Palestra I

QUANDO SÓ VIVER NÃO BASTA

Estudo elaborado pelo Pastor Olívio em Realengo, no Rio de Janeiro, em Outubro de 2014

INTRODUÇÃO

Eu estava voltando de um evento missionário na Igreja que meu genro freqüenta quando meu filho mais novo me avistou na esquina da rua que leva à minha casa. Ele me interpelou com alguns amigos seus, visivelmente agitado. O Pastor da Igreja que ele visitara fora convidado a fazer uma palestra para líderes em outro estado de meu país, o Brasil, mas alguns dias antes, um Pastor, amigo seu, que iria participar do evento por já ter se cadastrado para tal, fora encontrado enforcado em sua casa. Os resultados das investigações indicaram que o Pastor se suicidara. Aparentemente, nada havia que pudesse levar alguém a dizer que o suicídio deste Pastor acontecera em decorrência de problemas financeiros, conjugais, congregacionais, ou outro qualquer que estivesse mal resolvido. O referido Líder era muito querido de todos em sua cidade e Igreja, ao ponto de o Prefeito da cidade em que ele vivia ter decretado luto municipal! O que teria acontecido para levar aquele homem de Deus a se enforcar? O choque da morte desse Pastor fora tão grande no coração do Pastor da Igreja que meu filho visitara que ele dissera de púlpito que tinha toda a convicção em Deus de que aquele outro Pastor seu amigo seria salvo e que ele iria encontrá-lo no céu! Daí a agitação de meu filho ao me perguntar: “E aí, pai, o que você acha? Este Pastor está certo em ter dito isto ou não? Um suicida pode ser salvo? A Bíblia não diz que os suicidas não entrarão no reino do céu?”

Eu então tentei dar-lhe as respostas sobre os seus questionamentos ali na hora e discorri um pouco sobre os tipos de suicídios que eu conhecia. Mais tarde, uma pesquisa no site da Wikipédia me ajudou bastante na elaboração desta Palestra. Vamos examinar quais são esses tipos, mas antes, porém, vamos entender a diferença entre suicídio e homicídio.

SUICÍDIO VERSUS HOMICÍDIO

Suicídio ou autocídio é o atentado do indivíduo contra a sua própria vida e que traz como consequência o seu falecimento. Já o homicídio é o atentado consciente do indivíduo contra a vida de outros e que traz como resultado a morte destes. As diferenças entre ambos ficam por conta de quem sofre o atentado – se o próprio indivíduo, ou se terceiros – e, o número dos que são vitimados por tais atentados – pelo suicida, só ele mesmo; e, pelo homicida, um número ilimitado de vítimas. Quanto à semelhança, esta fica por conta de ambos os atos levarem a vitima à morte. A grande questão a ser examinada, porém, é se o suicídio ou autocídio é um tipo de homicídio, visto tirar a vida de um ser humano e Deus dizer claramente em sua Palavra que os homicidas serão lançados no Lago de Fogo (Apocalipse 21:8) e não entrarão no reino dos céus (Apocalipse 22:15).

Bom é que se diga que a palavra “suicídio” não existe na Bíblia, apesar de o seu ensinamento ser claramente demonstrado nela. E este ensinamento declara que, se alguém tira a vida de um ser humano, mesmo que seja a sua própria vida, torna-se um homicida. Sim, todo suicídio é um homicídio, ENTRETANTO, nem todo suicídio decorre de uma ação voluntária, consciente, intencional. E se não decorre de uma ação intencional, proposital, volitiva, não pode ser caracterizada como pecado, como transgressão, como rebeldia contra a Lei de Deus, pois o pecado para ser caracterizado como pecado tem de ser intencional. Não sendo tal ação voluntária, o indivíduo que cometeu esse tipo de ato não pode ser julgado, condenado e apenado. O resultado prático disto é que não podemos enquadrar todos os atentados contra a própria vida como suicídios, pois apenas Deus que conhece o íntimo de cada um, sabe o que se passa em cada coração, pode afirmar com certeza se o indivíduo que praticou tal ato o fez conscientemente, desejoso de fazê-lo, ou se o praticou destituído de intenção alguma, sem responsabilidade sobre o próprio feito. Por esta compreensão ficamos livres de julgar os nossos irmãos, de assumir o posto hipócrita, indevido e fracassado em que Deus NÃO NOS COLOCOU de seus juízes.

OS RELATOS DE SUICÍDIO NA BÍBLIA

As Escrituras não se omitem de falar sobre o suicídio, nos apresentando quatro casos de pessoas que tiraram suas próprias vidas. São eles: a) Sansão, um dos mais destacados juízes de Israel, cujo evento se encontra narrado no livro de Juízes 16:23-31; b) o rei Saul e o seu escudeiro, com sua narrativa no 1º livro de Samuel 31:1-5; c) e Judas, o apóstolo traidor de Jesus, com sua história relatada no Evangelho de Mateus 27:1-10 e no livro de Atos 1:15-19.

No primeiro caso, o poderoso juiz Sansão fora feito prisioneiro dos filisteus, povo contra o qual a nação de Israel se encontrava em guerra. Eles ficaram tão alegres por terem aprisionado Sansão que foram dar uma festa de agradecimento ao seu deus Dagom. Tão logo os filisteus aprisionaram a Sansão, arrancaram os seus olhos de suas órbitas e o puseram para girar uma pesada pedra de moer grãos, no cárcere. Agora eles queriam que Sansão os alegrasse, a exemplo do que fazia o bobo da corte. Humilhado e cego, Sansão os alegrou e, fazendo-se parecer cansado, pediu ao moço que o guiava, para que o aproximasse das colunas que sustentavam o templo. Colocou as suas mãos em ambas e as afastou, uma da outra, com força. O que aconteceu a seguir foi indescritível! O templo inteiro desabou sobre ele e sobre o povo. Todos os príncipes dos filisteus morreram e com eles cerca de 3.000 homens e mulheres que estavam no terraço do templo. A Bíblia diz que mais foram os mortos que Sansão matara nesta ocasião do que em toda a sua vida! O seu suicídio ficou bem evidenciado nas palavras que ele mesmo dissera ao colocar suas mãos nas colunas do templo: “Morra eu com os filisteus” (Juízes 16:30).

No segundo caso, o rei Saul estava travando uma batalha contra os filisteus em um lugar chamado Gilboa. Estes já haviam matado três de seus filhos e agora o haviam encurralado e chamado os seus flecheiros para o crivarem de flechas. O texto diz que Saul muito temeu por causa dos flecheiros. Então ele pediu ao seu pagem de armas para que este o atravessasse com a espada para que os filisteus não o matassem e escarnecessem sobre ele. Seu pagem, porém, não teve coragem para fazê-lo. Saul então lançou-se sobre a sua própria espada e morreu, o que vendo o seu pagem de armas, imitou o ato do rei e também faleceu.

O terceiro caso de suicídio na Bíblia diz respeito a um apóstolo de Jesus, nascido em Iscariotes, cidade da Judéia. Judas era o nome desse apóstolo que se tornou o traidor do Mestre. Seu desejo de ver o Cristo, o Messias de Deus, fazendo uso das armas terrenas, se levantando contra Roma e implantando o seu reino, que julgava ser material, o levou a vender o seu Mestre por 30 moedas de prata, o preço de um escravo na época. O remorso então tomou conta de sua vida e Judas saiu para se enforcar. Ao fazer isto, porém, o galho da árvore onde ele se pendurara partiu-se e ele rolou pelo despenhadeiro abaixo, espatifando-se no chão. Suas entranhas saíram de seu ventre e ficaram à mostra. A árvore em que ele se pendurara o rejeitara pelo seu ato ignominioso, e o chão onde ele caíra tentou expulsá-lo de si, o que ficara demonstrado pela expulsão de suas tripas de seu ventre!

OS DIFERENTES TIPOS DE SUICÍDIO

Muitos são os tipos de suicídio praticados pelos humanos, tanto na forma individual quanto na forma coletiva. Eu os contei em número de dez, mas, não sendo um especialista da área, talvez possam existir ainda outros mais. Nem todos são realizados de maneira consciente, mas ainda assim são suicídios, porquanto supressores da vida do indivíduo. As estatísticas dizem que, todo ano, 1 milhão de pessoas em todo o mundo, tira a sua vida desta maneira, mas acredita-se que, cerca de 10 a 20 milhões de indivíduos tentam anualmente o autocídio, sem conseguí-lo. O suicídio é hoje a 10ª causa de mortes no mundo! Eu os classifiquei didaticamente como voluntários e involuntários, e os categorizei de uma maneira toda pessoal, particular, para facilitar a compreensão de meu prezado leitor. Os suicídios podem integrar um dos seguintes grupos: heróico, depressivo, assistido, imolatório, automático, expiatório, covarde, demoníaco, contínuo e espiritual. Vamos examiná-los um a um a fim de termos o entendimento de como eles se manifestam e de suas características.

SUICÍDIOS INVOLUNTÁRIOS

São aqueles que, quando praticados, os indivíduos não estavam mais em pleno uso de suas faculdades mentais, não estavam mais cientes do que iriam fazer, não eram mais responsáveis por seus atos. Eles são em número de três e se encontram abaixo discriminados.

O primeiro deles é conhecido como suicídio depressivo e acontece quando o indivíduo encontra-se tomado de profunda depressão, de intensa angústia de alma. É muito comum entre pessoas que possuem um histórico de transtorno bipolar, esquizofrenia e depressão profunda. Neste estado, tudo na vida perde o encanto e viver torna-se um fardo, uma horrível obrigação. O tratamento, feito a base de poderosas drogas e de orientações contínuas de especialistas do comportamento humano, serve para demonstrar o quanto de atenção o indivíduo precisa receber para não se atirar nos braços da morte. Uma simples desatenção ao paciente ou a falta de drogas apropriadas e o indivíduo pode alcançar o seu objetivo. Segundo informações de meu filho, aquele Pastor do início de nossa Palestra já possuía um histórico de depressão, ainda que, no momento em que se suicidara, tudo parecesse ir muito bem. Daí o outro Pastor ter demonstrado esperança de vê-lo salvo no céu! Quando lemos o histórico de Saul vemos que ele tinha uma personalidade confusa, bipolar, cheia de alternâncias, próprias de quem experimenta os horrores da depressão. Por todas essas ponderações, possivelmente o seu suicídio se enquadraria no tipo depressivo, o que não podemos dizer acerca do suicídio de seu pagem de armas.

O segundo tipo, não muito conhecido, é o suicídio automático que acontece em situações de extremo perigo para o corpo humano. Neste quadro, o sistema nervoso central do indivíduo dá lugar ao sistema nervoso autônomo ou vegetativo que passa a coordenar todas as ações do corpo. Eu ouvi pela primeira vez sobre este tipo de suicídio quando fazia a faculdade de Administração de Empresas. Meu professor de Segurança no Trabalho, um major do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, impressionou toda a classe ao afirmar que, quando em um incêndio, uma pessoa se vê envolvida pelas chamas e pela escaldante fumaça, seu sistema nervoso central simplesmente se desliga e o autônomo passa a conduzir as suas ações corporais. É como se fosse o piloto automático de um avião. O corpo precisa de ar fresco, sem toxidade; precisa também de água e de alguma condição capaz de refrigerá-lo, de abaixar a sua temperatura. Só que esta condição se encontra lá fora, além da janela! Então o sistema nervoso autômato estimula o corpo, já impregnado pelos muitos gases da fumaça, a procurar este lugar. Para nós que estamos daqui debaixo olhando para cima, vendo corpos e mais corpos caindo do alto do prédio em chamas, todas aquelas pessoas estão se atirando pelas janelas, se lançando em desespero para a morte, se suicidando, mas, na realidade, elas estão procurando uma condição de sobrevivência, sem noção alguma dos limites do prédio, se lançando em busca da vida, sem consciência de que encontrarão a morte!

O terceiro tipo de suicídio involuntário é o suicídio demoníaco que acontece quando a pessoa, possuída por um espírito demoníaco ou, vários deles, é levada a atentar contra a sua própria vida. Não é a pessoa que tenta tirar a sua vida, mas os demônios que nela estão incorporados. É um suicídio aparente, um falso suicídio, porquanto não é produzido pela pessoa que se encontra possuída e sim pelos demônios que a possuem. É este o caso do menino que fora levado pelo seu pai aos discípulos de Jesus para estes o libertarem (Evangelho de Marcos 9:14-29). O demônio lançava o menino no fogo e na água com a intenção de destruir a sua vida. Jesus expulsou aquele demônio do menino e ele não mais atentou contra a sua vida. Muitas pessoas estão se lançando debaixo de carros, pulando de pontes e de altos prédios, dando tiro na cabeça, pondo fogo no corpo ou em sua casa com ele dentro, afirmando estar ouvindo vozes que os mandam praticar tais atos. Jesus ensinou no Evangelho de João 10:10 que o Diabo veio para “roubar, matar e destruir”. Por isso sabemos que este é um tipo de suicídio demoníaco. Para os que estão vendo pessoas cometendo tais atos, tudo não passou de mais um suicídio; para aqueles, porém, que tiraram suas vidas, um demônio muito poderoso as obrigou a tirá-la.

SUICÍDIOS VOLUNTÁRIOS

São aqueles que, quando praticados, os indivíduos ainda estavam em pleno uso de suas faculdades mentais, estavam cientes do que iriam fazer, eram ainda responsáveis por seus atos. Eles são em número de sete. Veja abaixo, as suas características.

O suicídio heróico é o primeiro que examinaremos. Ele é um ato consciente e voluntário de violência contra a vida de outros e contra a própria vida. Seus objetivos possuem conotação militar, política ou religiosa. Durante a Segunda Guerra Mundial soldados japoneses, denominados Kamikazes (“vento divino”) se voluntariavam para praticarem este tipo de suicídio. Eles pilotavam pequenos aviões-bombas ou torpedos-bombas e se lançavam contra navios e aviões inimigos, explodindo tudo na empreitada. Acredito que é neste tipo de suicídio que se enquadra o suicídio do juiz Sansão. Israel estava em guerra contra os filisteus; a conquista de tão poderoso guerreiro era visto pelos filisteus como a vitória de seu deus Dagom, sobre Jeová, o Deus dos hebreus; Sansão orou a Jeová para que Este lhe restaurasse as forças uma última vez, antes de ele tirar a sua própria vida e a dos filisteus e o Senhor lhe respondeu! Nunca o Senhor responderia uma oração se o motivo solicitado estivesse errado! A explosão das Torres Gêmeas, acontecida em 11 de setembro de 2001, em Nova York, nos Estados Unidos, que matou cerca de 3.000 mil pessoas, foi considerada um ato de terrorismo pelas nações que não se encontravam envolvidas naquele conflito, mas como atentados heróicos pelos integrantes da nação representada pelos indivíduos suicidas.

Os suicídios heróicos devem ser diferenciados daqueles atos em que o indivíduo também doa a sua vida em favor de outrem, mas sem o objetivo de aparecer, de ser reconhecido como herói. Sãos os casos dos salvamentos de pessoas em catástrofes, situações de morte no dia a dia, ações de proteção à autoridades legalmente constituídas, doação do corpo em vida para o experimento de novas drogas e tratamentos de doenças desconhecidas, etc. Aqui o objetivo não é tirar a própria vida, ainda que se possa perdê-la, mas salvar a do próximo. Por isso tais ações se revestem de altruísmo, de dignidade, de honra. O indivíduo tem certeza que aquilo que vai fazer pode resultar em sua morte, mas ainda assim ele o faz para tentar salvar a vida do outro. Doa consciente e voluntariamente a sua vida para que outro(s) viva(m). Por isso os praticantes de tais ações não são vistos como suicidas, mas sim como heróis e mártires.

O suicídio assistido apesar de ser, na maior parte das vezes, decidido pelo indivíduo que se encontra acometido de uma doença terminal ou dor extrema, pode não ser qualificado como voluntário quando a decisão pela interrupção da vida é tomada pela família da vítima, em conseqüência do vitimado não ter mais condição alguma de decidir. Então os aparelhos ou tratamentos que mantinham a pessoa viva são desligados / descontinuados para que a pessoa possa morrer. É o que comumente chamamos de “eutanásia”. Agora mesmo, enquanto estou escrevendo esta Palestra (03/11/2014) o noticiário está reportando a história de Brittany Maynard, de 29 anos, que foi acometida de um câncer muito agressivo no cérebro que lhe trazia muitas dores e que ceifaria a sua vida dentro de poucos meses. Ela então acordou com os médicos um suicídio assistido para o dia 1º de novembro do corrente ano. Eles ministraram-lhe drogas que apressaram a sua morte e ela faleceu no dia aprazado. O Dr. Jack Kevorkian, conhecido como “Doutor Morte” foi condenado a oito anos de prisão por ter ajudado 130 pacientes a morrerem.

O nosso terceiro tipo de suicídio é conhecido como suicídio imolatório ou de auto-imolação e tem como objetivo demonstrar que aquilo que a pessoa reivindica, é tão ou mais importante para ela do que a própria vida. É o caso, por exemplo, dos monges que tocam fogo em suas vestes e se consomem no meio das chamas e ainda, de pessoas que fazem greve de fome até a morte, se necessário. Em 1981, Bobby Sands liderou um grupo que pessoas que fez greve de fome em protesto contra o conflito que havia tomado conta da Irlanda do Norte. Ao final do protesto 10 pessoas haviam morrido de fome. O suicídio que algumas comunidades indianas impunham as viúvas para que entrassem vivas na pira funerária do marido morto a fim de também morrerem, por mais que tivesse a conotação de honra, de dignidade, de prestígio, na passava de um suicídio imolatório para a comunidade que esperava continuar honrada por meio daquele sacrifício da viúva. Tal prática foi totalmente abolida na Índia

O suicídio expiatório é aquele em que, o indivíduo, após ter falhado em uma determinada missão, tira a sua própria vida como meio de compensar o seu fracasso. Este era o caso, por exemplo, de japoneses que fracassavam em alguma missão importante. Em uma cerimônia bem organizada, e diante de vários expectadores, eles enfiavam uma espada em sua barriga e a cortavam até as vísceras ficarem expostas e a morte lhes sobrevir. O seu estripamento ou esventramento, como é chamado, servia para mostrar a pureza de caráter do indivíduo. Por fim, como ultimação do ritual, os indivíduos estripados eram decapitados. Esta prática de suicídio ficou conhecida entre nós como “haraquiri”.

O suicídio covarde, nosso quinto tipo de suicídio voluntário, é aquele realizado pelo indivíduo medroso, fraco, pusilânime, que, temendo as conseqüências de permanecer vivo, após o cometimento de seu ato de fraqueza, atenta contra a sua própria vida. Este foi o caso de Judas Iscariotes e, possivelmente, do pagem de armas de Saul. Judas sentiu remorso por ter traído a Cristo e o peso que isto trouxe a sua vida tornou-se insuportável. Sua consciência não aquentara mais viver com aquele peso e ele resolveu tirar a sua própria vida. Todos os indivíduos que cometem o suicídio covarde temem que os seus maus atos sejam descobertos e eles então venham a receber críticas duríssimas e sejam desconsiderados como pessoas. Eles temem ainda serem alijados do meio em que vivem, perderem os seus postos de trabalho e a sua projeção social. Este é o tipo de suicídio a que as Escrituras se referem no livro do Apocalipse. As pessoas ali citadas poderiam ter tomado uma decisão diferente da que tomaram e permanecerem vivas, mas, ainda assim, elas decidiram tirar a sua vida, praticando uma ação que só a Deus pertence fazer.

O suicido contínuo ou permanente é conhecido de todos nós, ainda que não tenha esse nome. É um tipo de suicídio no qual o indivíduo vai se desligando da vida pouco a pouco, devagarzinho, permanentemente, a prestação. O indivíduo sabe que aquilo que ele faz está lhe conduzindo à morte, matando-o lentamente, sem pressa, dia após dia, mas ele não abre mão de continuar fazendo o que faz. É o caso dos viciados em comida, em fumo, em álcool e outras drogas mais. O viciado tem consciência de que o uso continuado e descontrolado que faz da coisa vai matá-lo a qualquer dia, mas para ele, este dia está ainda muito distante e a responsabilidade pela sua vida, caso algo venha a dar errado, sairá de suas mãos e passará para as mãos do médico. Se algo falhar no tratamento empregado e o indivíduo vier a falecer, foi o médico quem deixou a sua vida escapar e não ele próprio. Em todo o tempo o viciado tenta se excluir de sua responsabilidade. A culpa por ele se encontrar assim é de seu vício; se ele não conseguir superá-lo, é culpa do tratamento; e se ele não conseguir sobreviver, a culpa é do médico. Todo mundo é culpado pelo seu estado, menos ele mesmo. Só que este é um tipo de suicídio reversível, que pode ser descontinuado, a qualquer momento que o indivíduo o desejar, o que o responsabiliza absurdamente diante de Deus pela destruição voluntária e consciente que ele aplica ao seu corpo e a sua vida.

O último tipo de suicídio a examinar é o mais comum de todos, qual seja, o suicídio espiritual. Neste tipo o indivíduo rejeita consciente e voluntariamente a vida plena oferecida por Deus para continuar a viver a sua própria vida. O Senhor o chama para viver a vida com plenitude, com exuberância, com abundante e abençoada satisfação, mas o indivíduo escolhe os seus próprios caminhos, seus próprios projetos de vida, mergulhado que está em egoísmo, em licenciosidade e em ambição. O resultado disto, claro, é a morte, que se acerca cada vez mais de sua alma pela sua errônea decisão. A bíblia diz em Provérbios 14:12 e 16:25 que “há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele, são os caminhos da morte”. O Senhor disse para o povo de Israel, através de Moisés, antes de eles entrarem na terra prometida de Canaã: “Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, a morte e o mal; Porquanto te ordeno hoje que ames ao Senhor teu Deus, que andes nos seus caminhos, e que guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, para que vivas, e te multipliques, e o Senhor teu Deus te abençoe na terra a qual entrais a possuir…Os céus e a terra tomo hoje por testemunha contra vós, que te tenho proposto a vida e a morte, a benção e a maldição: escolhe pois, a vida para que vivas, tu e a tua semente” (Deuteronômio 30:15,16,19). Não escolher a vida é fazer opção pela morte e escolher morrer é um tipo de suicídio. Como o anterior, este se reveste de muita responsabilidade pela atitude suicida do indivíduo poder ser revertida no momento em que ele assim o desejar.

SUICÍDIOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Na mor parte das vezes os suicídios acontecem de forma individual, pessoal, pois não é nada fácil convencer alguém a morrer conosco! Entretanto, temos conhecimento de pessoas que fazem pactos suicidas, alianças de morte. Isto acontece entre amantes, ou ainda entre cúmplices de uma mesma prática errada. Pessoas há que persuadem ou obrigam outras a morrerem com ele. Quem não se lembra do reverendo Jim Jones, líder de uma seita estado unidense denominada Peoples Temple (Templo dos Povos), que levou 918 seguidores seus a se suicidarem na Guiana Inglesa, em 1978, entre os quais havia 270 menores de idade? Os que não quiseram se suicidar, por persuasão ou imposição, foram mortos a tiros de armas de fogo. No ano de 2012, trezentos funcionários da empresa Foxconn, responsável pela fabricação do Xbox360, ameaçaram um suicídio coletivo se a direção da empresa não atendesse seus pedidos. Felizmente a direção da empresa atendeu as reivindicações dos funcionários e ninguém precisou morrer! O maior suicídio coletivo já acontecido com a nossa humanidade é o suicídio espiritual, no qual milhares e milhares de pessoas se desligam voluntariamente de Deus e se preparam para viver a eternidade em trevas. Não sei como alguém pode escolher algo assim!

O DESTINO DOS SUICIDAS CONSCIENTES

Toda essa discussão tem servido para mostrar ao leitor como é difícil para alguém julgar alguma pessoa que tenha se suicidado. E graças ao Senhor que é muito difícil mesmo, pois não fomos colocados na posição de Deus para julgar os nossos irmãos. Todos somos muito rápidos em apontar o nosso dedo para aqueles que julgamos estarem errados e que “devem ser condenados”, segundo nossa concepção. Mas, como vimos, Deus não pode condenar ao inferno alguém que não tenha consciência de seus próprios atos, que não possa ser responsabilizado pelas suas próprias decisões, mas apenas aqueles que tenham conhecimento pleno de tudo quanto em suas decisões esteja envolvido. Que adiantaria Ele mandar para o inferno alguém que se lançou de um prédio abaixo quando tudo o que o indivíduo desejava era mesmo partir para a morte por acreditar que a morte sim o libertaria para a vida por estar tal pessoa vivendo um momento de depressão intensa, profunda, e ao chegar ao lugar de condenação, nem sequer ter consciência do que lhe está acontecendo? Não seria isto um ato irracional da parte de Deus? Um contra-senso da Divindade? Se nós que vemos tudo isso, achamos ser algo contraditório, quanto mais o nosso Deus que é puro amor e justiça! Mesmo o suicídio consciente e voluntário de um soldado em tempo de guerra, como os “kamikazes”, por exemplo, é algo extremamente difícil de se julgar, pois que eles estavam realizando missões de guerra, obedecendo ordens de seus superiores, dando a sua vida para salvarem a de seus irmãos de nação!

Assim como a todos os seres humanos é permitido retornar à Terra para continuar a sua jornada evolutiva, ao suicida consciente também é dada esta oportunidade, pois o seu pecado, que aos nossos olhos parece ser imperdoável, irredimível, não é mais grave nem menos grave do que outros que são na Bíblia alinhados. Veja os textos que falam dos homicidas em Apocalipse 21:8 e 22:15 e note que esses textos abrangem outros tipos de pecadores nos quais muitos de nós poderemos estar incluídos! O primeiro diz: “Quanto aos tímidos (covardes), e aos incrédulos (que não crêem em Deus), e aos abomináveis (desprezíveis), e aos homicidas (que tiram a vida humana), e aos fornicários (imorais), e aos feiticeiros (praticantes da feitiçaria), e aos idólatras (adoradores de ídolos) e a todos os mentirosos, a sua parte será no lago que arde com fogo e enxofre, o que é a segunda morte”, e o segundo, parecido com este, diz: “Ficarão de fora os cães (viciados) e os feiticeiros (praticantes da feitiçaria), e os que se prostituem (imorais), e os homicidas (que tiram a vida humana), e os idólatras (adoradores de ídolos), e qualquer que comete a mentira (mentirosos)”.

Viu só! Quantos de nós não poderíamos ser enquadrados como covardes, imorais, idólatras e desprezíveis em nossas atitudes e comportamentos? E mentirosos? ESTE ENTÃO NEM SE FALA! Quantos de nós não poderíamos ser enquadrados nestes grupos de pecadores? Por que o suicida iria para um lugar e o mentiroso para outro? Não acha que tudo parece uma errônea interpretação dos textos, prezado leitor? Que adianta você não ser um assassino e ser um descrente? Que adianta você não ser um idólatra, mas ser um imoral? Qual a vantagem de um sobre o outro? Todos serão condenados de qualquer maneira! O apóstolo Tiago disse em sua epístola: “Qualquer que guardar toda a Lei e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos. Porque Aquele que disse: Não adulterarás também disse: Não matarás. Se tu, pois, não adulterares, mas matares, estás feito transgressor da Lei.” (Tiago 2:10,11).

O que devemos tomar cuidado é para não ficarmos adiando a nossa decisão de recebermos Cristo em nossa vida indefinidamente, pois não sabemos quando se processará a nossa última reencarnação, ou mesmo se já a estamos vivendo, visto o apóstolo João ter feito referência ao inferno chamado “Lago de Fogo” e não ao inferno conhecido como “Gehena”. Quem entra na “Gehena” ainda pode sair de lá, mas quem entra no “Lago de Fogo”, não pode sair jamais (Evangelho de Mateus 5:21-26 / Mateus 18:23-35). Ele disse em uma de suas cartas: “Deus nos deu a vida eterna e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho, tem a vida, mas quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1ª Carta de João 5:11,12). Cristo disse no livro de Apocalipse 3:20: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa, cearei com ele e ele comigo”. Deixe, pois Cristo entrar em sua casa (seu coração) e receba a vida plena de Deus!

CONCLUSÃO

Chegando ao final de nosso estudo, o Pastor Olívio não pode dizer que concorda integralmente com a declaração feita por aquele Pastor do início de nossa Palestra acerca daquele outro Pastor amigo seu que se suicidara em casa, por falta de mais informações e conhecimento da pessoa daquele Líder, mas concorda plenamente com a declaração do Pastor de que não somos Deus para julgar ninguém. Ele ainda se sente plenamente grato por ter tal discurso, feito por este Pastor em sua Igreja, despertado a curiosidade de alguns para o estudo do assunto, inclusive o Pastor Olívio que, através desta Palestra em seu Site, vai despertar também a curiosidade de milhares e milhares de pessoas.

Deus abençoe a todos.

Caso seja do interesse de meu prezado leitor discutir mais sobre o assunto, envie-me seus comentários, questionamentos, sugestões, críticas e, quando houver, possíveis elogios.

 

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