Palestra V
OS DISCÍPULOS DE CRISTO E A REENCARNAÇÃO
Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em junho de 2012
INTRODUÇÃO
Após termos examinado na palestra anterior quais eram as crenças do povo judeu no retorno do indivíduo à vida física, incluída nestas a possibilidade da reencarnação, iremos examinar agora qual era a crença dos discípulos de Cristo em tais ensinamentos, tendo em vista estarem eles mais próximos do único ser humano a dizer, com toda a ousadia e conhecimento de causa, “Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida” (Evangelho de João 14:6). E mais ainda: “A minha doutrina não é minha, mas Daquele que me enviou (Deus)” (Evangelho de João 7:16). Queremos descobrir qual a posição de Jesus às manifestações de fé de seus liderados no fenômeno das vidas passadas, pois, se Ele as tiver reprovado ou, ainda, afirmado serem elas coisas imaginárias, fantasiosas, espúrias, então nada mais teremos de fazer a não ser parar com as nossas pesquisas e seguir as diretrizes seguras do Mestre sobre o assunto. Caso Ele as tenha confirmado como manifestações genuínas, coerentes e decorrentes de algo verdadeiro, concreto, bíblico, então devemos………….. SIM, LEITOR, O QUE DEVEMOS FAZER? Responda para você mesmo: o que VOCÊ deve fazer? O que a SUA IGREJA deve fazer?
CRENÇA DOS DISCÍPULOS DE JESUS NO RETORNO À VIDA
Quando Jesus viu um mendigo, cego de nascença, assentado à beira do caminho, implorando pela misericórdia dos transeuntes para lhe darem alguma esmola, seus discípulos perguntaram imediatamente ao Mestre por que aquilo acontecera: teria sido algum pecado que aquele homem cometera ou fora algum pecado praticado por seus pais? (Evangelho de João 9:1-3) Se tal delito tivesse sido cometido pelo homem, só poderia ter acontecido em uma vida passada, pregressa, anterior a que estava vivendo, visto o homem já ter nascido cego e não ter adquirido a cegueira no decorrer de sua vida; se, porém, o delito tivesse sido cometido por seus pais, então teria acontecido em sua vida presente. Qualquer que fosse a resposta dada por Jesus aos seus discípulos, a pergunta dupla feita por eles ao Cristo já servia para indicar aquilo em que eles acreditavam: 1º) que o pecado cometido em uma vida anterior podia levar suas conseqüências para outra vida à frente, o que era o mesmo que confessar a crença deles na reencarnação, na doutrina do Karma e na pré-existência do espírito; 2º) que as deficiências físicas podiam ser resultantes de ações pecaminosas dos pais na vida de seus filhos.
A pergunta dos discípulos, pois, não tinha nada de descabida, de tola, de desproposital, sendo extremamente pertinente, porquanto bem fundamentada em suas Escrituras. Nelas havia relatos de pessoas que retornaram à vida trazendo consigo traços de antigos pecados cometidos por elas mesmas em outras vidas, como veremos na palestra seguinte. Por outro lado, os rabinos também ensinavam ao povo, com base no Livro do Êxodo 20:5, que os pecados dos pais podiam repicar suas más conseqüências nos filhos. Ao fazerem, pois, aquele questionamento duplo a Jesus, os discípulos não estavam passando nenhum “atestado de burrice”, como querem nos fazer crer alguns, mas sim solicitando ao Mestre a revelação verdadeira sobre aquele assunto. A resposta dada por Jesus a eles evidenciou que havia um terceiro motivo, que eles não haviam considerado, para aquilo ter acontecido ao homem, pois que o Mestre não descartara as razões apresentadas por seus seguidores para a cegueira inata do homem, mas acrescentara uma terceira dizendo-lhes que, naquele caso – especificamente naquele caso – “nem aquele homem pecara nem os seus pais; mas fora assim para que nele se manifestassem as obras de Deus” (Evangelho de João 9:1-3).
Observe bem a resposta que Jesus dera a seus discípulos e veja se há nela algum indício, algum sinal, algum vestígio de uma negação peremptória, definitiva, taxativa das alternativas por eles apresentadas ao Mestre por serem elas totalmente descabidas, inexistentes ou imaginárias. O Mestre conhecia bem aquela questão e sabia que havia sim a possibilidade de uma pessoa retornar à vida física com uma deficiência inata, congênita, trazida desde o ventre, como conseqüência de pecados cometidos em outras vidas, da mesma maneira que existia a possibilidade de alguém vir assim afligido pelas conseqüências de pecados cometidos na vida presente por seus pais. Tanto Jesus quanto os seus discípulos acreditavam em tais possibilidades. Tanto Mestre quanto discípulos, acreditavam na possibilidade da reencarnação!
Alguns estudiosos modernos não conseguindo imaginar a possibilidade de alguém tentar interpretar esse relato considerando a doutrina da reencarnação, foram procurar em escritos rabínicos antigos alguma coisa que pudesse ajudá-los a descartar tal possibilidade. Encontraram uma antiga citação que dizia que alguns rabinos acreditavam que alguns indivíduos podiam nascer sim com alguma desvantagem em função de algum pecado que houvessem cometido antes do nascimento – pasme agora meu amigo leitor – não em uma encarnação anterior, em uma vida pregressa, [1]mas enquanto ainda estavam no ventre! Seus espíritos não tinham ainda encarnado em ninguém, mas estavam sendo colocados pela primeira vez no ventre daquela que seria a sua mãe, porém, antes de seus bebes virem a nascer, já estavam cometendo pecados à solta!
Uau! Como pode alguém crer nisso? Como pode alguém ter tanta imaginação assim? Só porque um, dez, ou mil rabinos disseram que algo é desta ou daquela maneira, devemos nós acreditar sem exame? E o que o Espírito Santo diz sobre o assunto, não conta nada? Foi isto que Ele falou ao coração dos amados rabinos? Ou será que tudo isso é apenas medo de dizer que a reencarnação se encontra, de fato, na Bíblia? O que é mais fantasioso, descabido ou inimaginável: o descobrimento de pecados cometidos por um espírito livre em uma vida pregressa, anterior, ou o cometimento de pecados por bebes ditos, “inocentes”, dentro do ventre de sua mãe? Que tipo de “crença inacreditável“ é esta a que estão submetendo os rebanhos de Deus? Quero confessar humildemente aos meus diletos leitores que eu, Pastor Olívio, sou um homem de pequeníssima fé – inexpressiva e insignificante fé – pois jamais conseguiria acreditar em algo assim!
Em outra passagem bíblica, Jesus levara Pedro, Tiago e João a um monte e, em oração, se transfigurara diante deles. “Seu rosto resplandeceu como a luz do sol, e os seus vestidos se tornaram brancos como a luz”, no dizer do evangelista Mateus (17:2). Logo apareceram Moisés e Elias, que haviam sido os maiores profetas de Israel, e ficaram ali conversando com o Mestre. Os discípulos ficaram confusos ao verem Elias também ali no monte, pois os líderes religiosos de seu tempo ensinavam que o dito profeta desceria corporalmente do céu e ungiria pessoalmente aquele que seria o mais poderoso rei sobre a face da terra, o Messias de Deus! Entretanto, ninguém vira Elias caminhando pelas ruas de Jerusalém ou passeando em outros estados da nação em seu velho corpo! A ser verdadeiro aquilo que os rabinos diziam e Jesus seria o maior mentiroso que a humanidade já produzira – maior mesmo que Satanás -, pois afirmava ser Ele o próprio Messias! Todo o plano de salvação do homem estaria arruinado e eles, como discípulos do Senhor que eram, estariam sendo enganados! Inquietos com aquelas considerações eles foram questionar o Mestre que os tranqüilizou dizendo que Elias já havia vindo, cumprido sua missão e padecido. O texto de Mateus diz que os discípulos então “entenderam que Jesus lhes falara de João Batista” e aquietaram os seus corações. Você pode ler os relatos completos desta história em Mateus 17:1-13 / Marcos 9:2-13 / Lucas 9:28-36.
Que tipo de “entendimento” foi este que os discípulos tiveram, depois de ouvirem a explicação dada por Jesus, capaz de resolver toda aquela enigmática situação?
Esse “entendimento” era decorrente de um conjunto de coisas que, somadas, levaram inexoravelmente os discípulos aquele tipo de conclusão, quais sejam:
- Jesus dissera que Elias já tinha vindo e cumprido a sua missão de ungir o Messias. Ora, a única vez que Jesus, o Messias, fora ungido por alguém, fora no deserto, por ocasião de seu batismo, e não fora o profeta Elias quem o ungira, mas sim João Batista! João não derramara óleo em sua cabeça, como faziam os profetas do antigo Israel, quando iam ungir os seus reis (1º Livro dos Reis 19:15,16), sacerdotes (Êxodo 28:40,41) e profetas (1º Livro dos Reis 19:16 b), e sim água! A unção espiritual decorrente do derramamento do óleo trazia sobre a pessoa ungida uma porção poderosíssima, ainda que limitada, do Espírito Santo, mas a unção que viera sobre Jesus, fora sem limites, com toda a plenitude do Espírito Santíssimo! (João 1:30-34 / 3:34). Ó, que maravilha! Se os discípulos realmente acreditavam que Jesus era o Messias prometido por Deus, então João tinha de ser mesmo o profeta Elias!
- Jesus também dissera que Elias viria primeiro que o Messias e que restauraria todas as coisas. Quando o Messias fosse então desenvolver o seu ministério já encontraria o terreno totalmente preparado por este seu Precursor. Pois foi exatamente isto o que acontecera com João. A Bíblia diz que “Jerusalém, toda a Judéia, e toda a província adjacente ao Jordão” vinha ouvi-lo e que “eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados” (Mateus 3:5,6). Sua pregação poderosa atingia todo o extrato social, sendo ouvida e temida até mesmo no palácio do rei Herodes (Mateus 14:1-12 / Lucas 3:1-20). Se Jesus era, de fato, o Messias, e Elias viria primeiro que Ele para preparar-lhe o terreno, então João Batista tinha de ser obrigatoriamente Elias, pois que fora João a única pessoa do Novo Testamento a atuar como o seu Precursor!
- Outra coisa que Jesus afirmara acerca de Elias é que ele já tinha vindo e que “fizeram-lhe tudo quanto quiseram” querendo dizer com isso, que Elias passara por um grande sofrimento, pois que afirmou logo em seguida: “Assim farão eles padecer também o Filho do Homem” (Mateus 17:12). O único profeta da época dos discípulos que estava atuando fortemente em Israel e que experimentara um sofrimento horrível fora João Batista. Ele fora aprisionado no palácio de Herodes e decapitado a mando do rei, pelo rigor de sua pregação. Quanto a Elias, este não aparecera por lá e, portanto, não poderia ter sido aviltado por ninguém. Se Elias já tinha vindo e padecido, como Jesus dissera aos seus discípulos, era porque Elias estava em João, pois que o antigo profeta de Israel vivera cerca de 900 anos antes de Cristo e não passara por nenhum sofrimento visível no final de sua vida por ter sido arrebatado ao céu.
- Outra coisa afirmada por Jesus é que Elias já tinha vindo, mas que ninguém o reconhecera. Nem os rabinos de Israel, nem os seus governantes, nem a população, em geral, e nem ainda os seus discípulos. Segundo o dizer do Mestre, isto deveria ter sido facilmente percebido por todos! Os sinais da nova encarnação do profeta estavam visíveis na vida de João Batista, sendo por demais evidentes! Ainda assim ninguém o percebera! Note, prezado leitor, que esta era uma crítica do Senhor Jesus a todos os seus concidadãos! Ele lhes estava passando “um carão”, “uma descompostura”, “um pito”! Todos deveriam ter sido capazes de detectarem que João era Elias sem grandes dificuldades, mas, ainda assim, não o fizeram! Como poderiam eles reconhecer Elias em João, se o profeta já havia morrido nove séculos atrás? Era só terem comparado os ministérios dos dois profetas. Tivessem eles feito isto e teriam descoberto Elias em João!
- Para concluir o “entendimento” que os discípulos tiveram de que, ao falar Jesus sobre Elias, estava, na realidade, se referindo a João, temos que os discípulos de Jesus haviam conhecido a Elias e a João pessoalmente e sabiam serem eles pessoas diferentes! Muito antes de se tornarem discípulos de Cristo, os discípulos que subiram o monte com Ele (Pedro, Tiago e João), já haviam sido discípulos de João Batista (João 1:34-42 / Mateus 4:18-22 / Marcos 1:14-20). Quando eles se converteram a Jesus, estranhamente, o Mestre não os batizou, ainda que o próprio Mestre tenha se submetido ao batismo de João (Mateus 3:13-17). Por que Cristo agira assim? Por que não batizara os seus discípulos como João fazia com os seus? Porque os novos discípulos de Jesus já eram velhos discípulos de João! Já haviam sido batizados pelo profeta do deserto! A partir daí, todos os que se convertiam ao Mestre eram batizados por seus novos discípulos, nunca por Jesus, de quem as Escrituras dizem, não batizava a ninguém (João 4:1,2). Quando, pois, os discípulos viram Elias no monte, e Jesus dissera-lhes tudo aquilo acerca do antigo profeta, eles entenderam imediatamente que o Mestre só podia estar se referindo a João porque, apesar de os ministérios de ambos serem semelhantes, eles eram diferentes como pessoas! Os discípulos antes só conheciam a João, de quem se tornaram discípulos, mas agora eles também tinham visto a Elias no monte e sabiam que, fisionomicamente, ambos os profetas não eram iguais! O espírito era único, mas os seus corpos não! Estes eram distintos, desiguais, dessemelhantes!