e tornar a morrer (revivificação ou ressuscitação);

  • o retorno da alma do indivíduo ao mesmo corpo com o qual vivera e morrera para viver para sempre e nunca mais morrer (ressurreição);

  • o ingresso da alma do indivíduo em outro corpo que não o dele, já vivido, já crescido, para convivência pacífica com outro espírito (transmigração);

  • o retorno da alma do indivíduo para habitar outro corpo novinho em folha, recém-gerado, recém-criado (reencarnação).

Quando Jesus pois falou sobre ressurreição, na parábola do rico e Lázaro, através de Abraão (vs 30,31), falou de algo que podia incluir tanto a ressuscitação, como a ressurreição, propriamente dita, e ainda a reencarnação, visto todos esses fenômenos possuírem amparo bíblico e serem chamados por um só termo nas Escrituras Sagradas!

CONCLUSÃO

Na próxima palestra examinaremos qual a posição dos discípulos de Jesus acerca do fenômeno da reencarnação, visto serem eles também pessoas comuns do povo que traziam em seus corações as crenças dos demais cidadãos sobre a continuidade da vida após a morte e no retorno de um morto à vida.

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

III. A Parábola do Rico e Lázaro

 

Palestra III

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012

INTRODUÇÃO

Vamos examinar agora um segundo texto bíblico também bastante utilizado pelos cristãos da vertente evangélica quando se está em discussão a possibilidade ou não da reencarnação. Ele se encontra no Evangelho de Lucas 16:19-31 e traz como título “A Parábola do Rico e Lázaro”. Segundo estes cristãos, o próprio Cristo ensinou neste texto, não existir a mínima possibilidade de um indivíduo alterar a sua condição espiritual após a morte, quer esteja este no céu ou no inferno. O estado espiritual de tal pessoa ao morrer estaria assim definido e também seria definitivo. As declarações de Jesus a esse respeito, segundo eles, são tão claras, tão óbvias, tão inequívocas, que deveriam ser consideradas um “ponto pacífico”, isto é, um ensinamento que ninguém mais deveria questionar. Vamos ver se isto é assim mesmo:

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO

“Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; e desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta de seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nessa chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebestes os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.”

O texto, como vimos, conta a história de dois homens que morreram e, subitamente, se acharam em locais / condições espirituais diferentes: um em um lugar ameno, calmo, aconchegante, chamado “Seio de Abraão” e outro em um lugar de tormento denominado “Hades”. Outro lugar é ainda mencionado no texto, sem um nome específico, e por isso eu o denominei de “Terra dos Viventes” por ser este o lugar onde estavam os vivos e a Lei de Moisés era ainda pregada. Por ser esta a única parábola em que o Cristo cita o nome de uma pessoa (Lázaro) e por não trazer o texto original o termo “parábola” em seu título, muitos consideram este relato uma história real, factual, verdadeira, e não uma parábola, um caso ilustrativo criado por Jesus para representar uma verdade espiritual. Independentemente de ser esta uma história real ou imaginária, vamos analisar o significado dos termos nela empregados e a relação que eles mantinham entre si.

COMPREENDENDO O QUE SEJA O HADES

“Hades” é o lugar onde ficavam os mortos, “o mundo invisível” ou “o mundo não visto”, segundo a sua língua original, a grega, e aparece traduzido 10 vezes como inferno em algumas versões da Bíblia, quem sabe mesmo, na versão que o meu prezado leitor utiliza, mas cuja tradução proposta (inferno) sequer existe nos textos originais bíblicos! Hades era o mesmo que o Sheol do Antigo Testamento, isto é, o lugar onde ficavam os mortos, independentemente de serem eles justos ou ímpios (Salmo 16:10 / Atos 2:27,31). Não era o inferno, como o concebemos hoje, cheio de trevas, fogo, seres malignos e ranger de dentes, mas o lugar onde ficavam os espíritos desencarnados (Jó 14:13). O Hades / Sheol se situava no interior da terra (Salmo 139:7,8) e possuía dois compartimentos estanques, sendo o primeiro deles conhecido como “Seio de Abraão”, local preparado para receber apenas as almas dos justos e, logo abaixo deste, e não ao lado, como se poderia imaginar, outro local, denominado o “Lugar de Tormento”, preparado para receber as almas dos iníquos. Esta foi a razão de o homem rico ter olhado para cima e ter visto o mendigo Lázaro junto com o Patriarca Abraão (Lucas 16:23). Ainda que tais locais estivessem próximos um do outro ao ponto do indivíduo poder ver o que o outro continha, distavam entre si infinitamente, de tal maneira que não podiam ser transpostos (Lucas 16:26).

Lúcifer, o Príncipe das Trevas, era quem detinha o domínio destes dois territórios, pois, desde a queda de Adão, toda a humanidade ficara sujeita a ele e ninguém ainda havia pago pelo resgate de qualquer alma! Todas elas se encontravam no Hades / Sheol esperando que o Salvador viesse libertá-las (Hebreus 2.14). Quando Jesus morreu pela humanidade, em seu sacrifício substitutivo, desceu até esta região espiritual e libertou os santos que lá estavam (Colossenses 2:14,15 / Apocalipse 1:17,18 / Mateus 27:50-53). Para demonstrar que lá estivera, Ele ressuscitou muitos corpos de santos que haviam sido sepultados, como Ele, no Calvário (Mateus 27:52,53). Desde então, quem morre na fé em Jesus e em total pureza de coração, vai diretamente para o Paraíso, lugar da morada de Deus (Lucas 23:43 / 2ª Coríntios 12:1-4), e lá fica aguardando o dia da redenção total (Efésios 4:8-10 / Atos 7:55,56 / Filipenses 1:21 / Apocalipse 6:9-11 / 7:9-17 / 14:13 / 1ª Tessalonicenses 4:13-18). Quanto aqueles que morrem em pecado, distantes de seu Salvador, estes seguem para o Hades e lá ficam em tormento, segundo a Teologia moderna, até o Dia do Juízo Final (Apocalipse 20:11-15), quando então serão dele retirados e levados à presença de Deus para julgamento e condenação eterna.

Devo pedir desculpas ao meu prezado leitor por não estar reproduzindo na íntegra os textos bíblicos aqui assinalados, mas apenas citando-os diretamente, sem comentá-los, e nem demorando-me muito na exposição dos lugares neles citados, pois, caso fizesse isto, esta palestra ficaria enorme, eu perderia o foco de meu estudo e o meu leitor se sentiria tentado a desistir de sua leitura. Além do que, todos os textos e comentários sobre o Hades e demais infernos bíblicos já foram bastante explorados no livro que publiquei intitulado “De Volta à Gehena – Eu e Você Já Estivemos Aqui”, disponibilizado neste site.

Vamos voltar então ao nosso estudo….

Na contundente história contada por Jesus, o homem rico, que era um ímpio, e que estava no compartimento inferior do Hades, portanto, no “Lugar de Tormento”, faz três pedidos[1] ao Patriarca Abraão, símbolo maior da comunhão com Deus por ter sido o único homem a receber de Deus o título de “meu amigo” (2ª Crônicas 20:7 / Isaías 41:8 / Tiago 2:23), e obtêm deste também três respostas diretas. Vamos examiná-las, uma a uma.

PEDIDOS DO HOMEM RICO E RESPOSTAS DE ABRAÃO

1º pedido do rico“Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta de seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nessa chama” (v.24);

1ª resposta de Abraão“Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá para cá” (vs.25,26);

Nesta primeira petição o homem rico pede a Abraão para que mande Lázaro ir até onde ele se encontra a fim de apagar a chama na qual ele, homem rico, está ardendo. A resposta de Abraão a este homem é a de que Lázaro não poderia sair do lugar onde se encontra (Seio de Abraão) para ir até o local onde o rico está (Lugar de Tormento), por haver um abismo intransponível entre aqueles dois mundos, impedindo um de adentrar no território do outro. Observe que Abraão usou o pronome “nós” para enfatizar que nem ele, nem Lázaro, nem nenhum outro justo, poderia sair do “Seio de Abraão” para ir até o “Lugar de Tormento”. Bom é que se diga que Abraão não é e nem representa Deus aqui, pois que Deus não está limitado a nada e se encontra presente em todos os lugares (Jeremias 23:23,24 / Salmo 139: 7-12).

A modéstia do pedido do homem rico revela a grandeza do horror do lugar onde ele estava, pois que, uma gota de água apenas do lugar onde Lázaro se encontrava já seria suficiente para aplacar o seu terrível tormento! Na Terra dos Viventes esse homem tivera tudo quanto o dinheiro pudera lhe comprar; aqui ele não possuía nada. Até uma pequeníssima gota de água tinha de lhe ser doada! Na Terra ele promovia banquetes sem notar sequer a presença do mendigo Lázaro; aqui é ele que não possui influência alguma e precisa do mendigo e de outros desconhecidos para ajudá-lo! A história desse homem é tão triste, tão funesta, que deveria estremecer e arrepiar todos aqueles que hodiernamente possuem tanto em influência, em beleza, em riqueza, em talento, em poder, e outras coisas mais que os fazem destacar-se de seus semelhantes, e que nada fazem para ajudar o seu próximo. Um dia a sorte poderá mudar e então estes que “estão por cima” poderão ficar na posição de suplicantes. Jesus disse que “a quem muito for dado, muito também será cobrado” (Lucas 12:48).

Por três vezes o homem rico se dirige a Abraão chamando-o de “pai”, demonstrando com isto confiança em sua filiação abraâmica que o tornava integrante do povo escolhido de Deus e de suas fiéis promessas. O Patriarca lhe responde uma vez chamando-o de “filho”, reconhecendo assim a existência de tal vinculação (Mateus 3:9 / João 8:33-39). O problema é que esta vinculação não possuía nenhum poder salvífico, de transformação de coração (Romanos 9:6-8 / Gálatas 3:8,9). Se tivermos de ser salvos não o seremos por sermos filhos do Judaísmo, do Cristianismo, ou de qualquer outra religião e sim por sermos filhos de DEUS! (João 1:12,13).

Agora, eu gostaria de fazer ao meu leitor uma importantíssima pergunta acerca desta primeira petição: “Poderia, porventura, a expressão “os de lá”, utilizada por Abraão ao dizer “os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá para cá”, se referir a Terra dos Viventes e não ao Lugar de Tormento, como proclamam tantas e tantas pessoas dos púlpitos? Afinal de contas, se Abrão quisesse se referir ao Lugar de Tormento e não a Terra dos Viventes, dizem tais pessoas, poderia ter se utilizado da expressão “os dai” e não “os de lá”, como o fez. NÃO, NÃO PODERIA, pois quem estava na Terra dos Viventes poderia sim passar para o Seio de Abraão, caso morresse como justo – que foi exatamente o que aconteceu com Lázaro, e quem morresse como ímpio também poderia passar para o Lugar de Tormento – que foi o que aconteceu com o rico e que ele ainda temia, viesse acontecer também com os seus familiares! O abismo intransponível existia para impedir o fluxo de pessoas entre o Seio de Abraão e o Lugar de Tormento e não entre as pessoas que estavam no Hades (Seio de Abraão / Lugar de Tormento) e a Terra dos Viventes. Outra coisa a considerar é que o rico estava interessado apenas na possibilidade de pessoas que estavam no mundo invisível acessarem o mundo visível, material e não o inverso. Temos assim que a expressão “os de lá”, utilizada por Abraão, se refere unicamente aos indivíduos que estavam presos no Lugar de Tormento e não aos que estavam na Terra dos Viventes. Devemos, pois evitar este terrível equívoco em nossas tribunas e púlpitos!

2º pedido do rico“Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento” (v.27,28)

2ª resposta de Abraão“Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos” (v.29)

Nesta segunda petição o homem rico argumenta: “já que Lázaro nem o senhor podem sair do “Seio de Abraão”, onde estão, e virem até aqui, no “Lugar de Tormento”, onde estou, mande que ele, Lázaro, vá diretamente até a casa de meu pai, na “Terra dos Viventes”, para avisar os meus cinco irmãos, a fim de eles não virem também para cá, pai Abraão”.

Um grande intérprete do Novo Testamento, a quem muito aprecio, chamado Joachin Jeremias, disse ao ler esta passagem que esta parábola deveria se chamar “A Parábola dos Seis Irmãos” e não “A Parábola do Rico e Lázaro”, visto todos os seis irmãos viverem da mesma maneira egoística, alienados de Deus e de sua Palavra, sem preocupação alguma com a continuação da vida no além e com a fatalidade da vida. Essa sua opinião pode ser encontrada em seu livro “As Parábolas de Jesus”, editado na língua portuguesa pelas Edições Paulinas. Eu a achei muito interessante e pertinente e por isso a citei aqui.

Agora, eu desejo que o meu prezado leitor atente bem para a resposta dada por Abraão ao homem rico, pois não precisamos forçar o texto bíblico a ir aonde ele não vai e nem a dizer o que ele não diz tão somente para defender algum argumento que achemos bonito ou sustentar uma interpretação que gostemos. Abraão não diz que a alternativa de um justo sair do “Seio de Abraão” e ir até a “Terra dos Viventes” não seja possível, mas afirma que os parentes do homem rico já possuem dois outros instrumentos poderosíssimos de alerta sobre a vida após a morte que estão sendo usados naquele exato momento na Terra e para os quais eles, e o próprio rico quando estava vivo, deveriam atentar, a saber: Moisés e os Profetas, nome pelo qual eram chamadas as Escrituras Sagradas ao tempo de Cristo. Abraão parece estar um tanto quanto seco, árido, sem vontade de conversar, pois o rico argumentara com ele como se o Patriarca não tivesse conhecimento dos fatos presentes ou não estivesse tão interessado em ajudá-lo. A resposta direta e sem rodeios que Abraão dera ao homem rico com relação aos seus parentes serve também para todos nós: “Têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos”. Não basta apenas saber que as Escrituras Sagradas existem e são anunciadas: Temos de ouvi-las!

3º pedido do rico“Pai Abraão, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam” (v.30)

3ª resposta de Abraão“Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite” (v.31)

Nesta terceira petição, se é que podemos chamá-la assim visto o homem rico não pedir nada, mas apenas reforçar os argumentos sobre o pedido que fizera anteriormente, vemos que ele está determinado a salvar os seus familiares de qualquer maneira e, cheio de ardor missionário, contra-argumenta com o santo apelando para os seus sentimentos, dizendo-lhe: “já que Lázaro não pode vir até aqui onde estou para me refrescar a língua e também não pode ser enviado à “Terra dos Viventes” para avisar os meus parentes sobre este lugar de horror, então pai Abraão, envie um dos mortos qualquer para avisá-los”. Ele está se referindo aos outros mortos que, com ele, estão no mesmo “Lugar de Tormento”, pois que Abraão já lhe dissera que quem estivesse no lugar denominado “Seio de Abraão” não poderia mais sair de lá e ir até onde o homem rico estava, o “Lugar de Tormento”, por haver entre eles um abismo intransponível. Neste terceiro pedido Abraão responde-lhe: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”.

Note, mais uma vez, prezado leitor, que a resposta que Abraão dera ao homem rico não fora a de que um ímpio não poderia sair do “Lugar de Tormento” e ir até a “Terra dos Viventes” e sim que os parentes daquele homem rico não acreditariam em tal pessoa, mesmo que ela fosse um parente seu ressuscitado!

A simples possibilidade de alguém poder sair do Hades, conforme solicitada pelo homem rico e endossada pelo Patriarca Abraão, já nos obriga a repensar a questão da perenidade do inferno, pois se é possível a alguém sair do Hades, mesmo que através do processo da ressurreição, então quer dizer que este inferno, aqui referido, por mais terrível e tormentoso que seja, não é eterno, não é para sempre, não é definitivo e sim um inferno provisório, passageiro, impermanente, que é exatamente o que a Bíblia afirma acerca do Hades. Segundo o Apocalipse, no fim dos tempos, tanto a Morte quanto o Hades serão lançados no Lago de Fogo e não existirão mais. Teremos então um inferno dentro de outro inferno! (Apocalipse 20:13,14). Esta mesma situação de transitoriedade, de impermanência, pode ser encontrada com relação a Gehena (outra palavra traduzida por inferno), visto o indivíduo poder sair dela após ter pago o seu último ceitil, segundo o dito de Cristo em Mateus 5:21-26, onde esta palavra aparece. Tudo isso serve então para nos mostrar quão difícil é compreender o real significado da Palavra de Deus com tantas traduções inadequadas!

Somos também obrigados a repensar outras questões mais intrigantes, tais como: Caso um morto ímpio, infiel, injusto, pudesse, ainda que hipoteticamente, sair do Hades e vir à “Terra dos Viventes” para avisar alguém sobre o lugar horrível em que estivera, não seria esta volta uma demonstração clara de “segunda chance” para o habitante do Hades, que poderia, ele mesmo, se arrepender de seus maus atos? Não seria também esta possibilidade uma vantagem espiritual para aqueles que ouvissem tal mensagem, pregada diretamente por alguém recém saído do inferno? Aliás, o homem rico garantiu a Abraão que se algum dos mortos saísse de tal inferno e fosse pregar a seus parentes incrédulos que estes se arrependeriam!

Por que o homem rico não pedira logo ao Patriarca Abraão para enviar a ele mesmo à casa de seus irmãos a fim de avisá-los, mas pedira para este enviar primeiramente a Lázaro e depois a qualquer um dos mortos que com ele estavam no “Local de Tormento”? Egoísmo? Estratégia? Medo? Quem sabe! Se Lázaro pudesse apagar com aquela única gota de água o fogo em que ele, homem rico, ardia, talvez ele nem solicitasse ao Patriarca Abraão para enviar a Lázaro ou algum dos mortos a sua casa a fim de avisar a sua parentela. A permanência no Hades, se tornaria algo suportável, tanto para ele, quanto para seus parentes que para lá fossem. Particularmente acho que o rico não possuía proximidade alguma com sua família, pois mesmo estando sofrendo naquele inferno de horror, pediu para que outros fossem enviados em seu lugar e não ele próprio. Acreditar que alguém pudesse ressuscitar dos mortos deveria ser algo extremamente difícil para a sua abastada família, mas acreditar que o seu parente egoísta, endurecido, recém falecido, ressuscitara e fora pregar arrependimento a eles, cheio de compaixão e misericórdia, já seria pedir demais!

Claro que podemos tomar essa última declaração de Abraão como uma coisa hiperbólica, exagerada, exorbitante, usada apenas para representar a impossibilidade daquela situação vir a acontecer e é assim que a Igreja a tem interpretado no correr das eras: “um morto sair do inferno (Hades – Local de Tormento) e vir pregar na Terra dos Viventes, ressuscitado? Ah, ah, ah, seria o mesmo que um elefante rosa voar sobre nossas cabeças!” Mas vamos considerar que o que Abraão estava querendo passar para o rico não era a impossibilidade da ressurreição de alguém que tivesse estado no Hades vir a acontecer, pois esta já havia acontecido por diversas vezes no Antigo Testamento e, agora ainda mais com Cristo, e sim a incapacidade de um ente vivo acreditar em um ex-morto, incrédulo, egoista, saído diretamente do Hades, como pregador! A ressurreição de Lázaro, amigo de Jesus, mostrara o quanto isso era difícil de acontecer. Lázaro era justo e querido por todos, mas ainda assim a Bíblia diz que quando Jesus o ressuscitou apenas alguns creram em Cristo como o Messias, e que os principais sacerdotes procuravam matar tanto o Senhor quanto o seu amigo ressuscitado! (João 12:9-11).

CONCLUSÃO

A esta altura de nosso estudo o prezado leitor deve estar se perguntando: Por que será que o Pastor Olívio colocou esta palestra dentro do tema REENCARNAÇÃO se tudo o que ele está dizendo está indo exatamente contra esse ensinamento? Se o próprio Abraão, amigo de Deus, disse que a única maneira de alguém sair vivo do inferno (Hades) e adentrar na “Terra dos Viventes” era através do processo da ressurreição (v.31) então por que devemos nós acreditar na reencarnação?

Por vários motivos cumulativos, querido(a): primeiro, porque o inferno apregoado por Cristo nesta parábola, qual seja o Hades, não é nem eterno nem definitivo, conforme vimos acima, pois todas as pessoas que foram ressuscitadas – fossem elas justas ou ímpias – saíram deste “inferno”; segundo, porque a impossibilidade espiritual apregoada por Cristo nesta parábola não era a de um justo ou de um ímpio, depois de mortos, poderem retornar à Terra dos Viventes, o que já havia acontecido por diversas vezes mediante o processo da ressurreição e sim a de um justo que estivesse no Seio de Abraão passasse para o Lugar de Tormento e vice-versa; terceiro, porque as Escrituras apresentam vários infernos, cada um com um propósito específico e com características próprias, o que nos proíbe de uniformizá-los; quarto, porque se alguém pode sair do Hades pelo processo da ressurreição, ou outro processo qualquer, esse alguém pode sim mudar a sua condição espiritual, pois que ganhará mais tempo de vida terrena no qual poderá obter novas informações e fazer novas escolhas; quinto, porque o conceito de ressurreição no tempo de Cristo podia abranger tanto o reingresso do espírito ao velho corpo em que o indivíduo vivera quanto o reingresso do espírito a outro corpo, recém-gerado, novinho em folha, exatamente como apregoa hodiernamente a doutrina da reencarnação!

Por esta o amigo(a) não esperava, não é mesmo? Ficou chocado com as minhas declarações? Gostaria de saber em que outros registros bíblicos eu fundamentei essa minha tese? Então não deixe de ler as nossas próximas palestras e, se possível, convidar outros para as lerem também, de acordo?

Deus abençoe a todos.

Caso seja do interesse de meu prezado leitor, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

[1] Na realidade dois pedidos, tendo em vista que o terceiro é um “reforço de argumentação” (Nota do Autor)

a leitura. Além do que, todos os textos e comentários sobre o Hades e demais infernos bíblicos já foram bastante explorados no livro que publiquei intitulado “De Volta à Gehena – Eu e Você Já Estivemos Aqui”, disponibilizado neste site.

II.c A Que Homens Está Ordenado Morrer – O Grupo dos Transformados

 

Palestra II c

A QUE HOMENS ESTÁ ORDENADO MORRER?

O GRUPO DOS “TRANSFORMADOS”

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012

INTRODUÇÃO

O último grupo de indivíduos que desejo examinar, dentro de nossa análise sobre o texto de Hebreus 9:27 que afirma: “aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois disso o juízo”, diz respeito a um conjunto imenso de fiéis que a Bíblia afirma não passarão sequer pela morte física, como acontece com os demais seres humanos. Por estarem estes fiéis vivos quando do retorno de Cristo à Terra, não necessitarão morrer primeiro para depois serem ressuscitados, mas terão imediatamente, instantaneamente, os seus corpos enfermiços, sem glória e corruptíveis, transformados a semelhança do corpo glorioso de Cristo, e entrarão com eles em estado de perfeição biológica, estando prontos para viver a eternidade. Por outro lado, os fiéis que estiverem mortos, por ocasião deste evento, terão os seus espíritos trazidos de volta a Terra por Cristo que promoverá uma imensa ressurreição de todos os santos da Terra e lhes concederá um novo corpo, também semelhante ao seu, habilitado a viver para sempre.

TRANSFORMADOS PARA NÃO MORRER?

Os textos onde esses relatos se encontram são tão magníficos, tão extraordinários, tão cheios de glória, que eu fiz questão de expô-los em sua inteireza para o conhecimento ou releitura de meu prezado leitor. Em 1ª Coríntios 15:51-54 o apóstolo Paulo escreveu: “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos (morreremos), mas todos seremos transformados (vivificados corporalmente). Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória”. Belíssimo texto, você não acha?

Em 1ª Tessalonicenses 4:13-18 o mesmo apóstolo complementou: “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem (já morreram), para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele. Dizemos-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com ele nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras”.

Fica claro das explanações dadas pelo apóstolo Paulo que a ressurreição dos santos obedecerá a uma ordem pré-estabelecida: primeiro, os fiéis que estiverem mortos na volta de Cristo ressuscitarão, tendo por base os seus velhos corpos; depois, os santos que estiverem vivos, na mesma ocasião, terão os seus corpos viventes transformados, modificados, convertidos à semelhança do corpo de Cristo. Tudo isto numa fração de tempo tão diminuta, tão ínfima, tão minúscula, que o apóstolo Paulo usou a palavra grega “atomo”, traduzida em nossas Bíblias pelo termo “momento” para declará-la e ainda a expressão “num piscar de olhos” para expressá-la. Ao tempo em que ele usou a palavra “átomo” o conceito deste era de algo “indivisível” e a expressão “piscar de olhos”, a mais rápida ação do corpo humano.

Alguém poderia argumentar que a transformação do corpo adâmico em corpo crístico já é uma forma de morte, uma maneira de morrer também, e que, portanto, a interpretação que afirma que esses milhões de fiéis não passarão pela morte física, está equivocada. Tal argumentação até poderia ser verdadeira, se o texto de 1ª Coríntios não fosse tão enfático, tão incisivo ao afirmar que “nem todos morreremos”. Se nem todos morreremos é porque alguns de nós ficaremos vivos. É a este grupo de fiéis vivos que caberá a transformação de seus corpos. Os fiéis que estiverem mortos, por ocasião da volta do Senhor, terão os seus corpos de volta, não os crentes que estiverem vivos, que não precisarão ter nenhum corpo de volta, pois já têm o seu inteiro, preservado, integral, e, portanto, passarão por uma metamorfose em vida, terão o seu corpo modificado, alterado, transformado. Transformação não é o mesmo que morte. Enquanto a primeira significa mudança, troca, alteração, a segunda significa, neste contexto, separação, afastamento, distanciamento. Tanto é assim que o Senhor trará os espíritos dos fiéis mortos, que estavam reunidos no céu, para ajuntá-los com os seus corpos redivivos.

A grande questão que se levanta é: Porque deveriam estes fiéis do futuro, que estiverem vivos na volta de Cristo e cujo número deve chegar a alguns milhões de indivíduos, espalhados por todo o mundo, ter os seus corpos transformados a semelhança do corpo glorificado de Jesus, sem passarem pela morte física, biológica, corporal, se Deus disse que aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo? Que tipo de exceção é esta que privilegia pessoas tão somente por terem elas nascido e permanecido vivas em uma época especial? Que tipo de exceção é esta que privilegia pessoas que sequer estarão a altura de um Davi, que foi chamado “o amado de Deus”; de Abraão, único fiel do qual Deus “se gabou” dizendo ”Abraão é o meu amigo”; de Paulo que esteve no lar de Deus e ouviu coisas que ao homem não é digno dizer; ou, do próprio Jesus Cristo do qual o Senhor disse: “Eis aí o meu Filho amado em quem tenho muito prazer?” Será que essa fantástica benção, desejada por todos os santos, de todos os tempos, será dada apenas a alguns por uma mera questão cronológica, circunstancial, épica, ou por serem esses fiéis um tipo tão especial de crentes, tão sublimes, tão nobres, tão dignos, que ultrapassem todos os santos que por aqui já passaram?

TRANSFORMADOS PARA NÃO MAIS MORRER!

Creio sinceramente que temos aqui mais um problema sério de interpretação: A metamorfose prometida para os corpos dos fiéis que estiverem vivos na vinda de Jesus realmente acontecerá e será uma demonstração fantástica do poder de Deus para todo o Cosmo, porém, mais uma vez ousamos perguntar, sem nenhuma intenção de ofender ao nosso bendito e amado  Deus: Qual o propósito do nosso Senhor em suspender tantas e tantas vezes a sua Lei universal de morte física para todos os humanos? Porque um grupo experimenta a morte mais de uma vez, como é o caso dos ressuscitados, outro é ajudado pelo próprio Senhor a driblá-la, como aconteceu com os arrebatados e, outro ainda, só por ter nascido em determinada época, recebe o privilégio de não a experimentar? Será que as nossas interpretações estão corretas?

Alguns leitores dirão que tais coisas fazem parte da soberania e do poder de Deus, mas não é sobre isto que estou falando e sim sobre a lógica do meu Senhor em suspender tantas e tantas vezes a sua Sagrada Lei sem se importar em fixar um de seus muitos mandamentos, chegando mesmo a ajudar o transgressor a quebrá-la, pois, qualquer lei que exista, seja ela divina ou humana, para que seja caracterizada como lei, não pode e nem deve conter tantas exceções, sob o risco de ser banalizada, descaracterizada como Lei, e lançar dúvidas sobre a pertinência e rigor das demais Leis estabelecidas por tal Legislador! Isto é muito mais sério do que parece! Se todos os homens devem morrer, mas milhões e milhões deles da morte escapam, e são até ajudados pelo próprio Legislador a driblá-la, como acreditar na seriedade de tal Lei? Como entender o padrão de justiça e de legalidade utilizados por tal Legislador? Como também poderemos manter a harmonia das Escrituras Sagradas?

NÃO PODEREMOS! A única maneira de harmonizarmos todas essas exceções com a Lei universal de Deus para que todos os humanos experimentem a morte é aceitarmos que todos os humanos já morreram em algum outro tempo de sua longa existência, em alguma outra manifestação de vida! Todos aqueles santos que estarão vivos na volta do Senhor Jesus e que terão os seus corpos transformados à semelhança do seu corpo glorioso, não possuem nada de especial consigo capaz de comover o Senhor Deus a ponto Deste se sentir pressionado a livrá-los da morte física, pois que esta já aconteceu com eles em muitos momentos de sua existência, assim como com os ressuscitados e com os arrebatados também! Tais santos não serão transformados para não verem a morte, como nos tem sido ensinado pela Teologia moderna, mas serão sim, transformados para nunca mais experimentarem a morte!

CONCLUSÃO

Apenas com a introdução da doutrina da reencarnação em nossos sistemas de interpretações a harmonia das Escrituras ficará preservada e Deus reassumirá o seu posto de Deus justo, reto, verdadeiro, imparcial, livre de “caprichos divinos” e de inomináveis discriminações. Nunca houve, nem nunca haverá problema algum com a sua Lei e sim com as nossas interpretações que estão estreitas demais, apertadas demais, pequenas demais para comportarem tantas exceções. Ou ampliamos os nossos sistemas de interpretações bíblicas para apreciarmos as maravilhas da Lei de Deus ou assumimos o risco de nos tornar sectários, donos da verdade, e assim, perecermos felizes em nossa miopia espiritual.

Deus abençoe a todos.

 

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

 

II.b A Que Homens Está Ordenado Morrer – O Grupo dos Arrebatados

 

Palestra II b

A QUE HOMENS ESTÁ ORDENADO MORRER?

O GRUPO DOS “ARREBATADOS”

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012

INTRODUÇÃO

Conforme vimos na Palestra II a, na qual falamos sobre “O Grupo dos Ressuscitados”, a ordem universal dada por Deus para que todos os homens morram uma vez e sejam depois julgados, conforme registrada em Hebreus 9:27, trouxe consigo algumas dificuldades para o nosso atual sistema de interpretação visto a Bíblia relatar pelo menos 9 casos incontestes de pessoas que morreram mais de uma vez e experimentaram um juízo provisório. Na presente palestra estudaremos o caso de pessoas que a Bíblia relata não terem sequer passado pela morte física, o que forçará ainda mais a nossa interpretação sobre o tema a se ampliar, a se expandir, a ganhar mais abrangência para poder abarcar todas as exceções bíblicas.

É POSSÍVEL DRIBLAR A MORTE?

As Escrituras Hebraicas mencionam dois indivíduos que foram arrebatados corporalmente ao céu, sem terem passado pela morte física, a saber: Enoque e Elias. O primeiro era um antediluviano, termo empregado para se referir as pessoas que nasceram antes do grande dilúvio que inundara a terra, milhares de anos antes de Cristo, não tendo este, portanto, nenhuma nacionalidade ainda. O segundo era um judeu, que vivera cerca de 900 anos antes de Cristo, e que é considerado, até os dias de hoje, como um dos maiores profetas que já apareceu em Israel. O texto referente ao arrebatamento de Enoque se encontra em Gênesis 5:18-24 e o referente ao arrebatamento de Elias no 2º Livro dos Reis 2:1-11. O leitor deve lê-los antes de avançar em nossa discussão a fim de familiarizar-se com os dois personagens.

Grande parte da Cristandade e também do Judaísmo tem interpretado o arrebatamento desses dois homens como uma exceção feita por Deus à sentença de morte universal emitida por Ele mesmo aos humanos, conforme registrada em sua Lei Sagrada (Gênesis 3:19), pois segundo estes, se tais pessoas foram arrebatadas do meio onde viviam para não verem a morte, não teria sentido algum elas virem a morrer posteriormente, visto o arrebatamento de ambas ter sido um prêmio a fidelidade das mesmas ao Senhor. Outros têm afirmado que Deus não fez exceção nenhuma em sua Lei e que tanto Enoque quanto Elias deverão ainda retornar à Terra para experimentarem a morte física na figura das duas testemunhas descritas em Apocalipse 11:1-14. Outros ainda têm afirmado que tanto Enoque quanto Elias morreram fisicamente há muito tempo, não tendo nós que ficar esperando mais nada deles. Qual a posição defendida pelo Pastor Olívio?

Parece não haver dúvida entre judeus e cristãos que tanto Enoque quanto Elias foram arrebatados ao céu de fato. Os textos bíblicos que falam sobre o assunto são tão contundentes, tão incisivos, que não deixam nenhuma margem para contestação. De Enoque se diz: “E andou Enoque com Deus: e não se viu mais, porquanto Deus para Si o tomou” (Gênesis 5:24). O escritor da carta aos Hebreus disse: “Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus” (Hebreus 11:5). De Elias se diz: “E sucedeu que, indo eles (Elias e seu discípulo Eliseu) andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro: e Elias subiu ao céu num redemoinho” (2º Livro dos Reis 2:11). Sim, tanto Enoque quanto Elias foram realmente arrebatados ao céu!

O PARECER DE JESUS DE PAULO E DE JOÃO SOBRE O ASSUNTO

Os problemas começam a surgir quando estudamos Jesus e Paulo. Segundo o Cristo, nem Enoque, nem Elias, nem qualquer outra pessoa, em tempo algum, jamais foi arrebatado ao céu de Deus, pois, conforme Ele próprio declarou a Nicodemos, membro do Sinédrio Judaico, o mais alto fórum de decisão em Israel para questões religiosas, políticas e administrativas: “Ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu: o Filho do homem que está no céu” (Evangelho de João 3:13). Cristo estava dizendo: “Vocês dizem que Enoque e Elias vieram para cá, para o céu onde estou com meu Pai, mas Eu posso lhes assegurar que para aqui eles não vieram, pois Eu tenho estado aqui com meu Pai desde sempre e posso lhes garantir que tal coisa não aconteceu”. Já o apóstolo Paulo disse para os crentes de Corinto: “todos serão vivificados em Cristo (receberão novos corpos), mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias (o primeiro), depois os que são de Cristo na sua vinda (1ª Coríntios 15:22,23). Por esta declaração do apóstolo Paulo ficamos sabendo que ninguém, depois de Cristo, ainda ressuscitou em glória, pois os próximos indivíduos a serem assim ressuscitados, só o serão na sua vinda, isto é, no porvir, no futuro. Com isto aprendemos que ninguém, antes ou depois de Cristo, subiu ao céu em corpo físico! Impressionante, não é mesmo, prezado leitor?

O apóstolo Paulo também ensinou aos crentes coríntios que nosso corpo mortal, como se encontra hoje constituído, servindo ao pecado e não a Cristo, não pode de maneira alguma entrar no reino dos céus e suportar a intensa glória de Deus. Ele precisa ser transformado, a exemplo do corpo de Cristo (1ª Coríntios 15:51-54). Ainda segundo o apóstolo “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus” (1ª Coríntios 15:50). O apóstolo João também disse que apenas quando o fiel assumir um corpo semelhante ao de Jesus após a sua ressurreição, o ingresso e a permanência no céu se tornarão possíveis (1ª Epístola de João 3:2). Sem este corpo crístico, destituído do pendor, da inclinação, da pecaminosidade da carne, nenhum filho do Senhor conseguiria jamais chegar perto de seu Pai Celestial! (Marcos 16:19 / Atos 2:34 / Hebreus 2:13 / Atos 7:55,56). Ele simplesmente seria torrado, carbonizado, dizimado! Isto significa que, nem Enoque, nem Elias, nem qualquer outra pessoa, jamais foi arrebatada ao céu de Deus, local onde se encontram os anjos, os poderosos líderes universais, o Cristo de todos os mundos e o nosso maravilhoso e bendito Pai!

Isto apenas já seria suficiente para fechar esta nossa palestra e nos permitir avançar para a próxima, mas o estudante de alma sedenta pelo conhecimento deve estar agora mesmo se perguntando: Se Enoque e Elias não foram para o céu de Cristo, para onde então eles foram? Para outro planeta? Para outro mundo?

PARA ONDE FORAM ENOQUE E ELIAS?

Pessoalmente não acredito que Enoque e Elias tenham sido arrebatados para outros mundos e as razões que apresentarei nada têm a ver com o poder ou a soberania de Deus, que tudo pode e tudo faz sem ter que dar satisfações de seus atos a ninguém, mas sim com o objetivo, o propósito, o motivo envolvido em tais trasladações. Por que tiraria o meu Senhor alguém do seu planeta, do seu mundo, do seu habitat, do lugar onde vivem seus parentes, irmãos, pessoas amadas e apreciadas e o levaria a ficar distante, vivo, consciente, em um lugar desconhecido, de gente estranha, sem nunca mais voltar a Terra para vê-los? Não seria isto um castigo ao invés de um prêmio? Ainda mais sendo esta pessoa a voz profética de Deus na Terra, a voz da justiça, do amor, da esperança para um mundo conflitado, cheio de violência e pecado?! O que de tão urgente e necessário precisaria o tal mundo para que o Senhor levasse um dos nossos para salvá-lo? Um ser de uma raça pode salvar espiritualmente outro de uma raça diferente da dele? O próprio Cristo, como Filho Unigênito de Deus que era, teve de se transformar em humano para poder salvar os humanos! (Filipenses 2:3-11). Não foi com o nosso mundo que aconteceu a triste história do pecado? Estaria o nosso corpo humano preparado para viver em outro ambiente exógeno, estranho, completamente diferente do nosso? Que linguagem o indivíduo arrebatado utilizaria para comunicar aos habitantes destes outros mundos os projetos de Deus para as suas vidas?

Como o leitor pode ver, é quase impossível acreditar no arrebatamento de Enoque e de Elias para outros mundos a partir de tais questionamentos!

Mas se eles não foram para o céu de Deus e não foram também transferidos para nenhum outro planeta, para onde então foram? Poderiam ter sido arrebatados ao céu terrestre, atmosférico, e até mesmo ao céu espacial e, posteriormente trazidos à terra e morrido como qualquer um de nós? Ò, sim! Isto poderia! Mas será que a Bíblia comporta esta interpretação? Vamos examinar!

De Enoque se diz que vivia em um mundo extremamente violento e perverso. Tão ruim que Deus desejou destruí-lo total e imediatamente. O dilúvio foi a solução encontrada para tal. Apenas Noé e sua família, composta de 8 almas, foram salvos da catástrofe (Gênesis 7:13). Quanto a Enoque, o texto diz que este foi tomado por Deus para não ver a morte”. Quereria isto dizer que Enoque jamais morreria, ficando fora do planeta em seu velho corpo, ninguém sabe fazendo o quê, até ter o seu corpo transformado como os demais santos na volta de Cristo? Creio que não. É verdade que Enoque fora trasladado para não ver a morte, mas não podemos deduzir disso que fora trasladado para nunca morrer. A fazer isso e destruiremos toda a harmonia da Bíblia! Quando o texto diz de Enoque que “não se viu mais ele” (Gênesis 5:24) e que “não foi achado” (Hebreus 11:4) deixa claro que alguém o procurou e não o encontrou. No contexto em que a sua trasladação ocorrera, não foram os seus familiares que o procuraram para proteger a sua vida e sim os homens maus e violentos de seu tempo para assassiná-lo, pois a vida santa e justa de Enoque testemunhava contra a vida ímpia e perversa de seus contemporâneos! Quanto a vir Enoque, no futuro, como uma das testemunhas apocalípticas para pregar a mensagem de Deus, não creio ser esta uma interpretação válida, pois os ministérios que as duas testemunhas desenvolverão, se assemelham muito mais aos ministérios do legislador Moisés e do profeta Elias do que aos do justo Enoque que nem temos informação sobre qual foi. Além do que, não tendo Enoque conhecido a Lei de Moisés e não tendo experimentado o Evangelho da Graça de Cristo, o que pregaria para converter os seres mais endurecidos de toda a humanidade, que estarão vivendo naqueles tempos apocalípticos?

Quanto ao arrebatamento de Elias temos também algumas coisas a dizer.

Quando Elias estava para ser arrebatado, o texto bíblico diz que a notícia lavrou como fogo em rastilho de pólvora por todas as casas de profetas de Israel. Uma a uma elas diziam para Eliseu, que se tornaria o sucessor de Elias, o que iria acontecer com o seu senhor. Eliseu, contudo, permaneceu teimosamente ao lado de seu mestre até o momento final. O arrebatamento enfim aconteceu como um relâmpago reluzente e poderoso as margens do rio Jordão! Após ter sido Elias levado ao céu em um carro de fogo, em um forte redemoinho, os filhos dos profetas que estavam em Jericó, insistiram com Eliseu para que este procurasse o corpo de seu mestre pelas circunvizinhanças. Eliseu assentiu e, após três dias de buscas consecutivas, com cinqüenta homens procurando por Elias, todos desistiram e tornaram ao seu lugar. O leitor pode ler essa narrativa no 2º Livro dos Reis 2:1-18.

Tudo estaria acabado e, a crença popular na imortalidade de Elias e elevação de seu corpo ao céu de Deus sacramentada se uma informação constante no 2ª Livro das Crônicas 21:1-20 não colocasse tudo em cheque! Ali se diz que, após alguns anos do arrebatamento do referido profeta, uma estranha carta chegara às mãos do rei Jeorão, rei de Judá na época, na qual o Senhor denunciava o comportamento iníquo deste monarca e o sentenciava a vários castigos. Quem poderia ter escrito aquilo? Quem poderia ser o insolente a escrever uma carta daquelas para a pessoa do rei? Pasme o meu amigo leitor: fora o profeta Elias! Como isso seria possível se Elias fora arrebatado? Como seria isso possível se Elias estivesse corporalmente no céu? Estaria ele agora escrevendo cartas de lá da glória e enviando-as para o planeta Terra? Se estava, então porque aceitou ir para lá? Se o prezado leitor deseja ver mais sobre estas considerações pode acessá-las no livro que publiquei intitulado “De Volta à Gehena – Eu e Você Já Estivemos Aqui”, disponibilizado para a venda neste mesmo site.

Séculos mais tarde encontraremos pessoas do povo dizendo que João Batista, um profeta do deserto e primo de Jesus, era a reencarnação de Elias (João 1:21), o mesmo acontecendo com relação a pessoa de Jesus (Mateus 16:13,14), o que nos revela que a dificuldade do populacho não estava em acreditar no fenômeno da reencarnação em si e sim em descobrir “quem se reencarnara em quem”. Se o povo acreditava na reencarnação de Elias então, obrigatoriamente, não acreditava na imortalidade corporal do profeta, nem ainda em sua permanência no céu, pois só pode reencarnar quem já morreu, e quem já morreu, não pode ter morrido nem permanecido morto no céu, pois o céu é um lugar de vivos e onde a morte não entra!

CONCLUSÃO

Tratarei do assunto sobre a crença do povo na reencarnação de Elias em João e em Jesus mais acuradamente nas Palestras IV e VI deste tema, mas o que eu desejava frisar na palestra atual, com todos os argumentos nela utilizados, é que, nem Enoque, nem Elias, nem qualquer outro ser humano que a Teologia judaica e cristã pretenda ter sido arrebatado corporalmente ao céu sem ter passado pela morte física o conseguiu de fato, pois ninguém jamais conseguiu ou conseguirá driblar a morte e a determinação do Senhor para que todos morram e após a sua morte experimentem o juízo.

Deus abençoe a todos.

 

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.