II. A Postura do que Crê

 

 

Palestra II

A POSTURA DO QUE CRÊ

Estudo Elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em março de 2012

INTRODUÇÃO

Conforme vimos na palestra anterior, a fé não é um objeto material, alguma coisa que se pegue ou que se meça, e sim uma relação de confiança entre o fiel e Deus. O Senhor prometeu alguma coisa ao fiel que fica esperando pela coisa prometida até ver a sua realização. Enquanto o objeto de sua fé não aparece, não se materializa, não surge no cenário físico, fenomênico, o fiel fica exercendo uma postura condizente com a fé que possui, postura esta radicalmente contrária a adotada pelo não crente!

DIFERENÇAS DE POSTURA ENTRE O QUE CRÊ E O QUE NÃO CRÊ

Quando um indivíduo, por exemplo, olha para uma casa, um carro, um barco, ou qualquer outra coisa e a deseja fortemente em seu coração, começa logo a lutar para conseguir o objeto de seu desejo e envida todo o esforço necessário para conseguí-lo: poupa dinheiro, investe recursos, vende objetos, trabalha dobrado, pede ajuda a parentes e amigos, faz empréstimo e, quando vai fechar a proposta ainda negocia prazos e prestações. Se alguém lhe perguntar sobre o porquê de tanto esforço ele fala de sua pretensão enorme, quase inconquistável, e afirma ter fé de que vai conseguir o que deseja! Afinal de contas, diz ele, se alguém deseja ser ou conquistar alguma coisa na vida, deve lutar para conseguí-la!

Isso é tudo o que um fiel não faz! O fiel não se esforça para obter nada, não luta para conquistar nada, pois sabe que Jesus já conquistou tudo para ele na cruz. Apenas crê, confia, acredita, pois sabe que o objeto de sua fé é impossível de ser obtido por qualquer esforço que faça. Somente Deus pode conseguí-lo para ele. O verdadeiro fiel sabe que não se precisa usar a fé para conseguir coisas possíveis. Só pode possuir fé quem não tem recursos suficientes para alcançar o que deseja. Se alguém possui dinheiro para comprar um barco, não precisa ter fé para adquiri-lo e sim vontade! Se alguém possui forças para erguer-se do leito, onde está enfermo, e ir até o banheiro, não precisa ter fé e sim pernas! Jesus mandou que o cego em quem aplicara uma pasta de lodo com a sua saliva e colocara sobre seus olhos fosse caminhando até o Tanque de Siloé e lá se lavasse, garantindo-lhe que ficaria curado. O cego foi, lavou-se e voltou vendo! (João 9:1-7). Aquele homem não precisava de cura para as suas pernas, pois que não era paralítico e sim cego! Deus jamais fará por nós o que pudermos fazer por nós mesmos.

Se pudéssemos conseguir qualquer coisa pelo nosso esforço, empenho ou recurso poderíamos dispensar a fé e abrir mão de Deus também, já que a fé provêm Dele. A fé deixaria então de ser algo sobrenatural e se transformaria em algo mecânico, automático, natural. Mas tal não é assim. Pela fé natural o homem consegue o que quer. Pela fé bíblica, sobrenatural, o homem recebe de Deus o que Ele quer lhe dar. Quem crê não faz, espera. Quem não crê não espera, trabalha. E trabalha como um louco para conseguir o que deseja! O que o incrédulo chama de fé é na realidade determinação, o que o crente chama de fé é confiança absoluta em Deus. Quando trabalhamos afoitamente por algo que desejamos e que está em nossas mãos o poder de obtê-lo, estamos exercendo a fé natural e não a sobrenatural. A fé natural utiliza as mãos para conseguir coisas; a fé sobrenatural, o coração. Por compreender essas coisas, a postura daquele que confia em Deus é uma postura de descanso, de repouso, de tranqüilidade. Não existe nenhuma guerra interior nele, nenhuma intranqüilidade, nenhuma perturbação.

O profeta Isaías disse no capítulo 26:3 de seu livro: “Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em Ti; porque ele confia em Ti”. Isto me faz lembrar de Elizeu, cujo discípulo seu, de nome Geazi, chegara correndo e gritando que o exército sírio havia cercado a cidade com muitos cavalos e carros de guerra para levar preso o profeta ao rei da Síria. Elizeu estava sentado tranquilamente em sua cadeira de balanço, em sua casa, e ao ouvir aquilo, pediu a Deus que abrisse os olhos de seu pupilo. O que Geazi viu deixou-o sobremaneira assombrado: todo o monte ao redor estava tomado por um exército celestial ainda maior que o exército dos sírios, cheio de cavalos e carros de guerra! (2º Livro dos reis 6:8-23). Daí a postura de descanso, de repouso em Deus por parte de Elizeu, pois ele sabia que o Senhor cuida dos seus. Aqui, a primeira grande diferença na postura do indivíduo que possui a fé natural e na do indivíduo que possui a fé bíblica. Na fé natural o que vale é o esforço. Na fé bíblica o que vale é o descanso. Todo indivíduo que confia plenamente em Deus é uma pessoa espiritualmente tranqüila.

Mas o fiel sabe que as coisas que ele pede a Deus ou, que Deus lhe prometeu dar ou fazer, nem sempre acontecem ou acontecerão de imediato, instantaneamente. Na mor parte das vezes elas levarão algum tempo para se concretizarem, pois estão ainda no futuro, a dimensão do tempo na qual a fé se prepara para trazer ao fiel as coisas que lhe foram prometidas ou por ele solicitadas. Talvez o que desejemos chegue hoje; possivelmente, amanhã; ou, quem sabe, demore um pouco mais. O que não podemos duvidar é que elas chegarão dentro do prazo de Deus e abençoarão nossas vidas, pois “fiel é o que prometeu” (Hebreus 10:23). A Bíblia diz que o Senhor é “poderoso para fazer infinitamente mais além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o seu poder que opera em nós” (Efésios 3:20). Nenhum crente verdadeiro, pois, deve ser um indivíduo afobado, desesperado, inquieto. O fiel sabe que Deus conhece o tempo excelente das coisas; que não se adianta e nem se atrasa; que nunca pode ser pego de surpresa; que não pode jamais ser chamado de mentiroso, pois tudo o que promete, cumpre. Então ele fica esperando o tempo de Deus. Pacientemente ele espera, nem que aquilo que o Senhor prometeu só venha a se concretizar após a sua morte. A Bíblia diz que “se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos” (Romanos 8:25).

Sei que algumas pessoas têm feito uso errado da passagem do Salmo 68:4 que diz “Cantai a Deus, cantai louvores ao seu nome; louvai aquele que vai sobre os céus, pois o seu nome é JÀ; e exultai diante dele” para dizer que Deus faz as coisas imediatamente, no momento em que as pedimos, mas isto não é verdadeiro. O termo JÁ que aí aparece é uma forma abreviada e carinhosa do nome Jeová, tido por muitos como o nome pessoal e sagrado de Deus e não um advérbio de tempo, com o objetivo de traduzir a idéia de algo que vai acontecer instantaneamente, imediatamente após o nosso pedido! O resultado dessa interpretação errônea é que crentes estão se frustrando desnecessariamente com as suas orações, pois estão percebendo que Deus não está respondendo as suas orações e não estão acreditando mais que Ele as responderá em tempo algum. A postura daquele que crê em Deus deve ser sempre uma postura de paciência, de perseverança, de “expectante despreocupação”.

Jorge Muller, o apostolo da oração, orou cinqüenta e sete anos pela conversão de dois companheiros seus, que só vieram a se converter cinco anos após a sua morte! Quem conhece a sua história sabe que eu não estou falando de um intercessor qualquer, mas de um  homem que possuía um registro com mais de cinqüenta mil orações feitas a Deus e respondidas, todas elas a seu tempo! A fé ultrapassa as barreiras do tempo! Calebe pediu que Josué lhe permitisse conquistar as terras que Deus, através de Moisés, lhe prometera dar quando ele tinha ainda quarenta anos. Com oitenta e cinco anos, isto é, quarenta e cinco anos depois, confiando ainda na promessa que Deus lhe fizera, Calebe conquistou suas terras prometidas! (Josué 14:6-15). Noé pôs-se a construir uma imensa arca para abrigar os animais e a sua família do dilúvio que Deus dissera iria mandar sobre a terra para castigar os homens de seu tempo, tarefa na qual ele se empenhou por cento e vinte anos! (Gênesis 6:1-3). Ao terminar a arca, o dilúvio chegou e Noé foi salvo com todos os animais terrenos e com sua família! José, décimo primeiro filho do Patriarca Jacó, neto de Isaque, bisneto de Abraão, pediu que, quando ele morresse, transportassem os seus ossos do Egito para a terra de Canaã, prometida por Deus ao seu povo, coisa que só veio a acontecer quatrocentos anos após a sua morte! (Gênesis 50:25,26 / Êxodo 13:19 / Josué 24:32).

Mas ninguém superou o Mestre Jesus na capacidade de crer e de esperar em Deus! Ele orou ao Pai para que todos os que viessem a crer Nele (eu e você, portanto!) se tornassem um, como Ele era com o Pai, a fim de que o mundo cresse que Deus o enviara como Salvador do mundo (João 17:20,21). Isto parece ser uma oração impossível de se realizar! Pessoas outrora antagônicas, inimigas, agora transformadas pelo poder do Evangelho e de tal forma conectadas, unidas, que os incrédulos fiquem convencidos de que somente Deus poderia operar tal transformação em suas vidas e que para conseguir este grande feito Jesus Cristo tem de ser mesmo o Salvador do mundo! Isto é tão inacreditável, tão surpreendente, que chega as raias do impossível, pois, mesmo nos dias de hoje, crentes ditos “transformados”, quase não se comunicam entre si, não falam uns com os outros, e mal se suportam, só por serem de denominações diferentes! Ninguém parece fazer a mínima questão de viver essa tal “bendita união!” Como podia Jesus crer assim? Dois mil anos já se passaram e Ele continua esperando o resultado dessa sua prece! Nem sequer mais no planeta Ele está para ver como ela se desdobrará no tempo, mas ainda assim Ele continua confiando firmemente em sua oração! Como é grande o nosso Mestre Jesus! Como é nobre e majestoso em suas petições!

Não devemos ficar dizendo para Deus como, quando e onde Ele deve nos dar as coisas que prometeu, nem ainda ficarmos impacientes, murmurantes, queixosos, quando as respostas as nossas preces parecerem demorar demais. O Senhor sabe o que é melhor para nós e fará “o impossível” para nos abençoar. O possuidor da verdadeira fé bíblica vive em “expectativa despreocupada”, sem tensão nenhuma, crendo permanentemente no recebimento do que lhe foi prometido, não importando se o que ele crê vai chegar daqui a cem, mil, ou dez mil anos. Ele o esperará confiantemente em Deus, esteja onde ele estiver, até a sua benção chegar! E, preste bem atenção ao que eu vou lhe dizer, prezado leitor: enquanto ele estiver assim, nesse estado de fé expectante, estará vivendo em estado de fortaleza e prontidão espiritual!

Mas aquele que confia no caráter do Senhor possui, além de uma postura de descanso e de paciência, uma postura firme, estável, equilibrada. Isto acontece porque o instrumento gerador da fé, o elemento produtor da mesma, é algo inabalável, inamovível, indestrutível, qual seja, a Palavra de Deus. O apóstolo Paulo disse aos crentes romanos que “a fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus” (Romanos 10:17). Escutamos com os ouvidos naturais, mas ouvimos com o coração. Jesus apelava sempre aos seus seguidores para que ouvissem a sua palavra e não apenas para que as escutassem. Quando ouvimos a Palavra de Deus, seja de que forma for – pregada, cantada, representada, impressa, etc. e Ele coloca algo em nosso coração, sabemos que esse algo se realizará nem que seja daqui até outra eternidade! O profeta Isaías disse: “Assim como desce a chuva e a neve dos céus, e para lá não torna, mas rega a terra, e a faz produzir, e brotar; e dar semente ao semeador; e pão ao que come, assim será a palavra que sair da minha boca: ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei” (Isaías 55:10,11).

Esta palavra que sai da boca do Senhor, que faz o que lhe apraz, e que volta para Ele plena de resultados, tem um nome específico, a saber Jesus Cristo, o Verbo de Deus (João 1:1,14). A Bíblia diz em Hebreus 12:2 que Jesus Cristo é o autor e o consumador da fé, o que quer dizer que Ele tanto gera a fé em nosso coração quanto a consuma. Somos o campo espiritual onde as grandezas de Deus se manifestam ou se perdem, como nos ensinou o Abençoado Mestre na Parábola do Semeador (Mateus 13:1-30). Muitos dizem que crêem em Deus e que dariam a sua vida pelo Evangelho, mas seu comportamento espiritual contradiz as suas declarações de fé. Eles são instáveis, vacilantes, inseguros. É impossível pensar em alguém que afirme crer no Senhor Jesus, mas que se mostra o tempo todo reticente, oscilante, duvidoso. A postura daquele que crê verdadeiramente em Deus é uma postura firme, estável, equilibrada.

CONCLUSÃO

Vamos então ousar crer em Deus, pois cada vez que desacreditamos Nele estamos, na realidade, confiando no Diabo que afirma ser Deus um Ente não confiável e de palavra duvidosa.

Deus abençoe a todos.

 

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.