Palestra II a

AS VÁRIAS RAÇAS DO GÊNESIS

(Os “Homens”, as “Filhas dos Homens” e os “Filhos de Deus”)

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em setembro de 2012

INTRODUÇÃO

As Escrituras Hebraicas começam o seu sexto capítulo de uma maneira um tanto quanto estranha, para não dizer “prá lá de esquisita”, com um relato de arrepiar os cabelos e deixar qualquer um de garganta seca! Observe: “(1) E aconteceu que, como os homens se começaram a multiplicar sobre a face da terra, e lhes nasceram filhas, (2) viram os filhos de Deus que as filhas dos homens eram formosas; e tomaram para si mulheres de todas as que escolheram. (3) Então disse o Senhor: Não contenderá o meu Espírito para sempre com o homem, porque ele também é carne; porém os seus dias serão cento e vinte anos. (4) Havia naqueles dias gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus entraram às filhas dos homens, e delas geraram filhos: estes eram os valentes que houve na Antiguidade, os varões de fama” (Gênesis 6:1-4).

Cinco grupos distintos são aqui mencionados, quais sejam:

  • Os homens;

  • As filhas dos homens;

  • Os filhos de Deus;

  • Os gigantes ou “nefilins”;

  • A prole resultante do relacionamento entre os filhos de Deus e as filhas dos homens.

As dificuldades em interpretar quem seriam os integrantes destes grupos têm sido tão imensas, tão maiúsculas, que muitos comentaristas bíblicos têm afirmado ser este texto uma “perícope”, ou seja, um texto enxertado de maneira artificial no contexto, tendo em vista o assunto nele tratado não se enquadrar naquilo de que trata o texto que lhe antecede, a saber, o capítulo 5. Segundo Ebenézer Soares Ferreira em seu livro Dificuldades Bíblicas e Outros Estudos[1] ”alguns até têm suposto que o fragmento é uma explicação popular e folclórica da origem dos gigantes ou “nephilins”. Como espero demonstrar neste estudo, o texto não tem nada de “artificial ou de enxertado”, nem, ainda, de “popular ou folclórico”, trazendo sim valiosas informações sobre o começo da expansão e da “des-organização” de nossa humanidade.

UM DESOLADOR ÍNICIO

O livro do Gênesis – primeiro livro das Escrituras Hebraicas – trata, em seus dois capítulos iniciais, de uma série de assuntos complexos e controvertidos, como seja: a criação do universo; de nosso planeta Terra; dos vegetais e animais; e, do homem e da mulher, com suas diferentes funções: em seu terceiro capítulo ele trata da queda espiritual do homem e de sua expulsão do Jardim do Éden, o paraíso terrestre em que fora colocado: o quarto capítulo fala do primeiro homicídio humano e da descendência de Caim, filho mais velho de Adão e Eva: o quinto capítulo fala da multiplicação dos homens e de sua longevidade: e, o sexto capítulo, dos diversos grupos raciais que compunham a geração antediluviana, bem ainda do comportamento errático desses grupos. Por três vezes, no capítulo seis, se diz que a terra estava corrompida (vs. 11, 12) e, duas vezes, que ela estava cheia de violência (v.11). Os versículos 5-7 deste mesmo capítulo trazem: (5) “Viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. (6) Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra, e pesou-lhe em seu coração. (7) E disse o Senhor: Destruirei, de sobre a face da terra o homem que criei, desde o homem até o animal, até o réptil, e até as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito”. Assim, a inclusão dos diversos grupos raciais no capítulo seis do livro do Gênesis tem sua conexão direta com o gravíssimo estado de corrupção e de degenerescência em que todos esses grupos se encontravam, razão pela qual nenhum deles foi poupado do castigo divino.

OS DIVERSOS GRUPOS RACIAIS DO GÊNESIS

O GRUPO DOS “HOMENS”

Quando estudarmos os vários grupamentos raciais que compunham o Gênesis percebemos que o único grupo que nenhum comentarista bíblico parece discordar é o que aparece nominado sob o título de “os homens”, termo este que não sofreria nenhuma redução ou alteração de sentido se fosse traduzido por “humanidade”, visto ser este o seu significado. Ele não quer se referir somente aos machos da espécie humana, pois, caso esta fosse a intenção do autor e ele teria usado a palavra hebraica própria para designar apenas os varões, os machos da espécie humana (“Ish”) e não o termo genérico, global, que empregou (“adam”). “Os homens”, isto é, os seres humanos, se multiplicavam sobre a face da terra porque seus pares, machos e fêmeas, se relacionavam entre si, conforme o Senhor ordenara no princípio (Gênesis 1:28) e, em decorrência deste relacionamento, mais homens e mulheres apareciam sobre a terra. O grupamento dos “homens”, pois, abrangia toda a raça humana’, toda a humanidade, e não apenas uma parte dela.

AS “FILHAS DOS HOMENS”

Já o grupo das “filhas dos homens” possui três interpretações divergentes, como seja:

  • a primeira afirmando serem elas criaturas embrutecidas que haviam evoluído de animais inferiores. Andavam eretas e possuíam aparência humana, mas não eram racionais, nem muito sociáveis. Eram chamadas de “filhas dos homens” para diferenciarem das “filhas de Deus” que seriam as mulheres descendentes de Eva, que traziam impressas em seu espírito a imagem e a semelhança do Senhor, conforme dotadas por Ele mesmo no início. Os defensores desta posição afirmam que foi ao ver essas “mulheres” meio embrutecidas, meio animalizadas – o tão procurado elo evolutivo entre os humanos e os macacos – que os “filhos de Deus”, tidos aqui como os machos da espécie humana, os descendentes de Adão, ficaram extremamente excitados e coabitaram com elas! A teoria não explica o porquê de apenas as fêmeas daquela espécie terem evoluído, nem ainda o motivo de os filhos machos de Adão terem ficado tão excitados ao verem essas criaturas grotescas, embrutecidas, meio-humanas meio–símias, ao ponto de deixarem suas mulheres humanas, mais evoluídas e formosas, para se acasalarem com estas, visto ter sido a beleza, a formosura das “filhas dos homens” algo tão notável, tão destacado, que atraiu a atenção até dos chamados “filhos de Deus”;

  • a segunda posição afirma que as “filhas dos homens” eram as representantes femininas da raça humana, as fêmeas da família humana, as mulheres resultantes do relacionamento natural entre os filhos dos casais humanos. Isto não só parece ser o mais natural, como também está mais de acordo com o relato bíblico, visto Deus ter ordenado aos seres por Ele criados se multiplicarem e encherem a terra (Gênesis 1:28);

  • a terceira posição afirma serem as “filhas dos homens” as mulheres integrantes da linhagem ímpia e perversa de Caim, o primeiro filho de Adão e Eva, que, após ter assassinado o seu irmão Abel e sido expulso do clã adâmico, foi habitar em uma terra distante, onde teria fundado uma cidade a qual dera o nome de seu filho Enoque (Gênesis 4:1-17). Examinaremos essa posição a seguir, em conexão com o tema sobre quem seriam os “filhos de Deus”.

OS DISCUTIDÍSSIMOS “FILHOS DE DEUS”!

O grupo dos “filhos de Deus” é, segundo a visão do Pastor Olívio, o mais difícil entre todos os acima discriminados apesar de aparentar ser de uma obviedade à toda prova, impossível de deixar alguém confuso. Uma rápida leitura no texto e ficaremos mesmo com a impressão de que ele apenas narra o crescimento da humanidade mediante o casamento dos homens com as mulheres. Os problemas começam a surgir quando vemos a reação do Senhor diante de tais casamentos! Ele ficara tão indignado com aquelas uniões, tão “revoltado” com aquelas alianças, que resolvera enviar um Dilúvio para acabar com toda a raça humana! Por que o Senhor se indignara tanto? Por que o casamento entre aqueles indivíduos o deixara tão “irritado”, tão “nervoso”? As respostas só podem ser encontradas nas especificidades dos grupos envolvidos; um grupo conhecido como “filhos de Deus” se acasalara com mulheres de outro grupo, conhecido como “filhas dos homens” e o resultado desse acasalamento fora tão terrível, tão degradante, que logo a terra ficara impregnada de maldade e de violência e a sobrevivência da humanidade, seriamente comprometida (Gênesis 6:5-12).

Estudiosos afirmam ser os “filhos de Deus” os descendentes piedosos da linhagem de Sete, enquanto as “filhas dos homens”, as descendentes da linhagem maligna de Caim. Encontramos no Gênesis 4, o registro da descendência de Caim e no Gênesis 5, o da descendência de Sete. Ambos eram filhos de Adão, sendo Caim o primogênito e Sete, o terceiro filho. Caim havia matado o seu irmão Abel, sido amaldiçoado pelo Senhor em virtude desse homicídio, se apartado do clã familiar e fugido para longe da presença de Deus. No registro de sua descendência encontramos assassinos, materialistas e bígamos, o que indicava ser a sua prole uma prole ímpia, violenta, degradada. Já a linhagem de Sete aparece limpa, sem a menção de indivíduos praticantes desses ou de outros delitos, além de ser integrada por grandes homens de Deus como Enoque, único homem de sua época a ser trasladado para o céu pelo Senhor; Matusalém, o sinal vivo de Deus para as gerações antediluvianas, visto o seu nome significar “Quando ele morrer, isto será enviado”. No ano em que Matusalém morreu, o Dilúvio veio sobre a terra; Noé, o pregoeiro da justiça de Deus até a vinda das Grandes Águas; e o próprio Sete que restaurou o culto já esquecido ao Senhor Deus (Gênesis 4:25-26). Da linhagem piedosa de Sete também proveio o Salvador, conforme registrado por Lucas em seu bendito Evangelho (3:23,38). A ira de Deus sobre a humanidade se justificava, pois, plenamente, visto a pureza espiritual da raça ter sido perdida e o temor ao seu santo Nome abandonado. O resultado dessas uniões indesejáveis teria produzido uma raça de seres gigantescos, extremamente violentos e desregrados, conhecidos na Bíblia como “nefilins” que também foram destruídos pelo Dilúvio.

É certo que as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento não concordam com os casamentos mistos, de pessoas de condições espirituais diferentes (Esdras 10 / Neemias 13 / Êxodo 34:15, 16 / Deuteronômio 7:1-4 / 2ª Coríntios 6:14-18 / 7:1-17,39). Talvez os maiores exemplos destas malfadadas uniões tenham sido os casamentos de Salomão e de Sansão que se embaraçaram com mulheres de outra fé e trouxeram grandes sofrimentos à sua vida pessoal e à vida da nação, mas daí a dizer que da união de indivíduos de uma mesma raça, de concepções espirituais diferentes, derivou-se uma classe de seres gigantescos, anatomicamente diferenciados dos demais humanos e de índole perversa, é algo realmente difícil de acreditar! Desde quando a espiritualidade de alguém influencia na anatomia de seus corpos e na de seus descendentes? Não nos ensinou o Mestre Jesus que nenhum ser humano pode, com todo o seu esforço, acrescentar um côvado sequer à sua estatura? (Mateus 6:27). Como podem pois, pretender tais estudiosos, que alguém creia nisto? Só porque eu me caso com alguém que possui um sistema de fé diferente do meu, ou que talvez nem sistema algum de crença tenha, devo ser castigado por Deus, e o meu cônjuge também, tendo filhos limitados ou anormais, anatomicamente diferentes das demais pessoas?

Até onde sabemos Caim não era um indivíduo gigantesco, nem tampouco se casara com uma mulher gigantesca que houvesse lhe dado uma descendência também gigantesca! Cheguei por instantes a pensar, quando examinava este assunto, que o sinal que o Senhor colocara em Caim para livrá-lo da morte por quem o encontrasse, após ter matado o seu irmão Abel, fosse um possível gigantismo. Isto o diferenciaria dos demais humanos, permitiria que ele fosse avistado à distância e traria temor a quem intentasse matá-lo. Também explicaria o surgimento da vertente maligna dos gigantes na Bíblia. O problema é que as Escrituras afirmam que o Senhor “pôs” um sinal em Caim (Gênesis 4:15) e não que “fizera” de Caim um sinal! O sinal fora colocado em seu corpo já grande, já adulto, já amadurecido e não como uma maldição instantânea que o tivesse feito aumentar de tamanho! Outro problema é que ninguém pode caracterizar uma linhagem humana inteira como “ímpia” e outra linhagem também inteira, como “justa”, pois no meio de tais linhagens, filhos bons e filhos maus surgirão! (Ezequiel 18). Desde quando alguém reconhecido como bom só poderá ter filhos também bons? E desde quando alguém mau só poderá ter filhos maus? Não é o próprio exemplo de Adão e Eva, os dois pilares puros da raça humana, uma contradição a este pensamento? Não geraram eles filhos bons e maus? Será que por ter sido Sete temente ao Senhor, todos os seus descendentes deveriam ser chamados de “filhos de Deus”? E será que por ter sido Caim desobediente ao Senhor todos os seus descendentes deveriam ser chamados de “filhos do Diabo”? Se a linhagem de Sete era uma linhagem “boa”, “piedosa”, “justa”, então por que o Senhor não a salvou inteiramente no Dilúvio, mas apenas a Noé e sua família?

Os “filhos de Deus” viram que as “filhas dos homens” eram formosas e se acasalaram com elas, mas será que entre eles, os “filhos de Deus”, não haviam “filhas de Deus” também formosas para eles se acasalarem com elas? Não deveriam estas “filhas de Deus”, caso fossem elas descendentes de Sete, despertar ainda mais a atenção desses “filhos de Deus” pela sua formosura, que certamente seria maior do que a das “filhas dos homens”, porquanto abençoadas por Deus e por sua vida de temor e de obediência a Ele? O texto registra que foi quando a humanidade começou a crescer e a se dispersar pela terra que os “filhos de Deus” atentaram para a formosura das “filhas dos homens” e se acasalaram com elas. Não eram essas companheiras dos “filhos de Deus” também “filhas dos homens” por pertencerem elas à mesma humanidade? Como poderiam então ser diferenciadas daquelas? Realmente é muito difícil para mim aceitar essa proposta dos estudiosos.

Um grupo grande de comentaristas afirma serem os “filhos de Deus“ anjos decaídos que não guardaram o seu estado original de pureza e entraram em conúbio com as “filhas dos homens”, gerando destas os varões de fama da antiguidade. Isto fazem eles baseados em vários argumentos como, por exemplo:

  • a expressão “filhos de Deus”, quando aparece no Antigo Testamento, sempre se refere a anjos e não a homens (Jó 1:6 / 2:1 / 38:7) / Salmo 89:5-7 / Daniel 3:25);

  • alguns manuscritos da Septuaginta, a tradução da Bíblia Hebraica para o grego, traduz o termo “anjos” por “filhos de Deus” nos locais em que este aparece, incluindo Gênesis 6:2,4 ;

  • os versículos 6 e 7 da Epístola de Judas, no Novo Testamento, ensinam que os anjos cometeram o pecado da miscigenação, misturando-se com seres de outra raça;

  • os gigantes que aparecem no Gênesis não seriam humanos e sim anjos encarnados;

  • a mistura dos anjos decaídos, ou “filhos de Deus”, com as “filhas dos homens” teria dado origem a uma raça de gigantes que habitava a terra de Canaã e outros sítios geográficos.

O que podemos dizer sobre isto?

Várias coisas, como seja:

  • conquanto os anjos sejam chamados de “filhos de Deus” em diversos livros das Escrituras Hebraicas, como os acima referidos, nunca o são no livro do Gênesis, onde poderiam ser assim chamados se o autor o desejasse, visto haver vários relatos de aparições de anjos neste livro (18:2,16 / 28:12 / 32:1,2);

  • a tradução do termo “anjos” por “filhos de Deus”, conforme aparece na Septuaginta, é uma violência ao texto hebraico original, segundo alguns estudiosos, visto tal coisa ter sido feita para acomodar os textos bíblicos à filosofia alexandrina, que tinha Platão como seu expoente principal;

  • caso os versículos 6 e 7 da Epístola de Judas ensinassem que os anjos se miscigenaram com as “filhas dos homens” teríamos que arrumar outra interpretação para a afirmativa do Senhor Jesus de que “os anjos não se casam nem se dão em casamento” (Mateus 22:30), por serem assexuados e não possuírem nenhum instinto sexual em si;

  • os gigantes que aparecem no Gênesis ou “nefilins” não podem ser confundidos com os anjos decaídos, porquanto já habitavam a terra antes de os “filhos de Deus” virem as “filhas dos homens” e entrarem a elas;

  • a designação de “varões de fama da antiguidade” não fora dada aos rebentos dos anjos decaídos com os seres humanos, dos quais nenhum nome sequer é citado na Bíblia e sim aos “nefilins”, cujo nome de vários deles são conhecidos, pelo seu espírito guerreiro e valoroso.

Alguns estudiosos tentam contornar essas dificuldades afirmando que os “filhos de Deus” eram os anjos decaídos que deixaram a sua habitação celestial sim, exatamente como se encontra registrado na Epístola de Judas 6 e 7, só que incorporados espiritualmente nos machos da espécie humana! Estando assim incorporados esses anjos teriam coabitado com as “filhas dos homens” resultando dessa miscigenação uma raça superior à humana, os tais “gigantes” de renome da Antiguidade! O problema da impossibilidade sexual angélica, tão taxativamente rechaçado por Jesus, continua obstruindo tal posição, visto a possessão de corpos de homens por anjos não poder criar, diminuir ou aumentar o apelo sexual destes para com as “filhas dos homens” por não terem tais espíritos sexualidade alguma em seu ser, em sua essência, para passarem a outro ser, não podendo também transmitir nenhuma semente de consistência física, capaz de produzir uma raça diferenciada de ambas! O código genético de cada criatura física, carnal, material, se encontra codificado em seus genes, dispostos em sua estrutura molecular, biológica e não em seu espírito! Nunca um espírito poderá gerar um ser carnal.

Outro grupo de intérpretes afirma serem os “filhos de Deus” os “filhos de magnatas e de príncipes”, visto o texto fazer referência aos “varões de fama”, “valentes da antiguidade”. Conquanto essa posição possa resolver o problema do conúbio dos anjos com os seres humanos, traz consigo a dificuldade de dizer que apenas filhos de magnatas e de príncipes, conseguiram obter fama, serem valentes e possuírem elevada estatura, qualidades estas que não dependem de posição social ou espiritual alguma, e sim da essência de cada um, haja visto Davi que era um garoto miúdo comparado ao gigante Golias, a quem enfrentou e venceu (1º Samuel 17).

Interpretes há que afirmam serem os “filhos de Deus” homens piedosos que se consagraram a Deus através do voto da castidade. Desnecessário é dizer que esta posição não possui nenhuma fundamentação bíblica, visto a ordem de Deus para o homem ser a de “crescer e multiplicar”, conforme relatado em Gênesis 1:28, e não ficar solteiro, isolado, recluso, sem coabitar com mulher alguma. Esse estado de rejeição ao matrimônio só veio a ser apreciado por determinado grupo de fiéis muitíssimo tempo depois da miscigenação das raças do Gênesis.

Outra corrente de intérpretes afirma serem os “filhos de Deus” os filhos que Adão e Eva teriam tido antes da queda, visto Deus ter dito para Eva, quando esta O desobedecera: “Multiplicarei grandemente a tua dor e a tua conceição: com dor terás filhos” (Gênesis 3: 17). Segundo estes estudiosos, tal sentença divina só faria sentido se Adão e Eva já houvessem tido filhos, sem que Eva houvesse sentido muita dor. Estes “filhos de Deus”, concebidos quando o primeiro casal ainda habitava o Éden, teriam deixado voluntariamente a sua morada paradisíaca e santa e se acasalado com as já decaídas “filhas dos homens”, tendo com elas gerado os gigantes da Antiguidade ou “nefilins”. Confesso que é absolutamente difícil para mim acreditar que um grupamento de pessoas santas, puras, imaculadas, desejasse voluntariamente abandonar o seu estado elevadíssimo de pureza espiritual, após ter visto todo o mal que se abatera sobre seus pais e irmãos terrenos e sobre o planeta, só .para se acasalar com mulheres decaídas e gerarem delas filhos degenerados!

Há ainda aqueles que dizem ser os “filhos de Deus” todos os integrantes da raça adâmica, tendo em vista todos os humanos terem sido feitos a “imagem e semelhança de Deus”. Esta posição até que é interessante, mas peca pelo fato de, a ser isto verdade e teríamos de explicar as diversas passagens em que os anjos são também chamados de “filhos de Deus”, mesmo não gozando eles da paternidade divina (Jó 1:6 / 2:1 / 38:7). Teríamos também de explicar o porquê de os integrantes da raça humana, que já eram nominados como “os homens”, receberem mais esta denominação de “filhos de Deus”, já que ambas significariam a mesma coisa. Outra coisa seria explicar o porquê do destaque do Gênesis ao casamento dos homens com suas próprias mulheres, tendo em vista ser isto o cumprimento natural e efetivo da ordem dada por Deus desde o início.

CONCLUSÃO

Bem, paarece que não sobrou muita coisa para a gente finalizar este assunto, não é mesmo? Se os “filhos de Deus” não eram os descendentes da vertente piedosa de Sete, o terceiro filho de Adão; se não eram os anjos decaídos que deixaram o seu principado, se revestiram de corpos e foram após outra carne; se não eram homens possuídos pelos espíritos desses anjos decaídos que entraram às mulheres humanas; se não eram filhos de príncipes e de magnatas influentes da época; se não eram homens piedosos que guardavam a castidade; se não eram os descendentes naturais de Adão e Eva; se não eram os filhos do primeiro casal humano, anteriores a sua queda espiritual, quem seriam então os “filhos de Deus”?

A resposta a esta importante e intrigante pergunta se encontra na Palestra a seguir, sob este mesmo tema. Não deixe de lê-la e de discuti-la com seus amigos e irmãos.

 

Deus abençoe a todos.

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

[1] Ebenézer Soares Ferreira – Dificuldades Bíblicas e Outros Estudos – Casa Publicadora Batista – Volume I – 2ª Edição – Rio de Janeiro – RJ – 1970

comentários