Palestra II b
A QUE HOMENS ESTÁ ORDENADO MORRER?
O GRUPO DOS “ARREBATADOS”
Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012
INTRODUÇÃO
Conforme vimos na Palestra II a, na qual falamos sobre “O Grupo dos Ressuscitados”, a ordem universal dada por Deus para que todos os homens morram uma vez e sejam depois julgados, conforme registrada em Hebreus 9:27, trouxe consigo algumas dificuldades para o nosso atual sistema de interpretação visto a Bíblia relatar pelo menos 9 casos incontestes de pessoas que morreram mais de uma vez e experimentaram um juízo provisório. Na presente palestra estudaremos o caso de pessoas que a Bíblia relata não terem sequer passado pela morte física, o que forçará ainda mais a nossa interpretação sobre o tema a se ampliar, a se expandir, a ganhar mais abrangência para poder abarcar todas as exceções bíblicas.
É POSSÍVEL DRIBLAR A MORTE?
As Escrituras Hebraicas mencionam dois indivíduos que foram arrebatados corporalmente ao céu, sem terem passado pela morte física, a saber: Enoque e Elias. O primeiro era um antediluviano, termo empregado para se referir as pessoas que nasceram antes do grande dilúvio que inundara a terra, milhares de anos antes de Cristo, não tendo este, portanto, nenhuma nacionalidade ainda. O segundo era um judeu, que vivera cerca de 900 anos antes de Cristo, e que é considerado, até os dias de hoje, como um dos maiores profetas que já apareceu em Israel. O texto referente ao arrebatamento de Enoque se encontra em Gênesis 5:18-24 e o referente ao arrebatamento de Elias no 2º Livro dos Reis 2:1-11. O leitor deve lê-los antes de avançar em nossa discussão a fim de familiarizar-se com os dois personagens.
Grande parte da Cristandade e também do Judaísmo tem interpretado o arrebatamento desses dois homens como uma exceção feita por Deus à sentença de morte universal emitida por Ele mesmo aos humanos, conforme registrada em sua Lei Sagrada (Gênesis 3:19), pois segundo estes, se tais pessoas foram arrebatadas do meio onde viviam para não verem a morte, não teria sentido algum elas virem a morrer posteriormente, visto o arrebatamento de ambas ter sido um prêmio a fidelidade das mesmas ao Senhor. Outros têm afirmado que Deus não fez exceção nenhuma em sua Lei e que tanto Enoque quanto Elias deverão ainda retornar à Terra para experimentarem a morte física na figura das duas testemunhas descritas em Apocalipse 11:1-14. Outros ainda têm afirmado que tanto Enoque quanto Elias morreram fisicamente há muito tempo, não tendo nós que ficar esperando mais nada deles. Qual a posição defendida pelo Pastor Olívio?
Parece não haver dúvida entre judeus e cristãos que tanto Enoque quanto Elias foram arrebatados ao céu de fato. Os textos bíblicos que falam sobre o assunto são tão contundentes, tão incisivos, que não deixam nenhuma margem para contestação. De Enoque se diz: “E andou Enoque com Deus: e não se viu mais, porquanto Deus para Si o tomou” (Gênesis 5:24). O escritor da carta aos Hebreus disse: “Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus” (Hebreus 11:5). De Elias se diz: “E sucedeu que, indo eles (Elias e seu discípulo Eliseu) andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro: e Elias subiu ao céu num redemoinho” (2º Livro dos Reis 2:11). Sim, tanto Enoque quanto Elias foram realmente arrebatados ao céu!
O PARECER DE JESUS DE PAULO E DE JOÃO SOBRE O ASSUNTO
Os problemas começam a surgir quando estudamos Jesus e Paulo. Segundo o Cristo, nem Enoque, nem Elias, nem qualquer outra pessoa, em tempo algum, jamais foi arrebatado ao céu de Deus, pois, conforme Ele próprio declarou a Nicodemos, membro do Sinédrio Judaico, o mais alto fórum de decisão em Israel para questões religiosas, políticas e administrativas: “Ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu: o Filho do homem que está no céu” (Evangelho de João 3:13). Cristo estava dizendo: “Vocês dizem que Enoque e Elias vieram para cá, para o céu onde estou com meu Pai, mas Eu posso lhes assegurar que para aqui eles não vieram, pois Eu tenho estado aqui com meu Pai desde sempre e posso lhes garantir que tal coisa não aconteceu”. Já o apóstolo Paulo disse para os crentes de Corinto: “todos serão vivificados em Cristo (receberão novos corpos), mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias (o primeiro), depois os que são de Cristo na sua vinda (1ª Coríntios 15:22,23). Por esta declaração do apóstolo Paulo ficamos sabendo que ninguém, depois de Cristo, ainda ressuscitou em glória, pois os próximos indivíduos a serem assim ressuscitados, só o serão “na sua vinda”, isto é, no porvir, no futuro. Com isto aprendemos que ninguém, antes ou depois de Cristo, subiu ao céu em corpo físico! Impressionante, não é mesmo, prezado leitor?
O apóstolo Paulo também ensinou aos crentes coríntios que nosso corpo mortal, como se encontra hoje constituído, servindo ao pecado e não a Cristo, não pode de maneira alguma entrar no reino dos céus e suportar a intensa glória de Deus. Ele precisa ser transformado, a exemplo do corpo de Cristo (1ª Coríntios 15:51-54). Ainda segundo o apóstolo “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus” (1ª Coríntios 15:50). O apóstolo João também disse que apenas quando o fiel assumir um corpo semelhante ao de Jesus após a sua ressurreição, o ingresso e a permanência no céu se tornarão possíveis (1ª Epístola de João 3:2). Sem este corpo crístico, destituído do pendor, da inclinação, da pecaminosidade da carne, nenhum filho do Senhor conseguiria jamais chegar perto de seu Pai Celestial! (Marcos 16:19 / Atos 2:34 / Hebreus 2:13 / Atos 7:55,56). Ele simplesmente seria torrado, carbonizado, dizimado! Isto significa que, nem Enoque, nem Elias, nem qualquer outra pessoa, jamais foi arrebatada ao céu de Deus, local onde se encontram os anjos, os poderosos líderes universais, o Cristo de todos os mundos e o nosso maravilhoso e bendito Pai!
Isto apenas já seria suficiente para fechar esta nossa palestra e nos permitir avançar para a próxima, mas o estudante de alma sedenta pelo conhecimento deve estar agora mesmo se perguntando: Se Enoque e Elias não foram para o céu de Cristo, para onde então eles foram? Para outro planeta? Para outro mundo?
PARA ONDE FORAM ENOQUE E ELIAS?
Pessoalmente não acredito que Enoque e Elias tenham sido arrebatados para outros mundos e as razões que apresentarei nada têm a ver com o poder ou a soberania de Deus, que tudo pode e tudo faz sem ter que dar satisfações de seus atos a ninguém, mas sim com o objetivo, o propósito, o motivo envolvido em tais trasladações. Por que tiraria o meu Senhor alguém do seu planeta, do seu mundo, do seu habitat, do lugar onde vivem seus parentes, irmãos, pessoas amadas e apreciadas e o levaria a ficar distante, vivo, consciente, em um lugar desconhecido, de gente estranha, sem nunca mais voltar a Terra para vê-los? Não seria isto um castigo ao invés de um prêmio? Ainda mais sendo esta pessoa a voz profética de Deus na Terra, a voz da justiça, do amor, da esperança para um mundo conflitado, cheio de violência e pecado?! O que de tão urgente e necessário precisaria o tal mundo para que o Senhor levasse um dos nossos para salvá-lo? Um ser de uma raça pode salvar espiritualmente outro de uma raça diferente da dele? O próprio Cristo, como Filho Unigênito de Deus que era, teve de se transformar em humano para poder salvar os humanos! (Filipenses 2:3-11). Não foi com o nosso mundo que aconteceu a triste história do pecado? Estaria o nosso corpo humano preparado para viver em outro ambiente exógeno, estranho, completamente diferente do nosso? Que linguagem o indivíduo arrebatado utilizaria para comunicar aos habitantes destes outros mundos os projetos de Deus para as suas vidas?
Como o leitor pode ver, é quase impossível acreditar no arrebatamento de Enoque e de Elias para outros mundos a partir de tais questionamentos!
Mas se eles não foram para o céu de Deus e não foram também transferidos para nenhum outro planeta, para onde então foram? Poderiam ter sido arrebatados ao céu terrestre, atmosférico, e até mesmo ao céu espacial e, posteriormente trazidos à terra e morrido como qualquer um de nós? Ò, sim! Isto poderia! Mas será que a Bíblia comporta esta interpretação? Vamos examinar!
De Enoque se diz que vivia em um mundo extremamente violento e perverso. Tão ruim que Deus desejou destruí-lo total e imediatamente. O dilúvio foi a solução encontrada para tal. Apenas Noé e sua família, composta de 8 almas, foram salvos da catástrofe (Gênesis 7:13). Quanto a Enoque, o texto diz que este foi tomado por Deus “para não ver a morte”. Quereria isto dizer que Enoque jamais morreria, ficando fora do planeta em seu velho corpo, ninguém sabe fazendo o quê, até ter o seu corpo transformado como os demais santos na volta de Cristo? Creio que não. É verdade que Enoque fora trasladado para não ver a morte, mas não podemos deduzir disso que fora trasladado para nunca morrer. A fazer isso e destruiremos toda a harmonia da Bíblia! Quando o texto diz de Enoque que “não se viu mais ele” (Gênesis 5:24) e que “não foi achado” (Hebreus 11:4) deixa claro que alguém o procurou e não o encontrou. No contexto em que a sua trasladação ocorrera, não foram os seus familiares que o procuraram para proteger a sua vida e sim os homens maus e violentos de seu tempo para assassiná-lo, pois a vida santa e justa de Enoque testemunhava contra a vida ímpia e perversa de seus contemporâneos! Quanto a vir Enoque, no futuro, como uma das testemunhas apocalípticas para pregar a mensagem de Deus, não creio ser esta uma interpretação válida, pois os ministérios que as duas testemunhas desenvolverão, se assemelham muito mais aos ministérios do legislador Moisés e do profeta Elias do que aos do justo Enoque que nem temos informação sobre qual foi. Além do que, não tendo Enoque conhecido a Lei de Moisés e não tendo experimentado o Evangelho da Graça de Cristo, o que pregaria para converter os seres mais endurecidos de toda a humanidade, que estarão vivendo naqueles tempos apocalípticos?
Quanto ao arrebatamento de Elias temos também algumas coisas a dizer.
Quando Elias estava para ser arrebatado, o texto bíblico diz que a notícia lavrou como fogo em rastilho de pólvora por todas as casas de profetas de Israel. Uma a uma elas diziam para Eliseu, que se tornaria o sucessor de Elias, o que iria acontecer com o seu senhor. Eliseu, contudo, permaneceu teimosamente ao lado de seu mestre até o momento final. O arrebatamento enfim aconteceu como um relâmpago reluzente e poderoso as margens do rio Jordão! Após ter sido Elias levado ao céu em um carro de fogo, em um forte redemoinho, os filhos dos profetas que estavam em Jericó, insistiram com Eliseu para que este procurasse o corpo de seu mestre pelas circunvizinhanças. Eliseu assentiu e, após três dias de buscas consecutivas, com cinqüenta homens procurando por Elias, todos desistiram e tornaram ao seu lugar. O leitor pode ler essa narrativa no 2º Livro dos Reis 2:1-18.
Tudo estaria acabado e, a crença popular na imortalidade de Elias e elevação de seu corpo ao céu de Deus sacramentada se uma informação constante no 2ª Livro das Crônicas 21:1-20 não colocasse tudo em cheque! Ali se diz que, após alguns anos do arrebatamento do referido profeta, uma estranha carta chegara às mãos do rei Jeorão, rei de Judá na época, na qual o Senhor denunciava o comportamento iníquo deste monarca e o sentenciava a vários castigos. Quem poderia ter escrito aquilo? Quem poderia ser o insolente a escrever uma carta daquelas para a pessoa do rei? Pasme o meu amigo leitor: fora o profeta Elias! Como isso seria possível se Elias fora arrebatado? Como seria isso possível se Elias estivesse corporalmente no céu? Estaria ele agora escrevendo cartas de lá da glória e enviando-as para o planeta Terra? Se estava, então porque aceitou ir para lá? Se o prezado leitor deseja ver mais sobre estas considerações pode acessá-las no livro que publiquei intitulado “De Volta à Gehena – Eu e Você Já Estivemos Aqui”, disponibilizado para a venda neste mesmo site.
Séculos mais tarde encontraremos pessoas do povo dizendo que João Batista, um profeta do deserto e primo de Jesus, era a reencarnação de Elias (João 1:21), o mesmo acontecendo com relação a pessoa de Jesus (Mateus 16:13,14), o que nos revela que a dificuldade do populacho não estava em acreditar no fenômeno da reencarnação em si e sim em descobrir “quem se reencarnara em quem”. Se o povo acreditava na reencarnação de Elias então, obrigatoriamente, não acreditava na imortalidade corporal do profeta, nem ainda em sua permanência no céu, pois só pode reencarnar quem já morreu, e quem já morreu, não pode ter morrido nem permanecido morto no céu, pois o céu é um lugar de vivos e onde a morte não entra!
CONCLUSÃO
Tratarei do assunto sobre a crença do povo na reencarnação de Elias em João e em Jesus mais acuradamente nas Palestras IV e VI deste tema, mas o que eu desejava frisar na palestra atual, com todos os argumentos nela utilizados, é que, nem Enoque, nem Elias, nem qualquer outro ser humano que a Teologia judaica e cristã pretenda ter sido arrebatado corporalmente ao céu sem ter passado pela morte física o conseguiu de fato, pois ninguém jamais conseguiu ou conseguirá driblar a morte e a determinação do Senhor para que todos morram e após a sua morte experimentem o juízo.
Deus abençoe a todos.
Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.