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IV. Os Judeus e a Reencarnação

 

 Palestra IV

OS JUDEUS E A REENCARNAÇÃO

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em abril de 2012

INTRODUÇÃO

Até aonde pesquisei não encontrei absolutamente nada que pudesse desmentir a crença dos judeus na ressurreição e na reencarnação como métodos utilizados por Deus para trazer uma pessoa de volta à vida. Estas crenças eram tão comuns entre eles como acreditar na existência de Deus ou na sacralidade de sua Lei. As diferenças ficavam por conta dos seus objetivos, mas não de seus resultados que eram os mesmos. Enquanto na ressurreição o espírito do indivíduo retornava ao velho corpo no qual vivera, na reencarnação, o espírito do indivíduo retornava à vida utilizando-se de outro corpo, novinho em folha, recém-gerado, preparado especificamente para ele, EXATAMENTE COMO APREGOA HODIERNAMENTE A DOUTRINA “ESPÍRITA” DA REENCARNAÇÃO! Sei que esta é uma declaração bastante forte, pois não estamos acostumados a ouvir que existam doutrinas ditas “espíritas” dentro das Escrituras Sagradas, ainda mais vindo esta declaração de um Pastor evangélico com 25 anos de ministério, mas entendo que qualquer doutrina que esteja dentro da Bíblia, por mais esquisita e estranha que seja, não deve ser taxada pelo nome do grupo religioso que lhe dá destaque e sim ser reconhecida como uma doutrina bíblica, escriturística, tão inspirada por Deus como as demais!

Com o objetivo de conhecermos mais sobre o assunto, elenquei para o nosso exame algumas passagens do Novo Testamento que, tenho certeza, lançarão mais luz sobre o tema e nos ajudarão a avançar progressivamente em nossa entusiástica, importante, e tão apavorante pesquisa!

CRENÇA DO GOVERNANTE DE ISRAEL NO RETORNO À VIDA

Quando Herodes, rei de Israel, ouviu falar que um homem comum, do povo, estava operando maravilhas em nome de Deus, dentro de seus domínios, logo quis conhecê-lo e saber de quem se tratava, pois seu coração há muito o torturava, trazendo-lhe lembranças perturbadoras sobre coisas ruins que fizera no passado (Mateus 14:1-12 / Marcos 6:14-29 / Lucas 9:7-9). Alguns do povo diziam que Jesus, o homem por quem Deus operava, era um dos antigos profetas que retornara à vida, mas o rei estava convencido de que isto não era verdade, e sim que João Batista, o profeta que ele havia mandado degolar por tê-lo acusado de cometer adultério com a mulher de seu próprio irmão é que ressuscitara! A lógica empregada pelo rei para esta sua crença era muito simples; apenas João havia feito coisas extraordinárias durante o seu governo e, se coisas extraordinárias voltaram a acontecer em seus territórios, era porque o espírito de João Batista voltara a assumir o seu velho corpo martirizado e decapitado a fim de dar continuidade ao seu ministério! Claro que o rei podia mandar matá-lo outra vez ou esperar que João viesse a morrer novamente, pois não há homem que viva para sempre e João, com toda certeza, tornaria a morrer. A declaração de Herodes sobre o retorno de João à vida serve para revelar quão abrangente e difundida era a crença dos judeus na continuação da vida após a morte, pois até nos paços reais esta se fazia presente!

Bom é que se frise aqui que Herodes não conhecia a Jesus pessoalmente e também não acreditava ser Jesus algum profeta ressuscitado. Esta era a crença do povo, não a do rei, o que nos livra de afirmar erroneamente que Herodes acreditava na reencarnação. Como costumo dizer: “Não precisamos forçar o texto bíblico a dizer o que ele não diz, nem a ir até onde ele não vai”. Se a reencarnação for realmente uma doutrina bíblica, então a própria Bíblia se encarregará de mostrá-la. Se não, então não lograremos êxito em nossa missão, pois estaremos laborando encima de algo inexistente.

Por não ser a pretendida ressurreição de João a ressurreição final, definitiva, como esperada pelos santos hebreus, visto não alterar as propriedades do corpo físico capacitando-o a viver eternamente e sim uma ressurreição parcial, temporária, na qual o indivíduo ressuscitado tornaria a morrer, ela deveria ser mais corretamente nomeada como revivificação ou ressuscitação para diferenciá-la da ressurreição verdadeira.

O único homem em toda a história da humanidade que ressuscitou, de fato, foi Jesus Cristo! Todos os demais casos de ressurreição relatados na Bíblia foram, na realidade, casos de revivificação ou ressuscitação. Apenas Cristo reassumiu o seu corpo morto, ferido, martirizado e entrou com ele em estado de imortalidade e de perfeição biológica. Seu novo / velho corpo possuía agora capacidade regenerativa, podia entrar e sair de qualquer lugar do universo e agüentar a presença majestosa de Deus Pai! Por ter assumido carne novamente dizemos que Jesus “re-encarnou”. Por ter reassumido o mesmo corpo com o qual morrera e entrado com este em estado de imortalidade e perfeição biológica, dizemos que Ele “ressuscitou”. Todos os indivíduos que ressuscitaram na Bíblia, incluindo o próprio Cristo, por terem assumido carne novamente, “re-encarnaram”.

Por conhecerem bem estes fatos acerca da ressurreição, a única ressurreição / reencarnação desejada ardentemente pelos justos, por ser diferenciada das demais e considerada a mais excelente entre todas, era a ressurreição final, visto depois desta não ser mais possível “re-encarnar”. A ressurreição final era também a “re-encarnação” final! (Filipenses 3:8-14 / Hebreus 11:35).

CRENÇA DO POVO JUDEU NO RETORNO À VIDA

Nos textos em que Jesus aparece perguntando aos seus discípulos quem o povo achava ser Ele, algumas respostas importantes foram dadas e servirão de base para o nosso estudo sobre a crença dos judeus no fenômeno da reencarnação. Outras passagens bíblicas serão trazidas em nosso auxílio e, ao final conheceremos um pouco mais sobre as possibilidades e meios cridos pelo povo judeu para o retorno de um morto à vida.

Alguns do povo afirmavam ser Jesus:

  • João Batista (Mateus 16:14 / Marcos 8:28 / Lucas 3:15 / 9:7,19);

  • Elias (Mateus 16:14 / Marcos 8:28 / Lucas 9:8,19);

  • Jeremias (Mateus 16:14);

  • Um dos profetas antigos que havia ressuscitado (Mateus 16:14 / Marcos 8:28 / Lucas 9:8,19);

  • Um novo profeta (Marcos 6:15);

  • O Filho do Deus Vivo, segundo declaração isolada de Pedro, um dos discípulos do Cristo (Mateus 16:16 / Marcos 8:29 / Lucas 9:20).

Examinando destacadamente cada uma das opiniões do povo sobre o Cristo, temos que Jesus só poderia ser confundido com JOÃO BATISTA considerando-se duas situações:

a) se alguns do povo não tivessem conhecido pessoalmente a Jesus e não soubessem também que João já havia morrido, o que seria algo muitíssimo improvável, dado o sepultamento público do corpo de João por seus discípulos que, por aquele tempo, alcançava alguns milhares em todo o Israel (Mateus 3:1,5 / Marcos 1:4,5 / Lucas 3:2,3 / João 1:28);

b) se eles tivessem conhecido a João e a Jesus e tivessem também conhecimento da morte de João. Eles então poderiam acreditar que João ressuscitara dos mortos e continuava o seu ministério no corpo de Jesus. Considerando que a mor parte do povo conhecera a João pessoalmente e outros, de ouvirem nele falar, dada a sua pregação espetacular e abrangente que durara cerca de um ano e meio e, considerando também, que praticamente todo o Israel conhecera a Jesus, cuja fama ultrapassava as fronteiras de seu país (Mateus 4:23-25 / Lucas 6:17), o afirmar ser Jesus, o profeta batizador, redivivo do deserto, era o mesmo que declarar a crença de alguns do povo na transmigração da alma, ou seja, na passagem da alma de um corpo para outro, quer estivesse este corpo morto ou vivo, para dar continuidade a sua missão. Segundo esta concepção bastante estranha, é verdade, o espírito de João adentrara no corpo adulto de Jesus e, em convivência pacífica com o espírito deste, voltara a desenvolver o seu ministério, sobrepondo-se ao espírito de Cristo.

Apesar desta crença parecer mais um relato de possessão do que qualquer outra coisa que já tenhamos visto, diferençava daquela por ser um espírito humano a adentrar e a conviver pacificamente com outro espírito humano e isto em um único corpo também humano. Apesar de toda estranheza que tal crença nos causa, era perfeitamente plausível no imaginário judeu, visto os judeus não acreditarem mesmo que Jesus fosse o Messias prometido dada a sua atuação pacífica, serena, espiritual, e não guerreira, violenta, conquistadora, como imaginavam que devia ser a ação do Ungido de Deus. Observe que, de todas as respostas dadas pelo povo nenhuma afirmava ser Jesus, o Ungido de Deus.

Muitos do povo e dos religiosos diziam também que Jesus era o profeta ELIAS. Se lermos apenas os textos de Mateus 16:14, de Marcos 8:28, e o de Lucas 9:19, seremos levados ao engano de que Jesus era de fato Elias ressuscitado. Contudo, Lucas tem o cuidado de dizer no capítulo 9:8 que muitos criam que Elias “tinha aparecido”, o que é diferente de dizer que ele havia ressuscitado, já que para haver ressurreição, tem que ter havido morte. Lucas estava dizendo que alguns do povo criam que Elias passara um tempo oculto da vista do povo, um tempo sem ter sido visto por ninguém, desaparecido do olhar dos populares, mas que agora, se manifestara corporalmente em Israel. A questão que se levanta é: se Jesus era o profeta Elias, que havia sido arrebatado ao céu e agora estava operando maravilhas em Israel, de quem seria Ele precursor, já que Jesus mesmo era o Messias tão aguardado de todos? Outra questão interessante a ser deduzida é a evidente crença do povo de que um santo poderia sair do “céu” (na época, “Seio de Abraão”) e vir à terra para dar continuidade a sua missão, coisa que, aliás, Jesus já deixara em aberto na parábola do rico e Lázaro (Lucas 16:19-31).

Com relação a ser Jesus JEREMIAS ou UM DOS ANTIGOS PROFETAS, temos de considerar que o povo só conhecia esses “antigos profetas” pelos registros sagrados, pois que estes profetas haviam vivido há muito tempo atrás e os corpos de alguns deles talvez já nem existissem mais. Seus espíritos eram muito “velhos”, muito “antigos”, muito “anosos”, cronologicamente falando, claro. O mais recente desses profetas, Malaquias, vivera cerca de 400 anos antes do nascimento de Cristo. Jeremias, que aqui é citado como exemplo, morrera quase 600 anos antes de Jesus nascer. Juntamente com Elias, era considerado um dos principais profetas em Israel. Uma lenda dizia que quando o templo fora destruído Jeremias escondera o tabernáculo, a arca e o altar do incenso em uma cova no Monte Pisga e que em tempo futuro, ele mesmo apareceria para restaurar esses objetos sagrados. Alguns rabinos sustentavam que Jeremias era o profeta predito por Moisés em Deuteronômio 18:15, tamanha a sua consideração entre o povo.

Fosse Jesus também mais UM PROFETA, como diziam alguns do povo que Ele era, e isto não seria problema algum, pois Israel sempre fora a terra das revelações de Deus e dos mais poderosos e valorosos profetas que já surgiram no mundo. O problema ficava por conta de ter sido o Mestre considerado João Batista, Elias, ou um dos antigos profetas ressuscitados, pois que isto traz para nós, estudiosos modernos, enormes implicações e complicações, como veremos a seguir:

Caso Jesus fosse um dos antigos profetas ressuscitado, no sentido de ser Ele um dos profetas que voltara da morte e reassumira o velho corpo com o qual vivera, e teríamos enormes problemas a resolver, como por exemplo, os relacionados à sua origem, pois Jesus nascera em Belém (Lucas 1:4-7), do ventre de uma virgem (Lucas 1:26-38), como um pequeno bebe (Lucas 2:10-12,21 / 11:27), e sua família era muitíssima conhecida de todos (Marcos 6:1-3 / Mateus 12:46-50). Qualquer profeta antigo que ressuscitasse teria que reassumir a sua existência a partir do corpo com o qual morrera e que por esta ocasião poderia se constituir apenas de uma ossada enterrada em um antigo cemitério ou em outro lugar qualquer e talvez nem mais existisse, pois o profeta entrava em seu ministério já como um homem adulto, maduro, visto a Lei preconizar que o ministro do Senhor só poderia assumir o seu ministério público a partir dos trinta anos de idade (Números 4:3 / Lucas 3:23). Ele teria de se dirigir para o local que fora a sua antiga comunidade, para o grupo familiar a que pertencera, e que por esta ocasião, também talvez nem mais existisse! Como poderia, pois, Jesus ser um dos antigos profetas ressuscitado?

NÃO PODERIA! Salvo se o povo judeu considerasse todo e qualquer retorno à vida como sendo uma ressurreição! Então, o espírito que estava residindo no corpo de Jesus poderia ser sim o espírito de um dos antigos profetas que vivera em Israel! Mas então isto já não seria mais uma ressurreição, como a conhecemos biblicamente, e sim uma reencarnação! POIS ERA EXATAMENTE ISTO O QUE ACONTECIA! Observe que os judeus chamaram a ressuscitação de João Batista de ressurreição (Lucas 9:7-9); chamaram também, e corretamente, a ressurreição de Jesus de ressurreição (Mateus 27:63-64); e, chamaram, ainda, o que acreditavam ser a manifestação do espírito de um antigo profeta no corpo de Jesus Cristo de ressurreição (Lucas 9:18,19)! AH! AGORA NÓS TEMOS O ENTENDIMENTO! Agora nós sabemos porque a palavra reencarnação não aparece na Bíblia! É porque os judeus incluíam em seu conceito de ressurreição, as ressuscitações ou ressurreições parciais; a ressurreição definitiva, como acontecida com o Cristo; e, ainda, as reencarnações, como acreditavam ser Jesus e João Batista! O que é isto senão a mais pura expressão de uma crença popular em um assunto de religião?

A declaração feita pelo apóstolo Pedro sobre ser Jesus O CRISTO ENVIADO DE DEUS para operar a nossa salvação foi a única aceita pelo Cristo como sendo a correta. Não que as outras declarações fossem falsas ou que tratassem de coisas inexistentes, pois como vimos, a ressuscitação de mortos era uma real possibilidade, tendo acontecida várias vezes no Antigo Testamento e tendo sido operada inclusive pelo próprio Jesus, mas sim que, no caso do Mestre, aquelas outras declarações não eram aplicáveis. O foco de Jesus estava em saber se os seus discípulos haviam se apercebido de quem Ele era de fato e não em quem o povo dizia ser Ele, pois os discípulos seriam os perpetuadores da proclamação do Evangelho e deveriam ter a exata percepção sobre quem era Jesus.

Resumindo então a crença do povo judeu no retorno da alma à vida física, temos que esta incluía quatro aspectos:

  • o retorno da alma do indivíduo ao mesmo corpo com o qual vivera e morrera para viver um pouco mais e tornar a morrer (revivificação ou ressuscitação);

  • o retorno da alma do indivíduo ao mesmo corpo com o qual vivera e morrera para viver para sempre e nunca mais morrer (ressurreição);

  • o ingresso da alma do indivíduo em outro corpo que não o dele, já vivido, já crescido, para convivência pacífica com outro espírito (transmigração);

  • o retorno da alma do indivíduo para habitar outro corpo novinho em folha, recém-gerado, recém-criado (reencarnação).

Quando Jesus pois falou sobre ressurreição, na parábola do rico e Lázaro, através de Abraão (vs 30,31), falou de algo que podia incluir tanto a ressuscitação, como a ressurreição, propriamente dita, e ainda a reencarnação, visto todos esses fenômenos possuírem amparo bíblico e serem chamados por um só termo nas Escrituras Sagradas!

CONCLUSÃO

Na próxima palestra examinaremos qual a posição dos discípulos de Jesus acerca do fenômeno da reencarnação, visto serem eles também pessoas comuns do povo que traziam em seus corações as crenças dos demais cidadãos sobre a continuidade da vida após a morte e no retorno de um morto à vida.

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

III. A Parábola do Rico e Lázaro

 

Palestra III

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012

INTRODUÇÃO

Vamos examinar agora um segundo texto bíblico também bastante utilizado pelos cristãos da vertente evangélica quando se está em discussão a possibilidade ou não da reencarnação. Ele se encontra no Evangelho de Lucas 16:19-31 e traz como título “A Parábola do Rico e Lázaro”. Segundo estes cristãos, o próprio Cristo ensinou neste texto, não existir a mínima possibilidade de um indivíduo alterar a sua condição espiritual após a morte, quer esteja este no céu ou no inferno. O estado espiritual de tal pessoa ao morrer estaria assim definido e também seria definitivo. As declarações de Jesus a esse respeito, segundo eles, são tão claras, tão óbvias, tão inequívocas, que deveriam ser consideradas um “ponto pacífico”, isto é, um ensinamento que ninguém mais deveria questionar. Vamos ver se isto é assim mesmo:

A PARÁBOLA DO RICO E LÁZARO

“Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente. Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele; e desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas. E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio de Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado. E no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio. E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta de seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nessa chama. Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebestes os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá para cá. E disse ele: Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento. Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos. E disse ele: Não, pai Abraão; mas se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam. Porém, Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.”

O texto, como vimos, conta a história de dois homens que morreram e, subitamente, se acharam em locais / condições espirituais diferentes: um em um lugar ameno, calmo, aconchegante, chamado “Seio de Abraão” e outro em um lugar de tormento denominado “Hades”. Outro lugar é ainda mencionado no texto, sem um nome específico, e por isso eu o denominei de “Terra dos Viventes” por ser este o lugar onde estavam os vivos e a Lei de Moisés era ainda pregada. Por ser esta a única parábola em que o Cristo cita o nome de uma pessoa (Lázaro) e por não trazer o texto original o termo “parábola” em seu título, muitos consideram este relato uma história real, factual, verdadeira, e não uma parábola, um caso ilustrativo criado por Jesus para representar uma verdade espiritual. Independentemente de ser esta uma história real ou imaginária, vamos analisar o significado dos termos nela empregados e a relação que eles mantinham entre si.

COMPREENDENDO O QUE SEJA O HADES

“Hades” é o lugar onde ficavam os mortos, “o mundo invisível” ou “o mundo não visto”, segundo a sua língua original, a grega, e aparece traduzido 10 vezes como inferno em algumas versões da Bíblia, quem sabe mesmo, na versão que o meu prezado leitor utiliza, mas cuja tradução proposta (inferno) sequer existe nos textos originais bíblicos! Hades era o mesmo que o Sheol do Antigo Testamento, isto é, o lugar onde ficavam os mortos, independentemente de serem eles justos ou ímpios (Salmo 16:10 / Atos 2:27,31). Não era o inferno, como o concebemos hoje, cheio de trevas, fogo, seres malignos e ranger de dentes, mas o lugar onde ficavam os espíritos desencarnados (Jó 14:13). O Hades / Sheol se situava no interior da terra (Salmo 139:7,8) e possuía dois compartimentos estanques, sendo o primeiro deles conhecido como “Seio de Abraão”, local preparado para receber apenas as almas dos justos e, logo abaixo deste, e não ao lado, como se poderia imaginar, outro local, denominado o “Lugar de Tormento”, preparado para receber as almas dos iníquos. Esta foi a razão de o homem rico ter olhado para cima e ter visto o mendigo Lázaro junto com o Patriarca Abraão (Lucas 16:23). Ainda que tais locais estivessem próximos um do outro ao ponto do indivíduo poder ver o que o outro continha, distavam entre si infinitamente, de tal maneira que não podiam ser transpostos (Lucas 16:26).

Lúcifer, o Príncipe das Trevas, era quem detinha o domínio destes dois territórios, pois, desde a queda de Adão, toda a humanidade ficara sujeita a ele e ninguém ainda havia pago pelo resgate de qualquer alma! Todas elas se encontravam no Hades / Sheol esperando que o Salvador viesse libertá-las (Hebreus 2.14). Quando Jesus morreu pela humanidade, em seu sacrifício substitutivo, desceu até esta região espiritual e libertou os santos que lá estavam (Colossenses 2:14,15 / Apocalipse 1:17,18 / Mateus 27:50-53). Para demonstrar que lá estivera, Ele ressuscitou muitos corpos de santos que haviam sido sepultados, como Ele, no Calvário (Mateus 27:52,53). Desde então, quem morre na fé em Jesus e em total pureza de coração, vai diretamente para o Paraíso, lugar da morada de Deus (Lucas 23:43 / 2ª Coríntios 12:1-4), e lá fica aguardando o dia da redenção total (Efésios 4:8-10 / Atos 7:55,56 / Filipenses 1:21 / Apocalipse 6:9-11 / 7:9-17 / 14:13 / 1ª Tessalonicenses 4:13-18). Quanto aqueles que morrem em pecado, distantes de seu Salvador, estes seguem para o Hades e lá ficam em tormento, segundo a Teologia moderna, até o Dia do Juízo Final (Apocalipse 20:11-15), quando então serão dele retirados e levados à presença de Deus para julgamento e condenação eterna.

Devo pedir desculpas ao meu prezado leitor por não estar reproduzindo na íntegra os textos bíblicos aqui assinalados, mas apenas citando-os diretamente, sem comentá-los, e nem demorando-me muito na exposição dos lugares neles citados, pois, caso fizesse isto, esta palestra ficaria enorme, eu perderia o foco de meu estudo e o meu leitor se sentiria tentado a desistir de sua leitura. Além do que, todos os textos e comentários sobre o Hades e demais infernos bíblicos já foram bastante explorados no livro que publiquei intitulado “De Volta à Gehena – Eu e Você Já Estivemos Aqui”, disponibilizado neste site.

Vamos voltar então ao nosso estudo….

Na contundente história contada por Jesus, o homem rico, que era um ímpio, e que estava no compartimento inferior do Hades, portanto, no “Lugar de Tormento”, faz três pedidos[1] ao Patriarca Abraão, símbolo maior da comunhão com Deus por ter sido o único homem a receber de Deus o título de “meu amigo” (2ª Crônicas 20:7 / Isaías 41:8 / Tiago 2:23), e obtêm deste também três respostas diretas. Vamos examiná-las, uma a uma.

PEDIDOS DO HOMEM RICO E RESPOSTAS DE ABRAÃO

1º pedido do rico“Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro, que molhe na água a ponta de seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nessa chama” (v.24);

1ª resposta de Abraão“Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado. E além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá para cá” (vs.25,26);

Nesta primeira petição o homem rico pede a Abraão para que mande Lázaro ir até onde ele se encontra a fim de apagar a chama na qual ele, homem rico, está ardendo. A resposta de Abraão a este homem é a de que Lázaro não poderia sair do lugar onde se encontra (Seio de Abraão) para ir até o local onde o rico está (Lugar de Tormento), por haver um abismo intransponível entre aqueles dois mundos, impedindo um de adentrar no território do outro. Observe que Abraão usou o pronome “nós” para enfatizar que nem ele, nem Lázaro, nem nenhum outro justo, poderia sair do “Seio de Abraão” para ir até o “Lugar de Tormento”. Bom é que se diga que Abraão não é e nem representa Deus aqui, pois que Deus não está limitado a nada e se encontra presente em todos os lugares (Jeremias 23:23,24 / Salmo 139: 7-12).

A modéstia do pedido do homem rico revela a grandeza do horror do lugar onde ele estava, pois que, uma gota de água apenas do lugar onde Lázaro se encontrava já seria suficiente para aplacar o seu terrível tormento! Na Terra dos Viventes esse homem tivera tudo quanto o dinheiro pudera lhe comprar; aqui ele não possuía nada. Até uma pequeníssima gota de água tinha de lhe ser doada! Na Terra ele promovia banquetes sem notar sequer a presença do mendigo Lázaro; aqui é ele que não possui influência alguma e precisa do mendigo e de outros desconhecidos para ajudá-lo! A história desse homem é tão triste, tão funesta, que deveria estremecer e arrepiar todos aqueles que hodiernamente possuem tanto em influência, em beleza, em riqueza, em talento, em poder, e outras coisas mais que os fazem destacar-se de seus semelhantes, e que nada fazem para ajudar o seu próximo. Um dia a sorte poderá mudar e então estes que “estão por cima” poderão ficar na posição de suplicantes. Jesus disse que “a quem muito for dado, muito também será cobrado” (Lucas 12:48).

Por três vezes o homem rico se dirige a Abraão chamando-o de “pai”, demonstrando com isto confiança em sua filiação abraâmica que o tornava integrante do povo escolhido de Deus e de suas fiéis promessas. O Patriarca lhe responde uma vez chamando-o de “filho”, reconhecendo assim a existência de tal vinculação (Mateus 3:9 / João 8:33-39). O problema é que esta vinculação não possuía nenhum poder salvífico, de transformação de coração (Romanos 9:6-8 / Gálatas 3:8,9). Se tivermos de ser salvos não o seremos por sermos filhos do Judaísmo, do Cristianismo, ou de qualquer outra religião e sim por sermos filhos de DEUS! (João 1:12,13).

Agora, eu gostaria de fazer ao meu leitor uma importantíssima pergunta acerca desta primeira petição: “Poderia, porventura, a expressão “os de lá”, utilizada por Abraão ao dizer “os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tampouco os de lá para cá”, se referir a Terra dos Viventes e não ao Lugar de Tormento, como proclamam tantas e tantas pessoas dos púlpitos? Afinal de contas, se Abrão quisesse se referir ao Lugar de Tormento e não a Terra dos Viventes, dizem tais pessoas, poderia ter se utilizado da expressão “os dai” e não “os de lá”, como o fez. NÃO, NÃO PODERIA, pois quem estava na Terra dos Viventes poderia sim passar para o Seio de Abraão, caso morresse como justo – que foi exatamente o que aconteceu com Lázaro, e quem morresse como ímpio também poderia passar para o Lugar de Tormento – que foi o que aconteceu com o rico e que ele ainda temia, viesse acontecer também com os seus familiares! O abismo intransponível existia para impedir o fluxo de pessoas entre o Seio de Abraão e o Lugar de Tormento e não entre as pessoas que estavam no Hades (Seio de Abraão / Lugar de Tormento) e a Terra dos Viventes. Outra coisa a considerar é que o rico estava interessado apenas na possibilidade de pessoas que estavam no mundo invisível acessarem o mundo visível, material e não o inverso. Temos assim que a expressão “os de lá”, utilizada por Abraão, se refere unicamente aos indivíduos que estavam presos no Lugar de Tormento e não aos que estavam na Terra dos Viventes. Devemos, pois evitar este terrível equívoco em nossas tribunas e púlpitos!

2º pedido do rico“Rogo-te, pois, ó pai, que o mandes à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento” (v.27,28)

2ª resposta de Abraão“Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos” (v.29)

Nesta segunda petição o homem rico argumenta: “já que Lázaro nem o senhor podem sair do “Seio de Abraão”, onde estão, e virem até aqui, no “Lugar de Tormento”, onde estou, mande que ele, Lázaro, vá diretamente até a casa de meu pai, na “Terra dos Viventes”, para avisar os meus cinco irmãos, a fim de eles não virem também para cá, pai Abraão”.

Um grande intérprete do Novo Testamento, a quem muito aprecio, chamado Joachin Jeremias, disse ao ler esta passagem que esta parábola deveria se chamar “A Parábola dos Seis Irmãos” e não “A Parábola do Rico e Lázaro”, visto todos os seis irmãos viverem da mesma maneira egoística, alienados de Deus e de sua Palavra, sem preocupação alguma com a continuação da vida no além e com a fatalidade da vida. Essa sua opinião pode ser encontrada em seu livro “As Parábolas de Jesus”, editado na língua portuguesa pelas Edições Paulinas. Eu a achei muito interessante e pertinente e por isso a citei aqui.

Agora, eu desejo que o meu prezado leitor atente bem para a resposta dada por Abraão ao homem rico, pois não precisamos forçar o texto bíblico a ir aonde ele não vai e nem a dizer o que ele não diz tão somente para defender algum argumento que achemos bonito ou sustentar uma interpretação que gostemos. Abraão não diz que a alternativa de um justo sair do “Seio de Abraão” e ir até a “Terra dos Viventes” não seja possível, mas afirma que os parentes do homem rico já possuem dois outros instrumentos poderosíssimos de alerta sobre a vida após a morte que estão sendo usados naquele exato momento na Terra e para os quais eles, e o próprio rico quando estava vivo, deveriam atentar, a saber: Moisés e os Profetas, nome pelo qual eram chamadas as Escrituras Sagradas ao tempo de Cristo. Abraão parece estar um tanto quanto seco, árido, sem vontade de conversar, pois o rico argumentara com ele como se o Patriarca não tivesse conhecimento dos fatos presentes ou não estivesse tão interessado em ajudá-lo. A resposta direta e sem rodeios que Abraão dera ao homem rico com relação aos seus parentes serve também para todos nós: “Têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos”. Não basta apenas saber que as Escrituras Sagradas existem e são anunciadas: Temos de ouvi-las!

3º pedido do rico“Pai Abraão, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam” (v.30)

3ª resposta de Abraão“Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite” (v.31)

Nesta terceira petição, se é que podemos chamá-la assim visto o homem rico não pedir nada, mas apenas reforçar os argumentos sobre o pedido que fizera anteriormente, vemos que ele está determinado a salvar os seus familiares de qualquer maneira e, cheio de ardor missionário, contra-argumenta com o santo apelando para os seus sentimentos, dizendo-lhe: “já que Lázaro não pode vir até aqui onde estou para me refrescar a língua e também não pode ser enviado à “Terra dos Viventes” para avisar os meus parentes sobre este lugar de horror, então pai Abraão, envie um dos mortos qualquer para avisá-los”. Ele está se referindo aos outros mortos que, com ele, estão no mesmo “Lugar de Tormento”, pois que Abraão já lhe dissera que quem estivesse no lugar denominado “Seio de Abraão” não poderia mais sair de lá e ir até onde o homem rico estava, o “Lugar de Tormento”, por haver entre eles um abismo intransponível. Neste terceiro pedido Abraão responde-lhe: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tampouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite”.

Note, mais uma vez, prezado leitor, que a resposta que Abraão dera ao homem rico não fora a de que um ímpio não poderia sair do “Lugar de Tormento” e ir até a “Terra dos Viventes” e sim que os parentes daquele homem rico não acreditariam em tal pessoa, mesmo que ela fosse um parente seu ressuscitado!

A simples possibilidade de alguém poder sair do Hades, conforme solicitada pelo homem rico e endossada pelo Patriarca Abraão, já nos obriga a repensar a questão da perenidade do inferno, pois se é possível a alguém sair do Hades, mesmo que através do processo da ressurreição, então quer dizer que este inferno, aqui referido, por mais terrível e tormentoso que seja, não é eterno, não é para sempre, não é definitivo e sim um inferno provisório, passageiro, impermanente, que é exatamente o que a Bíblia afirma acerca do Hades. Segundo o Apocalipse, no fim dos tempos, tanto a Morte quanto o Hades serão lançados no Lago de Fogo e não existirão mais. Teremos então um inferno dentro de outro inferno! (Apocalipse 20:13,14). Esta mesma situação de transitoriedade, de impermanência, pode ser encontrada com relação a Gehena (outra palavra traduzida por inferno), visto o indivíduo poder sair dela após ter pago o seu último ceitil, segundo o dito de Cristo em Mateus 5:21-26, onde esta palavra aparece. Tudo isso serve então para nos mostrar quão difícil é compreender o real significado da Palavra de Deus com tantas traduções inadequadas!

Somos também obrigados a repensar outras questões mais intrigantes, tais como: Caso um morto ímpio, infiel, injusto, pudesse, ainda que hipoteticamente, sair do Hades e vir à “Terra dos Viventes” para avisar alguém sobre o lugar horrível em que estivera, não seria esta volta uma demonstração clara de “segunda chance” para o habitante do Hades, que poderia, ele mesmo, se arrepender de seus maus atos? Não seria também esta possibilidade uma vantagem espiritual para aqueles que ouvissem tal mensagem, pregada diretamente por alguém recém saído do inferno? Aliás, o homem rico garantiu a Abraão que se algum dos mortos saísse de tal inferno e fosse pregar a seus parentes incrédulos que estes se arrependeriam!

Por que o homem rico não pedira logo ao Patriarca Abraão para enviar a ele mesmo à casa de seus irmãos a fim de avisá-los, mas pedira para este enviar primeiramente a Lázaro e depois a qualquer um dos mortos que com ele estavam no “Local de Tormento”? Egoísmo? Estratégia? Medo? Quem sabe! Se Lázaro pudesse apagar com aquela única gota de água o fogo em que ele, homem rico, ardia, talvez ele nem solicitasse ao Patriarca Abraão para enviar a Lázaro ou algum dos mortos a sua casa a fim de avisar a sua parentela. A permanência no Hades, se tornaria algo suportável, tanto para ele, quanto para seus parentes que para lá fossem. Particularmente acho que o rico não possuía proximidade alguma com sua família, pois mesmo estando sofrendo naquele inferno de horror, pediu para que outros fossem enviados em seu lugar e não ele próprio. Acreditar que alguém pudesse ressuscitar dos mortos deveria ser algo extremamente difícil para a sua abastada família, mas acreditar que o seu parente egoísta, endurecido, recém falecido, ressuscitara e fora pregar arrependimento a eles, cheio de compaixão e misericórdia, já seria pedir demais!

Claro que podemos tomar essa última declaração de Abraão como uma coisa hiperbólica, exagerada, exorbitante, usada apenas para representar a impossibilidade daquela situação vir a acontecer e é assim que a Igreja a tem interpretado no correr das eras: “um morto sair do inferno (Hades – Local de Tormento) e vir pregar na Terra dos Viventes, ressuscitado? Ah, ah, ah, seria o mesmo que um elefante rosa voar sobre nossas cabeças!” Mas vamos considerar que o que Abraão estava querendo passar para o rico não era a impossibilidade da ressurreição de alguém que tivesse estado no Hades vir a acontecer, pois esta já havia acontecido por diversas vezes no Antigo Testamento e, agora ainda mais com Cristo, e sim a incapacidade de um ente vivo acreditar em um ex-morto, incrédulo, egoista, saído diretamente do Hades, como pregador! A ressurreição de Lázaro, amigo de Jesus, mostrara o quanto isso era difícil de acontecer. Lázaro era justo e querido por todos, mas ainda assim a Bíblia diz que quando Jesus o ressuscitou apenas alguns creram em Cristo como o Messias, e que os principais sacerdotes procuravam matar tanto o Senhor quanto o seu amigo ressuscitado! (João 12:9-11).

CONCLUSÃO

A esta altura de nosso estudo o prezado leitor deve estar se perguntando: Por que será que o Pastor Olívio colocou esta palestra dentro do tema REENCARNAÇÃO se tudo o que ele está dizendo está indo exatamente contra esse ensinamento? Se o próprio Abraão, amigo de Deus, disse que a única maneira de alguém sair vivo do inferno (Hades) e adentrar na “Terra dos Viventes” era através do processo da ressurreição (v.31) então por que devemos nós acreditar na reencarnação?

Por vários motivos cumulativos, querido(a): primeiro, porque o inferno apregoado por Cristo nesta parábola, qual seja o Hades, não é nem eterno nem definitivo, conforme vimos acima, pois todas as pessoas que foram ressuscitadas – fossem elas justas ou ímpias – saíram deste “inferno”; segundo, porque a impossibilidade espiritual apregoada por Cristo nesta parábola não era a de um justo ou de um ímpio, depois de mortos, poderem retornar à Terra dos Viventes, o que já havia acontecido por diversas vezes mediante o processo da ressurreição e sim a de um justo que estivesse no Seio de Abraão passasse para o Lugar de Tormento e vice-versa; terceiro, porque as Escrituras apresentam vários infernos, cada um com um propósito específico e com características próprias, o que nos proíbe de uniformizá-los; quarto, porque se alguém pode sair do Hades pelo processo da ressurreição, ou outro processo qualquer, esse alguém pode sim mudar a sua condição espiritual, pois que ganhará mais tempo de vida terrena no qual poderá obter novas informações e fazer novas escolhas; quinto, porque o conceito de ressurreição no tempo de Cristo podia abranger tanto o reingresso do espírito ao velho corpo em que o indivíduo vivera quanto o reingresso do espírito a outro corpo, recém-gerado, novinho em folha, exatamente como apregoa hodiernamente a doutrina da reencarnação!

Por esta o amigo(a) não esperava, não é mesmo? Ficou chocado com as minhas declarações? Gostaria de saber em que outros registros bíblicos eu fundamentei essa minha tese? Então não deixe de ler as nossas próximas palestras e, se possível, convidar outros para as lerem também, de acordo?

Deus abençoe a todos.

Caso seja do interesse de meu prezado leitor, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

[1] Na realidade dois pedidos, tendo em vista que o terceiro é um “reforço de argumentação” (Nota do Autor)

a leitura. Além do que, todos os textos e comentários sobre o Hades e demais infernos bíblicos já foram bastante explorados no livro que publiquei intitulado “De Volta à Gehena – Eu e Você Já Estivemos Aqui”, disponibilizado neste site.

II.c A Que Homens Está Ordenado Morrer – O Grupo dos Transformados

 

Palestra II c

A QUE HOMENS ESTÁ ORDENADO MORRER?

O GRUPO DOS “TRANSFORMADOS”

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012

INTRODUÇÃO

O último grupo de indivíduos que desejo examinar, dentro de nossa análise sobre o texto de Hebreus 9:27 que afirma: “aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois disso o juízo”, diz respeito a um conjunto imenso de fiéis que a Bíblia afirma não passarão sequer pela morte física, como acontece com os demais seres humanos. Por estarem estes fiéis vivos quando do retorno de Cristo à Terra, não necessitarão morrer primeiro para depois serem ressuscitados, mas terão imediatamente, instantaneamente, os seus corpos enfermiços, sem glória e corruptíveis, transformados a semelhança do corpo glorioso de Cristo, e entrarão com eles em estado de perfeição biológica, estando prontos para viver a eternidade. Por outro lado, os fiéis que estiverem mortos, por ocasião deste evento, terão os seus espíritos trazidos de volta a Terra por Cristo que promoverá uma imensa ressurreição de todos os santos da Terra e lhes concederá um novo corpo, também semelhante ao seu, habilitado a viver para sempre.

TRANSFORMADOS PARA NÃO MORRER?

Os textos onde esses relatos se encontram são tão magníficos, tão extraordinários, tão cheios de glória, que eu fiz questão de expô-los em sua inteireza para o conhecimento ou releitura de meu prezado leitor. Em 1ª Coríntios 15:51-54 o apóstolo Paulo escreveu: “Eis aqui vos digo um mistério: Na verdade, nem todos dormiremos (morreremos), mas todos seremos transformados (vivificados corporalmente). Num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta; porque a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória”. Belíssimo texto, você não acha?

Em 1ª Tessalonicenses 4:13-18 o mesmo apóstolo complementou: “Não quero, porém, irmãos, que sejais ignorantes acerca dos que já dormem (já morreram), para que não vos entristeçais, como os demais, que não têm esperança. Porque, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também aos que em Jesus dormem Deus os tornará a trazer com ele. Dizemos-vos, pois, isto, pela palavra do Senhor: que nós, os que ficarmos vivos para a vinda do Senhor, não precederemos os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Depois, nós, os que ficarmos vivos, seremos arrebatados juntamente com ele nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor. Portanto, consolai-vos uns aos outros com estas palavras”.

Fica claro das explanações dadas pelo apóstolo Paulo que a ressurreição dos santos obedecerá a uma ordem pré-estabelecida: primeiro, os fiéis que estiverem mortos na volta de Cristo ressuscitarão, tendo por base os seus velhos corpos; depois, os santos que estiverem vivos, na mesma ocasião, terão os seus corpos viventes transformados, modificados, convertidos à semelhança do corpo de Cristo. Tudo isto numa fração de tempo tão diminuta, tão ínfima, tão minúscula, que o apóstolo Paulo usou a palavra grega “atomo”, traduzida em nossas Bíblias pelo termo “momento” para declará-la e ainda a expressão “num piscar de olhos” para expressá-la. Ao tempo em que ele usou a palavra “átomo” o conceito deste era de algo “indivisível” e a expressão “piscar de olhos”, a mais rápida ação do corpo humano.

Alguém poderia argumentar que a transformação do corpo adâmico em corpo crístico já é uma forma de morte, uma maneira de morrer também, e que, portanto, a interpretação que afirma que esses milhões de fiéis não passarão pela morte física, está equivocada. Tal argumentação até poderia ser verdadeira, se o texto de 1ª Coríntios não fosse tão enfático, tão incisivo ao afirmar que “nem todos morreremos”. Se nem todos morreremos é porque alguns de nós ficaremos vivos. É a este grupo de fiéis vivos que caberá a transformação de seus corpos. Os fiéis que estiverem mortos, por ocasião da volta do Senhor, terão os seus corpos de volta, não os crentes que estiverem vivos, que não precisarão ter nenhum corpo de volta, pois já têm o seu inteiro, preservado, integral, e, portanto, passarão por uma metamorfose em vida, terão o seu corpo modificado, alterado, transformado. Transformação não é o mesmo que morte. Enquanto a primeira significa mudança, troca, alteração, a segunda significa, neste contexto, separação, afastamento, distanciamento. Tanto é assim que o Senhor trará os espíritos dos fiéis mortos, que estavam reunidos no céu, para ajuntá-los com os seus corpos redivivos.

A grande questão que se levanta é: Porque deveriam estes fiéis do futuro, que estiverem vivos na volta de Cristo e cujo número deve chegar a alguns milhões de indivíduos, espalhados por todo o mundo, ter os seus corpos transformados a semelhança do corpo glorificado de Jesus, sem passarem pela morte física, biológica, corporal, se Deus disse que aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo? Que tipo de exceção é esta que privilegia pessoas tão somente por terem elas nascido e permanecido vivas em uma época especial? Que tipo de exceção é esta que privilegia pessoas que sequer estarão a altura de um Davi, que foi chamado “o amado de Deus”; de Abraão, único fiel do qual Deus “se gabou” dizendo ”Abraão é o meu amigo”; de Paulo que esteve no lar de Deus e ouviu coisas que ao homem não é digno dizer; ou, do próprio Jesus Cristo do qual o Senhor disse: “Eis aí o meu Filho amado em quem tenho muito prazer?” Será que essa fantástica benção, desejada por todos os santos, de todos os tempos, será dada apenas a alguns por uma mera questão cronológica, circunstancial, épica, ou por serem esses fiéis um tipo tão especial de crentes, tão sublimes, tão nobres, tão dignos, que ultrapassem todos os santos que por aqui já passaram?

TRANSFORMADOS PARA NÃO MAIS MORRER!

Creio sinceramente que temos aqui mais um problema sério de interpretação: A metamorfose prometida para os corpos dos fiéis que estiverem vivos na vinda de Jesus realmente acontecerá e será uma demonstração fantástica do poder de Deus para todo o Cosmo, porém, mais uma vez ousamos perguntar, sem nenhuma intenção de ofender ao nosso bendito e amado  Deus: Qual o propósito do nosso Senhor em suspender tantas e tantas vezes a sua Lei universal de morte física para todos os humanos? Porque um grupo experimenta a morte mais de uma vez, como é o caso dos ressuscitados, outro é ajudado pelo próprio Senhor a driblá-la, como aconteceu com os arrebatados e, outro ainda, só por ter nascido em determinada época, recebe o privilégio de não a experimentar? Será que as nossas interpretações estão corretas?

Alguns leitores dirão que tais coisas fazem parte da soberania e do poder de Deus, mas não é sobre isto que estou falando e sim sobre a lógica do meu Senhor em suspender tantas e tantas vezes a sua Sagrada Lei sem se importar em fixar um de seus muitos mandamentos, chegando mesmo a ajudar o transgressor a quebrá-la, pois, qualquer lei que exista, seja ela divina ou humana, para que seja caracterizada como lei, não pode e nem deve conter tantas exceções, sob o risco de ser banalizada, descaracterizada como Lei, e lançar dúvidas sobre a pertinência e rigor das demais Leis estabelecidas por tal Legislador! Isto é muito mais sério do que parece! Se todos os homens devem morrer, mas milhões e milhões deles da morte escapam, e são até ajudados pelo próprio Legislador a driblá-la, como acreditar na seriedade de tal Lei? Como entender o padrão de justiça e de legalidade utilizados por tal Legislador? Como também poderemos manter a harmonia das Escrituras Sagradas?

NÃO PODEREMOS! A única maneira de harmonizarmos todas essas exceções com a Lei universal de Deus para que todos os humanos experimentem a morte é aceitarmos que todos os humanos já morreram em algum outro tempo de sua longa existência, em alguma outra manifestação de vida! Todos aqueles santos que estarão vivos na volta do Senhor Jesus e que terão os seus corpos transformados à semelhança do seu corpo glorioso, não possuem nada de especial consigo capaz de comover o Senhor Deus a ponto Deste se sentir pressionado a livrá-los da morte física, pois que esta já aconteceu com eles em muitos momentos de sua existência, assim como com os ressuscitados e com os arrebatados também! Tais santos não serão transformados para não verem a morte, como nos tem sido ensinado pela Teologia moderna, mas serão sim, transformados para nunca mais experimentarem a morte!

CONCLUSÃO

Apenas com a introdução da doutrina da reencarnação em nossos sistemas de interpretações a harmonia das Escrituras ficará preservada e Deus reassumirá o seu posto de Deus justo, reto, verdadeiro, imparcial, livre de “caprichos divinos” e de inomináveis discriminações. Nunca houve, nem nunca haverá problema algum com a sua Lei e sim com as nossas interpretações que estão estreitas demais, apertadas demais, pequenas demais para comportarem tantas exceções. Ou ampliamos os nossos sistemas de interpretações bíblicas para apreciarmos as maravilhas da Lei de Deus ou assumimos o risco de nos tornar sectários, donos da verdade, e assim, perecermos felizes em nossa miopia espiritual.

Deus abençoe a todos.

 

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

 

II.b A Que Homens Está Ordenado Morrer – O Grupo dos Arrebatados

 

Palestra II b

A QUE HOMENS ESTÁ ORDENADO MORRER?

O GRUPO DOS “ARREBATADOS”

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012

INTRODUÇÃO

Conforme vimos na Palestra II a, na qual falamos sobre “O Grupo dos Ressuscitados”, a ordem universal dada por Deus para que todos os homens morram uma vez e sejam depois julgados, conforme registrada em Hebreus 9:27, trouxe consigo algumas dificuldades para o nosso atual sistema de interpretação visto a Bíblia relatar pelo menos 9 casos incontestes de pessoas que morreram mais de uma vez e experimentaram um juízo provisório. Na presente palestra estudaremos o caso de pessoas que a Bíblia relata não terem sequer passado pela morte física, o que forçará ainda mais a nossa interpretação sobre o tema a se ampliar, a se expandir, a ganhar mais abrangência para poder abarcar todas as exceções bíblicas.

É POSSÍVEL DRIBLAR A MORTE?

As Escrituras Hebraicas mencionam dois indivíduos que foram arrebatados corporalmente ao céu, sem terem passado pela morte física, a saber: Enoque e Elias. O primeiro era um antediluviano, termo empregado para se referir as pessoas que nasceram antes do grande dilúvio que inundara a terra, milhares de anos antes de Cristo, não tendo este, portanto, nenhuma nacionalidade ainda. O segundo era um judeu, que vivera cerca de 900 anos antes de Cristo, e que é considerado, até os dias de hoje, como um dos maiores profetas que já apareceu em Israel. O texto referente ao arrebatamento de Enoque se encontra em Gênesis 5:18-24 e o referente ao arrebatamento de Elias no 2º Livro dos Reis 2:1-11. O leitor deve lê-los antes de avançar em nossa discussão a fim de familiarizar-se com os dois personagens.

Grande parte da Cristandade e também do Judaísmo tem interpretado o arrebatamento desses dois homens como uma exceção feita por Deus à sentença de morte universal emitida por Ele mesmo aos humanos, conforme registrada em sua Lei Sagrada (Gênesis 3:19), pois segundo estes, se tais pessoas foram arrebatadas do meio onde viviam para não verem a morte, não teria sentido algum elas virem a morrer posteriormente, visto o arrebatamento de ambas ter sido um prêmio a fidelidade das mesmas ao Senhor. Outros têm afirmado que Deus não fez exceção nenhuma em sua Lei e que tanto Enoque quanto Elias deverão ainda retornar à Terra para experimentarem a morte física na figura das duas testemunhas descritas em Apocalipse 11:1-14. Outros ainda têm afirmado que tanto Enoque quanto Elias morreram fisicamente há muito tempo, não tendo nós que ficar esperando mais nada deles. Qual a posição defendida pelo Pastor Olívio?

Parece não haver dúvida entre judeus e cristãos que tanto Enoque quanto Elias foram arrebatados ao céu de fato. Os textos bíblicos que falam sobre o assunto são tão contundentes, tão incisivos, que não deixam nenhuma margem para contestação. De Enoque se diz: “E andou Enoque com Deus: e não se viu mais, porquanto Deus para Si o tomou” (Gênesis 5:24). O escritor da carta aos Hebreus disse: “Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte, e não foi achado, porque Deus o trasladara; visto como antes da sua trasladação alcançou testemunho de que agradara a Deus” (Hebreus 11:5). De Elias se diz: “E sucedeu que, indo eles (Elias e seu discípulo Eliseu) andando e falando, eis que um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro: e Elias subiu ao céu num redemoinho” (2º Livro dos Reis 2:11). Sim, tanto Enoque quanto Elias foram realmente arrebatados ao céu!

O PARECER DE JESUS DE PAULO E DE JOÃO SOBRE O ASSUNTO

Os problemas começam a surgir quando estudamos Jesus e Paulo. Segundo o Cristo, nem Enoque, nem Elias, nem qualquer outra pessoa, em tempo algum, jamais foi arrebatado ao céu de Deus, pois, conforme Ele próprio declarou a Nicodemos, membro do Sinédrio Judaico, o mais alto fórum de decisão em Israel para questões religiosas, políticas e administrativas: “Ninguém subiu ao céu, senão aquele que desceu do céu: o Filho do homem que está no céu” (Evangelho de João 3:13). Cristo estava dizendo: “Vocês dizem que Enoque e Elias vieram para cá, para o céu onde estou com meu Pai, mas Eu posso lhes assegurar que para aqui eles não vieram, pois Eu tenho estado aqui com meu Pai desde sempre e posso lhes garantir que tal coisa não aconteceu”. Já o apóstolo Paulo disse para os crentes de Corinto: “todos serão vivificados em Cristo (receberão novos corpos), mas cada um por sua ordem: Cristo as primícias (o primeiro), depois os que são de Cristo na sua vinda (1ª Coríntios 15:22,23). Por esta declaração do apóstolo Paulo ficamos sabendo que ninguém, depois de Cristo, ainda ressuscitou em glória, pois os próximos indivíduos a serem assim ressuscitados, só o serão na sua vinda, isto é, no porvir, no futuro. Com isto aprendemos que ninguém, antes ou depois de Cristo, subiu ao céu em corpo físico! Impressionante, não é mesmo, prezado leitor?

O apóstolo Paulo também ensinou aos crentes coríntios que nosso corpo mortal, como se encontra hoje constituído, servindo ao pecado e não a Cristo, não pode de maneira alguma entrar no reino dos céus e suportar a intensa glória de Deus. Ele precisa ser transformado, a exemplo do corpo de Cristo (1ª Coríntios 15:51-54). Ainda segundo o apóstolo “a carne e o sangue não podem herdar o reino de Deus” (1ª Coríntios 15:50). O apóstolo João também disse que apenas quando o fiel assumir um corpo semelhante ao de Jesus após a sua ressurreição, o ingresso e a permanência no céu se tornarão possíveis (1ª Epístola de João 3:2). Sem este corpo crístico, destituído do pendor, da inclinação, da pecaminosidade da carne, nenhum filho do Senhor conseguiria jamais chegar perto de seu Pai Celestial! (Marcos 16:19 / Atos 2:34 / Hebreus 2:13 / Atos 7:55,56). Ele simplesmente seria torrado, carbonizado, dizimado! Isto significa que, nem Enoque, nem Elias, nem qualquer outra pessoa, jamais foi arrebatada ao céu de Deus, local onde se encontram os anjos, os poderosos líderes universais, o Cristo de todos os mundos e o nosso maravilhoso e bendito Pai!

Isto apenas já seria suficiente para fechar esta nossa palestra e nos permitir avançar para a próxima, mas o estudante de alma sedenta pelo conhecimento deve estar agora mesmo se perguntando: Se Enoque e Elias não foram para o céu de Cristo, para onde então eles foram? Para outro planeta? Para outro mundo?

PARA ONDE FORAM ENOQUE E ELIAS?

Pessoalmente não acredito que Enoque e Elias tenham sido arrebatados para outros mundos e as razões que apresentarei nada têm a ver com o poder ou a soberania de Deus, que tudo pode e tudo faz sem ter que dar satisfações de seus atos a ninguém, mas sim com o objetivo, o propósito, o motivo envolvido em tais trasladações. Por que tiraria o meu Senhor alguém do seu planeta, do seu mundo, do seu habitat, do lugar onde vivem seus parentes, irmãos, pessoas amadas e apreciadas e o levaria a ficar distante, vivo, consciente, em um lugar desconhecido, de gente estranha, sem nunca mais voltar a Terra para vê-los? Não seria isto um castigo ao invés de um prêmio? Ainda mais sendo esta pessoa a voz profética de Deus na Terra, a voz da justiça, do amor, da esperança para um mundo conflitado, cheio de violência e pecado?! O que de tão urgente e necessário precisaria o tal mundo para que o Senhor levasse um dos nossos para salvá-lo? Um ser de uma raça pode salvar espiritualmente outro de uma raça diferente da dele? O próprio Cristo, como Filho Unigênito de Deus que era, teve de se transformar em humano para poder salvar os humanos! (Filipenses 2:3-11). Não foi com o nosso mundo que aconteceu a triste história do pecado? Estaria o nosso corpo humano preparado para viver em outro ambiente exógeno, estranho, completamente diferente do nosso? Que linguagem o indivíduo arrebatado utilizaria para comunicar aos habitantes destes outros mundos os projetos de Deus para as suas vidas?

Como o leitor pode ver, é quase impossível acreditar no arrebatamento de Enoque e de Elias para outros mundos a partir de tais questionamentos!

Mas se eles não foram para o céu de Deus e não foram também transferidos para nenhum outro planeta, para onde então foram? Poderiam ter sido arrebatados ao céu terrestre, atmosférico, e até mesmo ao céu espacial e, posteriormente trazidos à terra e morrido como qualquer um de nós? Ò, sim! Isto poderia! Mas será que a Bíblia comporta esta interpretação? Vamos examinar!

De Enoque se diz que vivia em um mundo extremamente violento e perverso. Tão ruim que Deus desejou destruí-lo total e imediatamente. O dilúvio foi a solução encontrada para tal. Apenas Noé e sua família, composta de 8 almas, foram salvos da catástrofe (Gênesis 7:13). Quanto a Enoque, o texto diz que este foi tomado por Deus para não ver a morte”. Quereria isto dizer que Enoque jamais morreria, ficando fora do planeta em seu velho corpo, ninguém sabe fazendo o quê, até ter o seu corpo transformado como os demais santos na volta de Cristo? Creio que não. É verdade que Enoque fora trasladado para não ver a morte, mas não podemos deduzir disso que fora trasladado para nunca morrer. A fazer isso e destruiremos toda a harmonia da Bíblia! Quando o texto diz de Enoque que “não se viu mais ele” (Gênesis 5:24) e que “não foi achado” (Hebreus 11:4) deixa claro que alguém o procurou e não o encontrou. No contexto em que a sua trasladação ocorrera, não foram os seus familiares que o procuraram para proteger a sua vida e sim os homens maus e violentos de seu tempo para assassiná-lo, pois a vida santa e justa de Enoque testemunhava contra a vida ímpia e perversa de seus contemporâneos! Quanto a vir Enoque, no futuro, como uma das testemunhas apocalípticas para pregar a mensagem de Deus, não creio ser esta uma interpretação válida, pois os ministérios que as duas testemunhas desenvolverão, se assemelham muito mais aos ministérios do legislador Moisés e do profeta Elias do que aos do justo Enoque que nem temos informação sobre qual foi. Além do que, não tendo Enoque conhecido a Lei de Moisés e não tendo experimentado o Evangelho da Graça de Cristo, o que pregaria para converter os seres mais endurecidos de toda a humanidade, que estarão vivendo naqueles tempos apocalípticos?

Quanto ao arrebatamento de Elias temos também algumas coisas a dizer.

Quando Elias estava para ser arrebatado, o texto bíblico diz que a notícia lavrou como fogo em rastilho de pólvora por todas as casas de profetas de Israel. Uma a uma elas diziam para Eliseu, que se tornaria o sucessor de Elias, o que iria acontecer com o seu senhor. Eliseu, contudo, permaneceu teimosamente ao lado de seu mestre até o momento final. O arrebatamento enfim aconteceu como um relâmpago reluzente e poderoso as margens do rio Jordão! Após ter sido Elias levado ao céu em um carro de fogo, em um forte redemoinho, os filhos dos profetas que estavam em Jericó, insistiram com Eliseu para que este procurasse o corpo de seu mestre pelas circunvizinhanças. Eliseu assentiu e, após três dias de buscas consecutivas, com cinqüenta homens procurando por Elias, todos desistiram e tornaram ao seu lugar. O leitor pode ler essa narrativa no 2º Livro dos Reis 2:1-18.

Tudo estaria acabado e, a crença popular na imortalidade de Elias e elevação de seu corpo ao céu de Deus sacramentada se uma informação constante no 2ª Livro das Crônicas 21:1-20 não colocasse tudo em cheque! Ali se diz que, após alguns anos do arrebatamento do referido profeta, uma estranha carta chegara às mãos do rei Jeorão, rei de Judá na época, na qual o Senhor denunciava o comportamento iníquo deste monarca e o sentenciava a vários castigos. Quem poderia ter escrito aquilo? Quem poderia ser o insolente a escrever uma carta daquelas para a pessoa do rei? Pasme o meu amigo leitor: fora o profeta Elias! Como isso seria possível se Elias fora arrebatado? Como seria isso possível se Elias estivesse corporalmente no céu? Estaria ele agora escrevendo cartas de lá da glória e enviando-as para o planeta Terra? Se estava, então porque aceitou ir para lá? Se o prezado leitor deseja ver mais sobre estas considerações pode acessá-las no livro que publiquei intitulado “De Volta à Gehena – Eu e Você Já Estivemos Aqui”, disponibilizado para a venda neste mesmo site.

Séculos mais tarde encontraremos pessoas do povo dizendo que João Batista, um profeta do deserto e primo de Jesus, era a reencarnação de Elias (João 1:21), o mesmo acontecendo com relação a pessoa de Jesus (Mateus 16:13,14), o que nos revela que a dificuldade do populacho não estava em acreditar no fenômeno da reencarnação em si e sim em descobrir “quem se reencarnara em quem”. Se o povo acreditava na reencarnação de Elias então, obrigatoriamente, não acreditava na imortalidade corporal do profeta, nem ainda em sua permanência no céu, pois só pode reencarnar quem já morreu, e quem já morreu, não pode ter morrido nem permanecido morto no céu, pois o céu é um lugar de vivos e onde a morte não entra!

CONCLUSÃO

Tratarei do assunto sobre a crença do povo na reencarnação de Elias em João e em Jesus mais acuradamente nas Palestras IV e VI deste tema, mas o que eu desejava frisar na palestra atual, com todos os argumentos nela utilizados, é que, nem Enoque, nem Elias, nem qualquer outro ser humano que a Teologia judaica e cristã pretenda ter sido arrebatado corporalmente ao céu sem ter passado pela morte física o conseguiu de fato, pois ninguém jamais conseguiu ou conseguirá driblar a morte e a determinação do Senhor para que todos morram e após a sua morte experimentem o juízo.

Deus abençoe a todos.

 

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

 

II.a A Que Homens Está Ordenado Morrer – O Grupo dos Ressuscitados

 

Palestra II a

A QUE HOMENS ESTÁ ORDENADO MORRER?

O GRUPO DOS “RESSUSCITADOS”

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012

INTRODUÇÃO

Toda vez que alguém conversa sobre a possibilidade ou não da reencarnação com um cristão, principalmente os da vertente evangélica, logo é refutado em seus argumentos pela citação imediata do versículo bíblico de Hebreus 9:27 que afirma: “Aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois disso o juízo”. Se o refutante for conhecedor de um pouco mais das Escrituras citará ainda outras de suas passagens, como, por exemplo, a do capítulo 7 e versículos 9 e 10 do livro de Jó, que afirma: “Tal como a nuvem se desfaz e passa, aquele que desce à sepultura nunca tornará a subir. Nunca mais tornará a sua casa, nem o seu lugar jamais o conhecerá”, ou a do capítulo 14 versículos 11 e 12 do mesmo livro que diz: “Como as águas se retiram do mar, e o rio se esgota, e fica seco, assim o homem se deita, e não se levanta; até que não haja mais céus não acordará nem se erguerá de seu sono”. É importante dizer, neste contexto, que a sentença que ordena ao homem morrer uma vez, encontrada em Hebreus 9:27, não foi estabelecida pelo desconhecido escritor da carta aos Hebreus, mas foi sim uma determinação do próprio Deus que, ao ver os nossos primeiros pais pecarem, disse para Adão: “Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra; porque dela fostes tomado: pois és pó, e ao pó tornarás (Gênesis 3:19).

A questão que pretendo examinar com o meu prezado leitor é a seguinte: Estamos interpretando corretamente estes e outros textos das Escrituras ou estamos interpretando-os de maneira incompleta, discriminatória e equivocada? Sim, porque se é verdade que aos homens está ordenado morrerem uma única vez, também não deixa de ser verdade que as Escrituras relatam pelo menos dez casos de pessoas que morreram mais de uma vez por terem sido ressuscitadas; de duas outras que, acredita-se, terem sido arrebatadas corporalmente ao céu sem terem passado pela morte física e ainda de milhões e milhões de fiéis – sim – milhões e milhões de fiéis que, no futuro, sequer experimentarão a morte física! Afinal de contas, todos os homens devem realmente morrer uma vez apenas ou o meu Senhor anda fazendo exceções demais?

RELATOS BÍBLICOS DE RESSURREIÇÕES DE MORTOS

Vamos examinar essa questão um pouco mais de perto. Elenquei para o meu prezado leitor os 10 casos de ressurreição encontrados na Bíblia, a fim de evitar que o prezado tivesse este trabalho. Claro está que seria bastante desejável que o leitor pudesse lê-los e confirmá-los em uma Bíblia, seja ela impressa ou virtual, e assim aumentar o seu conhecimento e poder de crítica sobre o assunto. Eis então os registros:

  • O filho da viúva de Sarepta, ressuscitado por Elias (1º Livro de Reis 17:17-24);

  • O filho da mulher Sunamita, ressuscitado por Eliseu (2º Livro de Reis 4:32-37);

  • O soldado, lançado às pressas, na cova de Eliseu (2º Livro de Reis 13:20-21);

  • A filha de Jairo, líder principal de uma sinagoga (Evangelho de Marcos 5:21-24,35-43);

  • O filho de uma viúva em Naim (Evangelho de Lucas 7:11-17);

  • Lázaro, o amigo de Jesus (Evangelho de João 11:1-46);

  • O próprio Jesus Cristo (Evangelho de Mateus 28:1-10);

  • Os mortos que saíram dos túmulos, no Calvário, após a ressurreição de Jesus (Evangelho de Mateus 27:50-53);

  • A viúva Dorcas, ressuscitada pelo apóstolo Pedro (Livro de Atos 9:36-43); e,

  • Um jovem chamado Enéias, ressuscitado pelo apóstolo Paulo (Livro de Atos 20:7-12).

Obs. (1) O relato da ressurreição em massa, narrado pelo profeta Ezequiel em seu livro, no capítulo 37:1-42, não foi aqui incluído como um caso de ressurreição por não se tratar este de um acontecimento real, histórico, factual, mas sim de uma visão, conforme dito pelo próprio profeta (vs.1,11). Os mortos do vale representavam o estado espiritual do povo de Israel, mas Israel mesmo não havia sido dizimado, aniquilado, não se transformara em um enorme cemitério! A visão era verdadeira e seu significado espiritual também, mas historicamente não havia acontecido tal calamidade com a nação.

Obs. (2) A suposta ressurreição do apóstolo Paulo, após o terrível apedrejamento que experimentara na cidade de Listra, conforme relatado em Atos 14:19-22, também não foi incluído na relação dos ressuscitados por julgar o Pastor Olívio que tal coisa não acontecera com o apóstolo. Alguns comentaristas afirmam que, por esta ocasião, o apóstolo Paulo teria morrido e ido até o terceiro céu, lugar da habitação de Deus, onde teria recebido revelações tais que ao homem não era digno de se falar (2ª Coríntios 12:1-4). Segundo estes comentaristas, ninguém conseguiria sair vivo de uma sessão de apedrejamento e tornar a entrar na cidade, com os próprios pés, no mesmo dia, se não fosse através de um milagre de ressurreição. Entretanto o texto não confirma esta posição, como pode ser constatado pelos seguintes argumentos: (a) os “apedrejadores” de Paulo “cuidavam” que ele estivesse morto, isto é, “achavam” que ele tivesse morrido, mas não se afirma no texto que ele, de fato, tivesse falecido. Paulo bem poderia estar se fingindo de morto, num ato de esperteza para salvar a sua vida ou, ainda, estar desmaiado; (b) os discípulos realmente rodearam o corpo ferido de Paulo, demonstrando preocupação com o seu estado físico, mas não há nenhuma menção sobre eles terem orado sobre o apóstolo ou determinado que ele ressuscitasse; (c) Paulo se levantou do meio deles e ninguém se espantou com isso! Caso houvesse uma ressurreição, eles teriam, no mínimo, evocado uma palavra de louvor a Deus; (d) Não existe nada que relacione o arrebatamento de Paulo ao terceiro céu com este seu apedrejamento. Ele poderia ter tido todas as revelações que tivera orando em sua casa, no templo, onde conversara com o próprio Cristo (Atos 22:17-21), ou em qualquer outro lugar e circunstância.

Apesar de serem 10 as narrativas bíblicas incontestes que falam de ressurreições, não foram apenas 10 os indivíduos ressuscitados em toda a história da humanidade, pois o texto de Mateus 27:50-53 não quantifica os santos que ressuscitaram no Calvário, após a ressurreição de Cristo, apenas afirma que “muitos corpos de santos (quantos?) que dormiam (estavam mortos) ressuscitaram (tornaram à vida)”. Outro tanto de pessoas, de número desconhecido, tem sido ressuscitado no correr dos séculos pela atuação dos santos de Deus, engrossando ainda mais o rol dos que retornaram à vida. Constatados, pois, esses fatos, gostaria de fazer mais outra pergunta ao meu prezado leitor: Quantas mortes tiveram os indivíduos que foram ressuscitados?

DESCOBRINDO QUANTAS MORTES TIVERAM OS RESSUSCITADOS

O prezado sabe, eu sei, e todo mundo sabe, que todos os indivíduos que foram ressuscitados, à exceção de Jesus Cristo, tiveram duas mortes físicas em um mesmo ciclo de vida. Morreram uma vez e foram ressuscitados; viveram um pouco mais e tornaram a morrer. O interessante é que nenhum desses indivíduos ressuscitou mais de uma vez dentro de um mesmo ciclo de vida! Nenhum deles ressuscitou, por exemplo, duas vezes, três vezes, cinco vezes, ou mais vezes, em uma mesma manifestação de vida! Todos eles ressuscitaram apenas uma vez, dentro de um determinado ciclo de vida!

Quando falamos em ciclo de vida, é bom que esclareçamos, estamos nos referindo a manifestação integral, completa, de uma vida biológica, constituída de nascimento, desenvolvimento (infância, adolescência, juventude, etc.) e morte. Se o indivíduo tem a sua vida interrompida em qualquer uma das etapas de desenvolvimento do ser, dizemos que o seu ciclo de vida foi interrompido. Ao retornar o indivíduo à vida pelo processo da ressurreição, recomeçará exatamente do ponto onde a vida foi descontinuada. Morreu ainda criança? Como criança ressuscitará! Morreu como jovem? Como jovem tornará a vida. Morreu como ancião? Como ancião recomeçará a viver! Nenhuma das pessoas que foram ressuscitadas na Bíblia ficou mais jovem ou mais velha após ter sido ressuscitado!. Todas continuaram a viver exatamente do ponto onde pararam! Ao receber o milagre da ressurreição, o indivíduo que estava morto se levantará e assumirá o mesmo corpo com o qual morrera e continuará a viver do ponto de onde falecera até completar o ciclo de vida que lhe foi determinado.

Ora, se o indivíduo pode morrer mais de uma vez dentro de um mesmo ciclo de vida, ainda que não ultrapasse duas vezes, então, para que a Palavra de Deus se cumpra e possa se harmonizar com todos os demais textos pertinentes, a interpretação do versículo de Hebreus 9:27 deveria ser ampla o suficiente para poder abarcar todas as situações de exceção. Ela deveria ser algo assim: “aos homens (todos os homens) está ordenado morrer pelo menos uma vez dentro de um mesmo ciclo de vida, vindo depois disso o juízo”, pois situações haverá em que o indivíduo poderá morrer mais de uma vez dentro de um mesmo ciclo de vida, como aconteceu com os 9 indivíduos dos exemplos bíblicos acima citados. Apenas Jesus Cristo morreu uma vez dentro de toda a sua existência e nunca mais tornará a morrer (Hebreus 9:24-28). Se os indivíduos que foram ressuscitados devessem morrer apenas uma vez em toda a sua existência, como aconteceu com o Cristo, não poderiam jamais ser ressuscitados como o foram, mas deveriam permanecer no lugar / condição espiritual em que estavam quando morreram (Hades / Sheol) e lá ficarem aguardando a ressurreição única de Deus a ser operada nos últimos dias!

POR QUANTOS JUIZOS PASSARÃO OS QUE FORAM RESSUSCITADOS?

E os julgamentos? Quantos serão eles? Serão tantos quanto o número de mortes o indivíduo vier a experimentar em cada ciclo de vida! Morreu apenas uma vez? Então uma vez apenas será julgado! Morreu duas vezes? Então duas vezes será levado a juízo! O que devemos atentar é que, se alguém morreu e retornou à vida é porque alguém o elegeu, o separou, o selecionou, dentre muitos outros mortos, para que retornasse à vida! Todos os dias, milhares e milhares de pessoas morrem e não lhes é facultado o privilégio de retornarem vivos do mundo dos mortos! Quem poderia decidir sobre isto? Apenas Deus e o seu Filho Jesus Cristo, que tendo o direito sobre a vida e a morte de suas criaturas, poderiam arbitrar sobre a sua existência. Cristo disse em João 5: 21-22: “Assim como o Pai ressuscita os mortos, e os vivifica, assim também o Filho vivifica aqueles que quer. E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo. Ele disse para os discípulos que lhe contaram sobre a morte de Lázaro: “Lázaro, o nosso amigo dorme, mas vou despertá-lo do sono”, ou seja: “vou ressuscitá-lo” (João 11:11). Esta era a sua vontade para com o seu amigo e como Deus encarnado que era, o Cristo a realizaria.

Agostinho, um dos grandes patriarcas da Igreja Cristã[1], observou que toda vez que Jesus ia ressuscitar alguém chamava o indivíduo pelo nome (Lázaro) ou se dirigia diretamente ao corpo que iria ressuscitar (a filha de Jairo e o filho da viúva de Naim) e o ordenava viver. Ele então ponderou que Jesus assim procedia porque se Jesus simplesmente ordenasse que houvesse alguma ressurreição no lugar onde Ele se encontrava, indistintamente, sem citar o nome da pessoa ou, referir-se diretamente ao morto, todos os mortos do respectivo local ressuscitariam também! Que coisa extraordinária! Que poder tem o nosso Cristo! Isto serve para reforçar o nosso argumento de que Deus só ressuscita a quem quer e que neste querer de Deus, há uma escolha, há uma eleição, há uma seleção, sobre quem deve ou não ressuscitar.

O texto de Mateus 27:52,53 afirma que muitos corpos de santos que dormiam no Calvário foram ressuscitados, quando da ressurreição de Jesus, no domingo. Não os corpos dos santos que dormiam no Calvário, como que a representar a totalidade dos santos, mas muitos corpos de santos, para expressar que apenas uma parcela deles ressuscitara na ocasião. Não todos, mas muitos; não de todos, mas apenas de santos. Não se diz também na narrativa que algum corpo de ímpio (não crente, não fiel) tenha ressuscitado. O Senhor decidira quais santos ressuscitariam na ressurreição de seu Filho e, também, que nenhum incrédulo do Evangelho deveria retornar da morte! Caso o evangelista Mateus pretendesse dizer que todos os santos que haviam sido sepultados no Calvário foram ressuscitados, com o intuito de diferenciá-los dos corpos dos ímpios, ele teria dito “os corpos dos santos que dormiam no Calvário foram ressuscitados” e não “muitos corpos de santos que dormiam no Calvário foram ressuscitados”.

Fica claro então que se Deus decidiu que determinado indivíduo retornasse à Terra dos Viventes para viver um pouco mais e tornasse a morrer, que este juízo, tão propalado dos nossos púlpitos e tribunas como se fora o Juízo Final, o Juízo Derradeiro, o Juízo Definitivo, é, na verdade, um juízo provisório, passageiro, temporário, diferentemente daquele do Último Dia, quando todos seremos julgados segundo os atos que tenhamos praticado e quando nada mais se poderá fazer (Apocalipse 20:11-15).

FUNDAMENTOS DA ESCOLHA DE DEUS SOBRE QUEM DEVE OU NÃO RESSUSCITAR

Mas por que só uma parte dos santos que estavam sepultados no Calvário ressuscitou e outra não? Por que o Senhor Deus fez essa distinção entre santos e santos? Não eram todos eles crentes no mesmo Evangelho e no mesmo Senhor Jesus? Então, por que essa distinção, essa seleção, essa separação? O que diferenciava uns santos dos outros para que Deus fundamentasse a sua escolha entre quem devia ou não ressuscitar?

Creio que a resposta pode ser encontrada no próprio evento de ressurreição coletiva descrita por Mateus. Aquela não era a ressurreição final, permanente, definitiva, a acontecer com todos os homens no Último Dia, mas era, sim, uma ressurreição parcial, temporária, impermanente. Logo, logo, os que a experimentaram, teriam de passar novamente pelo processo da morte. Entretanto, todos concordamos que um milagre de ressurreição é uma benção “prá lá“ de especialíssima! É uma benção da qual não se ouve falar todos os dias! É exatamente aí que entram as nossas perguntas: Como a ressurreição de alguém pode ser vista como uma benção se as condições ruins em que a pessoa vivia continuarão a existir quando ela retornar à vida, tais como: o mesmo ambiente familiar difícil; a mesma situação de desempregado; as mesmas dívidas financeiras, as mesmas deficiências físicas, as mesmas falhas de caráter, etc.? Todas estas coisas continuarão inalteradas! Como dizer, então, que a ressurreição parcial é uma benção? Como pode tal ressurreição ser uma benção se o ressuscitado estará novamente em condições de pecar contra o Senhor, no período de tempo em que lhe resta viver? Desde quando ressuscitar um santo e colocá-lo em uma situação de cometimento de pecado e posterior juízo pode ser visto por alguém como uma benção?

A ressurreição parcial de alguém sempre será tida como uma grande benção, independentemente de como a pessoa irá viver após ela, por conceder ao indivíduo a oportunidade de acertar as coisas consigo mesmo, com o seu semelhante e com Deus. Ninguém é ressuscitado para ficar curado de uma doença grave, ficar livre de um espírito maligno, arrumar um bom emprego ou se casar com outra pessoa e sim para reparar alguma falha que tenha cometido contra alguém e preparar-se, em seu coração, para ser liberado definitivamente! Apenas isto pode dar significado à ressurreição parcial!

Os santos que haviam sido sepultados no Calvário e que não ressuscitaram já haviam sido libertos, outrora, de seu cativeiro moral, íntimo, existencial, e agora estavam sendo libertos por Cristo de seu cativeiro espiritual, o Hades. Seus espíritos foram levados pelo Senhor Jesus ao céu (Efésios 4:8-10 / Apocalipse 1:17,18 / Lucas 23:39-43). Seus corpos não saíram dos túmulos quando da ressurreição do Cristo, no domingo, mas continuaram dentro de suas tumbas fechadas, cerradas, invioladas, e lá continuarão até a ressurreição global. Já os corpos dos santos que tiveram seus túmulos abertos na sexta-feira pela ação do grande terremoto que acontecera na região, no momento da morte de Cristo, só saíram de seus túmulos no domingo, após a ressurreição de Cristo, e entraram na cidade de Jerusalém, a cidade santa, onde “foram vistos por muitos”.

Por que isto acontecera? Por que estes santos entraram na cidade de Jerusalém após terem sido ressuscitados? Porque fora em Jerusalém que eles viveram os seus últimos dias, os seus últimos momentos, pois todo indivíduo que é ressuscitado recomeça a viver a partir do local onde o seu corpo se encontra, quer esteja este enterrado ou não, quer tenha sido este trasladado para outro lugar ou não! O desejo imediato de todos os que voltam da morte é procurar os seus familiares, os seus amigos, os seus próximos. Se alguém, por exemplo, vier a morrer no Japão e residia na França, ao ser ressuscitado lá, no Japão, fará de tudo para retornar ao lugar onde morava na França! O grupo de fiéis que ressuscitara no Calvário tinha coisas pendentes a acertar com o próximo e com Deus, diferentemente daquele outro grupo de fiéis que já fora totalmente liberado! Não sabemos se eles aproveitaram bem a oportunidade de saldar as suas dívidas morais com o seu próximo e com Deus, mas eles a tiveram, e não a poderiam deixar passar!

Com a ressurreição parcial o indivíduo ganha uma nova oportunidade de acertar suas coisas, e Deus, a confiança de mais alguns poucos em entregar-lhe as suas vidas. Foi exatamente isto o que aconteceu com as ressurreições operadas pelo Senhor Jesus. Apenas alguns poucos creram Nele como o Filho de Deus enviado para salvar o homem. A maior parte deles continuou a desacreditar do Senhor! (Evangelho de João 12:9-11).

Ora, se o indivíduo morre e ganha a oportunidade de retornar à vida para reparar os seus erros, é porque o juízo que ele experimentou após a morte, como afirma Hebreus 9: 27, é um juízo de oportunidades, de reparação, de desagravo, isto é, um juízo para crescimento, para evolução, para progresso da criatura e não um juízo condenatório, de sentença definitiva e a escolha que Deus faz entre quem será ou não ressuscitado estará fundamentada na história kármica de cada um (conjunto de débitos e créditos morais que o indivíduo acumulou em sua vida) e na oportunidade ótima que se lhe apresenta para ser liberado em vida. Foi exatamente isso o que aconteceu com os mortos do Calvário.

Já começou a sentir aquele “friozinho na barriga” e a ficar com vontade de parar a leitura? Lembra-se do que eu disse acerca dos meus leitores? Eles sentirão medo, eles sentirão pavor, mas não recuarão jamais, pois a libertação de suas mentes e espíritos é tão mais importante e necessária que os seus temores, que eles avançarão resolutamente até onde não lhes seja mais possível recuar! Vamos então parar de dar atenção a esses receios que não nos levam a nada e prosseguir com a nossa leitura sem pensar mais em pará-la!

O leitor pode ainda perguntar: Se a ressurreição parcial é um método de retorno à vida concedido por Deus para que o indivíduo possa reparar os seus erros, então por que só uma parte dos santos sepultados no Calvário ressuscitou e não todos os demais espalhados pelos vários cemitérios de Israel e de outras nações, quando da ressurreição de Jesus? Não quereria Deus apenas demonstrar, ao ressuscitar aquele pouquinho de santos, que a ressurreição dos crentes no final dos tempos estava também garantida?”

Concordo em que Deus não precisava ressuscitar todos os santos, de todos os lugares, para garantir aos crentes que eles também ressuscitariam no Último Dia, mas como demonstramos acima, ressurreição é privilégio de alguns, após terem passado pelo juízo de Deus. Ora, se todos passam pelo juízo de Deus e Ele decide que apenas alguns terão oportunidade de retornarem à vida para repararem os seus erros, isto então faz de Deus um Juiz parcial, partidário, discriminador. Entendemos que ressuscitar ou não alguém é opção exclusiva de Deus, mas ter a oportunidade de retornar à vida para quitar dívidas morais não saldadas, é um direito de todos. E se é direito de todos, então Deus o fará, pois Deus não se permite ficar devedor do homem e também a ninguém discrimina. Como, porém, nem todos seremos ressuscitados por alguém e a mor parte de nós morrerá mesmo é em pecado, tal direito só poderá chegar a todos mediante o processo da reencarnação.

Isto não deveria, de forma alguma, nos assustar, pois tanto a ressurreição quanto a reencarnação são oportunidades dadas por Deus ao homem para a reparação de seus erros e não para a salvação de ninguém, pois quem morre como um demônio jamais retornará como um santo. Talvez nem eu nem o meu prezado leitor façamos parte do grupo de pessoas que, um dia, serão ressuscitados por alguém, mas isto não quer dizer que já não tenhamos recebido a oportunidade de retornar a este planeta muitas e muitas vezes pelo processo da reencarnação. Podemos não nos lembrar mais de nenhuma de nossas vindas aqui, nem dos muitos juízos pelos quais passamos após cada experiência de morte, mas isto não significa que essas coisas não nos tenham acontecido, pois a memória é função do intelecto e não do espírito. Agora mesmo, não nos lembramos mais, com tanto vigor, de como éramos em nossa infância, em nossa adolescência e quiçá, em nossa juventude, mas sabemos que vivemos todas as experiências que vivemos em tais fases, não é verdade? (Eclesiastes 1:11).

CONCLUSÃO

Ficar repetindo indiscriminada e ocamente as sentenças bíblicas que falam sobre a morte e o juízo que a ela se segue e não examinar a montanha de dificuldades que tais afirmações isoladamente trazem não é indicado para nenhum estudante sério das Escrituras. Que todos os homens devem morrer e após a sua morte experimentarem um juízo, Deus o disse e não há como evitar. Aprender que um ressuscitado não pode ter mais privilégios e oportunidades do que os demais seres é algo que a reencarnação pode nos ensinar. Trataremos destas questões mais detalhadamente em outras palestras, está bem?

Deus abençoe a todos.

 

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

[1] Agostinho foi uma das figuras mais importantes do Cristianismo Primitivo. Foi filósofo, teólogo, bispo e escritor. Nasceu em 13 de novembro de 354, na Argélia, e faleceu em 28 de agosto de 430. Tornou-se bispo de Hipona e passou a ser conhecido como Bispo de Hipona, ainda que seu verdadeiro nome fosse Aurélio Agostinho. Ele é responsável por ter moldado o conceito de pecado original. Defendia a idéia do primado e da infalibilidade papal. Desenvolveu a crença na Igreja como a cidade espiritual de Deus, distinta da cidade material dos homens.

I. Deve-se Crer na Reencarnação?

 

Palestra I

DEVE-SE CRER NA REENCARNAÇÃO?

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em fevereiro de 2012

Não sei qual o seu credo ou mesmo se possui algum, mas, se partilha da crença católica ou evangélica e possui algum conhecimento bíblico responderá imediatamente a pergunta acima dizendo que “não”, e citará o versículo bíblico de Hebreus 9:27 que afirma que “aos homens está ordenado morrerem uma vez vindo depois disso o juízo” para justificar a sua negação. Talvez responda que a palavra reencarnação não existe na Bíblia e que esta só fala de regeneração e de ressurreição, nunca de reencarnação. Se for um pouco mais intransigente dirá que esta é uma “doutrina espírita”, criada pelo próprio demônio para arrastar os homens para o inferno e, portanto, indigna de qualquer apreciação.

Mas você sabia que a Bíblia fala, sim, desta doutrina? Que ela está repleta de passagens e de textos que tratam deste ensinamento? Que nela podem ser encontrados registros de reencarnações individuais tanto quanto de reencarnações coletivas? Que ela menciona um intenso e imenso fluxo de pessoas que vão e voltam da Terra em períodos definidos? Que ela ensina a pré-existência do espírito, o desdobramento “astral”, a doutrina do “carma” e outras mais, ditas “espíritas”?

Pois é: você pensava que a Bíblia silenciava sobre esses assuntos, mas na realidade é a Igreja que silencia sobre eles! E até onde eu sei, ela não tem a mínima intenção de estudá-los em suas classes especiais!

E você? Vai ter coragem de ler os meus artigos? Vai lê-los até o final ou recuar já nesta primeira tentativa? Vai continuar não questionando nada e aceitando placidamente tudo o que lhe ensinam, ou vai colocar a mente para funcionar e tentar descobrir, por si mesmo, qual a verdade bíblica sobre as coisas, ainda que esta possa deixá-lo desestabilizado, instável e, em algumas situações, até mesmo apavorado?

Dizer que a Bíblia não cita a palavra reencarnação para tentar destruir a veracidade de tal ensinamento é um argumento tão frágil e tão pueril quanto o afirmar que a Trindade de Deus, o inferno e o milênio também não são verdadeiros, por não existirem tais palavras nos textos bíblicos originais. Apesar disto, todas as igrejas cristãs – católicas e evangélicas -, não cessam diariamente de ensinar que Deus é um Ser social, constituído de três pessoas distintas, que o inferno é eterno, cheio de fogo e tormentos, destinado ao Diabo e aos homens iníquos e que o reino milenar de Cristo será implantado quando de sua volta à terra, convencidas que estão de que estes termos podem até não ser encontrados nos originais das Escrituras Sagradas, mas os seus princípios doutrinários, sim!

Afirmar também que a reencarnação é uma “doutrina espírita” criada pelo próprio demônio para iludir os homens e levá-los ao inferno com o objetivo de desestimular o seu estudo em nossas classes bíblicas, é, não só, uma ação vil contra o conhecimento, mas também um argumento extremamente imaturo, tendo em vista que, muito antes de existir o Espiritismo clássico com a sua codificação, ou a religião judaica com sua fantástica Lei, ou ainda, o Evangelho, conforme apresentado pelo Cristo, a reencarnação já existia, sendo apregoada em toda a Escritura – e isto já a partir de seu primeiro livro, o Gênesis! A reencarnação não surgiu com nenhuma religião e sim com a criação do homem! Ela não é patrimônio de nenhuma fé ou credo e sim da humanidade! Não é algo que se deva adorar ou rejeitar, mas sim tentar compreendê-la, como fazemos com as demais doutrinas de nossos respectivos segmentos religiosos.

A reencarnação é parte integrante da doutrina da redenção humana e, juntamente com a doutrina da regeneração, é utilizada por Deus para a salvação de sua criatura. Enquanto a reencarnação propicia nova oportunidade para o homem ser salvo, através de nova manifestação de vida física, a regeneração o liberta espiritualmente e o prepara para viver a nova vida de pureza em Cristo. Nem a regeneração sozinha salva ninguém, nem a reencarnação sozinha faz coisa alguma. Ambas precisam uma da outra, precisam atuar juntas para libertar o homem de sua cadeia de pecados. Como isto acontece você ficará sabendo através de uma série de artigos que disponibilizarei neste site rotineiramente, a medida que formos avançando em nosso estudo. Não acho, pois, de bom tom afirmar que algo estabelecido por Deus para ajudar na salvação do homem seja coisa do Diabo só por não compreendê-lo bem.

Respondendo agora a questão que encabeça este artigo, se devemos crer ou não na reencarnação, tendo em vista Deus afirmar que ”aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo”, eu diria que só podemos dar uma resposta definitiva a alguma coisa depois de analisarmos todos os argumentos prós que lhe sejam favoráveis e todos os argumentos que lhe sejam contrários. A seguir devemos colocá-los nos pratos da balança da verdade e vermos para que lado o fiel da balança aponta. O Pastor Olívio fez isso com relação ao assunto da reencarnação e o ponteiro aferidor da balança apontou para o lado de sua veracidade como doutrina bíblica, sendo, portanto, digna de ser estudada e proclamada em nossas igrejas. As conseqüências disto para a minha vida pessoal e familiar foram e continuam sendo terríveis, mas, tomando emprestadas as palavras do apóstolo Paulo aos anciãos da igreja em Éfeso, eu também afirmo: “Em nada tenho a minha vida por preciosa, contanto que cumpra com alegria a minha carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus, para dar testemunho do Evangelho da graça de Deus” (Atos 20:24). O leitor terá acesso aos resultados de minhas pesquisas a partir já do próximo artigo que eu mesmo publicarei neste site.

Estou plenamente ciente de que a mor parte dos cristãos não gosta de examinar coisa alguma acerca de nada, preferindo ficar mesmo é na ignorância, no obscurantismo, como se essa omissão pudesse protegê-los, mantê-los em segurança. Mas isto é exatamente o contrário daquilo que Jesus nos ensinou! Ele disse que erramos por não conhecermos as Escrituras e o poder de Deus (Mateus 22:29). O apóstolo Paulo afirmou que devemos examinar tudo – seja bom ou ruim – e reter o que é bom (1ª Tessalonicenses 5:21). O profeta Oséias ensinou que a rejeição consciente ao conhecimento produz a destruição da alma (Oséias 4:6). Não existe, pois, defesa na ignorância voluntária! Não existe proteção alguma na estupidez desejada! Nunca a falta de informação deveria ser utilizada pelos líderes da Casa de Deus para manter o povo na servidão! Fora com este “controle espiritual das massas”! Fora com todo obscurantismo e ignorância controlada! Os leitores de meu site não serão portadores de lindas Bíblias sem, contudo, conhecerem o que nelas existe. Eles serão sim pessoas livres em suas mentes, prontas para crescer até onde desejarem!

“Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará” (João 8:32)

Deus abençoe a todos.

 

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

V. Deveres do Rebanho em Relação ao Levantamento de Líderes

 

Palestra V

DEVERES DO REBANHO EM RELAÇÃO AO LEVANTAMENTO DE LÍDERES 

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em maio de 2011 e revisado em maio de 2012

INTRODUÇÃO

Desejamos examinar nesta palestra quais os deveres do rebanho em relação a eleição de Líderes e Obreiros, tendo em vista que tais Líderes e Obreiros serão levantados para dirigi-lo. Como deve o rebanho se comportar com relação a essa questão? As Escrituras estabelecem algum princípio para isto? Se sim, quais são eles?

Destacamos seis princípios bíblicos para nossa apreciação, quais sejam:

Reconhecer que a Seara é realmente grande!

Esta foi a primeira coisa que Jesus falou para os seus discípulos sobre a seara: que ela era realmente grande! (Mateus 9:37). Ele, que era o próprio Filho de Deus encarnado, se admirou da extensão da seara! Observe, prezado leitor, que quando Jesus falou isso para os seus discípulos, Ele ainda não os havia chamado para serem os seus apóstolos, o que quer dizer que a sua orientação era para ser observada por todos os discípulos presentes, por todo o seu rebanho, e por tantos quantos mais viessem a ser assim constituídos. Mas o que queria exatamente Jesus dizer com seara? Qual a amplitude, a abrangência, o alcance deste termo em sua mente? Seria o seu campo de trabalho na Judéia, na Galiléia, ou no Israel inteiro? A resposta a essa pergunta é maior do que se pode imaginar e pode ser encontrada na explicação da Parábola do Joio, narrada por Jesus em Mateus 13:36-43. Ali, Ele afirma que a seara, ou seja, o campo de semeadura na qual o joio foi plantado, junto com a semente boa, é o mundo. Este era o tamanho da seara a que Ele estava se referindo! È possível que digamos que nosso campo de trabalho é muito pequeno, não indo além das fronteiras de nossa igreja ou de nosso bairro, mas a verdade é que o nosso campo de trabalho começa sempre pequeno, exatamente a partir do local onde estivermos inseridos, e deve ser desenvolvido como se pretendêssemos alcançar todo o mundo! (Atos 1:8). Mesmo que nunca consigamos passar dos limites de nosso bairro, devemos trabalhar como se o mundo inteiro dependesse de nosso trabalho! (Salmos 2:7,8 / Isaías 42:1-3 / Zacarias 4:10). A não ser que a igreja tenha essa visão, estaremos sempre olhando para o nosso próprio umbigo e dizendo que só somos responsáveis pelas pessoas de nossa localidade.

Reconhecer que os ceifeiros são poucos

Esta foi a segunda coisa que Jesus falou sobre a seara: que os ceifeiros eram poucos (Mateus 9:37). E porque eles eram, e são ainda tão poucos, estão sempre muito cansados pelo excesso de trabalho. Seu diminuto número quase nunca lhes permite realizar bem a tarefa proposta e atingir as metas maiores estabelecidas pela Liderança. Acho por demais interessante que o Cristo não reclamou da quantidade de discípulos existentes na seara, que chegavam aos milhares (Mateus 9:36,36), mas sim da falta de ceifeiros encontrados nela! É sempre assim: as igrejas estão abarrotadas de crentes, de discípulos de Cristo, mas vazias de Obreiros, de trabalhadores para Deus. Isto se torna uma coisa extremamente grave quando pensamos que todos os crentes receberam dons especiais para desenvolverem bem o seu trabalho (1ª Coríntios 12:7-11) e o poder do Espírito Santo para realizá-lo em vitória (Tito 3:5,6). A serpente Luciferina realmente picou o calcanhar da mulher no Éden (Gênesis 3:15) e esta não consegue mais fazer as coisas com diligência, nem tampouco cumprir sua tarefa maior de evangelizar o mundo sem sentir muita dor, deslocar-se com muito esforço e livrar-se de manquejar. Se é verdade que as boas obras não salvam ninguém, que proveito se tirará de uma fé que nada produz? (Tiago 2:14-26).

Orar para que Deus Levante Obreiros!

Até aqui Jesus estava tratando conosco apenas na área do reconhecimento das coisas. Ele estava falando apenas dos problemas da seara, mas agora Ele vai trabalhar com a parte prática da solução do problema. O Mestre já havia dito que a seara era realmente grande e que poucos eram os ceifeiros para trabalharem nela, mas agora Ele vai nos dizer o que fazer para suprir essa deficiência, para suprir essa falta: ORAR! Esta foi a primeira coisa que o Mestre Jesus ensinou. Segundo a sua orientação, todos aqueles que tiverem falta de obreiros em sua seara, devem solicitar a Deus para enviá-los (Mateus 9:38). Só que esta solicitação deve ser feita através de um tipo incomum de oração, um tipo de intercessão não muito usual. Ela é bastante diferente das nossas orações auto-satisfeitas, egoísticas, de “barriga cheia”: ela é um rogo, uma súplica, uma oração de desespero. Só consegue orar assim quem já se apercebeu das dificuldades trazidas pelos dois estágios acima destacados. Daí Jesus tê-los mencionados antes de entrar nesta parte prática. Somos impelidos a crer, por esta orientação do Senhor Jesus, que não temos Obreiros suficientes e com qualidade em nossa seara porque não estamos orando para tê-los ou, se já estamos orando e não alcançamos ainda a vitória, que podemos estar orando de maneira errada (Jeremias 29:13 / 33:3).

Entender que Deus mesmo é o Senhor da Seara

Por duas vezes o Senhor Jesus disse, em um pequeníssimo verso do Evangelho de Mateus, que Deus mesmo é o Senhor da seara (Mateus 9:38). Ele estava nos ensinando que a nossa preocupação sobre ter ou não Obreiros não deve ser maior do que a preocupação de Deus em enviá-los – se é que se pode dizer que Deus tenha preocupação por alguma coisa!  A seara é Dele, pertence a Ele, é propriedade Dele. É, pois, responsabilidade Dele suprir a sua seara do que quer que ela venha a precisar. A nossa é apenas de orar. A resposta do Senhor para nossas súplicas mostrará exatamente qual é a configuração que Ele deseja que a nossa igreja (seara) tenha. Se eu rogo a Deus com meu rebanho por Obreiros e Ele só me manda gente que gosta de orar, é porque Ele deseja que minha Igreja seja uma igreja intercessora. Então eu devo investir nisso, nesse ministério! Se eu oro para Ele me mandar Obreiros e Ele só me manda gente que gosta de evangelizar, certamente a minha igreja será uma igreja evangelística. Este será o seu perfil! Se eu oro para Ele me mandar Obreiros e Ele só me manda gente que gosta de ajudar os outros certamente essa igreja será uma igreja assistencialista, misericordiosa, e assim por diante. Deus sempre nos responde à hora e de maneira precisa. Nós é que devemos aprender a olhar as coisas espirituais com um olhar espiritual, a fim de aprendermos a detectar quais as maneiras pelas quais o Senhor nos responde e, então, nos adequarmos aquilo que Ele nos respondeu.

Aprender a Identificar o Nosso Dom

As listas de dons espirituais encontradas em Romanos 12:6-8 / 1ª Coríntios 12:1-11 / Efésios 4:11 e 1ª Pedro 4:10,11 certamente nos ajudarão a identificar os nossos dons, mas, se não nos encaixarmos em nenhum deles, não devemos nos desesperar, pois há outras passagens bíblicas que falam dos dons espirituais e o Pastor da igreja pode auxiliar a sua ovelha a encontrar qual seja o seu dom. Não nos esqueçamos que o texto de 1ª Pedro 4:10 fala da “multiforme graça de Deus” se manifestando no seio de sua Igreja, na vida do homem redimido. Isto diz respeito às milhares e milhares de formas diferenciadas da graça de Deus se manifestar na vida do crente. Coisas que não existiam em nossa vida antes de nossa conversão, ou que até já existiam, mas que não possuíam nenhuma conotação espiritual e que agora surgem como um meio de ajudar a Casa do Senhor e a sua Obra! Cada ovelha deve sondar o seu coração e orar a Deus a fim de detectar suas habilidades. Todos os renascidos no tempo da graça possuem algum dom espiritual com o qual podem e devem servir ao Senhor, diferentemente dos fiéis do tempo da Lei, em que o Senhor determinava sobre quem o seu Espírito Santo repousaria para capacitá-los a fazer o que Ele desejava que se fizesse e depois se retirava.

Apresentar-se como Obreiro

Se você já sabe que recebeu uma capacitação do Senhor para serví-Lo e se já reconheceu essa capacitação em sua vida, então está na hora de apresentar-se ao Senhor para que Este o use em sua Obra e ao Pastor de sua igreja para que este possa lhe dar oportunidades de trabalho. Não se importe se não ocupar nenhum cargo na estrutura formal da igreja, pois nenhuma igreja possui cargos suficientes para todos os seus membros, mas toda igreja possui serviços suficientes para todas as suas ovelhas. O fato de Deus ter lhe confiado um dom que proveio do céu, que pertence a Ele, é a melhor prova de que Ele deseja usá-lo. É ainda a maior prova de que você obterá sucesso naquilo que irá fazer, pois Deus nunca se mete a fazer algo que dará errado, que redundará em fracasso. A discípula Dorcas só sabia costurar roupas para as viúvas pobres da cidade de Jope, mas quando ela morreu foram chamar o apóstolo Pedro em outra cidade para este ressuscitá-la! (Atos 9:36-43). Era uma Obreira útil, de valor inestimável, ainda que trabalhando com um pequeníssimo dom, representado por sua agulha de coser. Tenha cuidado em se apresentar para fazer o trabalho que alguém já faz melhor do que você ou para o qual você não foi capacitado para realizá-lo. Isso evitará atritos, brigas desnecessárias e muita confusão.

CONCLUSÃO

Quando Jesus foi rogar ao Pai para enviar Obreiros para a sua seara, o Pai os enviou de dentro de seu próprio grupo! Não os trouxe de longe, de um grupo de fora! Eles já estavam ali! Bastava a Jesus escolhê-los de acordo com a determinação de Deus e ordená-los! Querido Líder, os futuros Líderes e Obreiros de sua Igreja já estão dentro dela! Incentive-os, pois a se apresentarem a trabalhar para o Senhor! Ovelha querida, não fique esperando que um Líder de fora venha e tome o lugar que pertence a você! Apresente-se ao seu Pastor, peça-lhe treinamento, converse com pessoas que tem o mesmo dom que o seu, e trabalhe arduamente para o seu Senhor! Faça sua vida de fé valer a pena ser vivida!

Deus o(a) abençoe.

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

IV. Relação dos Novos Líderes com a Liderança já Constituída

 

Palestra IV

 RELAÇÃO DOS NOVOS LÍDERES COM A LIDERANÇA JÁ CONSTITUÍDA

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em maio de 2011 e revisado em maio de 2012

INTRODUÇÃO

Como deve ser o relacionamento entre os novos Líderes e Obreiros com a Liderança Maior, já constituída? Será que algo novo deve ser esperado destes que agora ocupam uma posição destacada, diferenciada no rebanho, ou tudo deve continuar como era? E o Líder Maior, o que deve esperar dos novos Líderes e Obreiros agora constituídos? O que os textos bíblicos podem nos dizer sobre o assunto?

O que os antigos textos bíblicos têm a nos dizer sobre o assunto são coisas tão fantásticas e responsabilizadoras que fariam até os mais prudentes e sóbrios Líderes de Cristo estremecer!

A primeira característica que os Novos Líderes e Obreiros devem ter com a Liderança já constituída é………

Lealdade

O texto de Marcos diz que Cristo chamou para Si os discípulos que quis (3:13). Não para o Judaísmo; não para o Cristianismo; não para o Templo ou para a Sinagoga, mas para Si. Não a Si, mas para Si. Não a Ele, mas para Ele. Isto significa que somos de Cristo, pertencemos a Cristo, somos propriedades sua (1ª Pedro 2:9 / Salmo 135:4). E o texto diz que todos os discípulos chamados vieram a Ele. Podemos trabalhar em igrejas diferentes, mas somos de Jesus. Somos servos de Cristo a serviço de sua Igreja. O apóstolo Paulo escreveu uma carta a seu amigo Filemom a fim de falar sobre um escravo dele (Filemom) que havia fugido e que fora parar na prisão em que ele, Paulo, estava, em Roma. Naquela cadeia o apóstolo pregara-lhe o Evangelho e Onésimo, o escravo fugitivo, veio a converter-se a Cristo. Por duas vezes em sua pequena carta Paulo afirma ser “prisioneiro de Cristo” (Filemos 1:1,9). Veja isto, prezado leitor: Paulo estava preso em uma fétida e escura prisão de Roma, mas disse para seu amigo Filemom que não era prisioneiro de César e sim de Cristo! Somos prisioneiros de Cristo e não de uma religião, de uma denominação, ou de um cargo. É para o Cristo que devemos ir sempre, pois que Ele, sim, é o Senhor de nossa vocação. (2ª Timóteo 1:8,9). Isto nos ensina que o novo Líder ou Obreiro deve manter com o seu Pastor uma relação de lealdade. Afinal de contas foi por causa dele, de sua obediência a orientação do Senhor, que o novo Líder ou Obreiro foi ordenado. Este então deve ser leal a sua Liderança como o foram os primeiros apóstolos a Cristo, exceção feita, claro, à figura do traidor Judas (Marcos 3:14):

Proximidade

O verso 14 do capítulo 3 de Marcos afirma que Cristo nomeou os novos Obreiros para que estivessem com Ele. Isto fala de amizade, de companheirismo, de comunhão. Um Líder ou Obreiro que fica distante da Liderança Maior, não comparece às programações da Igreja, não participa das atividades do rebanho, podendo fazê-lo, não é Líder de nada, de coisa alguma, e só tem a perder. Ele não goza da presença do Líder Maior, não conhece sua mente, não compartilha de seus sentimentos nem conhece os seus projetos para a Obra. Não desenvolve bem o seu trabalho e fica mal visto pelo rebanho. Cristo nomeou seus doze discípulos para que estivessem com Ele e para que Ele lhes pudesse “ordenar a pregar”, ou seja, para lhes passar instruções a fim de que eles pudessem fazer bem o seu trabalho. Se o novo Líder ou Obreiro não estiver por perto como irá receber as suas instruções? As Escrituras dizem que maldito é aquele que realiza a obra do Senhor relaxadamente ou negligentemente (Jeremias 48:10). Isto só é assim porque o Obreiro poderia fazer a Obra de Deus perfeitamente, com qualidade, com esmero, mas, ainda assim ele não o fez – ao contrário, “desfez” da Obra do Senhor e agora vai ter de arcar com as conseqüências. Os discípulos mais íntimos do Pastor Jesus vivenciaram coisas que os demais não participaram: Pedro, Tiago e João viram Jesus ressuscitar a filha de Jairo (Marcos 5:37); presenciaram a sua espetacular transfiguração (Mateus 17:1-2); escreveram vários  livros do Novo Testamento; e, se tornaram as colunas da Igreja Cristã (Gálatas 2:9). Toda vez que um Líder ou Obreiro começa a ficar distante de seu Pastor, de sua supervisão, de seu olhar pastoral, acaba promovendo rebelião na Igreja, divisão no rebanho, fissura na família da fé.

Empenho no Trabalho

O evangelista Mateus disse que ao olhar Jesus para as multidões errantes e desnorteadas sentiu compaixão delas e disse para seus discípulos que “a seara era realmente grande, mas que poucos eram os ceifeiros” (Mateus 9:35-38). Ele estava alertando os futuros Obreiros para o fato de que na Obra de Deus sempre haverá muito trabalho! (Mateus 10:1). E se há muito trabalho e poucos trabalhadores então a carga de trabalho será demais para cada Líder ou Obreiro. Sabendo disto, nenhum Líder ou Obreiro deveria ficar reclamando que trabalha demais na Igreja. Marcos disse que os novos Líderes, agora já chamados apóstolos, iam e vinham sem parar, sem tempo para descansarem ou comerem. Jesus então os chamou a um lugar aparte para eles descansarem um pouco, mas não lhes diminuiu a carga de trabalho! O descanso deles seria por pouco tempo para que não se acostumassem ao próprio descanso e, o lugar não era nenhum SPA evangélico e sim o deserto! O trabalho na Obra de Deus realmente pode ser extenuante, fatigante, extremamente cansativo para o servo do Senhor (Marcos 6:30-32), mas o novo Líder deve trabalhar com empenho na Seara do Mestre, pois que Deus nunca chama preguiçosos para trabalhar em sua Seara e sim pessoas operosas, produtivas, úteis. Paulo disse que Onésimo, o escravo de Filemom, mesmo tendo o nome de “útil”, na língua grega, era um inútil, mas que agora, com Cristo em sua vida, ele se tornaria duplamente útil para Filemom: primeiro, em agradecimento por este estar lhe dando uma segunda chance de servi-lo como escravo seu que era; segundo, porque ele agora se tornara o seu irmão em Cristo e lhe serviria com grande prazer e satisfação (Filemom 1:10-11).

Amor ao trabalho

Isto é diferente de ter empenho no trabalho ou de ser leal à pessoa do Líder. Empenho fala de esforço, de diligência, de mãos no trabalho. Amor fala de sentimento, de emoção, de se colocar a alma no que se faz. Pode-se fazer muito sem amor, mas não se pode amar sem fazer nada. Pode-se ser leal a um determinado Líder e, ainda assim, fazer o trabalho sem amor, sem afetividade alguma, só por fazer. Mateus disse que Jesus sentiu compaixão da multidão (9:36) e qualquer pessoa que seja chamada a fazer o que Ele fazia, também deve sentir o que Ele sentia ao realizar o seu trabalho. Sentir compaixão por alguém e diferente de sentir pena, de ter dó. Esta significa que você se sente condoído com a situação ruim que o outro está passando, mas que não tem poder algum para mudá-la, para fazer algo em seu favor, enquanto que aquela outra significa que você se sente condoído com a situação ruim que o outro está passando, mas que vai em sua direção para socorrê-lo e ajudá-lo a passar por aquela dificuldade. Compaixão significa “sofrer com”. Jesus sofria com o sofrimento das multidões e isto o levava a agir, a atuar, a realizar alguma coisa, e a por todo o seu coração na Obra de Deus. Todo Líder ou Obreiro deve desenvolver o seu trabalho com amor, com sentimento, com compaixão, pois a Obra a ser realizada é tão dura, tão pesada, que a não ser que ele faça assim, desta maneira, certamente perecerá.

Retorno Sobre o Trabalho Feito

Marcos também disse que os novos Líderes voltaram juntos para Jesus com alegria contando-lhe o que tinham feito e o que haviam ensinado (6:30). Que é isto senão uma reunião de Obreiros semelhante as que fazemos atualmente em nossas Igrejas? Todos os Líderes devem prestar relatório ao Pastor que deve ouvi-los, um a um, e todo Pastor deve agendar uma ocasião em que todos os seus Liderados, de perto e de longe, possam nela estar presentes. Nesta ocasião, os novos Líderes e Obreiros trocarão experiências, quebrarão o sentimento de solidão, principalmente se forem missionários, receberão uma visão mais atual, real e geral sobre a Obra, se estimularão uns aos outros e também descansarão um pouco. É bom realizarmos as nossas reuniões mensais com os Obreiros que trabalham conosco na igreja, mas todo Pastor deveria realizar também uma reunião, em período a ser acertado, seja semestral ou anual, com a duração de alguns dias, se possível, na qual todos os seus Líderes e Obreiros possam dela participar e recompor as suas forças. O sentimento de comunhão, de participação, de unidade, advindos dessas reuniões, é imenso e faz valer a pena todo o esforço e custo despendidos nelas. O fato de Cristo não ter falado nada em contrário sobre o trabalho realizado pelos seus Líderes, nem ainda sobre os ensinamentos ministrados por eles às multidões, comprovou que estes haviam entendido perfeitamente as suas ordens e que as executaram com perfeição. Como é maravilhoso quando a Liderança Maior consegue passar suas idéias sobre determinado trabalho a ser realizado e os seus Líderes e Obreiros o entendem cabalmente e o realizam com perfeição!

Harmonia entre os Obreiros

Todos os textos examinados deixam transparecer que os apóstolos trabalhavam em harmonia entre si e em perfeita sintonia com as determinações do Cristo. Isto pode ser deduzido pelo fato de que, em todos esses textos, se afirma que os apóstolos voltaram juntos para contarem a Cristo o que haviam feito. Nenhum deles voltou depois do outro, destacadamente, como que a caracterizar um possível desafeto, um desentendimento no grupo A relação entre eles era perfeita, até onde todos podiam detectar. Três anos depois eles ainda estavam assim. Apenas Jesus viu o sentimento mau e discordante no coração de Judas, mas não os seus discípulos (João 13: 21-30). Nenhum sentimento de rivalidade, de disputa, de supremacia de um sobre outro, deve existir entre os servos de Cristo, e menos ainda, se este se tornou um Obreiro ou um Líder Maior na Casa do Senhor. Os exemplos de Cristo cingindo-se de uma toalha e lavando os pés dos discípulos (João 13: 1-20) e de seu extraordinário esvaziamento da Divindade, conforme relatado pelo apóstolo Paulo em Filipenses 2:3-11 para estar conosco em igualdade de condições na batalha contra o Diabo, a carne e o mundo, são os exemplos norteadores desta nossa caminhada cristã.

Deus abençoe a todos.

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

 

III. Como Levantar Obreiros

 

Palestra III

 COMO LEVANTAR OBREIROS

 Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em maio de 2011 e revisado em maio de 2012

INTRODUÇÃO

Nunca existiu um Líder melhor e mais competente que Jesus Cristo. Ele treinou 12 homens dentre os mais difíceis de serem treinados e, em apenas 3 anos e meio, eles já estavam prontos, preparados para operarem a maior de todas as revoluções do mundo – a revolução da consciência. Como foi que o Cristo fez isto? Segundo os Evangelhos de Mateus 10:1-42 / Marcos 3:13-19 / Lucas 6:12-15, Ele o conseguiu observando alguns princípios de liderança já existentes e estabelecendo também novos princípios para serem cumpridos por aqueles que já se encontram constituídos como Líderes e que tenham como atribuição levantar outros Líderes e Obreiros para a Obra do Senhor. Vamos examinar então que princípios foram estes observados pelo Senhor Jesus:

Quanto ao Tempo Ideal para se Levantar Obreiros

O texto de Mateus 9:35-38 deixa claro que Jesus levantou seus Obreiros quando, ao olhar para a multidão que o seguia, percebeu que esta o seguia como ovelhas errantes que não têm Pastor. Ele era apenas um e havia tanto trabalho a ser realizado! Sozinho Ele não conseguiria dar conta de tudo. Precisava de ajudantes. Então o texto seguinte diz que Ele subiu ao monte e foi tratar desse problema com Deus (10:1-5). O que aprendemos com isso? Aprendemos que o tempo certo para se levantar Obreiros é aquele em que a necessidade do trabalho se faz evidente. Nenhum Pastor deve levantar Obreiros só para lhe dar um cargo, prender pessoas na congregação, ou mostrar que a “sua“ Igreja é um lugar de muito trabalho! Muitos cargos hoje são “distribuídos” nas igrejas de Cristo politicamente, para destacar algum amigo ou para prender pessoas que dão dízimos elevados, mas este é um comportamento tão mesquinho, tão baixo, tão reprovável que chega a nos causar asco (nojo)! Se a necessidade para o cargo não existir, não deve também existir o Obreiro. Quando Jetro viu Moisés atendendo o povo de manhã até a tarde em suas questões pessoais soube que aquele era o momento ideal para se levantar Lideranças. Então ele orientou Moisés a levantar chefes do povo sobre mil, cem, cinqüenta e dez para ajudarem-no, o que Moisés fez e equacionou aquele problema (Êxodo 18:13-27). Caso não observemos isto e teremos uma Igreja politizada, inchada de tanto “chefes” e bastante ruim de se estar.

Quanto ao Tempo de Formação dos Obreiros

Há diferença entre o tempo de preparação de um Obreiro para a ocupação de um cargo setorial, e o tempo de preparação para a substituição do Líder principal de uma Obra. O Senhor gastou 80 anos preparando Moisés para libertar o seu povo do Egito (40 anos no Egito – Atos 7:20-23 – e 40 anos em Midiã, com Jetro, seu sogro – Atos 7:29-30) e mais 40 anos ainda para este efetivá-la (Atos 7:35,36). Ele gastou 30 anos preparando Jesus para a sua obra vicária, redentora (Lucas 3:23), mas usou-o por apenas 3 anos e meio. Ele levou muito tempo para preparar o apóstolo Paulo (Gálatas 1:14 / 2:1), mas poucos anos depois este já estava sendo [1]morto. Quando foi levantar um Líder para substituir a Moisés, o Senhor tomou a Josué que já estava sendo preparado por pelo menos 40 anos para aquele momento (Números 13:116 / 14:34), mas quando Moisés foi levantar maiorais de mil, de cem, de cinqüenta e de dez para ajudá-lo a julgar as causas do povo,  ainda que o texto não nos informe quanto tempo ele tenha levado para procurá-los, escolhê-los e ordená-los, sabemos que não foi algo tão demorado, dada a premência para a solução do problema. Cristo levou 3 anos e meio para preparar seus Obreiros, mas quando teve de ser substituído, o único Líder no mundo com capacitação suficiente para fazê-lo foi o Espírito Santo de Deus que conosco permanece até aos dias de hoje (João 14:16-18,26 / 16:7-15). Paulo preparou muitos Líderes para a Obra de Cristo, mas não foi substituído por ninguém. O que aprendemos com tudo isto?

  • Gasta-se muito tempo para preparar material humano e pouquíssimo tempo para usá-lo;
  • Quanto maior a posição do Líder, maior o tempo de preparo de seu substituto;
  • O Obreiro que vai substituir o Líder principal deve estar com este desde o princípio da Obra;
  • O tempo ideal para a substituição de um Líder é aquele que a Liderança Maior entenda ser necessário para a capacitação do Obreiro substituto..

Quanto ao Método de Preparação de Obreiros

O método utilizado por Cristo para a preparação de seus Obreiros foi o da [2]Instrução Direta e Companhia Permanente. Cristo nunca contratou professores ou doutores de religião para instruir os seus discípulos. Tampouco alguma vez os mandou fazer algum dever de casa para trazê-lo no outro dia, como se faz em nossas instituições de ensino. Ele mesmo preparou-os, dando-lhes instruções do céu e ensinando-os como fazer as coisas diretamente, no local de trabalho, em sua companhia. É muito bom que o futuro Líder ou Obreiro estude em instituições de ensino preparadas para tal e se empenhe ao máximo com o objetivo de se tornar um Obreiro irreprovável (2ª Timóteo 2:15), mas não deixa de ser menos importante que ele receba instruções diretamente de seu Pastor sobre o que fazer na Obra. Os Seminários, Institutos e Faculdades Teológicas são locais onde o novo Líder receberá instruções, mas a Igreja e o mundo são os locais onde o Obreiro terá a sua atuação. Todo Pastor deve preparar pessoalmente seus Líderes naquilo que pretenda que eles façam, lado a lado com a instituição de ensino.

Quanto ao Tempo Necessário para a Escolha dos Obreiros

O evangelista Marcos registrou que Jesus subiu ao monte e lá, no alto da montanha, chamou para Si os discípulos que quis (v. 13). Lucas afirma que Cristo passara a noite inteira em oração e que quando já era dia chamou a si os discípulos que escolhera (vs. 12,13). O que isto nos ensina? Que os Líderes que iremos preparar devem ser escolhidos depois de um período longo e de intensa oração. Não de um pouco de oração apenas, mas de muita oração. Jesus passou a noite inteira orando ao Pai apenas por isto. Não se diz em nenhum dos textos que Ele tenha orado por outro motivo que não este. Há que se gastar tempo com Deus para se saber a quem devemos entregar os mistérios eternos. Há que se gastar tempo com Deus para se saber a quem devemos colocar como Líder e Obreiro sobre seu rebanho. Há que se gastar tempo com Deus para se saber com quem devemos partilhar a nossa unção espiritual. Não podemos ter pressa aqui (1ª Timóteo 5:22). Uma falha apenas e podemos por toda a Obra a perder. Quando um rebanho vê um Líder que foi levantado depois de muita e intensa oração, ele se sente confiante de que Deus fará uma grande obra através daquele Líder, mesmo que em determinados momentos este novo Líder pareça vacilante ou fraco. Se este período de oração não ocorreu, o rebanho fica sem base espiritual nenhuma para crer que aquele Líder ou Obreiro será uma benção e desenvolverá um ministério profícuo.

Quanto ao Momento Cruciante da Escolha

Os Evangelhos também informam que apenas Jesus subiu ao monte para orar por seus futuros ajudantes. Ele já estava experimentando a companhia de Pedro e de seu irmão André (Mateus 4:18-20), de Tiago e João, filhos de Zebedeu, que já eram seus discípulos (Mateus 4:21,22). Mateus já o estava seguindo (Mateus 9:9) e de igual maneira, Filipe e Natanael (João 1:43-49). Mas ainda assim, quando Ele foi orar ao Pai para que Este lhe informasse quais deveriam ser os futuros Líderes de sua Obra Ele subiu ao monte sozinho. E não disse para ninguém o que ia fazer! Por que foi que Ele fez isto? Por que Ele não levou alguém para ajudá-lo em oração? Porque a sua escolha não poderia ser influenciada por ninguém. Tivesse Ele um discípulo ali, orando com Ele, e seu coração poderia pender para escolher esse discípulo como um de seus Líderes, pela sua devoção. O próprio discípulo poderia “forçar uma barra” para ser escolhido por Jesus e então, neste caso, as duas decisões que poderiam sair dali seriam erradas: se o discípulo fosse escolhido como apóstolo, teria ganho uma projeção pessoal e não uma oportunidade para projetar a Cristo; se não fosse selecionado, ficaria a vida inteira amargurado contra Jesus e possivelmente se tornaria seu inimigo e opositor da Obra. Toda a Igreja pode e deve orar para que Deus ajude o seu Pastor na escolha de seus Obreiros, mas no momento crítico, crucial, da recepção dos nomes, da revelação sobre quais deverão ser os seus Ajudantes, apenas o Pastor deve permanecer na presença de Deus, em oração.

Quanto ao Anúncio dos Selecionados

Depois de ter ficado uma noite inteira em oração, Jesus chamou para Si os novos Líderes. Estes eram pessoas comuns que, nenhum de nós, em sã consciência, escolheria para liderar nada! Em seu grupo não havia escritores, empresários, profissionais liberais, professores universitários, mestres de religião ou políticos. Apenas pescadores (Pedro, André, Tiago e João), um subversivo (Simão, o Zelote), um coletor de impostos (Mateus), crentes incrédulos (Filipe e Tomé), gente comum e desconhecida de nós (Bartolomeu, Tadeu) e ainda aquele que o iria trair (Judas). Cristo não chamara Natanael, por exemplo, para compor o seu grupo, pessoa de quem afirmara não existir nenhum dolo (João 2:47) nem ainda sua Mãe, que sabia ser Ele o Messias (Lucas 1:26-35 / 2:8-20). Ao analisarmos friamente as escolhas que Jesus fez somos levados a afirmar que sua oração foi o maior fracasso de sua vida! Como escolher gente tão despreparada como pescadores para serem as futuras colunas da Igreja? Como escolher um zelote (Simão cananita) e um publicano (Mateus), que eram inimigos, e colocá-los no mesmo grupo? Como escolher para apóstolo o seu próprio traidor? É que a escolha dos Líderes da Obra de Deus não pertence a nenhum de nós, e sim a Ele mesmo. É Ele quem escolhe as pessoas que Ele quer, cabendo a nós apenas obedecê-Lo e honrá-Lo. Nossas escolhas devem refletir exatamente as escolhas que o Senhor já fez. Com isto aprendemos que não devemos chamar para Líderes aqueles que simpatizam conosco ou que nos agradam, mas sim aqueles que Deus mesmo já escolheu para Si. Muitos dos Líderes chamados por nós podem causar estranheza ao rebanho, mas esta estranheza, esta falta de obviedade, é a maior certeza de que a escolha foi feita por Deus, pois só Ele poderia chamar para Si tais pessoas para serem Líderes! Para o discípulo chamado, isto também traduz grande segurança, por não se sentir capaz de assumir tal posição. Foi assim com Moisés (Êxodo 4:1,10,13), Jeremias (1:6), Amós (7:12-15) Paulo (1ª Coríntios 15:8-11 / Gálatas 3:6-9 / 1ª Timóteo 1:12,13), e tantos outros.

Quanto a Qualificação dos Líderes

Isto é uma das coisas que mais impressionam no chamamento de Cristo. Ele não exigiu nenhuma qualificação educacional ou social de seus discípulos! Nem ainda mesmo uma qualificação moral! Caso o tivesse feito e poderia ter se livrado logo daqueles discípulos problemáticos, do seguidor traiçoeiro e dos apóstolos sem expressão! Afinal de contas Ele conhecia cada um deles e o que estava em seus corações, não precisando que ninguém Lhe informasse sobre quem eles eram (João 2:25). Ainda assim Ele escolheu exatamente aqueles discípulos. Sua única imposição, segundo o evangelista Lucas, foi que eles fossem convertidos, fizessem já parte de seu grupo de discípulos (Lucas 6:13). Por que foi que Ele fez isto? Porque cabia a Deus escolher os trabalhadores de sua Obra e não a Cristo! A este cabia apenas orar, receber e obedecer, como um filho faz, levantando exatamente aqueles a quem o Pai já havia escolhido. Afinal de contas este fora o motivo pelo qual Ele fora orar ao seu Pai. Caso Ele tivesse estabelecido qualquer outra condição que não fosse a espiritual e poderíamos atribuir o sucesso ou fracasso da Obra de Deus a existência desta ou daquela outra condição e não à soberania de Deus. Moisés tivera liberdade para escolher os seus Líderes e exigir deles suas qualificações (Êxodo 18:21) mas não o Cristo. Neste assunto Ele não poderia arbitrar. Tinha que escolher exatamente aqueles a quem Deus o Pai já escolhera. Daí aquela estranha seleção de discípulos! Mais tarde a Igreja Cristã passou a condicionar o levantamento de Líderes aos cargos de apóstolos (Atos 1:21-26); Bispos (1ª Timóteo 3:1-7 / Tito 1:5-9) e Diáconos (1ª Timóteo 3:8-13).

Quanto a Procedência dos Líderes

Cristo chamou para apóstolos pessoas que já faziam parte de seu grupo de seguidores e não de outros rebanhos existentes. Isto é importantíssimo para nós, pois nos ensina que o Pastor deve chamar para a Liderança do rebanho pessoas que dele já façam parte e não pessoas vindas de outros agrupamentos. O Senhor já havia estabelecido, através de Moisés, uma legislação sobre a eleição de um rei na qual orientara o povo a colocar sobre si um rei que viesse de seus próprios irmãos e não de um povo estrangeiro (Deuteronômio 17:14,15). Cristo poderia ter escolhido gente mais bem preparada do segmento dos fariseus, dos herodianos, dos saduceus, dos essênios e de outros grupos quaisquer para colocar sobre seu rebanho, mas não o fez. Ele os escolheu dentre os seguidores de seu próprio grupo. Por que foi que Ele fez isto? Porque Ele sabia que se já é difícil para nós aceitar como Líderes e Obreiros pessoas que já conhecemos, que trabalham conosco, e que jamais escolheríamos para nos liderar, (segundo os nossos critérios, claro), quanto mais uma pessoa vinda de fora, que não conhecemos nem a ela nem ao seu trabalho e que também não conhece nada sobre nós! O desânimo que poderia se abater sobre alguns por não terem tido a oportunidade de servirem a Cristo no local onde congregam poderia ser fatal a sua fé ou lhes incentivar a procurarem outro rebanho.

Quanto ao Número de Obreiros Eleitos

Ele escolheu, dentre os milhares de discípulos que tinha em Israel, apenas doze. A Bíblia diz que sua fama já havia ultrapassado os limites de seu país e chegado à Síria e que de todas as partes vinham ter com Ele para serem curados e libertos (Mateus 4:23-25). Em outra parte se diz que estava vindo gente da Fenícia, das cidades de Tiro e Sidom para ouvi-Lo (Lucas 6:17,18), mas ainda assim Ele só escolheu doze discípulos para serem Líderes. Porque foi que Ele fez isto? Para nos ensinar que o Pastor deve chamar para Líderes de seu rebanho, apenas a quantidade necessária para desenvolver o trabalho pretendido com eficácia. Nem Obreiros demais, passando a idéia de que “há muitos caciques para poucos índios”, nem Obreiros de menos passando a idéia de que “há muitos índios para poucos caciques”. O numero de Líderes a ser levantado deve ser exatamente aquele que a Igreja necessita. Doze é o número da plenitude dos redimidos e tem a ver com o povo de Deus. Doze eram os filhos de Jacó e das tribos de Israel. Que adiantaria o Cristo chamar uma pessoa de cada aldeia, de cada cidade, de cada região para ser Líder sobre um grupo, se apenas na Galileía existiam 204 cidades e aldeias? Este grupo acabaria contendo milhares de pessoas e a sua supervisão sobre ele seria quase impossível, tomando um tempo imenso que o Cristo não possuía e comprometendo seriamente a sua missão. Treinando apenas aqueles doze, estes treinariam outros tantos e estes a outros mais e assim, sucessivamente. Todo Pastor deve estar capacitado a preparar Líderes que possam preparar outros Lideres.

Quanto as Novas Atribuições dos Líderes e Obreiros

Mateus disse que Cristo após ter chamado para Si os doze discípulos que seriam nomeados apóstolos, deu-lhes orientações sobre quais seriam as suas novas atribuições (10:5-42). São 37 versículos tratando do trabalho a ser desenvolvido pelos novos Líderes e um capítulo inteiro do Santo Evangelho para tratar de sua nomeação. Marcos também fala das novas atribuições que Cristo dera a seus Ajudantes (3:14-15). Moisés dissera a seus novos Líderes quais seriam as suas atribuições e o tempo a ser despendido no trabalho (Êxodo 18:22). Creio que Deus julga ser isso uma coisa muito importante por ter utilizado tanto espaço nas Escrituras para falar sobre esse tema, mas também creio que esta é uma das partes mais falhas nos programas de preparação de Líderes existentes. A liderança chama alguém para trabalhar, o nomeia como Obreiro, mas não lhe diz exatamente o que deve fazer, não lhe informa quais serão as suas novas atribuições. O resultado disso, claro, é uma grande confusão. Pastores há que estão sendo sub-utilizados em seus ministérios, Presbíteros há que não possuem entendimento algum sobre o que seja o seu cargo, Diáconos há que estão tomando conta de crianças, do pátio de estacionamento ou tão somente servindo os elementos da ceia, e por aí vai. Todo Pastor, antes de nomear um Líder, deve estabelecer quais serão as suas atribuições.

Quanto a Titulação dos Novos Obreiros

O texto de Lucas 6:13 diz que Cristo passou a chamar os doze discípulos escolhidos de “apóstolos”. Isto também se encontra em Mateus 10:1,2. Era um título diferente que, quando pronunciado, trazia à mente de seu possuidor a lembrança de sua nova posição e de suas novas responsabilidades ao mesmo tempo que mostrava para os demais seguidores que aquelas pessoas gozavam de uma certa distinção. Eles não eram mais apenas discípulos, mas “apóstolos”, escolhidos dentre milhares e milhares de seguidores de Cristo em toda a Nação. Por esse titulo passaram a ser conhecidos em toda a História. O que o Cristo pretendia nos ensinar com Isto? Que o Pastor deve dar o título correspondente às novas funções de seus Líderes. Não apenas lhes dar novas atribuições e deixá-los como eram antes, como discípulos desconhecidos, mas honrá-los com a nova designação pela qual eles passarão a ser conhecidos! (Romanos 13:7). Isto estimula o espírito do cooperador, pois ele sabe que aos olhos dos demais isto quer dizer que ele se encontra em uma posição mais próxima de seu Líder. Certo é que alguns podem demonstrar orgulho espiritual por isso, mas o mesmo texto de Lucas a que nos referimos diz que Cristo deu nome de apóstolos aqueles que eram discípulos. Antes de sermos qualquer coisa que Deus nos permita ser, somos discípulos de Cristo. Aqui está a nossa maior honra!

Quanto a Ocasião de Nomeação dos Novos Obreiros

É interessante observar que todos os Obreiros foram nomeados de uma única vez, ao mesmo tempo e não aos pouquinhos, em vários grupos e ocasiões diferentes (Lucas 6:13-17). Todos foram nomeados de uma só vez e na presença de todos! Por que o Cristo fez assim? Porque desta maneira todos se sentiriam estimulados a trabalhar ao saberem que havia também outros parceiros de ministérios como eles, se cobrariam mutuamente por melhores resultados, tomariam conta uns dos outros, trocariam experiências entre si, se sentiriam valorizados ao saberem que o Cristo não havia feito nenhuma outra nomeação secreta, individualizada e que os considerava a todos igualmente. Isto nos ensina que, sempre que possível, o Pastor deve nomear todos os seus Líderes e Obreiros de uma única vez, em uma única data, em um único evento, em apenas uma ocasião.

Quanto à Ordenação dos Líderes

Após a nomeação dos novos Obreiros, Cristo deu-lhes poder para realizarem a sua missão (Mateus 10:1). Os capacitou, os revestiu de autoridade, os ungiu com poder espiritual. Deu algo de Si, que estava dentro Dele, para os novos Líderes. Só podemos dar aquilo que temos (Atos 3:6) e Cristo deu-lhes daquilo que possuía. Tudo o que um Pastor possui de melhor em sua vida deve compartilhar com o novo Líder na hora da unção: capacidade evangelística, poder para curar enfermos, sabedoria na Palavra, capacidade administrativa, e todas as demais coisas que ele sabe que Deus lhe deu em abundância. O novo Líder será o reflexo da vida espiritual de seu Pastor e, portanto, quanto mais de si ele tiver, mais segurança o Pastor terá que o novo obreiro desenvolverá um bom ministério. Nunca um Pastor deveria reter o poder espiritual que possui a fim de desqualificar um novo Líder ou mantê-lo pequeno diante de todos (Deuteronômio 34:9 / 1ª Timóteo 4:14 / Hebreus 6:1,2). Isso não condiz com sua posição de homem de Deus.

Quanto ao Momento da Liberação dos Líderes e Obreiros

Por último, o texto de Mateus 10:5 diz que Cristo os enviou a realizar o que tinham para realizar. O que isto quer dizer? Quer dizer que o Pastor deve determinar o momento a partir do qual o novo Líder será responsável por tudo o que diga respeito a seu cargo. O momento em que o novo Líder terá o seu cordão umbilical administrativo cortado e se tornará, de fato, o cabeça daquele setor, o detentor daquele cargo, o Líder daquele grupo, etc.. Não se pode trabalhar livremente em um setor da Igreja se a Liderança está o tempo todo ditando as regras a serem observadas, as maneiras de se fazer o trabalho, as pessoas a serem levantadas como auxiliares e coisas assim. O Obreiro tem de ter liberdade para trabalhar em seu Setor, para expor suas idéias, para nomear os seus auxiliares e fazer o que tem de ser feito. Ou o Líder confia totalmente em seu Obreiro ou não o coloca no cargo. Cristo deu as instruções necessárias a seus Obreiros e os lançou no campo, como o agricultor a semear em um campo (Salmo 126:5,6). A partir daquele momento, o novo Líder será o responsável por seu ministério com suas novas responsabilidades.

Deus abençoe a todos.

 

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

[1] Paulo se converteu nos primeiros anos do movimento cristão, provavelmente entre 33 e 35 d.C, e morreu decapitado em Roma, em cerca de 70 d.C.
[2] Apesar de o método de ensino utilizado por Cristo ser parecido com o método utilizado por Aristóteles, conhecido como peripatético, palavra grega para ‘ambulante’ ou ‘itinerante’ em razão do hábito deste filósofo ensinar ao ar livre, caminhando enquanto lia e dava preleções, por sob os portais cobertos do Liceu, conhecidos como perípatoi, ou sob as árvores que o cercavam, o seu método diferia daquele por não estabelecer lugar e horário para o ensino.

II. Porque Constituir Líderes

 

 

Palestra II

POR QUE CONSTITUIR LÍDERES?

 Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em maio de 2011 e revisado em fevereiro de 2012

POR QUE CONSTITUIR LÍDERES?

A PRIMEIRA razão pela qual a Liderança Maior da Igreja (Apóstolo, Bispo, Pastor) deve constituir Líderes e Obreiros é simples e natural e não deve assustar ninguém, como seja, onde houver dois indivíduos, sempre um deles será o Líder. Isso foi estabelecido por Deus desde o princípio da humanidade. Quando o Senhor criou os nossos primeiros pais determinou que a mulher fosse a ajudadora do homem e não o homem o ajudador da mulher (Gênesis 2:18,20). Isso fez do homem o Líder, o Cabeça, pois quem ajuda alguém, apóia alguém que já está fazendo alguma coisa. A iniciativa de fazer algo, de começar uma coisa nova, faz do indivíduo que a iniciou um Líder (Gênesis 2:24). O apóstolo Paulo escreveu aos crentes coríntios apontando três razões pelas quais o homem deveria assumir a posição de Cabeça do casal. Ele disse: a) o homem é a imagem e glória de Deus enquanto a mulher é a glória do homem; b) a mulher proveio do homem e não o homem da mulher; c) o homem não foi criado por causa da mulher e sim a mulher por causa do homem (1ª Coríntios 11:3, 7-9). Mesmo entre irmãos gêmeos a liderança de um sobre o outro se faz presente. O Senhor disse que dos filhos gêmeos de Isaque e Rebeca, a saber, Esaú e Jacó, o maior seria o menor e o menor seria o maior, daí a luta de ambos no ventre da mãe, durante toda a sua gravidez (Gênesis 25:19-23). Até na Pessoa Divina encontramos exemplo de uma sadia liderança! O Pai sempre aparece como o Líder das duas outras Pessoas Divinas. Foi Ele quem tomou a iniciativa da criação do Universo (Gênesis 1:1 / Isaías 45:12); da criação do homem (Gênesis 1:26,27) e da obra de redenção da humanidade (Gênesis 3:15). Foi Ele quem enviou o seu Filho ao mundo (João 3:17) e também enviou o Espírito Santo à Igreja (João 14:26), mas Ele mesmo de ninguém é enviado. Levantar, pois pessoas na Igreja, para ocuparem cargos de liderança, não deve ser algo para nos deixar arrepiados, apavorados, de cabelos em pé, mas sim para ser visto como algo genuíno, legítimo e fundamentalmente natural.

A SEGUNDA razão pela qual se deve constituir Líderes é porque são eles quem garantem a realização e a permanência do serviço a ser executado. Sem o poder de agregação dos Líderes jamais conseguiríamos realizar alguma coisa. Se todos fizessem o que desejam fazer, a seu bel-prazer, sem ordenação nenhuma, não se chegaria a lugar algum, mesmo somando-se todos os esforços. O apóstolo Paulo orientou magistralmente os coríntios sobre o esforço de unidade que eles deveriam fazer caso desejassem realizar alguma coisa. Para isto ele usou a figura do corpo humano como exemplo visto este possuir uma variedade enorme de órgãos que se unem para cumprir as tarefas devidas (1ª Coríntios 12: 12-31). É apenas quando nos unimos a outros para fazer algo sob a liderança de alguém que planeja ações, reúne materiais, agrega esforços e estabelece metas, que as coisas acontecem. Encontramos na Trindade Divina o maior exemplo de cooperação do universo. Todas as Pessoas Divinas trabalharam juntas, harmônicas, em sintonia, para que o universo viesse a existir, o homem ganhasse existência e a redenção da humanidade se tornasse uma realidade, contudo, nenhuma Pessoa da Deidade fez tudo sozinha, individualmente. Se o Pai quisesse fazer uma coisa e o Filho ou o Espírito Santo outra, discordando entre si, nada do que existe teria vindo à existência. Tudo foi feito de comum acordo, em plena cooperação e harmonia. É pela cooperação dos liderados, sob a direção sadia de um Líder, que as coisas vêm à existência!

Mas os Líderes ou Obreiros de uma igreja não são importantes apenas porque ajudam a Liderança Maior a realizar as coisas que ela deseja, mas também porque eles garantem a permanência, do serviço. Caso eles não estivessem exercendo a sua autoridade, a sua liderança, a sua supervisão o tempo todo, e todo o serviço ou obra estaria perdido. Logo as pessoas se afastariam uma das outras e a obra, atividade ou serviço, conquistado com tanto esforço, se extinguiria. Todos ficariam muito tristes e o sentimento de frustração consumiria os seus corações. Todos sabemos que manter ou preservar algo que foi conquistado é muito mais difícil do que a conquista do algo em si. Destruir ou perder aquilo que foi conquistado então é a parte mais fácil de todo o processo! Nossa salvação em Cristo é um bom exemplo disto. Converter-se ao Senhor Jesus durou só um momento de nossa vida, um só instante, mas permanecer firme em seus ensinamentos até o final de nossas vidas, vencendo as lutas do dia a dia…UFA! Como isto é difícil!

A TERCEIRA razão pela qual devemos constituir Líderes e Obreiros na obra de Deus é que apenas com o apoio destes, o Líder maior poderá realizar a sua própria Obra! Veja o exemplo de Moisés. Ele devia colocar o povo hebreu, recém liberto do Egito, dentro da terra de Canaã. Esta era a sua incumbência, a sua missão maior, estabelecida pelo próprio Deus, mas tinha também de ouvir o povo em suas questões pessoais, particulares, que era uma missão menor. Ele ficava desde a manhã até a tarde ouvindo o povo em suas causas e então os aconselhava dentro das orientações de Deus (Êxodo 18:13). Jetro, o seu sogro, viu Moisés fazendo aquilo e ficou absurdamente apavorado! (18:14). Ele então chamou o seu extenuado genro ao final do dia e lhe disse que se ele continuasse fazendo aquele serviço daquela maneira e sozinho desfaleceria e todo o povo com ele! (Êxodo 18:15-18). Jetro então aconselhou Moisés a reunir todo o povo e a declarar-lhe todos os mandamentos e leis de Deus em que eles deveriam andar e a obra que deveriam fazer (19:20), o que já eliminaria uma multidão de problemas. A seguir, ele deveria cercar-se de ajudantes que o auxiliassem a fazer aquele grande serviço e só procurarem Moisés nas causas mais sérias que eles não tivessem competência para julgar (vs.21-23). Moisés assim o fez, o povo continuou sendo atendido em suas necessidades de uma maneira até mais ampla, a Obra maior de Deus para com Moisés não foi descontinuada e o grande Líder pode descansar melhor de seu trabalho (vs.25-27). Que grande administrador era Jetro, o sogro de Moisés! Este é um dos personagens bíblicos de que eu gosto e que certamente possuía o maravilhoso dom de governos!

APRENDENDO A ADMINISTRAR COM JETRO

Com o sogro de Moisés, Jetro, aprendemos coisas sobre liderança que nenhuma Liderança Maior deveria jamais abrir mão ou omitir-se de fazê-las, como seja:

  • Os Líderes e Obreiros são a extensão da Liderança Maior, pois que é através deles que esta Liderança chega às pessoas mais distantes que lhe estão subordinadas. Sem a presença destes a congregação jamais ficaria sabendo qual é a vontade do Líder Maior para os mais diversos assuntos e setores da instituição. São os Líderes e Obreiro que repicam, reproduzem, repetem as orientações do Líder Maior para os seus liderados e assim todos são atingidos. Eles atuam como se fossem o microfone da Liderança Maior da instituição, levando a voz desta a todos. Mediante os conselheiros de Moisés, todos os integrantes daquela imensa multidão, de alguns milhões de indivíduos, tornaram-se conhecedores da vontade de Deus para as suas vidas, mesmo não tendo se aproximado da pessoa do grande Líder!

  • Os Líderes e Obreiros atuam como um filtro dos problemas para a Liderança Maior. Esta não pode e nem consegue falar com todos os integrantes de sua instituição pessoalmente, “cara a cara”. Mesmo em uma igreja de pequeno porte o Líder não consegue falar com todos os seus membros nem ouvir-lhes os problemas. Moisés jamais conseguiria falar pessoalmente com toda aquela multidão e resolver todos os seus problemas, que se renovavam a cada dia. Ele só poderia abençoar a alguns diariamente, por mais que se esforçasse. Para que este serviço pudesse continuar e assim abençoar a todos os que dele necessitassem, ele deveria ser feito de uma maneira diferente. Foi aí que Jetro entrou e falou com Moisés sobre os conselheiros de mil, de cem, de cinqüenta e de dez que ele deveria colocar sobre o povo. Estes filtrariam os problemas da multidão permitindo que só chegassem a Moisés os problemas mais complexos.

  • Os Líderes e Obreiros atuam como um muro de proteção contra o ego do Líder Maior. Tudo o que a Liderança Maior realiza, só realiza com a ajuda de seus Líderes e Obreiros. Sozinha, ela não consegue fazer nada nem ir a lugar algum. Sendo assim, como é que um Líder Maior tem a audácia, o desplante, o descaramento de dizer: “eu fiz isto, eu fiz aquilo, eu montei isto, eu montei aquilo” ao invés de “nós fizemos, nos realizamos, nós construímos”, se um exército de pessoas o ajudaram a dar existência ao seu projeto? Onde fica o seu Orientador Maior, o Espírito Santo nisto? Ele não o ajudou em nada? Consegue imaginar Moisés agindo assim? Só para realizar o trabalho proposto por Jetro ele teria de levantar quase 80 mil pessoas como conselheiros, pois o número de hebreus que saíram do Egito com ele, de vinte anos para cima, era de 603.550! (Números 1:1-3, 46-49). E olha que os hebreus não incluíam em suas contagens as mulheres, adolescentes e crianças e nem ainda os levitas!

  • É apenas quando a Liderança Maior constitui Líderes e Obreiros para os ajudarem na Obra que a Obra cresce! Isto parece contraditório não é? Como é que dividindo-se uma coisa esta pode vir a crescer? É que na Matemática dos céus quando dividimos algo com alguém este não fica menor, diminuído, subtraído, mas aumenta, cresce, multiplica, fica maior! (João 6:1-13). Quando levantamos Líderes e Obreiros para trabalharem na Obra de Deus permitimos que ela ganhe consistência interna e cresça muito além de nós mesmos! E esse crescimento não é apenas quantitativo, mas qualitativo também! Jetro disse que o povo ficava de pé, aguardando o julgamento de Moisés sobre suas causas, de manhã até a tarde! (Êxodo 18:13,14). Isto era extremamente exaustivo para todos. Com a orientação do velho sogro de colocar maiorais sobre o povo para atendê-lo, o trabalho fluiu melhor e com maior qualidade! Antes de os apóstolos ordenarem os sete Diáconos para resolverem o problema da distribuição dos benefícios dados às viúvas pobres em Jerusalém o texto bíblico diz que o número de discípulos apenas “crescia” (Atos 2:47 / 4:4 / 5:14 / 6:1-7). Com a divisão de tarefas, o texto afirma que, pela primeira vez, o número de discípulos se “multiplicava” (Atos 6:7). Você pode imaginar o que significava isso? Que coisa extraordinária! Que selo maravilhoso de Deus em uma obra!

PERDENDO O MEDO DA DESCENTRALIZAÇÃO

Sei que quando falamos sobre descentralização muitos Líderes torcem o nariz, franzem a testa, esfregam as mãos, e meneiam a cabeça, pois não gostam de ouvirem falar sobre isso por terem receio de dividir tarefas com outras pessoas. Eles entendem que perderão poder, controle e qualidade no trabalho, mas isto tem mais a ver com nosso egoísmo, orgulho e desconhecimento das Escrituras do que com a incapacidade das pessoas que possam nos ajudar. Ninguém, a exceção do Senhor Deus, consegue fazer tudo sozinho, com perfeição, e dentro do tempo devido. Este medo é improcedente e ofensivo aos nossos irmãos. O apóstolo Paulo disse que ninguém consegue ser olho e ouvido ao mesmo tempo e que o órgão constituído para determinada coisa, a desempenha melhor do que qualquer outro órgão do corpo, mesmo que aquele outro seja mais nobre que este (1ª Coríntio 12:16-26). Vamos, pois, deixar essa mania de querer fazer tudo e de ficar pensando que sem nós o trabalho não anda e perde em qualidade e passar a trabalhar com nossos irmãos de acordo com as orientações bíblicas!

Pedro disse que o trabalho dos Apóstolos, os Líderes maiores da Obra de Deus, não era o de ficar resolvendo problemas administrativos, mas sim o de se dedicarem a oração e ao ministério da Palavra de Deus (Atos 6:4). Milhares de Igrejas estão fraquíssimas espiritualmente e não crescem nem internamente nem externamente porque os seus Líderes perderam a visão da Obra, perderam o foco de seu trabalho. Eles estão se envolvendo com toda sorte de problemas administrativos, participando de intermináveis e improdutivas reuniões que lhes exaurem o vigor espiritual e toma o tempo a ser dedicado as tarefas espirituais, quando deveriam se dedicar aquilo para o qual realmente foram levantados, a saber, à oração e ao ministério da Palavra! Termos de aprender a nos desincumbir de tarefas que nos tomem tempo desnecessário e que possam ser realizadas por outrem para realizarmos a Obra maior que o Senhor nos deu para realizar! Temos de aprender a descentralizar!

Não deveríamos ter tanto medo de dividir a direção de nossas igrejas com nossos irmãos, pois só podemos e devemos dividir tarefas; nunca responsabilidade. Essa jamais pode ser delegada, pois que pertence apenas ao Líder Maior. Morrer pelos pecados da humanidade na cruz, só o Cristo poderia fazê-lo; pregar o Evangelho e sarar os enfermos, Obreiros qualificados poderiam realizá-lo. Libertar o povo hebreu e levá-lo à Terra Prometida era a Missão precípua da vida de Moisés, e apenas ele deveria fazê-lo; julgar as causas do povo no dia a dia, Obreiros qualificados poderiam realizá-lo. Supervisionar e pastorear rebanhos segundo os ditames do Novo Testamento apenas o Líder Maior da igreja, constituído para tal, poderá fazê-lo; ajudá-lo nas tarefas rotineiras de atenção com as ovelhas e com as congregações, Líderes preparados poderão realizá-lo.

Jetro disse para Moisés que seus ajudantes o ajudariam a carregar sua carga e não que a tomariam para si (v.22). Tanto que Moisés continuou julgando as causas do povo, só que agora em menor número e, apenas as que tinham um maior graus de complexidade. Paulo orientou os gálatas a carregarem as cargas uns dos outros, sem esquecerem-se de suas próprias (Gálatas 6:2,5). Cristo mesmo se ofereceu para trocar o nosso fardo com o Dele, mas ainda assim temos de carregar alguma carga (Mateus 11:28-30). Quando dividimos nosso fardo com outros mostramos o quanto eles são importantes para nós, para a Obra de Deus e para a continuação do trabalho que tanto amamos. É pela descentralização de tarefas que garantimos a continuidade e o crescimento da Obra.

OS BENEFÍCIOS DA DESCENTRALIZAÇÃO

Há uma conseqüência bastante benéfica para aqueles Líderes que descentralizam as tarefas, qual seja, a de conseguirem tempo para renovarem as suas forças. Este não é e jamais deveria ser o motivo para descentralizarmos atividades, mas não deixa de ser uma boa conseqüência desta. Se vamos trabalhar menos, ganharemos mais tempo para renovação de nossas forças físicas, mentais e espirituais. Tudo quanto existe no mundo se desgasta e precisa ser renovado, re-energizado, recomposto. Apenas Deus não precisa de descanso (Isaías 40:28), mas ainda assim Ele descansou de sua Obra criativa para nos dar o exemplo (Gênesis 2:1-3). Ele criou um “dia sabático” para os seres humanos e todos nós temos o mandamento de observá-lo (Êxodo 20:8-11). Chama a atenção que o mandamento para a guarda do “dia sabático” era o maior de todos os do Decálogo, maior mesmo que o de “não matar” (v.13). Porque isto acontecia? Porque quem não descansa segundo os ditames e orientações de Deus, de qualquer maneira já está se matando mesmo! Aquele que nos criou disse que é necessário que experimentemos um descanso diário e semanal. Até a terra de Israel tinha o seu descanso de sete em sete anos (Êxodo 23:10-13). A melhor maneira de garantirmos a nossa continuação eficiente na Obra do Senhor por muitos e muitos anos é dando descanso ao nosso corpo, mente e espírito, conforme o Senhor nos ordenou em 1ª Tessalonicenses 5:23. Não cumprir este mandamento não é excesso nenhum de consagração – é desobediência mesmo!

Tendo visto todas essas coisas vantajosas sobre o processo da descentralização como pode um Líder da Casa de Deus ainda ficar reticente, temeroso, vacilante, de levantar pessoas qualificadas para o ajudarem a tocar a sua Igreja ou outra instituição? Deveríamos aprender que ninguém é insubstituível! Ninguém fica em um cargo para sempre! No mundo material, se não passamos conhecimento para alguém nem permitimos que pessoas capazes nos ajudem, quando morrermos, a obra que realizamos e o conhecimento que detivemos durante a nossa vida perecerá conosco. Só que na Obra do Senhor a coisa é diferente. O homem morre, mas a Obra continua, pois a Obra é de Deus e Ele não a deixa parar!  Moisés talvez seja o maior exemplo disto. Ele era inteligente, sabia comandar pessoas e possuía uma íntima comunhão com Deus. Parecia ser insubstituível em todos os aspectos que se possam analisar, mas quando morreu sem conseguir colocar o povo na Terra Prometida, Deus levantou Josué que, após muitos combates e esforço, colocou o povo de Deus lá dentro! Cristo distribuiu o seu conhecimento e poder com os seus discípulos e então, após deixar o planeta e ascender aos céus, eles continuaram eficientemente a sua obra. Todo o mundo conhecido de então foi alcançado por seus ensinamentos e ainda hoje sua Obra não dá os mínimos sinais de fadiga ou de que vai parar!

CONCLUSÃO

Não sabemos nada sobre o nosso tempo, queridos. Não sabemos nada sobre até quando estaremos disponíveis para trabalhar. O Senhor pode nos chamar a qualquer momento para Si, ou podemos enfermar, ser substituídos, feitos prisioneiros, viver como foragidos, e então, vamos ficar profundamente tristes e frustrados por não termos conseguido cumprir a nossa missão. Vamos seguir, pois, a orientação do sábio Salomão em seu livro de Eclesiastes 9:10 e trabalhar com afinco e prazer para o Senhor nosso Deus. Ele disse: “Tudo quanto te vier à mão para fazer, faze-o conforme as tuas forças, porque na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem indústria, nem ciência, nem sabedoria alguma”

Deus abençoe a todos

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.