Palestra II a
A QUE HOMENS ESTÁ ORDENADO MORRER?
O GRUPO DOS “RESSUSCITADOS”
Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012
INTRODUÇÃO
Toda vez que alguém conversa sobre a possibilidade ou não da reencarnação com um cristão, principalmente os da vertente evangélica, logo é refutado em seus argumentos pela citação imediata do versículo bíblico de Hebreus 9:27 que afirma: “Aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois disso o juízo”. Se o refutante for conhecedor de um pouco mais das Escrituras citará ainda outras de suas passagens, como, por exemplo, a do capítulo 7 e versículos 9 e 10 do livro de Jó, que afirma: “Tal como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir. Nunca mais tornará a sua casa, nem o seu lugar jamais o conhecerá”, ou a do capítulo 14 versículos 11 e 12 do mesmo livro que diz: “Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota, e fica seco, assim o homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais céus não acordará nem se erguerá de seu sono”. É importante dizer, neste contexto, que a sentença que ordena ao homem morrer uma vez, encontrada em Hebreus 9:27, não foi estabelecida pelo desconhecido escritor da carta aos Hebreus, mas foi sim uma determinação do próprio Deus que, ao ver os nossos primeiros pais pecarem, disse para Adão: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra; porque dela fostes tomado: pois és pó, e ao pó tornarás” (Gênesis 3:19).
A questão que pretendo examinar com o meu prezado leitor é a seguinte: Estamos interpretando corretamente estes e outros textos das Escrituras ou estamos interpretando-os de maneira incompleta, discriminatória e equivocada? Sim, porque se é verdade que aos homens está ordenado morrerem uma única vez, também não deixa de ser verdade que as Escrituras relatam pelo menos dez casos de pessoas que morreram mais de uma vez por terem sido ressuscitadas; de duas outras que, acredita-se, terem sido arrebatadas corporalmente ao céu sem terem passado pela morte física e ainda de milhões e milhões de fiéis – sim – milhões e milhões de fiéis que, no futuro, sequer experimentarão a morte física! Afinal de contas, todos os homens devem realmente morrer uma vez apenas ou o meu Senhor anda fazendo exceções demais?
RELATOS BÍBLICOS DE RESSURREIÇÕES DE MORTOS
Vamos examinar essa questão um pouco mais de perto. Elenquei para o meu prezado leitor os 10 casos de ressurreição encontrados na Bíblia, a fim de evitar que o prezado tivesse este trabalho. Claro está que seria bastante desejável que o leitor pudesse lê-los e confirmá-los em uma Bíblia, seja ela impressa ou virtual, e assim aumentar o seu conhecimento e poder de crítica sobre o assunto. Eis então os registros:
- O filho da viúva de Sarepta, ressuscitado por Elias (1º Livro de Reis 17:17-24);
- O filho da mulher Sunamita, ressuscitado por Eliseu (2º Livro de Reis 4:32-37);
- O soldado, lançado às pressas, na cova de Eliseu (2º Livro de Reis 13:20-21);
- A filha de Jairo, líder principal de uma sinagoga (Evangelho de Marcos 5:21-24,35-43);
- O filho de uma viúva em Naim (Evangelho de Lucas 7:11-17);
- Lázaro, o amigo de Jesus (Evangelho de João 11:1-46);
- O próprio Jesus Cristo (Evangelho de Mateus 28:1-10);
- Os mortos que saíram dos túmulos, no Calvário, após a ressurreição de Jesus (Evangelho de Mateus 27:50-53);
- A viúva Dorcas, ressuscitada pelo apóstolo Pedro (Livro de Atos 9:36-43); e,
- Um jovem chamado Enéias, ressuscitado pelo apóstolo Paulo (Livro de Atos 20:7-12).
Obs. (1) O relato da ressurreição em massa, narrado pelo profeta Ezequiel em seu livro, no capítulo 37:1-42, não foi aqui incluído como um caso de ressurreição por não se tratar este de um acontecimento real, histórico, factual, mas sim de uma visão, conforme dito pelo próprio profeta (vs.1,11). Os mortos do vale representavam o estado espiritual do povo de Israel, mas Israel mesmo não havia sido dizimado, aniquilado, não se transformara em um enorme cemitério! A visão era verdadeira e seu significado espiritual também, mas historicamente não havia acontecido tal calamidade com a nação.
Obs. (2) A suposta ressurreição do apóstolo Paulo, após o terrível apedrejamento que experimentara na cidade de Listra, conforme relatado em Atos 14:19-22, também não foi incluído na relação dos ressuscitados por julgar o Pastor Olívio que tal coisa não acontecera com o apóstolo. Alguns comentaristas afirmam que, por esta ocasião, o apóstolo Paulo teria morrido e ido até o terceiro céu, lugar da habitação de Deus, onde teria recebido revelações tais que ao homem não era digno de se falar (2ª Coríntios 12:1-4). Segundo estes comentaristas, ninguém conseguiria sair vivo de uma sessão de apedrejamento e tornar a entrar na cidade, com os próprios pés, no mesmo dia, se não fosse através de um milagre de ressurreição. Entretanto o texto não confirma esta posição, como pode ser constatado pelos seguintes argumentos: (a) os “apedrejadores” de Paulo “cuidavam” que ele estivesse morto, isto é, “achavam” que ele tivesse morrido, mas não se afirma no texto que ele, de fato, tivesse falecido. Paulo bem poderia estar se fingindo de morto, num ato de esperteza para salvar a sua vida ou, ainda, estar desmaiado; (b) os discípulos realmente rodearam o corpo ferido de Paulo, demonstrando preocupação com o seu estado físico, mas não há nenhuma menção sobre eles terem orado sobre o apóstolo ou determinado que ele ressuscitasse; (c) Paulo se levantou do meio deles e ninguém se espantou com isso! Caso houvesse uma ressurreição, eles teriam, no mínimo, evocado uma palavra de louvor a Deus; (d) Não existe nada que relacione o arrebatamento de Paulo ao terceiro céu com este seu apedrejamento. Ele poderia ter tido todas as revelações que tivera orando em sua casa, no templo, onde conversara com o próprio Cristo (Atos 22:17-21), ou em qualquer outro lugar e circunstância.
Apesar de serem 10 as narrativas bíblicas incontestes que falam de ressurreições, não foram apenas 10 os indivíduos ressuscitados em toda a história da humanidade, pois o texto de Mateus 27:50-53 não quantifica os santos que ressuscitaram no Calvário, após a ressurreição de Cristo, apenas afirma que “muitos corpos de santos (quantos?) que dormiam (estavam mortos) ressuscitaram (tornaram à vida)”. Outro tanto de pessoas, de número desconhecido, tem sido ressuscitado no correr dos séculos pela atuação dos santos de Deus, engrossando ainda mais o rol dos que retornaram à vida. Constatados, pois, esses fatos, gostaria de fazer mais outra pergunta ao meu prezado leitor: Quantas mortes tiveram os indivíduos que foram ressuscitados?
DESCOBRINDO QUANTAS MORTES TIVERAM OS RESSUSCITADOS
O prezado sabe, eu sei, e todo mundo sabe, que todos os indivíduos que foram ressuscitados, à exceção de Jesus Cristo, tiveram duas mortes físicas em um mesmo ciclo de vida. Morreram uma vez e foram ressuscitados; viveram um pouco mais e tornaram a morrer. O interessante é que nenhum desses indivíduos ressuscitou mais de uma vez dentro de um mesmo ciclo de vida! Nenhum deles ressuscitou, por exemplo, duas vezes, três vezes, cinco vezes, ou mais vezes, em uma mesma manifestação de vida! Todos eles ressuscitaram apenas uma vez, dentro de um determinado ciclo de vida!
Quando falamos em ciclo de vida, é bom que esclareçamos, estamos nos referindo a manifestação integral, completa, de uma vida biológica, constituída de nascimento, desenvolvimento (infância, adolescência, juventude, etc.) e morte. Se o indivíduo tem a sua vida interrompida em qualquer uma das etapas de desenvolvimento do ser, dizemos que o seu ciclo de vida foi interrompido. Ao retornar o indivíduo à vida pelo processo da ressurreição, recomeçará exatamente do ponto onde a vida foi descontinuada. Morreu ainda criança? Como criança ressuscitará! Morreu como jovem? Como jovem tornará a vida. Morreu como ancião? Como ancião recomeçará a viver! Nenhuma das pessoas que foram ressuscitadas na Bíblia ficou mais jovem ou mais velha após ter sido ressuscitado!. Todas continuaram a viver exatamente do ponto onde pararam! Ao receber o milagre da ressurreição, o indivíduo que estava morto se levantará e assumirá o mesmo corpo com o qual morrera e continuará a viver do ponto de onde falecera até completar o ciclo de vida que lhe foi determinado.
Ora, se o indivíduo pode morrer mais de uma vez dentro de um mesmo ciclo de vida, ainda que não ultrapasse duas vezes, então, para que a Palavra de Deus se cumpra e possa se harmonizar com todos os demais textos pertinentes, a interpretação do versículo de Hebreus 9:27 deveria ser ampla o suficiente para poder abarcar todas as situações de exceção. Ela deveria ser algo assim: “aos homens (todos os homens) está ordenado morrer pelo menos uma vez dentro de um mesmo ciclo de vida, vindo depois disso o juízo”, pois situações haverá em que o indivíduo poderá morrer mais de uma vez dentro de um mesmo ciclo de vida, como aconteceu com os 9 indivíduos dos exemplos bíblicos acima citados. Apenas Jesus Cristo morreu uma vez dentro de toda a sua existência e nunca mais tornará a morrer (Hebreus 9:24-28). Se os indivíduos que foram ressuscitados devessem morrer apenas uma vez em toda a sua existência, como aconteceu com o Cristo, não poderiam jamais ser ressuscitados como o foram, mas deveriam permanecer no lugar / condição espiritual em que estavam quando morreram (Hades / Sheol) e lá ficarem aguardando a ressurreição única de Deus a ser operada nos últimos dias!
POR QUANTOS JUIZOS PASSARÃO OS QUE FORAM RESSUSCITADOS?
E os julgamentos? Quantos serão eles? Serão tantos quanto o número de mortes o indivíduo vier a experimentar em cada ciclo de vida! Morreu apenas uma vez? Então uma vez apenas será julgado! Morreu duas vezes? Então duas vezes será levado a juízo! O que devemos atentar é que, se alguém morreu e retornou à vida é porque alguém o elegeu, o separou, o selecionou, dentre muitos outros mortos, para que retornasse à vida! Todos os dias, milhares e milhares de pessoas morrem e não lhes é facultado o privilégio de retornarem vivos do mundo dos mortos! Quem poderia decidir sobre isto? Apenas Deus e o seu Filho Jesus Cristo, que tendo o direito sobre a vida e a morte de suas criaturas, poderiam arbitrar sobre a sua existência. Cristo disse em João 5: 21-22: “Assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer. E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo”. Ele disse para os discípulos que lhe contaram sobre a morte de Lázaro: “Lázaro, o nosso amigo dorme, mas vou despertá-lo do sono”, ou seja: “vou ressuscitá-lo” (João 11:11). Esta era a sua vontade para com o seu amigo e como Deus encarnado que era, o Cristo a realizaria.
Agostinho, um dos grandes patriarcas da Igreja Cristã[1], observou que toda vez que Jesus ia ressuscitar alguém chamava o indivíduo pelo nome (Lázaro) ou se dirigia diretamente ao corpo que iria ressuscitar (a filha de Jairo e o filho da viúva de Naim) e o ordenava viver. Ele então ponderou que Jesus assim procedia porque se Jesus simplesmente ordenasse que houvesse alguma ressurreição no lugar onde Ele se encontrava, indistintamente, sem citar o nome da pessoa ou, referir-se diretamente ao morto, todos os mortos do respectivo local ressuscitariam também! Que coisa extraordinária! Que poder tem o nosso Cristo! Isto serve para reforçar o nosso argumento de que Deus só ressuscita a quem quer e que neste querer de Deus, há uma escolha, há uma eleição, há uma seleção, sobre quem deve ou não ressuscitar.
O texto de Mateus 27:52,53 afirma que muitos corpos de santos que dormiam no Calvário foram ressuscitados, quando da ressurreição de Jesus, no domingo. Não os corpos dos santos que dormiam no Calvário, como que a representar a totalidade dos santos, mas muitos corpos de santos, para expressar que apenas uma parcela deles ressuscitara na ocasião. Não todos, mas muitos; não de todos, mas apenas de santos. Não se diz também na narrativa que algum corpo de ímpio (não crente, não fiel) tenha ressuscitado. O Senhor decidira quais santos ressuscitariam na ressurreição de seu Filho e, também, que nenhum incrédulo do Evangelho deveria retornar da morte! Caso o evangelista Mateus pretendesse dizer que todos os santos que haviam sido sepultados no Calvário foram ressuscitados, com o intuito de diferenciá-los dos corpos dos ímpios, ele teria dito “os corpos dos santos que dormiam no Calvário foram ressuscitados” e não “muitos corpos de santos que dormiam no Calvário foram ressuscitados”.
Fica claro então que se Deus decidiu que determinado indivíduo retornasse à Terra dos Viventes para viver um pouco mais e tornasse a morrer, que este juízo, tão propalado dos nossos púlpitos e tribunas como se fora o Juízo Final, o Juízo Derradeiro, o Juízo Definitivo, é, na verdade, um juízo provisório, passageiro, temporário, diferentemente daquele do Último Dia, quando todos seremos julgados segundo os atos que tenhamos praticado e quando nada mais se poderá fazer (Apocalipse 20:11-15).
FUNDAMENTOS DA ESCOLHA DE DEUS SOBRE QUEM DEVE OU NÃO RESSUSCITAR
Mas por que só uma parte dos santos que estavam sepultados no Calvário ressuscitou e outra não? Por que o Senhor Deus fez essa distinção entre santos e santos? Não eram todos eles crentes no mesmo Evangelho e no mesmo Senhor Jesus? Então, por que essa distinção, essa seleção, essa separação? O que diferenciava uns santos dos outros para que Deus fundamentasse a sua escolha entre quem devia ou não ressuscitar?
Creio que a resposta pode ser encontrada no próprio evento de ressurreição coletiva descrita por Mateus. Aquela não era a ressurreição final, permanente, definitiva, a acontecer com todos os homens no Último Dia, mas era, sim, uma ressurreição parcial, temporária, impermanente. Logo, logo, os que a experimentaram, teriam de passar novamente pelo processo da morte. Entretanto, todos concordamos que um milagre de ressurreição é uma benção “prá lá“ de especialíssima! É uma benção da qual não se ouve falar todos os dias! É exatamente aí que entram as nossas perguntas: Como a ressurreição de alguém pode ser vista como uma benção se as condições ruins em que a pessoa vivia continuarão a existir quando ela retornar à vida, tais como: o mesmo ambiente familiar difícil; a mesma situação de desempregado; as mesmas dívidas financeiras, as mesmas deficiências físicas, as mesmas falhas de caráter, etc.? Todas estas coisas continuarão inalteradas! Como dizer, então, que a ressurreição parcial é uma benção? Como pode tal ressurreição ser uma benção se o ressuscitado estará novamente em condições de pecar contra o Senhor, no período de tempo em que lhe resta viver? Desde quando ressuscitar um santo e colocá-lo em uma situação de cometimento de pecado e posterior juízo pode ser visto por alguém como uma benção?
A ressurreição parcial de alguém sempre será tida como uma grande benção, independentemente de como a pessoa irá viver após ela, por conceder ao indivíduo a oportunidade de acertar as coisas consigo mesmo, com o seu semelhante e com Deus. Ninguém é ressuscitado para ficar curado de uma doença grave, ficar livre de um espírito maligno, arrumar um bom emprego ou se casar com outra pessoa e sim para reparar alguma falha que tenha cometido contra alguém e preparar-se, em seu coração, para ser liberado definitivamente! Apenas isto pode dar significado à ressurreição parcial!
Os santos que haviam sido sepultados no Calvário e que não ressuscitaram já haviam sido libertos, outrora, de seu cativeiro moral, íntimo, existencial, e agora estavam sendo libertos por Cristo de seu cativeiro espiritual, o Hades. Seus espíritos foram levados pelo Senhor Jesus ao céu (Efésios 4:8-10 / Apocalipse 1:17,18 / Lucas 23:39-43). Seus corpos não saíram dos túmulos quando da ressurreição do Cristo, no domingo, mas continuaram dentro de suas tumbas fechadas, cerradas, invioladas, e lá continuarão até a ressurreição global. Já os corpos dos santos que tiveram seus túmulos abertos na sexta-feira pela ação do grande terremoto que acontecera na região, no momento da morte de Cristo, só saíram de seus túmulos no domingo, após a ressurreição de Cristo, e entraram na cidade de Jerusalém, a cidade santa, onde “foram vistos por muitos”.
Por que isto acontecera? Por que estes santos entraram na cidade de Jerusalém após terem sido ressuscitados? Porque fora em Jerusalém que eles viveram os seus últimos dias, os seus últimos momentos, pois todo indivíduo que é ressuscitado recomeça a viver a partir do local onde o seu corpo se encontra, quer esteja este enterrado ou não, quer tenha sido este trasladado para outro lugar ou não! O desejo imediato de todos os que voltam da morte é procurar os seus familiares, os seus amigos, os seus próximos. Se alguém, por exemplo, vier a morrer no Japão e residia na França, ao ser ressuscitado lá, no Japão, fará de tudo para retornar ao lugar onde morava na França! O grupo de fiéis que ressuscitara no Calvário tinha coisas pendentes a acertar com o próximo e com Deus, diferentemente daquele outro grupo de fiéis que já fora totalmente liberado! Não sabemos se eles aproveitaram bem a oportunidade de saldar as suas dívidas morais com o seu próximo e com Deus, mas eles a tiveram, e não a poderiam deixar passar!
Com a ressurreição parcial o indivíduo ganha uma nova oportunidade de acertar suas coisas, e Deus, a confiança de mais alguns poucos em entregar-lhe as suas vidas. Foi exatamente isto o que aconteceu com as ressurreições operadas pelo Senhor Jesus. Apenas alguns poucos creram Nele como o Filho de Deus enviado para salvar o homem. A maior parte deles continuou a desacreditar do Senhor! (Evangelho de João 12:9-11).
Ora, se o indivíduo morre e ganha a oportunidade de retornar à vida para reparar os seus erros, é porque o juízo que ele experimentou após a morte, como afirma Hebreus 9: 27, é um juízo de oportunidades, de reparação, de desagravo, isto é, um juízo para crescimento, para evolução, para progresso da criatura e não um juízo condenatório, de sentença definitiva e a escolha que Deus faz entre quem será ou não ressuscitado estará fundamentada na história kármica de cada um (conjunto de débitos e créditos morais que o indivíduo acumulou em sua vida) e na oportunidade ótima que se lhe apresenta para ser liberado em vida. Foi exatamente isso o que aconteceu com os mortos do Calvário.
Já começou a sentir aquele “friozinho na barriga” e a ficar com vontade de parar a leitura? Lembra-se do que eu disse acerca dos meus leitores? Eles sentirão medo, eles sentirão pavor, mas não recuarão jamais, pois a libertação de suas mentes e espíritos é tão mais importante e necessária que os seus temores, que eles avançarão resolutamente até onde não lhes seja mais possível recuar! Vamos então parar de dar atenção a esses receios que não nos levam a nada e prosseguir com a nossa leitura sem pensar mais em pará-la!
O leitor pode ainda perguntar: Se a ressurreição parcial é um método de retorno à vida concedido por Deus para que o indivíduo possa reparar os seus erros, então por que só uma parte dos santos sepultados no Calvário ressuscitou e não todos os demais espalhados pelos vários cemitérios de Israel e de outras nações, quando da ressurreição de Jesus? Não quereria Deus apenas demonstrar, ao ressuscitar aquele pouquinho de santos, que a ressurreição dos crentes no final dos tempos estava também garantida?”
Concordo em que Deus não precisava ressuscitar todos os santos, de todos os lugares, para garantir aos crentes que eles também ressuscitariam no Último Dia, mas como demonstramos acima, ressurreição é privilégio de alguns, após terem passado pelo juízo de Deus. Ora, se todos passam pelo juízo de Deus e Ele decide que apenas alguns terão oportunidade de retornarem à vida para repararem os seus erros, isto então faz de Deus um Juiz parcial, partidário, discriminador. Entendemos que ressuscitar ou não alguém é opção exclusiva de Deus, mas ter a oportunidade de retornar à vida para quitar dívidas morais não saldadas, é um direito de todos. E se é direito de todos, então Deus o fará, pois Deus não se permite ficar devedor do homem e também a ninguém discrimina. Como, porém, nem todos seremos ressuscitados por alguém e a mor parte de nós morrerá mesmo é em pecado, tal direito só poderá chegar a todos mediante o processo da reencarnação.
Isto não deveria, de forma alguma, nos assustar, pois tanto a ressurreição quanto a reencarnação são oportunidades dadas por Deus ao homem para a reparação de seus erros e não para a salvação de ninguém, pois quem morre como um demônio jamais retornará como um santo. Talvez nem eu nem o meu prezado leitor façamos parte do grupo de pessoas que, um dia, serão ressuscitados por alguém, mas isto não quer dizer que já não tenhamos recebido a oportunidade de retornar a este planeta muitas e muitas vezes pelo processo da reencarnação. Podemos não nos lembrar mais de nenhuma de nossas vindas aqui, nem dos muitos juízos pelos quais passamos após cada experiência de morte, mas isto não significa que essas coisas não nos tenham acontecido, pois a memória é função do intelecto e não do espírito. Agora mesmo, não nos lembramos mais, com tanto vigor, de como éramos em nossa infância, em nossa adolescência e quiçá, em nossa juventude, mas sabemos que vivemos todas as experiências que vivemos em tais fases, não é verdade? (Eclesiastes 1:11).
CONCLUSÃO
Ficar repetindo indiscriminada e ocamente as sentenças bíblicas que falam sobre a morte e o juízo que a ela se segue e não examinar a montanha de dificuldades que tais afirmações isoladamente trazem não é indicado para nenhum estudante sério das Escrituras. Que todos os homens devem morrer e após a sua morte experimentarem um juízo, Deus o disse e não há como evitar. Aprender que um ressuscitado não pode ter mais privilégios e oportunidades do que os demais seres é algo que a reencarnação pode nos ensinar. Trataremos destas questões mais detalhadamente em outras palestras, está bem?
Deus abençoe a todos.
Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.
[1] Agostinho foi uma das figuras mais importantes do Cristianismo Primitivo. Foi filósofo, teólogo, bispo e escritor. Nasceu em 13 de novembro de 354, na Argélia, e faleceu em 28 de agosto de 430. Tornou-se bispo de Hipona e passou a ser conhecido como Bispo de Hipona, ainda que seu verdadeiro nome fosse Aurélio Agostinho. Ele é responsável por ter moldado o conceito de pecado original. Defendia a idéia do primado e da infalibilidade papal. Desenvolveu a crença na Igreja como a cidade espiritual de Deus, distinta da cidade material dos homens.
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