Palestra II

SALVAÇÃO OU EVOLUÇÃO?

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em maio de 2012

INTRODUÇÃO

Se eu perguntasse para o meu prezado leitor se acredita que o ser humano precisa ser salvo através de uma experiência espiritual de reparação moral, de caráter instantâneo, definitivo e radical, denominada conversão, novo nascimento ou regeneração, como apregoado pela religião cristã, ou se precisa ser salvo evoluindo em seu espírito mediante inúmeras manifestações de vida até se tornar um espírito puro, liberto de todas as amarras existenciais, como apregoado pelas religiões que acreditam na reencarnação, o que o meu leitor diria? Se responder que o homem precisa ser regenerado, torna desnecessária e fútil a evolução espiritual. Se responder que ele precisa evoluir em seu espírito até ser completamente liberto, torna sem efeito o sacrifício de Cristo. Aparentemente uma coisa elimina a outra, não podendo ambas andar juntas. Se é difícil para alguns acreditar que Deus possa ter enviado o seu Filho para ser vítima de um sacrifício vivo, cruel, sanguinolento, em uma ação totalmente repulsiva, inaceitável e até desnecessária, segundo as religiões reencarnacionistas, que não consideram o homem um pecador intransigente, contumaz da lei de Deus, e sim um espírito em evolução, em crescimento eternal, também é difícil para aqueles que partilham da fé cristã, acreditar que um ser mau, degradado, degenerado como o homem, possa ir melhorando em sua essência, em sua espiritualidade, progressivamente, reencarnação após reencarnação, até se tornar um espírito puro, sem precisar do sacrifício substitutivo de Cristo e da transformação de sua natureza decaída pela ação do Espírito Santo. A idéia de que seguir o exemplo de vida deixado por Cristo seja suficiente para o homem ser liberto seria completamente equivocada, pois quem isto desejasse deveria ter o Espírito de Cristo para conseguir viver a vida de Cristo, o que só seria possível mediante uma experiência espiritual de conversão.

Afinal de contas do que precisa o homem? De salvação ou de evolução?

EVOLUÇÃO OU INVOLUÇÃO?

Permitam-me voltar ao início de tudo, ao momento e lugar em que tudo começou. As Escrituras ensinam que o homem foi criado por Deus puro, sem mácula, sem pecado algum, e colocado em um lugar, denominado Éden, distrito da antiga Babilônia, que de tão lindo que era passou à História como “o Jardim do Éden”, ainda que o lugar contivesse também as configurações de um pomar por ter muitas árvores frutíferas e flores, de uma reserva animal por ter vários bichos e de um laboratório divino por ter Deus nele feito a mulher. Enquanto o período de inocência humana perdurou, o homem manteve comunhão com Deus e viveu em total sintonia com o seu ambiente. Ao pecar, porém, isto é, ao se rebelar voluntariamente contra as leis estabelecidas por Deus, o homem perdeu a comunhão que mantinha com o seu Criador, colocou toda a raça em estado de degradação moral e quebrou a sintonia com o local em que vivia. Esta situação, escrituristicamente demonstrada, parte dos pressupostos de que Deus existe e que foi o Criador do homem, não importando se esta criação se deu de forma mediata ou imediata; se por evolução ou se por criação instantânea. Ela ainda assegura as seguintes condições:

  • a) que o homem não evoluiu de um estado moral baixo para um estado moral alto, elevado, e sim, que já surgira vivenciando este estado superior;

  • b) que o decaimento espiritual e moral do homem foi abrupto, repentino, e atingiu toda a raça, que agora vive em estado de degradação moral e distanciamento de Deus;

  • c) que o homem não tem conseguido, no correr dos séculos, levantar-se por si mesmo e reassumir aquela posição que originalmente possuía de pureza espiritual e comunhão com o seu Criador;

  • d) que apenas Deus, que criou o homem e o afastou do Jardim Paradisíaco quando este pecou, pode, se assim o desejar, introduzi-lo novamente no novo Paraíso, aberto para nós através de Cristo, tendo para isto de tomar a iniciativa deste ato.

Já comentei na Palestra anterior, sobre este mesmo tema da Salvação, que os filhos do primeiro casal humano ao nascerem, já nasceram fora do Jardim do Éden, tendo o caminho que levava á Árvore da Vida bloqueado para eles. Não conheceram nada do que havia no Jardim do Éden nem gozaram da comunhão com Deus que seus pais experimentaram. Por que eles não usufruíram da mesma comunhão com Deus que seus pais tiveram, visto não terem em nada desobedecido a Deus e seus espíritos serem ainda puros, limpos, imaculados? Porque o meio em que eles estavam já não mais o era! Este os influenciava diretamente para o mal, ainda que não determinasse que o mal acontecesse na vida deles! Veja só: o lar onde eles viviam era um lar fracassado; o lugar onde habitavam, impregnado de demônios; a facilidade de pecar longe do olhar dos outros, imensa; e a comunhão que podiam manter com Deus, mediada por sacrifício de animais. Tão logo os filhos daquele casal chegaram à idade da razão, rebelaram-se contra as orientações do Senhor. Caim, o filho mais velho, estava vivenciando um estado de degradação espiritual tão grande que não sentiu dificuldade alguma em assassinar o seu irmão! O pecado tomara conta de suas almas e o ambiente onde viviam se degenerava cada vez mais atirando os novos habitantes do planeta em um tremendo mar de lama. Tão rapidamente isto aconteceu que Deus intentou destruir a raça humana através de uma imensa catástrofe. O dilúvio veio como um açoite divino à tão nova humanidade e apenas oito pessoas daquelas gerações antigas escaparam de morrer afogadas! Nenhuma evolução de espíritos fora detectada até então, antes a degeneração espiritual se acentuara rapidamente e tomara conta de todos!

Séculos mais tarde encontramos Jesus se lamentando sobre as gerações de seu tempo e dizendo: “Ai de ti, Corazim! ai, de ti, Betsaida! Porque, se em Tiro e em Sidom (cidades da Fenícia) fossem feitos os prodígios que em vós se fizeram, há muito que se teriam arrependido com saco e cinza” (Mateus 11:21). Ainda que possamos dizer que essas gerações eram limitadas em número e situadas em determinada faixa do tempo, fica evidenciado que, nem mesmo os portentosos milagres do Cristo foram suficientes para elas se converterem de seus maus caminhos e incredulidade! Na última semana da vida do Mestre Este discursou para os seus discípulos dizendo: “Como foi nos dias de Noé, assim será também na vinda do Filho do homem. Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam, bebiam, e davam-se em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca, e não perceberam, até que veio o dilúvio, e os levou a todos – assim será também a vinda do Filho do homem” (Mateus 24:37-39). As gerações agora apresentadas pelo Cristo já não parecem ser mais individualizadas e localizadas em determinado lugar do planeta, e sim envolver toda a população da Terra quando de seu retorno. Segundo o Senhor Jesus, elas não estarão apresentando nenhum sinal de aperfeiçoamento em seus espíritos, antes indo de mal a pior.

A AÇÃO DO PECADO NA VIDA DO HOMEM

O ensino geral das Escrituras, tanto pela pessoa do Cristo, quanto de seus apóstolos e antigos profetas é o de que o pecado cria uma divisão abismal, intransponível, entre o homem e o seu Criador. Veja, por exemplo, esta citação do profeta Isaías: “Eis que a mão do Senhor não está encolhida, para que não possa salvar; nem o seu ouvido agravado, para não poder ouvir: mas as vossas iniqüidades fazem divisão entre vós e o vosso Deus: e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Isaías 59:1,2). Mais do que separar, porém, o pecado mata o homem espiritualmente, ou seja, torna impossível o acesso de seu espírito ao Espírito de Deus, que é Vida, é Exuberância, é Plenitude! Sem essa fluência da vida divina para a vida humana, o homem vira um “morto-vivo” em seus sentimentos e vontade. Jesus disse para alguém do povo que pretendia ser seu discípulo e ir enterrar o seu pai: “Deixa aos mortos sepultar os seus mortos” (Mateus 8:21,22). Ele estava se referindo aos parentes e amigos do morto que iriam enterrar o pai do pretendente a discípulo, e que estavam espiritualmente mortos. Este é o quadro mais feio que se pode pintar sobre a situação de distanciamento que o homem vive de Deus, pois se alguém está morto, quer seja física ou espiritualmente falando, não pode evoluir de maneira alguma! O apóstolo Paulo escreveu aos crentes de Éfeso dizendo-lhes: “(Deus) vos vivificou estando vós mortos em ofensas e pecados” (Efésios 2:1). E outra vez para os crentes daquele lugar: “Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará” (Efésios 5:14). Sim, queridos: qualquer pecador que não tenha se arrependido de seus pecados, acertado as contas com o seu próximo e com Deus não pode evoluir em seu espírito, pois quem está morto não pode ir para lugar algum!

A NECESSIDADE DE CONVERSÃO

As Escrituras nunca apregoam que o homem deve ir se convertendo aos pouquinhos até um dia estar plenamente convertido, pois um morto não pode ir vivendo aos pouquinhos até um dia se tornar um vivo, e sim precisa de vida logo, imediatamente, para começar a viver! No momento em que este receber a vida, seja esta débil ou forte, um filete ou uma avalanche, já não importará mais, pois que já estará VIVO! A partir daí, sim, deverá ir se fortalecendo, progredindo, avançando, dia após dia! As Escrituras são enfáticas em anunciar a necessidade de o pecador passar por uma experiência de conversão espiritual a fim de receber nova vida – vida divina, vida crística, vida plena, e, a partir daí, trilhar um caminho de evolução, pois, se é verdade que um morto não pode evoluir, também é verdade que um vivo pode! Jesus disse: “Eu sou a ressurreição e a vida: quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”. Se o prezado leitor encontra-se morto espiritualmente, distante de Cristo, distante de Deus, e sente que agora é o momento de receber VIDA, de começar a trilhar o caminho da verdadeira evolução, então arrependa-se sinceramente de seus pecados e convide a Cristo, o Salvador, para “entrar em seu coração”, ou seja, para penetrar no mais íntimo de seu ser, e limpá-lo de toda transgressão. A seguir, agradeça a Deus por tê-lo salvo e peça a Ele para ajudá-lo a viver todos os dias de maneira nobre, santa, pura. Não poderei descrever o alívio e a sensação de liberdade que o leitor sentirá, pois afinal de contas, o prezado já está preso nestas amarras espirituais a milhares e milhares de anos, mas estou certo, com os meus 25 anos de pastorado, que o prazer que sentirá será imenso, real e indizível!

A EVOLUÇÃO TAMBÉM É NECESSÁRIA

A crença de que a salvação do indivíduo só pode ocorrer mediante a evolução de seu espírito, feita a partir de uma sucessão infinda de reencarnações, não é escrituristicamente correta, pois que este nunca foi e nem nunca será o objetivo da reencarnação. O objetivo da reencarnação, biblicamente falando, é dar a oportunidade ao indivíduo de, em alguma das muitas manifestações de vida que terá, ser confrontado com o Libertador de todas as amarras milenares de sua vida – o nosso Mestre, Senhor e Salvador Jesus Cristo! Ao ser confrontado com o Salvador dos homens, o indivíduo poderá decidir-se pela sua libertação definitiva. Toda a operação de salvação do homem, que envolveu o Cosmo inteiro e demandou a participação direta do próprio Deus, porém, não pode, por si só, pela sua dramaticidade, salvar qualquer indivíduo que seja, se este não o desejar! O ser que precisa da salvação tem que desejar ser salvo e isto não acontece em doses homeopáticas, de evolução em evolução, mas de imediato, instantaneamente, através de uma entrega confiante e total do perdido Àquele que irá salvá-lo! É como uma criança que se lança aos braços do pai de uma altura elevada para se livrar das chamas de um incêndio ou, um nadador que está se afogando e precisa confiar no banhista que dele se aproxima para salvá-lo. Tem de confiar! Tem de se lançar totalmente nos braços de Cristo! Não importa se você chama esse ato de conversão, de novo nascimento ou de outro nome qualquer, pois o que importa é que o indivíduo passe por esta experiência de salvação!

Uma vez salvo, porém, o indivíduo entra em uma segunda fase, uma fase de evolução, mas não evolução do espírito no sentido de aperfeiçoamento deste, de melhora de sua essência, pois o que Cristo operou no íntimo do pecador não pode ser melhorado por ninguém. Sua obra é completa e definitiva. O pecador precisava ter a sua natureza decaída e pecaminosa transformada em uma natureza santa e pura, que sentisse prazer nas coisas de Deus e isto Cristo fez por ele, melhor dizendo, por todos nós. Ele nos transformou em santos a fim de que pudéssemos evoluir em santidade. O novo espírito do salvo precisa evoluir, crescer em conhecimento da vontade de Deus e, o Espírito Santo, como Mestre de Jesus que foi, também nos ajudará a crescer em Deus (2ª Pedro 3:18). Este processo de crescimento em Deus, de distanciamento do mal e de realização de boas obras é conhecido nas Escrituras pelo nome de santificação e só termina quando o indivíduo deixa este mundo em Cristo. Assim aprendemos que somos salvos para evoluir e não evoluímos para sermos salvos. “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus, não vem de obras para que ninguém se glorie. Porque somos feitura sua (de Deus) criados em Cristo Jesus para as boas obras as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:8-10). Somos salvos pela graça de Deus para a prática das boas obras e não por causa delas. Deus não precisa das nossas obras para salvar-nos e sim de nossa fé em seu ato de amor que o levou a oferecer Jesus Cristo por nós.

CONCLUSÃO

Evolução espiritual é apenas para os espiritualmente vivos, para os transformados por Deus, para os atingidos pelo Evangelho de Cristo e não para os que ainda não se converteram de suas maldades, não buscaram o perdão do Senhor, não demonstraram nenhum interesse pelas coisas espirituais, pois se tivessem de evoluir no estado em que se encontram, evoluiriam sim em maldade, em pecado, em transgressão, e aumentariam em muito a sua “carga kármica”. A evolução espiritual é realmente necessária para todos os indivíduos, mas não pode vir antes da conversão, da transformação do pecador em um justo santificado.

“Esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1ª Tessalonicenses 4:3)

“Não nos chamou Deus para a imundícia, mas para a santificação” (1ª Tessalonicenses 4:7)

“Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hebreus 12:14)

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

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