Palestra II

ESPÍRITO SANTO: UM DEUS INFERIOR?

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em agosto de 2012

INTRODUÇÃO

Demonstrei na palestra anterior que o Espírito Santo não é uma coisa, um objeto, uma energia, e sim um Ente, um Ser dotado de personalidade que integra a poderosa Trindade de Deus.

Entretanto, sei que muitos têm olhado para o Espírito Santo como se fora um Deus de terceira categoria, inferior ao Pai e ao Filho, porquanto aparece sempre como subordinado a estes e, ainda, por aparecer sempre em último lugar na colocação que a Bíblia faz das pessoas da Trindade. Seriam estas insinuações, indicações de que, de fato, o Espírito Santo é um Deus menor? Quererão elas dizer que o Espírito Santo é realmente um Deus subserviente, submisso, servil às demais pessoas da Trindade? Qual o lugar do Espírito Santo na poderosa Trindade Divina?

Vamos examinar alguns títulos vinculadores da pessoa do Espírito Santo às pessoas de Cristo e de Deus Pai.

TITULOS DE VINCULAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO ÀS DEMAIS PESSOAS DA TRINDADE

As Escrituras apresentam vários títulos vinculando a pessoa do Espírito Santo à pessoa de Deus Pai. São eles:

  • Espírito de Deus (Gênesis 1:2);
  • Espírito do Senhor Deus (Isaías 61:1);
  • Espírito do Deus Vivo (2ª Coríntios 3:3);
  • Espírito do Pai (Mateus 10:20).

Com relação a pessoa de Deus Filho esses títulos são:

  • Espírito do Senhor (Atos 8:39);
  • Espírito de Cristo (1ª Pedro 1:11);
  • Espírito de Jesus Cristo (Fi9lipenses 1:19,20);
  • Espírito de Jesus (Atos 16:7);
  • Espírito do Filho de Deus (Gálatas 4:6).

Todos esses títulos pretendem realmente dizer que o Espírito Santo “pertence” às duas outras pessoas da Trindade, é propriedade delas, como se fora um objeto? Possui o Espírito Santo autonomia para agir por si próprio ou só pode agir quando mandado pelas outras pessoas da Trindade?

 

EXPLICANDO A VINCULAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO AO DEUS PAI E AO DEUS FILHO

Vamos entender primeiramente que, sendo as criaturas do céu, seres espirituais (anjos, arcanjos, serafins, etc.), e sendo Deus também espírito, o chamar o Espírito Santo só de Espírito, não o vincularia a nada, nem a ninguém, nem ainda lhe indicaria a origem, pois que Ele ficaria sendo apenas mais um dos muitos espíritos a conviverem no Universo! Nem mesmo quando o chamamos de Espírito Santo o estamos ligando a alguém, pois, Deus, que é um espírito, é essencialmente um espírito Santo! Apenas quando vinculamos o Espírito Santo à pessoa de Deus Pai ou à pessoa do Deus Filho, chamando-o de Espírito de Deus ou de Espírito de Cristo, é que o relacionamos, o vinculamos, à Pessoa do Deus Todo-Poderoso, à Trindade Perfeita do Senhor! Aprendemos assim que esta vinculação do Espírito Santo às demais pessoas da Trindade, longe de ser depreciativa, diminuidora, é extremamente necessária para indicar-lhe a origem e a conexão!

Outra coisa que devemos entender é que a designação que o Pai e o Filho fazem acerca do Espírito Santo chamando-o de “meu Espírito”, longe de ser uma questão de supremacia, de superioridade de ambas as pessoas divinas sobre o Espírito Santo, é sim uma declaração de intimidade, de essencialidade, de internalidade de Deus. É como se Deus estivesse dizendo que a pessoa ou o objeto sobre o qual Ele vai enviar o seu Espírito, vai ser tocado pela sua parte mais íntima, mais profunda, visto ser o espírito a parte mais interna, mais essencial do ser! O apóstolo Paulo ensinou isto aos crentes coríntios, dizendo-lhes: “o Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus. Porque, qual dos homens sabe as coisas do homem, senão o espírito do homem, que nele está? Assim também ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus” (1ª Coríntios 2:10,11). Assim como o espírito é a parte mais íntima do homem; a sua alma, a parte mais central; e, o seu corpo, a parte mais externa, assim também a “parte mais externa” de Deus é o Pai, a “mais central” é o Filho e, a “mais interna”, o Espírito Santo. Claro está que isto é apenas uma forma didática de se falar sobre Deus a fim de facilitar a compreensão do estudante, visto Deus não ser constituído de “partes” e sim de “pessoas“. Quando, pois, o Pai ou o Filho aparecem na Bíblia dizendo: “vou enviar o meu espírito” ou “vou derramar do meu espírito”, eles estão dizendo que vão partilhar de sua intimidade, de sua essência com a criatura ou outro elemento qualquer de sua criação! Isso é honra demais! È privilégio demais! É dignidade demais!

O Espírito Santo não se importa de ser chamado de “meu Espírito” por Deus Pai ou por Deus Filho, pois que isto é sinal de carinho da parte deles, é sinal de intimidade, de comunhão extrema. Particularmente eu adoro quando meus filhos me chamam de “meu pai” ou minha esposa me chama de “meu marido”. Longe disto ser uma manifestação egoísta da parte deles sobre mim, de ser um sentimento frio de posse sobre a minha pessoa, é sim um compartilhamento do sentimento de amor, de integração, de união existente entre nós. Eu desejo sim pertencer a eles! Eu quero sim ser propriedade deles em amor, pois que são pessoas maravilhosíssimas! Da mesma maneira que o escravo antigo quando queria pertencer para sempre ao seu dono, por ser o seu dono uma pessoa boa, tinha a sua orelha furada para demonstrar a todos a sua nova condição de “prisioneiro voluntário” ou do apóstolo Paulo em seu amor por Cristo quando, ao escrever a seu amigo Filemom, disse ser “Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo” (Filemom 1,9), assim também, todas as pessoas da Trindade desejam mesmo pertencer uma a outra, em total comunhão e integração. A superioridade aqui não está em ficar dando ordem um ao outro e sim em servir com amor, com o coração, um ao outro!

EXPLICANDO A SUBORDINAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO AO DEUS PAI E AO DEUS FILHO

Algumas pessoas também têm dito que o Espírito Santo é um Deus inferior ao Pai e ao Filho, por só ter vindo depois da morte, ressurreição e ascensão de Cristo (o Filho) e ainda por vir sempre em último lugar nas listas em que as três pessoas da Trindade aparecem. Para isto citam várias passagens em que tal coisa acontece, como por exemplo:

  • Mateus 28:19 – “Portanto, ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo”.
  • 2ª Coríntios 13:13 – “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo, seja com todos vós”.
  • 1ª João 5:7 – “Porque três são os que testificam no céu: o Pai, a Palavra, e o Espírito; e estes três são um”.

Mas será que tais pessoas – uma das quais pode ser o meu prezado leitor -, observaram que esta não é uma ordem fixa, imutável, inflexível? Observaram, por exemplo, que, em algumas destas listas, o Filho aparece em primeiro lugar e o Pai em último? Que em algumas delas o Espírito Santo aparece em primeiro lugar e o Filho por derradeiro? Se não, vejamos:

  • Em 1ª Coríntios 11:4-6, o Espírito Santo aparece em primeiro, o Filho em segundo e o Pai em terceiro: “Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor (Jesus) é o mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus (Pai) que opera tudo em todos”.
  • Em 2ª Tessalonicenses 3:5, o Espírito Santo também aparece em primeiro, o Pai em segundo e o Filho em terceiro: “Ora, o Senhor (Espírito Santo) encaminhe os vossos corações no amor de Deus (o Pai) e na paciência de Cristo (o Filho)”.
  • Em 1ª Pedro 1:2, o Pai aparece em primeiro, o Espírito aparece em segundo, e o Filho em terceiro: “Eleitos, segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo”.
  • Em 1ª Pedro 3:18 o Filho aparece em primeiro, o Pai em segundo e o Espírito em terceiro: “Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus; mortificados, na verdade, na carne, mas vivificado pelo Espírito”.
  • E que dizer da “benção apostólica” de 2ª Coríntios 13:13, pronunciada ao final dos cultos em nossas igrejas? Acaso ainda não percebemos que nela o Filho aparece também em primeiro, o Pai em segundo e o Espírito em terceiro? Veja: “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo, seja com todos vós”.

Como o meu prezado leitor pode ver, não se pode construir uma teologia sobre a importância das pessoas divinas com base nas listas bíblicas onde elas aparecem por não serem estas listas um ordenamento de caráter fixo, definitivo, imutável. Estas listas não traduzem a ascendência ou subserviência das pessoas da Trindade, uma em relação às outras, e sim o inter-relacionamento das pessoas da Deidade.

EXPLICANDO O PAPEL DO ESPÍRITO SANTO NA TRINDADE DIVINA

Outra insinuação feita por alguns sobre a importância do Espírito Santo na Deidade, encontra-se no seu pequeno destaque no Antigo Testamento e, ainda, no fato de Ele só ter vindo á Terra depois da morte, ressurreição e ascensão de Cristo. Segundo o ponto de vista dessas pessoas, isto só acontece em função das atividades do Espírito Santo serem de menor importância em relação as atividades das demais pessoas da Deidade. Mais outra vez dizemos que não se trata aqui de fixar a ascendência de uma pessoa divina em relação às demais e sim no estabelecimento da função, do papel, da missão de cada uma delas dentro do Conselho Divinal, ou seja, dentro do Conselho de Si Mesmas! Segundo o Conselho de Deus, o planejamento de ações deve ficar a cargo do Pai; a realização dessas ações deve ficar a cargo do Filho; e, o entendimento dessas ações deve ficar a cargo do Espírito Santo. Não se trata de dizer que o “maior” tem de ficar com o “melhor” e que o “menor” tem de ficar com o “pior”, e sim de uma divisão de tarefas! O que é mais importante? Criar? Mas do que adianta criar, se não tem ninguém para realizar? Realizar, talvez? Mas realizar o que, se não há nada planejado para ser realizado? Aplicar? Mas aplicar o que se nada foi realizado para se demonstrar a sua aplicação?

Querido, quando Deus intenta realizar alguma coisa Ele mobiliza todas as pessoas da Deidade. Nenhuma pessoa divina fica responsável pelo projeto todo, mas também nenhuma pessoa divina fica fora dele. Enquanto uma cria, outra realiza, e outra aplica. Cada uma fica responsável mais diretamente por uma parte, mas todas participam de todas as ações divinas. O papel de cada pessoa da Deidade é diferenciado e complementar. Onde um termina, o outro começa e projeta o que ainda falta, o que deve ser feito para o outro, de forma que todas participam de uma mesma missão. Assim é que na criação, obra atribuída a Deus Pai (Gênesis 1:1), encontramos a participação do Filho (João. 1:1-3,10) e do Espírito Santo (Gênesis 1:2 / Jó 26:13 / Salmo 104:30). Na salvação, obra atribuída ao Filho, encontramos a participação do Pai (João 3:16) e do Espírito Santo (João 16:7-15). Na santificação, obra atribuída ao Espírito Santo, vemos a ação de Deus, o Pai (Levítico 11:44,45) e de Deus, o Filho (Hebreus. 2:10,11 / 9:13,14), e este modelo se repete em todas as ações do Senhor. Deus trabalha em conjunto consigo mesmo, não discriminando uma pessoa da Deidade para favorecer ou desmerecer a outra. Isso é coisa que nós humanos fazemos, pois discriminamos as pessoas por qualquer coisa de diferente que estas tenham das demais!

Quanto a vir o Espírito Santo por último nas ações da Deidade isto é uma questão de lógica e de acerto entre as pessoas da Trindade. Toda ação divina começa em Deus e termina em Deus. A missão de salvação do homem é um bom exemplo disso: o Pai providenciou a salvação do homem através de seu Filho que, após a ter realizado, precisa do Espírito Santo para aplicá-la ao coração dos homens! Assim é que temos em todo o Antigo Testamento Deus Pai preparando a humanidade para a recepção do Salvador; nos Evangelhos temos Deus Filho entre nós realizando a nossa salvação; em Atos e demais epístolas do Novo Testamento temos Deus Espírito Santo aplicando essa salvação no coração dos crentes. O Espírito Santo tinha de vir mesmo por último, pois que a salvação do homem ainda estava sendo providenciada! Não dá para colocar uma coisa na frente da outra, pois que todas seguem uma seqüência lógica! O que há de “maior” ou de “menor” nisto?

CONCLUSÃO

Espero que o prezado leitor, que ainda possuía alguma dúvida sobre a posição do Espírito Santo em relação as demais pessoas da Deidade por causa de sua vinculação a elas, ou que achava que o Espírito Santo era um Deus inferior ao Deus Pai e ao Deus Filho por vir sempre colocado em último lugar nas listas em que todos aparecem citados, ou que achava que a sua vinda por último à Terra ou nas atividades desempenhadas pela Trindade indicava que Ele era um Deus inferior, tenha se dissipado plenamente. Que a partir de agora o meu prezado leitor olhe para o Espírito Santo com uma devoção nunca antes sentida, reconhecendo ser Ele o nosso Deus e Senhor, como já acontece com Deus Pai e com Deus Filho em nossa vida.

Deus abençoe a todos.

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

 

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