VII. Cristo e a Reencarnação

 

Palestra VII

CRISTO E A REENCARNAÇÃO

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 2012

INTRODUÇÃO

Estou absolutamente ciente de que, por mais que eu tenha demonstrado, através de inúmeros textos bíblicos, a realidade da reencarnação como doutrina bíblica, escriturística, divinamente inspirada, e a necessidade de a incorporarmos aos nossos sistemas de interpretação a fim de conseguirmos harmonizar passagens e relatos que, sem ela, continuarão sendo contraditórios ou permanecerão sem nenhum sentido, alguns de meus diletos leitores estão pensando: “Gostaria mesmo era de ver o Pastor Olívio falando sobre o que o Senhor Jesus ensinou sobre a reencarnação, pois falar sobre o que o povo acreditava é fácil, pois o povo acredita mesmo em tudo que se lhe diga”. Sabe de uma coisa? O meu prezado leitor está com a razão em pensar assim e em fazer tal reivindicação, pois sendo Jesus a maior autoridade espiritual que já pisou neste planeta, qualquer revelação que Ele tenha feito sobre o mundo espiritual se reveste de importância extrema e se torna em diretriz e coluna para a nossa fé. Nesta palestra espero reforçar o ensinamento de que a doutrina das vidas sucessivas não era uma crença ridícula e fantasiosa do povo comum, guias religiosos e autoridades governamentais de Israel, como proclamam alguns, mas sim um dos métodos de retorno do indivíduo à vida física, criado pelo próprio Deus e aceita e ensinada pelo próprio Filho do Altíssimo!

POSTURA DO CRISTO DIANTE DO FENÔMENO DA REENCARNAÇÃO

Vamos examinar neste estudo alguns textos envolvendo diretamente a pessoa do Senhor Jesus com a questão da reencarnação, mas, desde logo, gostaria de enfatizar que o Mestre Jesus nunca contraditou a crença de seu povo na reencarnação! Quando seus discípulos lhe comunicaram quem o povo acreditava ser Ele, não rejeitou nem aceitou explicitamente nenhuma das declarações que lhes foram trazidas, mas perguntou a seus discípulos quem eles  achavam ser Ele, pois que era neles que Ele estava interessado. Afinal de contas, os discípulos seriam os perpetuadores de sua mensagem redentora e se tornariam as futuras colunas de sua igreja. Jesus sabia, tanto quanto os seus discípulos, que nenhum daqueles personagens apontados pelo povo para explicar quem Ele era estava correto, pois o Mestre não era nem João Batista, nem Elias, nem um profeta novo que havia surgido entre o povo ou, ainda, algum dos profetas antigos que ressuscitara, mas o Filho do Deus Vivo enviado para salvar a humanidade. Eles sabiam também (Jesus e os discípulos) que a crença do povo nos fenômenos apontados (ressurreição, revivificação e reencarnação) estava correta e bem fundamentada em suas Escrituras Sagradas, conforme demonstrei na lição anterior.

O CEGO DE NASCENÇA

Além de nunca ter contraditado a crença de seu povo nas vidas pretéritas Cristo também endossou a crença de seus discípulos nas mesmas! O registro do cego de nascença, encontrado no Evangelho de João 9, é apenas um dos vários textos que confirmam essa crença. Muitos gostam de dizer apressadamente que Jesus nunca apoiou a crença na reencarnação, nem nesta, nem em qualquer outra passagem bíblica que seja, e assim deixam de perceber duas coisas deveras importantes: 1ª) que só o fato de os discípulos terem questionado a Jesus considerando a cegueira de nascença daquele homem como um possível caso de reencarnação já demonstrava a crença deles em tal fenômeno; 2ª) que o fato de Cristo tê-los respondido sem descartar a reencarnação como uma possibilidade espiritual de retorno à vida, não só comprovava a realidade daquela, como ainda endossava a crença de seus discípulos naquele ensino!

Observe que o Cristo dissera que aquele homem não viera limitado na visão desde o ventre de sua mãe por um pecado que houvesse cometido em uma vida anterior e, nem ainda, por algum pecado cometido por seus pais na vida presente, mas que naquele caso -, especificamente naquele caso -, ele viera cego “para que nele se manifestassem as obras de Deus” (v.3). Não falasse Jesus assim e pensaríamos que todos os indivíduos que nascem cegos nascem sem a visão “para que neles se manifestem as obras de Deus”, o que não é verdade. Com a resposta que dera a seus discípulos o Mestre Jesus estava confirmando para eles que uma pessoa podia vir sim a este mundo com uma deficiência física por ter cometido um pecado em uma vida anterior ou, ainda, por algum pecado cometido na vida presente por seus pais, só que naquele caso, felizmente, nenhuma dessas duas possibilidades era aplicável, pois que o homem nascera cego, “para que nele se manifestassem as obras de Deus”, o que de fato aconteceu, com a sua cura e a salvação de alguns.

O EVENTO DA TRANSFIGURAÇÃO

O evento ocorrido no Monte da Transfiguração, conforme relatado nos Evangelhos de Mateus 17:1-13, de Marcos 9:2-13 e de Lucas 9:28-36, e já analisado por mim em palestras anteriores, também mostra que o Cristo aceitava e endossava a crença de seus discípulos na reencarnação. Ao verem o Mestre Jesus conversando com Moisés e Elias, os discípulos perguntaram-lhe como aquilo seria possível visto os rabinos ensinarem que Elias viria em pessoa do céu e ungiria o Messias como o rei de Israel. Cristo então lhes afirmou que Elias já tinha vindo e ungido o Messias publicamente, mas que ninguém o reconhecera por ter vindo ele em outro corpo. Tendo os discípulos conhecido a Elias no Monte da Transfiguração e também a João, de quem eram seguidores, sabiam que ambos eram diferentes fisionomicamente. Sabiam também que a única vez que Jesus fora ungido fora no deserto, por ocasião de seu batismo, e que não fora Elias quem o batizara ou o ungira, mas sim João Batista! O texto diz que os discípulos entenderam a explicação dada por Jesus sobre o fenômeno e encerraram ali mesmo a discussão. Afinal de contas não era coisa difícil para eles acreditarem na reencarnação, porquanto era um fenômeno comum, de domínio público e absolutamente fundamentado em suas Escrituras Sagradas. Outra coisa é que era o próprio Cristo, o Filho do Deus Vivo, quem estava lhes revelando toda a trama daquela situação! Caso Ele estivesse mentindo e seria o maior mentiroso de todos os tempos, maior mesmo que Lúcifer, como observei na palestra anterior, e não poderia jamais operar a nossa salvação! Elias e João Batista eram, de fato, a mesma pessoa e isto não era apenas uma questão de “semelhança de ministérios”, de “semelhança de ofícios”, como querem nos fazer crer alguns, pois que “semelhança de ministérios” é apenas uma das maneiras que temos de identificar uma repetição de vidas, uma nova encarnação!

ENDOSSO DO CRISTO ÁS DOUTRINAS CONTIDAS NO FENÔMENO DA REENCARNAÇÃO

Ao referendar Jesus a crença do povo e de seus discípulos nas vidas sucessivas estava também referendando tudo o quanto se encontra envolvido em tal processo, como seja:

  • A pré-existência do espírito – se um espírito vai se encarnar em vários corpos, sucessivamente, então este espírito necessariamente já terá de pré-existir, pois os corpos é que são mutáveis, transitórios, perecíveis, e não o espírito, que é permanente. (Gênesis 25:19-26 / 38:27-30 / Jeremias 1:5). Segundo a revelação de Jesus, o corpo de João Batista fora preparado para receber o espírito pré-existente de Elias;

  • Os vários ciclos de renascimento – se alguém experimenta a reencarnação é porque já viveu pelo menos um ciclo anterior de vida na qual não conseguiu quitar todas as suas dívidas morais. Não sabemos precisar quantas vezes o espírito que esteve em Elias se encarnou ao longo de toda a sua existência, mas sabemos que ele se encarnou uma vez mais como João Batista;

  • A morte humana como uma sentença universal – se um espírito vai se encarnar pela primeira vez, não conhecerá ainda o processo da morte, mas se vai se reencarnar em outro indivíduo, então, necessariamente terá que ter experimentado a morte física. Pela declaração de Jesus de que Elias se reencarnara em João, entendemos que Elias morrera como qualquer um de nós (João 3:13 / Hebreus 9:27 / Romanos 3:23 / 6:23);

  • Um débito não quitado sentencia o devedor a retornar à vida física – isto é o que chamamos de “Karma”. Todos os que estão vivendo atualmente neste planeta, incluindo eu e você, estão pagando por algum débito não quitado, uma dívida moral não saldada (Mateus 5:21-26 / 18:23-35 / Lucas 12:43-48). Isto significa dizer que não existem inocentes no planeta Terra;

  • A história de Karma de cada um determina a qualidade de sua reencarnação – Tudo o que foi semeado na encarnação anterior, quer seja de bom ou de ruim, vai ser colhido na encarnação posterior (Gálatas 6:7). Do ponto de onde o indivíduo parou, vai recomeçar. Elias mandara matar muitos homens à espada e agora, em João, seria também morto pela espada. Colhera na vida presente os frutos de sua encarnação passada.

Muitos têm afirmado não crer na doutrina da reencarnação e em todo o leque de ensinos que a acompanham, por não ter (segundo eles) o Cristo ensinado claramente essas doutrinas. Outros têm dito que os apóstolos não a ensinavam àqueles que se tornaram seus discípulos e nem a proclamavam ao povo quando pregavam o Evangelho, o que deveria acontecer se a reencarnação fosse uma doutrina verdadeira e bíblica. Que me perdoem os meus diletos leitores que assim pensam, pois, até onde eu sei, dizer que uma pessoa voltou à vida assumindo outro corpo, totalmente novo, diferente do anterior; revelar quem eram as pessoas, antiga e atual, envolvidas em tal situação; dizer que a pessoa antiga “morreu”, quando todos criam que estava viva no céu; anunciar o que esta pessoa fez e que a revelava como sendo a antiga pessoa; colocar “em cheque” a sua própria reputação de pessoa ilibada e Filho do Altíssimo por ter feito tais declarações; não corrigir a crença de seus discípulos, dos rabinos de Israel e do povo de que a reencarnação era um fenômeno possível e comum quando poderia fazê-lo, caso eles estivessem errados, não só é endossar, como ensinar e revelar muito mais ainda sobre a doutrina da reencarnação!

A REVELAÇÃO POR CRISTO DE UM IMENSO GRUPO DE ESPÍRITOS REENCARNANTES

Entendo que o Cristo não tinha nenhuma obrigação ou necessidade de ensinar qualquer coisa que já fosse do senso comum, do domínio popular, e cujas Escrituras estivessem repletas de tal ensinamento, como acontecia com a doutrina da reencarnação. O que o Cristo poderia fazer e fez de maneira espetacular e inovadora, visto ninguém ainda ter conseguido fazer, foi detectar, com precisão, a existência, não só de uma pessoa, mas de um enorme grupo Kármico, constituído de milhares e milhares de indivíduos que, após cerca de novecentos anos de vida na terra, estava agora se manifestando outra vez, se reencarnando como outras pessoas e tendo a oportunidade de viverem tudo novamente! Você ficou assombrado com isto? Nunca ouviu ninguém falar dessa “baboseira”? Pois foi exatamente o que o Cristo fez ao declarar que João Batista era Elias reencarnado!

O sábio rei Salomão já havia ensinado em Eclesiastes 1:4-11 sobre o movimento das gerações: “Uma geração vai e outra geração vem; mas a terra permanece para sempre”, dizia ele. Uma geração é muito mais que um indivíduo ou que um grupo de muitas pessoas e sim um composto social, com vários grupos de pessoas, todos vivenciando um mesmo momento histórico. Isto era o mesmo que dizer que ninguém reencarna sozinho, mas coletivamente, em blocos de gerações. Ao revelar Jesus que João possuía o mesmo espírito que vivera em Elias direcionou o olhar de todos sobre as pessoas que também viveram no tempo do antigo profeta e que agora estavam revivendo ao tempo do Precursor João! O que os seus ouvintes viram e nós também vimos é algo tão fantástico, tão extraordinário, que só pode nos levar a glorificar a Deus!

  • Acabe, o rei de Israel ao tempo do profeta Elias reencarnara-se como Herodes, também rei de Israel, no tempo do profeta João;

  • Jezabel, mulher do rei Acabe, reencarnara-se como Herodias, mulher de Herodes;

  • Atália, filha do rei Acabe e de Jezabel, reencarnara-se como Salomé, filha do rei Herodes e de Herodias;

  • Os sacerdotes idólatras do tempo do rei Acabe se reencarnaram como os sacerdotes e fariseus do tempo de Jesus;

  • O povo reticente do tempo de Elias reencarnara-se como o povo reticente do tempo de João e de Jesus (1º Reis 17,18,19 – Mateus 14:1-12);

  • O profeta austero de nome Elias, que fora o pivô de toda aquela história, se reencarnara também como o profeta austero de nome João!

Sim, o rei Salomão estava absolutamente certo ao falar do “ir e devir” das gentes, do fluxo interminável e constante das gerações! O Mestre Jesus, como Filho de Deus Encarnado que era, também estava certo ao falar do lugar / condição chamado Gehena, no qual os devedores entravam e saíam para pagamento de suas dívidas! (Mateus 5:21-26). Devemos, pois, ficar atentos as pessoas que fazem parte de nossos grupos sociais (família, escola, trabalho, igreja, vizinhança, partidos políticos, agremiações, etc.) e nas maneiras como podemos interferir beneficamente em suas vidas, bem como no aproveitamento das boas oportunidades que se nos apresentarem para saldarmos as nossas dívidas Kármicas. Todos temos relações Kármicas com todos!

Até a manifestação de Cristo, ninguém de seu povo, conseguira detectar com segurança, um caso de reencarnação, apesar de conhecerem bem as condições necessárias para isto vir a acontecer e os indícios de um renascimento, como veremos em outra oportunidade. Apenas o Cristo, como Filho de Deus a nós enviado, poderia com sua verdade e conhecimento pleno do mundo espiritual, nos demonstrar, com total exatidão, “quem se reencarnara em quem”. As conseqüências dessa detecção de Cristo são tão profundas, tão impactantes em nossas vidas que tornam quase impossível alguém tomar conhecimento delas e continuar incrédulo, reticente, obstinado em aceitar o fenômeno das vidas sucessivas.

ENTRANDO E SAINDO DA GEHENA – A RODA KÁRMICA DA EXISTÊNCIA

O texto de Mateus 5:21-26, a exemplo dos outros citados nos três Evangelhos sobre a Transfiguração, quase não tem sido também proclamado de nossos púlpitos e tribunas visto conter idéias bastante estranhas e não tão fáceis de serem detectadas. Ele diz assim: “Ouvistes que foi dito aos antigos: não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo, e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno. Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial (meirinho), e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil”.

Se você leu com atenção estes versículos deve estar se perguntando: “O que? Um indivíduo pode sair do inferno, após ter pago o seu último ceitil? Mas o inferno não é eterno? Como então pode sair de lá? Este inferno é o mesmo apregoado pelos rabinos, sacerdotes e pastores, ou será que existem outros infernos? Quantas vezes uma pessoa pode entrar e sair deste inferno apregoado por Jesus? Como é que o indivíduo sai de lá? Se devido a uma coisa minúscula como chamar alguém de “louco”, uma pessoa pode ser “lançada” em tal prisão e lá ficar sofrendo até pagar “o último ceitil” e todos nós cometemos pecados muitíssimo maiores que este, quererá isto dizer que todos nós seremos lançados nela? Todos os pecados possuem o mesmo peso, a mesma gravidade, ou quem chama alguém de “louco” tem uma pena menor do que a de um assassino?”

Como meu leitor pode ver, as derivações teológicas de tais versículos são muitas. O ensino bíblico é que se o indivíduo morre com dívidas morais – ainda que seja um crente – deverá retornar a vida para poder quitá-las com quem as assumiu. Se, contudo, for liberado em vida, passará a experimentar já o céu de glória e não precisará reencarnar mais. Falarei mais sobre isto nas palestras subseqüentes, mas o leitor que tem examinado meus outros artigos, já se inteirou bem de como acontece toda esta trama bíblica.

UMA ILUSTRAÇÃO DE NOSSA VIDA ESPIRITUAL

Há ainda mais um texto lindo no Evangelho de Mateus, capítulo 20:1-16, intitulado “A Parábola dos Trabalhadores e das Diversas Horas do Trabalho”, apregoada pelo Mestre Jesus, que revela de forma figurada, metafórica, ilustrativa, todas as verdades espirituais implícitas no processo da reencarnação. Não poderei esmiuçá-la aqui, tendo em vista a narrativa ser longa e a sua explicação também, mas caso seja do interesse do meu prezado leitor conhecer sua interpretação, ela se encontra detalhada no meu livro, disponibilizado neste site.

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.