IV. Os Judeus e a Reencarnação

 

 Palestra IV

OS JUDEUS E A REENCARNAÇÃO

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 2012

INTRODUÇÃO

Até aonde pesquisei não encontrei absolutamente nada que pudesse desmentir a crença dos judeus na ressurreição e na reencarnação como métodos utilizados por Deus para trazer uma pessoa de volta à vida. Estas crenças eram tão comuns entre eles como acreditar na existência de Deus ou na sacralidade de sua Lei. As diferenças ficavam por conta dos seus objetivos, mas não de seus resultados que eram os mesmos. Enquanto na ressurreição o espírito do indivíduo retornava ao velho corpo no qual vivera, na reencarnação, o espírito do indivíduo retornava à vida utilizando-se de outro corpo, novinho em folha, recém-gerado, preparado especificamente para ele, EXATAMENTE COMO APREGOA HODIERNAMENTE A DOUTRINA “ESPÍRITA” DA REENCARNAÇÃO! Sei que esta é uma declaração bastante forte, pois não estamos acostumados a ouvir que existam doutrinas ditas “espíritas” dentro das Escrituras Sagradas, ainda mais vindo esta declaração de um Pastor evangélico com 25 anos de ministério, mas entendo que qualquer doutrina que esteja dentro da Bíblia, por mais esquisita e estranha que seja, não deve ser taxada pelo nome do grupo religioso que lhe dá destaque e sim ser reconhecida como uma doutrina bíblica, escriturística, tão inspirada por Deus como as demais!

Com o objetivo de conhecermos mais sobre o assunto, elenquei para o nosso exame algumas passagens do Novo Testamento que, tenho certeza, lançarão mais luz sobre o tema e nos ajudarão a avançar progressivamente em nossa entusiástica, importante, e tão apavorante pesquisa!

CRENÇA DO GOVERNANTE DE ISRAEL NO RETORNO À VIDA

Quando Herodes, rei de Israel, ouviu falar que um homem comum, do povo, estava operando maravilhas em nome de Deus, dentro de seus domínios, logo quis conhecê-lo e saber de quem se tratava, pois seu coração há muito o torturava, trazendo-lhe lembranças perturbadoras sobre coisas ruins que fizera no passado (Mateus 14:1-12 / Marcos 6:14-29 / Lucas 9:7-9). Alguns do povo diziam que Jesus, o homem por quem Deus operava, era um dos antigos profetas que retornara à vida, mas o rei estava convencido de que isto não era verdade, e sim que João Batista, o profeta que ele havia mandado degolar por tê-lo acusado de cometer adultério com a mulher de seu próprio irmão é que ressuscitara! A lógica empregada pelo rei para esta sua crença era muito simples; apenas João havia feito coisas extraordinárias durante o seu governo e, se coisas extraordinárias voltaram a acontecer em seus territórios, era porque o espírito de João Batista voltara a assumir o seu velho corpo martirizado e decapitado a fim de dar continuidade ao seu ministério! Claro que o rei podia mandar matá-lo outra vez ou esperar que João viesse a morrer novamente, pois não há homem que viva para sempre e João, com toda certeza, tornaria a morrer. A declaração de Herodes sobre o retorno de João à vida serve para revelar quão abrangente e difundida era a crença dos judeus na continuação da vida após a morte, pois até nos paços reais esta se fazia presente!

Bom é que se frise aqui que Herodes não conhecia a Jesus pessoalmente e também não acreditava ser Jesus algum profeta ressuscitado. Esta era a crença do povo, não a do rei, o que nos livra de afirmar erroneamente que Herodes acreditava na reencarnação. Como costumo dizer: “Não precisamos forçar o texto bíblico a dizer o que ele não diz, nem a ir até onde ele não vai”. Se a reencarnação for realmente uma doutrina bíblica, então a própria Bíblia se encarregará de mostrá-la. Se não, então não lograremos êxito em nossa missão, pois estaremos laborando encima de algo inexistente.

Por não ser a pretendida ressurreição de João a ressurreição final, definitiva, como esperada pelos santos hebreus, visto não alterar as propriedades do corpo físico capacitando-o a viver eternamente e sim uma ressurreição parcial, temporária, na qual o indivíduo ressuscitado tornaria a morrer, ela deveria ser mais corretamente nomeada como revivificação ou ressuscitação para diferenciá-la da ressurreição verdadeira.

O único homem em toda a história da humanidade que ressuscitou, de fato, foi Jesus Cristo! Todos os demais casos de ressurreição relatados na Bíblia foram, na realidade, casos de revivificação ou ressuscitação. Apenas Cristo reassumiu o seu corpo morto, ferido, martirizado e entrou com ele em estado de imortalidade e de perfeição biológica. Seu novo / velho corpo possuía agora capacidade regenerativa, podia entrar e sair de qualquer lugar do universo e agüentar a presença majestosa de Deus Pai! Por ter assumido carne novamente dizemos que Jesus “re-encarnou”. Por ter reassumido o mesmo corpo com o qual morrera e entrado com este em estado de imortalidade e perfeição biológica, dizemos que Ele “ressuscitou”. Todos os indivíduos que ressuscitaram na Bíblia, incluindo o próprio Cristo, por terem assumido carne novamente, “re-encarnaram”.

Por conhecerem bem estes fatos acerca da ressurreição, a única ressurreição / reencarnação desejada ardentemente pelos justos, por ser diferenciada das demais e considerada a mais excelente entre todas, era a ressurreição final, visto depois desta não ser mais possível “re-encarnar”. A ressurreição final era também a “re-encarnação” final! (Filipenses 3:8-14 / Hebreus 11:35).

CRENÇA DO POVO JUDEU NO RETORNO À VIDA

Nos textos em que Jesus aparece perguntando aos seus discípulos quem o povo achava ser Ele, algumas respostas importantes foram dadas e servirão de base para o nosso estudo sobre a crença dos judeus no fenômeno da reencarnação. Outras passagens bíblicas serão trazidas em nosso auxílio e, ao final conheceremos um pouco mais sobre as possibilidades e meios cridos pelo povo judeu para o retorno de um morto à vida.

Alguns do povo afirmavam ser Jesus:

  • João Batista (Mateus 16:14 / Marcos 8:28 / Lucas 3:15 / 9:7,19);

  • Elias (Mateus 16:14 / Marcos 8:28 / Lucas 9:8,19);

  • Jeremias (Mateus 16:14);

  • Um dos profetas antigos que havia ressuscitado (Mateus 16:14 / Marcos 8:28 / Lucas 9:8,19);

  • Um novo profeta (Marcos 6:15);

  • O Filho do Deus Vivo, segundo declaração isolada de Pedro, um dos discípulos do Cristo (Mateus 16:16 / Marcos 8:29 / Lucas 9:20).

Examinando destacadamente cada uma das opiniões do povo sobre o Cristo, temos que Jesus só poderia ser confundido com JOÃO BATISTA considerando-se duas situações:

a) se alguns do povo não tivessem conhecido pessoalmente a Jesus e não soubessem também que João já havia morrido, o que seria algo muitíssimo improvável, dado o sepultamento público do corpo de João por seus discípulos que, por aquele tempo, alcançava alguns milhares em todo o Israel (Mateus 3:1,5 / Marcos 1:4,5 / Lucas 3:2,3 / João 1:28);

b) se eles tivessem conhecido a João e a Jesus e tivessem também conhecimento da morte de João. Eles então poderiam acreditar que João ressuscitara dos mortos e continuava o seu ministério no corpo de Jesus. Considerando que a mor parte do povo conhecera a João pessoalmente e outros, de ouvirem nele falar, dada a sua pregação espetacular e abrangente que durara cerca de um ano e meio e, considerando também, que praticamente todo o Israel conhecera a Jesus, cuja fama ultrapassava as fronteiras de seu país (Mateus 4:23-25 / Lucas 6:17), o afirmar ser Jesus, o profeta batizador, redivivo do deserto, era o mesmo que declarar a crença de alguns do povo na transmigração da alma, ou seja, na passagem da alma de um corpo para outro, quer estivesse este corpo morto ou vivo, para dar continuidade a sua missão. Segundo esta concepção bastante estranha, é verdade, o espírito de João adentrara no corpo adulto de Jesus e, em convivência pacífica com o espírito deste, voltara a desenvolver o seu ministério, sobrepondo-se ao espírito de Cristo.

Apesar desta crença parecer mais um relato de possessão do que qualquer outra coisa que já tenhamos visto, diferençava daquela por ser um espírito humano a adentrar e a conviver pacificamente com outro espírito humano e isto em um único corpo também humano. Apesar de toda estranheza que tal crença nos causa, era perfeitamente plausível no imaginário judeu, visto os judeus não acreditarem mesmo que Jesus fosse o Messias prometido dada a sua atuação pacífica, serena, espiritual, e não guerreira, violenta, conquistadora, como imaginavam que devia ser a ação do Ungido de Deus. Observe que, de todas as respostas dadas pelo povo nenhuma afirmava ser Jesus, o Ungido de Deus.

Muitos do povo e dos religiosos diziam também que Jesus era o profeta ELIAS. Se lermos apenas os textos de Mateus 16:14, de Marcos 8:28, e o de Lucas 9:19, seremos levados ao engano de que Jesus era de fato Elias ressuscitado. Contudo, Lucas tem o cuidado de dizer no capítulo 9:8 que muitos criam que Elias “tinha aparecido”, o que é diferente de dizer que ele havia ressuscitado, já que para haver ressurreição, tem que ter havido morte. Lucas estava dizendo que alguns do povo criam que Elias passara um tempo oculto da vista do povo, um tempo sem ter sido visto por ninguém, desaparecido do olhar dos populares, mas que agora, se manifestara corporalmente em Israel. A questão que se levanta é: se Jesus era o profeta Elias, que havia sido arrebatado ao céu e agora estava operando maravilhas em Israel, de quem seria Ele precursor, já que Jesus mesmo era o Messias tão aguardado de todos? Outra questão interessante a ser deduzida é a evidente crença do povo de que um santo poderia sair do “céu” (na época, “Seio de Abraão”) e vir à terra para dar continuidade a sua missão, coisa que, aliás, Jesus já deixara em aberto na parábola do rico e Lázaro (Lucas 16:19-31).

Com relação a ser Jesus JEREMIAS ou UM DOS ANTIGOS PROFETAS, temos de considerar que o povo só conhecia esses “antigos profetas” pelos registros sagrados, pois que estes profetas haviam vivido há muito tempo atrás e os corpos de alguns deles talvez já nem existissem mais. Seus espíritos eram muito “velhos”, muito “antigos”, muito “anosos”, cronologicamente falando, claro. O mais recente desses profetas, Malaquias, vivera cerca de 400 anos antes do nascimento de Cristo. Jeremias, que aqui é citado como exemplo, morrera quase 600 anos antes de Jesus nascer. Juntamente com Elias, era considerado um dos principais profetas em Israel. Uma lenda dizia que quando o templo fora destruído Jeremias escondera o tabernáculo, a arca e o altar do incenso em uma cova no Monte Pisga e que em tempo futuro, ele mesmo apareceria para restaurar esses objetos sagrados. Alguns rabinos sustentavam que Jeremias era o profeta predito por Moisés em Deuteronômio 18:15, tamanha a sua consideração entre o povo.

Fosse Jesus também mais UM PROFETA, como diziam alguns do povo que Ele era, e isto não seria problema algum, pois Israel sempre fora a terra das revelações de Deus e dos mais poderosos e valorosos profetas que já surgiram no mundo. O problema ficava por conta de ter sido o Mestre considerado João Batista, Elias, ou um dos antigos profetas ressuscitados, pois que isto traz para nós, estudiosos modernos, enormes implicações e complicações, como veremos a seguir:

Caso Jesus fosse um dos antigos profetas ressuscitado, no sentido de ser Ele um dos profetas que voltara da morte e reassumira o velho corpo com o qual vivera, e teríamos enormes problemas a resolver, como por exemplo, os relacionados à sua origem, pois Jesus nascera em Belém (Lucas 1:4-7), do ventre de uma virgem (Lucas 1:26-38), como um pequeno bebe (Lucas 2:10-12,21 / 11:27), e sua família era muitíssima conhecida de todos (Marcos 6:1-3 / Mateus 12:46-50). Qualquer profeta antigo que ressuscitasse teria que reassumir a sua existência a partir do corpo com o qual morrera e que por esta ocasião poderia se constituir apenas de uma ossada enterrada em um antigo cemitério ou em outro lugar qualquer e talvez nem mais existisse, pois o profeta entrava em seu ministério já como um homem adulto, maduro, visto a Lei preconizar que o ministro do Senhor só poderia assumir o seu ministério público a partir dos trinta anos de idade (Números 4:3 / Lucas 3:23). Ele teria de se dirigir para o local que fora a sua antiga comunidade, para o grupo familiar a que pertencera, e que por esta ocasião, também talvez nem mais existisse! Como poderia, pois, Jesus ser um dos antigos profetas ressuscitado?

NÃO PODERIA! Salvo se o povo judeu considerasse todo e qualquer retorno à vida como sendo uma ressurreição! Então, o espírito que estava residindo no corpo de Jesus poderia ser sim o espírito de um dos antigos profetas que vivera em Israel! Mas então isto já não seria mais uma ressurreição, como a conhecemos biblicamente, e sim uma reencarnação! POIS ERA EXATAMENTE ISTO O QUE ACONTECIA! Observe que os judeus chamaram a ressuscitação de João Batista de ressurreição (Lucas 9:7-9); chamaram também, e corretamente, a ressurreição de Jesus de ressurreição (Mateus 27:63-64); e, chamaram, ainda, o que acreditavam ser a manifestação do espírito de um antigo profeta no corpo de Jesus Cristo de ressurreição (Lucas 9:18,19)! AH! AGORA NÓS TEMOS O ENTENDIMENTO! Agora nós sabemos porque a palavra reencarnação não aparece na Bíblia! É porque os judeus incluíam em seu conceito de ressurreição, as ressuscitações ou ressurreições parciais; a ressurreição definitiva, como acontecida com o Cristo; e, ainda, as reencarnações, como acreditavam ser Jesus e João Batista! O que é isto senão a mais pura expressão de uma crença popular em um assunto de religião?

A declaração feita pelo apóstolo Pedro sobre ser Jesus O CRISTO ENVIADO DE DEUS para operar a nossa salvação foi a única aceita pelo Cristo como sendo a correta. Não que as outras declarações fossem falsas ou que tratassem de coisas inexistentes, pois como vimos, a ressuscitação de mortos era uma real possibilidade, tendo acontecida várias vezes no Antigo Testamento e tendo sido operada inclusive pelo próprio Jesus, mas sim que, no caso do Mestre, aquelas outras declarações não eram aplicáveis. O foco de Jesus estava em saber se os seus discípulos haviam se apercebido de quem Ele era de fato e não em quem o povo dizia ser Ele, pois os discípulos seriam os perpetuadores da proclamação do Evangelho e deveriam ter a exata percepção sobre quem era Jesus.

Resumindo então a crença do povo judeu no retorno da alma à vida física, temos que esta incluía quatro aspectos:

  • o retorno da alma do indivíduo ao mesmo corpo com o qual vivera e morrera para viver um pouco mais e tornar a morrer (revivificação ou ressuscitação);

  • o retorno da alma do indivíduo ao mesmo corpo com o qual vivera e morrera para viver para sempre e nunca mais morrer (ressurreição);

  • o ingresso da alma do indivíduo em outro corpo que não o dele, já vivido, já crescido, para convivência pacífica com outro espírito (transmigração);

  • o retorno da alma do indivíduo para habitar outro corpo novinho em folha, recém-gerado, recém-criado (reencarnação).

Quando Jesus pois falou sobre ressurreição, na parábola do rico e Lázaro, através de Abraão (vs 30,31), falou de algo que podia incluir tanto a ressuscitação, como a ressurreição, propriamente dita, e ainda a reencarnação, visto todos esses fenômenos possuírem amparo bíblico e serem chamados por um só termo nas Escrituras Sagradas!

CONCLUSÃO

Na próxima palestra examinaremos qual a posição dos discípulos de Jesus acerca do fenômeno da reencarnação, visto serem eles também pessoas comuns do povo que traziam em seus corações as crenças dos demais cidadãos sobre a continuidade da vida após a morte e no retorno de um morto à vida.

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.