Palestra III

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012

INTRODUÇÃO

Vamos examinar agora um segundo texto bíblico também bastante utilizado pelos cristãos da vertente evangélica quando se está em discussão a possibilidade ou não da reencarnação. Ele se encontra no Evangelho de Lucas 16:19-31 e traz como título “A Parábola do Rico e Lázaro”. Segundo estes cristãos, o próprio Cristo ensinou neste texto, não existir a mínima possibilidade de um indivíduo alterar a sua condição espiritual após a morte, quer esteja este no céu ou no inferno. O estado espiritual de tal pessoa ao morrer estaria assim definido e também seria definitivo. As declarações de Jesus a esse respeito, segundo eles, são tão claras, tão óbvias, tão inequívocas, que deveriam ser consideradas um “ponto pacífico”, isto é, um ensinamento que ninguém mais deveria questionar. Vamos ver se isto é assim mesmo:

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO

“Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; e desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta de seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nessa chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebestes os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.”

O texto, como vimos, conta a história de dois homens que morreram e, subitamente, se acharam em locais / condições espirituais diferentes: um em um lugar ameno, calmo, aconchegante, chamado “Seio de Abraão” e outro em um lugar de tormento denominado “Hades”. Outro lugar é ainda mencionado no texto, sem um nome específico, e por isso eu o denominei de “Terra dos Viventes” por ser este o lugar onde estavam os vivos e a Lei de Moisés era ainda pregada. Por ser esta a única parábola em que o Cristo cita o nome de uma pessoa (Lázaro) e por não trazer o texto original o termo “parábola” em seu título, muitos consideram este relato uma história real, factual, verdadeira, e não uma parábola, um caso ilustrativo criado por Jesus para representar uma verdade espiritual. Independentemente de ser esta uma história real ou imaginária, vamos analisar o significado dos termos nela empregados e a relação que eles mantinham entre si.

COMPREENDENDO O QUE SEJA O HADES

“Hades” é o lugar onde ficavam os mortos, “o mundo invisível” ou “o mundo não visto”, segundo a sua língua original, a grega, e aparece traduzido 10 vezes como inferno em algumas versões da Bíblia, quem sabe mesmo, na versão que o meu prezado leitor utiliza, mas cuja tradução proposta (inferno) sequer existe nos textos originais bíblicos! Hades era o mesmo que o Sheol do Antigo Testamento, isto é, o lugar onde ficavam os mortos, independentemente de serem eles justos ou ímpios (Salmo 16:10 / Atos 2:27,31). Não era o inferno, como o concebemos hoje, cheio de trevas, fogo, seres malignos e ranger de dentes, mas o lugar onde ficavam os espíritos desencarnados (Jó 14:13). O Hades / Sheol se situava no interior da terra (Salmo 139:7,8) e possuía dois compartimentos estanques, sendo o primeiro deles conhecido como “Seio de Abraão”, local preparado para receber apenas as almas dos justos e, logo abaixo deste, e não ao lado, como se poderia imaginar, outro local, denominado o “Lugar de Tormento”, preparado para receber as almas dos iníquos. Esta foi a razão de o homem rico ter olhado para cima e ter visto o mendigo Lázaro junto com o Patriarca Abraão (Lucas 16:23). Ainda que tais locais estivessem próximos um do outro ao ponto do indivíduo poder ver o que o outro continha, distavam entre si infinitamente, de tal maneira que não podiam ser transpostos (Lucas 16:26).

Lúcifer, o Príncipe das Trevas, era quem detinha o domínio destes dois territórios, pois, desde a queda de Adão, toda a humanidade ficara sujeita a ele e ninguém ainda havia pago pelo resgate de qualquer alma! Todas elas se encontravam no Hades / Sheol esperando que o Salvador viesse libertá-las (Hebreus 2.14). Quando Jesus morreu pela humanidade, em seu sacrifício substitutivo, desceu até esta região espiritual e libertou os santos que lá estavam (Colossenses 2:14,15 / Apocalipse 1:17,18 / Mateus 27:50-53). Para demonstrar que lá estivera, Ele ressuscitou muitos corpos de santos que haviam sido sepultados, como Ele, no Calvário (Mateus 27:52,53). Desde então, quem morre na fé em Jesus e em total pureza de coração, vai diretamente para o Paraíso, lugar da morada de Deus (Lucas 23:43 / 2ª Coríntios 12:1-4), e lá fica aguardando o dia da redenção total (Efésios 4:8-10 / Atos 7:55,56 / Filipenses 1:21 / Apocalipse 6:9-11 / 7:9-17 / 14:13 / 1ª Tessalonicenses 4:13-18). Quanto aqueles que morrem em pecado, distantes de seu Salvador, estes seguem para o Hades e lá ficam em tormento, segundo a Teologia moderna, até o Dia do Juízo Final (Apocalipse 20:11-15), quando então serão dele retirados e levados à presença de Deus para julgamento e condenação eterna.

Devo pedir desculpas ao meu prezado leitor por não estar reproduzindo na íntegra os textos bíblicos aqui assinalados, mas apenas citando-os diretamente, sem comentá-los, e nem demorando-me muito na exposição dos lugares neles citados, pois, caso fizesse isto, esta palestra ficaria enorme, eu perderia o foco de meu estudo e o meu leitor se sentiria tentado a desistir de sua leitura. Além do que, todos os textos e comentários sobre o Hades e demais infernos bíblicos já foram bastante explorados no livro que publiquei intitulado “De Volta à Gehena – Eu e Você Já Estivemos Aqui”, disponibilizado neste site.

Vamos voltar então ao nosso estudo….

Na contundente história contada por Jesus, o homem rico, que era um ímpio, e que estava no compartimento inferior do Hades, portanto, no “Lugar de Tormento”, faz três pedidos[1] ao Patriarca Abraão, símbolo maior da comunhão com Deus por ter sido o único homem a receber de Deus o título de “meu amigo” (2ª Crônicas 20:7 / Isaías 41:8 / Tiago 2:23), e obtêm deste também três respostas diretas. Vamos examiná-las, uma a uma.

PEDIDOS DO HOMEM RICO E RESPOSTAS DE ABRAÃO

1º pedido do rico“Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta de seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nessa chama” (v.24);

1ª resposta de Abraão“Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá para cá” (vs.25,26);

Nesta primeira petição o homem rico pede a Abraão para que mande Lázaro ir até onde ele se encontra a fim de apagar a chama na qual ele, homem rico, está ardendo. A resposta de Abraão a este homem é a de que Lázaro não poderia sair do lugar onde se encontra (Seio de Abraão) para ir até o local onde o rico está (Lugar de Tormento), por haver um abismo intransponível entre aqueles dois mundos, impedindo um de adentrar no território do outro. Observe que Abraão usou o pronome “nós” para enfatizar que nem ele, nem Lázaro, nem nenhum outro justo, poderia sair do “Seio de Abraão” para ir até o “Lugar de Tormento”. Bom é que se diga que Abraão não é e nem representa Deus aqui, pois que Deus não está limitado a nada e se encontra presente em todos os lugares (Jeremias 23:23,24 / Salmo 139: 7-12).

A modéstia do pedido do homem rico revela a grandeza do horror do lugar onde ele estava, pois que, uma gota de água apenas do lugar onde Lázaro se encontrava já seria suficiente para aplacar o seu terrível tormento! Na Terra dos Viventes esse homem tivera tudo quanto o dinheiro pudera lhe comprar; aqui ele não possuía nada. Até uma pequeníssima gota de água tinha de lhe ser doada! Na Terra ele promovia banquetes sem notar sequer a presença do mendigo Lázaro; aqui é ele que não possui influência alguma e precisa do mendigo e de outros desconhecidos para ajudá-lo! A história desse homem é tão triste, tão funesta, que deveria estremecer e arrepiar todos aqueles que hodiernamente possuem tanto em influência, em beleza, em riqueza, em talento, em poder, e outras coisas mais que os fazem destacar-se de seus semelhantes, e que nada fazem para ajudar o seu próximo. Um dia a sorte poderá mudar e então estes que “estão por cima” poderão ficar na posição de suplicantes. Jesus disse que “a quem muito for dado, muito também será cobrado” (Lucas 12:48).

Por três vezes o homem rico se dirige a Abraão chamando-o de “pai”, demonstrando com isto confiança em sua filiação abraâmica que o tornava integrante do povo escolhido de Deus e de suas fiéis promessas. O Patriarca lhe responde uma vez chamando-o de “filho”, reconhecendo assim a existência de tal vinculação (Mateus 3:9 / João 8:33-39). O problema é que esta vinculação não possuía nenhum poder salvífico, de transformação de coração (Romanos 9:6-8 / Gálatas 3:8,9). Se tivermos de ser salvos não o seremos por sermos filhos do Judaísmo, do Cristianismo, ou de qualquer outra religião e sim por sermos filhos de DEUS! (João 1:12,13).

Agora, eu gostaria de fazer ao meu leitor uma importantíssima pergunta acerca desta primeira petição: “Poderia, porventura, a expressão “os de lá”, utilizada por Abraão ao dizer “os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá para cá”, se referir a Terra dos Viventes e não ao Lugar de Tormento, como proclamam tantas e tantas pessoas dos púlpitos? Afinal de contas, se Abrão quisesse se referir ao Lugar de Tormento e não a Terra dos Viventes, dizem tais pessoas, poderia ter se utilizado da expressão “os dai” e não “os de lá”, como o fez. NÃO, NÃO PODERIA, pois quem estava na Terra dos Viventes poderia sim passar para o Seio de Abraão, caso morresse como justo – que foi exatamente o que aconteceu com Lázaro, e quem morresse como ímpio também poderia passar para o Lugar de Tormento – que foi o que aconteceu com o rico e que ele ainda temia, viesse acontecer também com os seus familiares! O abismo intransponível existia para impedir o fluxo de pessoas entre o Seio de Abraão e o Lugar de Tormento e não entre as pessoas que estavam no Hades (Seio de Abraão / Lugar de Tormento) e a Terra dos Viventes. Outra coisa a considerar é que o rico estava interessado apenas na possibilidade de pessoas que estavam no mundo invisível acessarem o mundo visível, material e não o inverso. Temos assim que a expressão “os de lá”, utilizada por Abraão, se refere unicamente aos indivíduos que estavam presos no Lugar de Tormento e não aos que estavam na Terra dos Viventes. Devemos, pois evitar este terrível equívoco em nossas tribunas e púlpitos!

2º pedido do rico“Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento” (v.27,28)

2ª resposta de Abraão“Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos” (v.29)

Nesta segunda petição o homem rico argumenta: “já que Lázaro nem o senhor podem sair do “Seio de Abraão”, onde estão, e virem até aqui, no “Lugar de Tormento”, onde estou, mande que ele, Lázaro, vá diretamente até a casa de meu pai, na “Terra dos Viventes”, para avisar os meus cinco irmãos, a fim de eles não virem também para cá, pai Abraão”.

Um grande intérprete do Novo Testamento, a quem muito aprecio, chamado Joachin Jeremias, disse ao ler esta passagem que esta parábola deveria se chamar “A Parábola dos Seis Irmãos” e não “A Parábola do Rico e Lázaro”, visto todos os seis irmãos viverem da mesma maneira egoística, alienados de Deus e de sua Palavra, sem preocupação alguma com a continuação da vida no além e com a fatalidade da vida. Essa sua opinião pode ser encontrada em seu livro “As Parábolas de Jesus”, editado na língua portuguesa pelas Edições Paulinas. Eu a achei muito interessante e pertinente e por isso a citei aqui.

Agora, eu desejo que o meu prezado leitor atente bem para a resposta dada por Abraão ao homem rico, pois não precisamos forçar o texto bíblico a ir aonde ele não vai e nem a dizer o que ele não diz tão somente para defender algum argumento que achemos bonito ou sustentar uma interpretação que gostemos. Abraão não diz que a alternativa de um justo sair do “Seio de Abraão” e ir até a “Terra dos Viventes” não seja possível, mas afirma que os parentes do homem rico já possuem dois outros instrumentos poderosíssimos de alerta sobre a vida após a morte que estão sendo usados naquele exato momento na Terra e para os quais eles, e o próprio rico quando estava vivo, deveriam atentar, a saber: Moisés e os Profetas, nome pelo qual eram chamadas as Escrituras Sagradas ao tempo de Cristo. Abraão parece estar um tanto quanto seco, árido, sem vontade de conversar, pois o rico argumentara com ele como se o Patriarca não tivesse conhecimento dos fatos presentes ou não estivesse tão interessado em ajudá-lo. A resposta direta e sem rodeios que Abraão dera ao homem rico com relação aos seus parentes serve também para todos nós: “Têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos”. Não basta apenas saber que as Escrituras Sagradas existem e são anunciadas: Temos de ouvi-las!

3º pedido do rico“Pai Abraão, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam” (v.30)

3ª resposta de Abraão“Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite” (v.31)

Nesta terceira petição, se é que podemos chamá-la assim visto o homem rico não pedir nada, mas apenas reforçar os argumentos sobre o pedido que fizera anteriormente, vemos que ele está determinado a salvar os seus familiares de qualquer maneira e, cheio de ardor missionário, contra-argumenta com o santo apelando para os seus sentimentos, dizendo-lhe: “já que Lázaro não pode vir até aqui onde estou para me refrescar a língua e também não pode ser enviado à “Terra dos Viventes” para avisar os meus parentes sobre este lugar de horror, então pai Abraão, envie um dos mortos qualquer para avisá-los”. Ele está se referindo aos outros mortos que, com ele, estão no mesmo “Lugar de Tormento”, pois que Abraão já lhe dissera que quem estivesse no lugar denominado “Seio de Abraão” não poderia mais sair de lá e ir até onde o homem rico estava, o “Lugar de Tormento”, por haver entre eles um abismo intransponível. Neste terceiro pedido Abraão responde-lhe: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”.

Note, mais uma vez, prezado leitor, que a resposta que Abraão dera ao homem rico não fora a de que um ímpio não poderia sair do “Lugar de Tormento” e ir até a “Terra dos Viventes” e sim que os parentes daquele homem rico não acreditariam em tal pessoa, mesmo que ela fosse um parente seu ressuscitado!

A simples possibilidade de alguém poder sair do Hades, conforme solicitada pelo homem rico e endossada pelo Patriarca Abraão, já nos obriga a repensar a questão da perenidade do inferno, pois se é possível a alguém sair do Hades, mesmo que através do processo da ressurreição, então quer dizer que este inferno, aqui referido, por mais terrível e tormentoso que seja, não é eterno, não é para sempre, não é definitivo e sim um inferno provisório, passageiro, impermanente, que é exatamente o que a Bíblia afirma acerca do Hades. Segundo o Apocalipse, no fim dos tempos, tanto a Morte quanto o Hades serão lançados no Lago de Fogo e não existirão mais. Teremos então um inferno dentro de outro inferno! (Apocalipse 20:13,14). Esta mesma situação de transitoriedade, de impermanência, pode ser encontrada com relação a Gehena (outra palavra traduzida por inferno), visto o indivíduo poder sair dela após ter pago o seu último ceitil, segundo o dito de Cristo em Mateus 5:21-26, onde esta palavra aparece. Tudo isso serve então para nos mostrar quão difícil é compreender o real significado da Palavra de Deus com tantas traduções inadequadas!

Somos também obrigados a repensar outras questões mais intrigantes, tais como: Caso um morto ímpio, infiel, injusto, pudesse, ainda que hipoteticamente, sair do Hades e vir à “Terra dos Viventes” para avisar alguém sobre o lugar horrível em que estivera, não seria esta volta uma demonstração clara de “segunda chance” para o habitante do Hades, que poderia, ele mesmo, se arrepender de seus maus atos? Não seria também esta possibilidade uma vantagem espiritual para aqueles que ouvissem tal mensagem, pregada diretamente por alguém recém saído do inferno? Aliás, o homem rico garantiu a Abraão que se algum dos mortos saísse de tal inferno e fosse pregar a seus parentes incrédulos que estes se arrependeriam!

Por que o homem rico não pedira logo ao Patriarca Abraão para enviar a ele mesmo à casa de seus irmãos a fim de avisá-los, mas pedira para este enviar primeiramente a Lázaro e depois a qualquer um dos mortos que com ele estavam no “Local de Tormento”? Egoísmo? Estratégia? Medo? Quem sabe! Se Lázaro pudesse apagar com aquela única gota de água o fogo em que ele, homem rico, ardia, talvez ele nem solicitasse ao Patriarca Abraão para enviar a Lázaro ou algum dos mortos a sua casa a fim de avisar a sua parentela. A permanência no Hades, se tornaria algo suportável, tanto para ele, quanto para seus parentes que para lá fossem. Particularmente acho que o rico não possuía proximidade alguma com sua família, pois mesmo estando sofrendo naquele inferno de horror, pediu para que outros fossem enviados em seu lugar e não ele próprio. Acreditar que alguém pudesse ressuscitar dos mortos deveria ser algo extremamente difícil para a sua abastada família, mas acreditar que o seu parente egoísta, endurecido, recém falecido, ressuscitara e fora pregar arrependimento a eles, cheio de compaixão e misericórdia, já seria pedir demais!

Claro que podemos tomar essa última declaração de Abraão como uma coisa hiperbólica, exagerada, exorbitante, usada apenas para representar a impossibilidade daquela situação vir a acontecer e é assim que a Igreja a tem interpretado no correr das eras: “um morto sair do inferno (Hades – Local de Tormento) e vir pregar na Terra dos Viventes, ressuscitado? Ah, ah, ah, seria o mesmo que um elefante rosa voar sobre nossas cabeças!” Mas vamos considerar que o que Abraão estava querendo passar para o rico não era a impossibilidade da ressurreição de alguém que tivesse estado no Hades vir a acontecer, pois esta já havia acontecido por diversas vezes no Antigo Testamento e, agora ainda mais com Cristo, e sim a incapacidade de um ente vivo acreditar em um ex-morto, incrédulo, egoista, saído diretamente do Hades, como pregador! A ressurreição de Lázaro, amigo de Jesus, mostrara o quanto isso era difícil de acontecer. Lázaro era justo e querido por todos, mas ainda assim a Bíblia diz que quando Jesus o ressuscitou apenas alguns creram em Cristo como o Messias, e que os principais sacerdotes procuravam matar tanto o Senhor quanto o seu amigo ressuscitado! (João 12:9-11).

CONCLUSÃO

A esta altura de nosso estudo o prezado leitor deve estar se perguntando: Por que será que o Pastor Olívio colocou esta palestra dentro do tema REENCARNAÇÃO se tudo o que ele está dizendo está indo exatamente contra esse ensinamento? Se o próprio Abraão, amigo de Deus, disse que a única maneira de alguém sair vivo do inferno (Hades) e adentrar na “Terra dos Viventes” era através do processo da ressurreição (v.31) então por que devemos nós acreditar na reencarnação?

Por vários motivos cumulativos, querido(a): primeiro, porque o inferno apregoado por Cristo nesta parábola, qual seja o Hades, não é nem eterno nem definitivo, conforme vimos acima, pois todas as pessoas que foram ressuscitadas – fossem elas justas ou ímpias – saíram deste “inferno”; segundo, porque a impossibilidade espiritual apregoada por Cristo nesta parábola não era a de um justo ou de um ímpio, depois de mortos, poderem retornar à Terra dos Viventes, o que já havia acontecido por diversas vezes mediante o processo da ressurreição e sim a de um justo que estivesse no Seio de Abraão passasse para o Lugar de Tormento e vice-versa; terceiro, porque as Escrituras apresentam vários infernos, cada um com um propósito específico e com características próprias, o que nos proíbe de uniformizá-los; quarto, porque se alguém pode sair do Hades pelo processo da ressurreição, ou outro processo qualquer, esse alguém pode sim mudar a sua condição espiritual, pois que ganhará mais tempo de vida terrena no qual poderá obter novas informações e fazer novas escolhas; quinto, porque o conceito de ressurreição no tempo de Cristo podia abranger tanto o reingresso do espírito ao velho corpo em que o indivíduo vivera quanto o reingresso do espírito a outro corpo, recém-gerado, novinho em folha, exatamente como apregoa hodiernamente a doutrina da reencarnação!

Por esta o amigo(a) não esperava, não é mesmo? Ficou chocado com as minhas declarações? Gostaria de saber em que outros registros bíblicos eu fundamentei essa minha tese? Então não deixe de ler as nossas próximas palestras e, se possível, convidar outros para as lerem também, de acordo?

Deus abençoe a todos.

Caso seja do interesse de meu prezado leitor, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

[1] Na realidade dois pedidos, tendo em vista que o terceiro é um “reforço de argumentação” (Nota do Autor)

a leitura. Além do que, todos os textos e comentários sobre o Hades e demais infernos bíblicos já foram bastante explorados no livro que publiquei intitulado “De Volta à Gehena – Eu e Você Já Estivemos Aqui”, disponibilizado neste site.

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